Thursday, June 30, 2005

Foi mal

O link para o Unofficial Archive do Paul Krugman, que não estava funcionando, agora está.

Wednesday, June 29, 2005

A Praga dos Bolsonarinhos

Já escrevi vários posts sobre como é incrível que a direita brasileira seja tão poderosa socialmente e tão vagabundamente organizada politicamente. O caso do Bolsonaro mostra bem o quanto é difícil um liberal honesto no Brazil (e os há em grande quantidade) escolher um candidato para votar. Por que diabos alguém que apóie, por exemplo, o imposto único (velha causa liberal) precisa votar no partido do Bolsonaro?

Além do mais, já havia comentado que um dos mais fortes sinais de desorganização da direita brasileira é a sua incapacidade crônica de renovar suas lideranças sem apelar para a reprodução: as novas lideranças são sempre o filho do ACM, o filho do César Maia, a filha do Sarney. Não há uma estrutura partidária séria pela qual um jovem e idealista liberal (e os há em grande quantidade) possa ascender por sua capacidade política.

Aparentemente, até os Bolsonaros se reproduzem no cativeiro do legislativo. Sabe-se lá por que método. E, por favor, que só se saiba lá, por que aqui ninguém quer saber, não.

Como é que os partidos de direita podem ser incompetentes a ponto de, tendo nas mãos uma escola de economia de nível internacional como a FGV, por exemplo, não conseguir produzir um, unzinho, meio, um décimo de candidato bom, razoavelzinho, ou ao menos higiênico?

Só por muita miopia alguém pode achar que a situação atual pode interessar à esquerda democrática. Na primeira crise de um governo de esquerda, falta oposição consistente, sobra o Bolsonaro.

Só pode ser bom

É impossível que isso não seja bom: o Stiglitz virou editor de uma revista, The Economists' Voice. Um monte de economista famoso escrevendo em linguagem tão normal quanto lhes é possível. Achei a referência em outra página que eu gosto muito, The Unofficial Paul Krugman Archive, organizado por um seguidor do Krugman, o Paul Wellstone (que, segundo o site, acaba de se formar em Yale). Como um monte de gente já disse, desde o Keynes que um cara não sabia tanta economia e ao mesmo tempo escrevia tão bem quanto o Krugman.

Monday, June 27, 2005

O que não falta é vagabundo

A maior honra da história do exército brasileiro foi o heróico sacrifício dos pracinhas brasileiros em sua luta contra a barbárie facista. Mas não fica muito atrás, nem é muito diferente em termos civilizacionais, o dia em que deram um pé na bunda do vagabundo do Jair Bolsonaro.

Como se viu, o apologista do crime acusou Genoíno de ter delatado seus colegas de guerrilha. No passado lamentou, publicamente, que os militares não tivessem matado FHC.

Em uma versão anterior deste post, escrevi as coisas muito feias que gostaria de fazer com Bolsonaro. Mas, evidentemente, o que interessa a esse tipo de dejeto é exatamente uma polarização que nos afaste da democracia, cuja luz empurra a mediocridade de um Bolsonaro para as frestas mais obscuras do sistema político, como às baratas quando se acende a luz da cozinha. Portanto, nos furtamos a seguir nossos mais nobres instintos e recomendamos a leitura deste belo artigo do Clóvis Rossi.

Friday, June 24, 2005

CAFTA

O Tom Friedman, do NY Times, citado aí embaixo, escreve mesmo bem pra caramba. A coluna de hoje, intitulada "Somos todos Franceses Agora", faz a analogia entre o "Non" à Constituição Européia e a recusa do Congresso americano em ratificar o CAFTA, tratado de livre comércio com a América Central (além de jogar com o título do Le Monde, "Somos todos Americanos agora", de 12 de Setembro de 2001).

O texto sobre o "Non" do Garton Ash (onde o Friedman é citado aí embaixo) sugere que os chineses é que ganham com o fechamento do primeiro mundo à globalização. Vejam o comentário do Friedman sobre o CAFTA:

"O CAFTA é crítico para possibilitar às indústrias têxteis dos Estados Unidos e da América Central competir com a China. As formas americanas se especializam no trabalho mais sofisticado de fazer tinturas, desenhar modelos e fabricar tecidos, fazendas e fios especializados, e os países do CAFTA se especializam na tarefa trabalho-intensiva de costurar. Como os países do CAFTA são nossos vizinhos, os varejistas americanos podem responder rapidamente a mudanças de mercado, o que as fábricas na China não podem fazer tão facilmente. É por isso que, como explica o sub-secretário de Estado Robert Zoellick, uma camisa que diz "Made in Honduras" pode conter até 60 por cento de conteúdo americano, enquanto que uma camisa similar que diz "Made in China" provavelmente não tem nada."

E um trecho que eu gostei:

"Nos anos 80 estávamos preocupados que a América Central se tornasse comunista. E agora, vamos nos preocupar que ela se torne capitalista?"

Thursday, June 23, 2005

Gary Hart

O Blog do Renato traz um interessante post sobre um artigo do Gary Hart sobre a política americana, e desculpem pela frase cheia de "sobre".

35 Horas

Tirado de uma coluna do Garton Ash, e traduzido por mim com a habitual incompetência:

"Como Tom Friedman, do New York Times, observou com acidez, enquanto a Europa tenta atingir a semana de 35 horas de trabalho, a Índia está criando o dia de 35 horas de trabalho. Qualquer que seja a nossa vantagem baseada na economia do conhecimento, nenhuma economia pode competir nestes termos. Para que as coisas continuem do mesmo jeito, precisam mudar."

Novos Links

Novos Links aí do lado: TomPaine.com, site que reúne material produzido pelos 'liberals' (a centro-esquerda) norte-americana. Os artigos do Timothy Garton Ash , em geral de alta qualidade. E as colunas da Polly Toynbee no The Guardian, para quem se interessar sobre política britânica.

Repetição como Farsa

Dos Andes até Chiapas, movimentos populistas se revestem da superestrutura estética do socialismo para angariar apoio popular para causas que nada têm a ver com o socialismo clássico: as formas mais tacanhas de nacionalismo, preconceito anti-americano, populismo anti-democrático, irracionalismo, etc.

O bolivarianismo, defendido por Hugo Chávez, pelas FARCs, e outros movimentos neopopulistas, escapa do problema da falência econômica do projeto socialista por que se sustenta em mercados globais altamente imperfeitos, que geram lucros exorbitantes: o petróleo e a cocaína, que, mesmo se produzidos ineficientemente, dão dinheiro.

Com base nisso, justificam a tomada do poder por grupos populistas que manipulam as imperfeições da democracia latino-americana: a sub-representação dos grupos indígenas, a desigualdade de renda, o patrimonialismo estatal, etc.

A novidade é que também se utilizam de todo um arsenal político e cultural que estava em desuso desde a crise do socialismo: os comitês de defesa bolivarianos de Chávez, a aproximação com Cuba, o culto do camponês (que, nas grandes revoluções socialistas, foi massacrado como ninguém havia sido massacrado antes na história da humanidade), o anti-americanismo (que não faz nenhum sentido fora da estratégia de defesa da política externa soviética). Graças a isso, exercem fascínio nos socialistas mais saudosistas, que entretanto sentiriam profunda repulsa se parassem para refletir sobre a natureza do bonapartismo chavista.

O que chama atenção nesses movimentos é que aparentemente a identidade nacional nos Andes está em uma profunda crise: se não estivesse, o bolivarianismo não encontraria solo fértil: lembremos que o socialismo nunca venceu em país com questão nacional resolvida, sendo sempre consequência de guerras perdidas (Rússia, em parte China) ou do esfacelamento de impérios (todo o resto, mesmo nos países invadidos da Europa Oriental). Seria interessante entender os antecedentes dessa crise. Por enquanto, ainda não encontrei nenhum bom estudo sobre isso.

O socialismo sem dúvida merecia terminar, mas não sei se merecia servir de fachada ideológica para esse tipo de coisa. Não enterraram a múmia de Lenin a tempo, e agora ela serve como boneco de ventríloquo para toda espécie de estelionato.

Wednesday, June 22, 2005

EZLN parte para a ignorância

Ninguém lembrava mais deles, mas parece que os zapatistas estão planejando retomar a guerra civil (também saiu na Folha): lançaram um alerta vermelho, explicaram que era por que provavelmente as hostilidades seriam retomadas, e desresponsabilizaram todos os civis que os acompanharam esse tempo todo. É de fato surpreendente: de onde os caras pretendem tirar recursos para enfrentar o exército mexicano? Se bem que é possível que ninguém tenha um plano, seja só uma burrice.

Mais preocupante, e infelizmente provável, é que a estratégia seja articulada com o neopopulismo andino: Chávez, Morales, as FARCs, enfim.

É triste, desde o cessar-fogo havia a esperança de que os zapatistas tivessem compreendido que o México não era mais um regime de exceção, e que, portanto, a luta armada era um crime. Mas alguém devia ter desconfiado quando os caras, apesar de escreverem poesia, livro infantil, e jogarem bola, continuaram carregando AK-47s. Sujeito com revólver é sempre sujeito com revólver.

Como em todas essas coisas, um monte de moleque idealista que poderia formar a nova liderança nacional vai morrer, um monte de jornalista de segunda classe do primeiro mundo vai vender livro. Tudo isso por um negócio ideologicamente vago, no ponto para ser manipulado por uma liderança totalitária.

Monday, June 20, 2005

A Crise Política

Um liberal inteligente vem escrevendo no Globo coisas interessantes sobre a crise política atual. Paulo Guedes, em sua coluna da semana passada, começava assim:

"Chegamos a uma situação absurda. Dois partidos de esquerda, o PT e o PSDB, alternam-se no poder e, agora, acusam-se mutuamente de corruptores, por praticar a compra dos partidos de direita - e ainda por cima, segundo a acusação comum, para implementar programas de direita"

Guedes propõem algo com o que não poderíamos concordar mais: que PT e PSDB se unam em uma frente de centro-esquerda, que seria combatida por um reagrupamento de forças de direita sob a bandeira do liberalismo. Diz ele na coluna de hoje:

"Por exemplo, seria muito mais interessante neste momento um debate entre a tecnologia de geração de emprego dos sociais — democratas (gastos públicos) e a dos liberais-democratas (reforma da legislação trabalhista e da previdência). Em vez disso, assistimos à discussão sobre as tecnologias de corrupção. O PTB acusa o PT de compra direta de apoio parlamentar através do “mensalão”. O dinheiro sairia diretamente da tesouraria do PT para o parlamentar do PP e do PL. Enquanto o PTB parece ter orgulho de sua própria tecnologia, que fortaleceria o partido, desentermediando o PT. Ou seja, apontar diretores para empresas como os Correios, a Eletronorte e o IRB, os quais se encarregariam da arrecadação para o partido"

Guedes vê a origem da corrupção no modelo dirigista de desenvolvimento brasileiro, em que o Estado teve papel econômico fundamental. Há muita verdade nisso, mas por si só não explica por que a direita brasileira demonstra tanta incapacidade de jogar o jogo democrático eficientemente. Guedes parece acreditar que o problema está em fenômenos culturais, na distorção da democracia, que teria se tornado mera disputa pelo poder. Como diz ainda na coluna de hoje:

"Democracia, embora componente indissociável da Grande Sociedade Aberta, é apenas o método de decisão pela maioria, sem entrar no mérito da doutrina política e econômica. Sem o conteúdo doutrinário, a democracia vira uma disputa do poder pelo poder. De que outra forma explicar uma associação do PT com o PTB, em vez da aliança natural do partido do governo com o PSDB, os dois no campo da social-democracia?"

Pessoalmente, acho que a crise atual tem como origem o legado de Collor, que desmoralizou a defesa aberta do neoliberalismo no momento em que as medidas econômicas necessárias para o combate à hiperinflação pediam um governo de direita sério e civilizado. Sérios e civilizados foram os governantes de esquerda que se sucederam, por terem feito as concessões que fizeram ao invés do governo que certamente gostariam de ter feito. Mas o legado de Collor é este: o liberalismo desmoralizado; a esquerda democrática sob frequente suspeita de incoerência; a direita sem ter como se opor a governos que, no fundo, estão fazendo o trabalho dela, e tendo que apelar, em nome da sobrevivência política, para o populismo; e as causas sociais sem ninguém que as defenda a não ser a esquerda autoritária.

Saturday, June 18, 2005

Vitória

É raro, é muito raro, é quase nunca, mas de vez em quando um negócio dá certo. Graças à pressão internacional, o governo do Paquistão acaba de retirar o nome de Mukhtar Mai (ver post abaixo) da lista de pessoas que não podem sair do país. Ninguém explicou por que, afinal, tinham colocado ela lá, mas o importante é que, aparentemente, as coisas melhoraram.

Recebi a notícia em uma lista de discussão, mas já já acho o link para botar aqui. Às pessoas cujo saco eu enchi com essa história, desculpem aí.

Thursday, June 16, 2005

ONU e Roma

Há quem argumente que a ONU é, ou pode vir a ser, um novo poder global na mesma escala do Império Romano. Sobre isso, dois comentários interessantes:

Niall Fergunson, Empire:
"A verdade é que nem a comunidade internacional (Blair) nem a União Européia (Cooper) estão em posição de desempenhar o papel de um novo Império Britânico. Isso pela simples razão de que nenhum dos dois tem os recursos fiscais ou militares para fazê-lo. As despesas operacionais da ONU e de todas as suas organizações afiliadas chegam a cerca de 18 bilhões de dólares, cerca de 1% do orçamento federal americano. Por sua vez, o orçamento da União Européia chega a apenas 1% do PIB europeu. Já o gasto dos governos nacionais chega a cerca de 50%. Nesse respeito, a ONU e a UE se parecem não com a Roma dos Imperadores, mas com a Roma dos Papas - sobre a qual Stalin fez a célebre pergunta, 'Quantas divisões ele tem?'" (p.377).

Obituário de João Paulo II na The Economist (versão on-line, o da versão impressa saiu diferente): "influiu decisivamente na derrubada do regime comunista polonês, respondendo assim à famosa pergunta de Stalin'.

É o famoso 'soft power', do Joseph Nye Jr.

Wednesday, June 15, 2005

Mukhtar Mai

A história tem o pior começo possível: há poucos anos, no interior do Paquistão, um jovem de um clã subalterno foi julgado por um conselho tribal formado por membros do clã dominante. Julgado culpado, ouviu a pena: sua irmã seria estuprada pelos membros do clã superior ali mesmo. E assim foi. Sua irmã, Mukhtai Mai, foi estuprada por quatro homens, ali mesmo. Satisfeito o último estuprador, Mukhtai Mai voltou para casa semi-nua, sob o ridículo de cerca de 300 pessoas da vila. Casos como esse já haviam acontecido antes, e todos esperavam que Mukhtai Mai agisse como as outras vítimas que a precederam no chão do tribunal, tirando a própria vida em desonra.

Aí a história vira: após o 11 de Setembro, o Paquistão tornou-se um aliado estratégico dos EUA na luta contrao terrorismo. Parte da opinião pública americana mostrou-se apreensiva com a aliança, dado o caráter eminentemente autoritário do regime do General Musharraf, que, aliás, foi quem armou metade dos malucos com bomba atômica em atividade no mundo. Todos os olhos da sociedade americana caem sobre o Paquistão, que precisa mostrar que afinal não é tão ditatorial assim, e até faz uma eleiçãozinha meio mixuruca. É nesse momento que se dá o estupro de Mukhtai Mai, que, auxiliada por um clérigo islâmico, percebe a oportunidade. Pelo menos enquanto os americanos estiverem olhando, o Paquistão precisa agir como uma sociedade mais ou menos aberta. Com isto em mente, Mukhtar Mai vai aos tribunais contra seus agressores, que, nesse raro momento em que o judiciário paquistanês recebe permissão para atuar de verdade, os condena à morte.

De repente, a história é uma maravilha. Com a indenização que recebe, Mukhtar Mai constrói duas escolas, uma para meninas e outra para meninos, em seu vilarejo. A história é então descoberta pelo jornalista Nicholas D. Kristoff, do New York Times, que estava em viagem pelo Paquistão. Após contar a história em sua coluna, o jornalista recebe 133.000 dólares de leitores para Mukhtar Mai, que são passados à organização filantrópica americana Mercy Corps. Com a ajuda da organização, Mukhtar Mai administra o dinheiro e consegue abrir um abrigo para vítimas de estupro e comprar uma ambulância para o vilarejo. Inacreditavelmente, se esforça para matricular os filhos de seus agressores nas escolas que fundou. Torna-se então um símbolo da luta das mulheres no Paquistão pela liberdade e contra práticas arraigadas como os assassinatos e estupros "pela honra" e a prática de jogar ácido em mulheres caídas em desgraça.

Mas, sendo o mundo como é, a história enlouquece. Quando, há poucas semanas, Mukhtar Mai se prepara para ir aos EUA dar uma palestra em uma organização paquistano-americana, o governo paquistanês se apavora com a possibilidade dela manchar a imagem do Paquistão no exterior, e coloca-a em cárcere privado, cortando inclusive sua linha telefônica. Através de seu celular, Mukhtar Mai denuncia a arbitrariedade ao mundo. Em um ato de extraordinário barbarismo, o governo a sequestra, e, a crer no depoimento de sua advogada, a mantém até agora incomunicável em Islamabad.

Relativismo é legal, eu também gosto, mas TEM COISA QUE NÃO PODE. Por isso, é necessário protestar contra o governo do Paquistão pelo tratamento dado à senhorita Mai. Cartas podem ser enviadas à embaixada paquistanesa no seguinte endereço:

Embaixada da República Islâmica do Paquistão - Brasília - DF SHIS QL 12, conj. 02, casa 19 - Lago Sul CEP 71630-225 - Brasília - DF tel. (0xx61) 364-1632 e 364-1761 tel. 61-2252 EPAQ BR fax (0xx61) 248-0246 e-mail: parepbra@brnet.com.br Expediente(s): segunda a sexta-feira - 08:30 - 16:00 hs

As cartas devem ser educadas, até por que o funcionário da embaixada, assim como certamente a maioria do povo paquistanês, deve estar tão indignado quanto nós, embora certamente não o possam demonstrar. Um modelo de carta pode ser o seguinte:

“Caro Senhor,

É com imenso respeito que me dirijo à Embaixada no Brasil da grande nação paquistanesa. Mas também o faço com grande apreensão.

A crer em reportagem publicada no New York Times do último dia 14, a Sra. Mukhtar Mai é no momento vítima de gravíssimas violações de direitos humanos por parte do governo paquistanês. Em nome do respeito à justiça que certamente une nossos povos, junto aqui minha voz aos que pedem pela imediata libertação da Sra. Mukhtar Mai, bem como sua proteção contra qualquer ato da parte de seus agressores originais.

Grato por sua gentil atenção,”

Mais informações sobre o caso podem ser obtidos no site www.mukhtarmai.com, ou em qualquer das grandes organizações de defesa das mulheres e dos direitos humanos.

Monday, June 13, 2005

Comentários

Foi mal. Devido a um problema na peça que liga nossa cadeira ao nosso teclado, a configuração do blog só deixava pessoas registradas no Blogger escrever comentários. A causa do problema permanece irremediável, mas a consequência não: agora todos podem deixar comentários.

Guerra do Paraguai

Livraço: Maldita Guerra, de Francisco Doratioto, sobre a guerra do Paraguai. Mostra o conflito como parte do processo de construção dos Estados Nacionais na região. Enfatiza como o conflito tem origem local, não nas manipulações do imperialismo inglês, no que é muito convincente.

Também é oportuno ao desmistificar a idéia de que Solano López era um líder anti-imperialista. O livro mostra como López (tal como D. Pedro II ou Bartolomeu Mitre, da Argentina, ou Venâncio Flores, do Paraguai) simplesmente jogaram o jogo estratégico que a realidade lhes impôs.

Na Argentina, havia intensos conflitos entre Buenos Aires e as províncias. Na guerra civil do Uruguai, uma facção (os colorados) se alinhou com Buenos Aires , outra (os blancos) com as províncias. No sul do Brasil, o Rio Grande do Sul protestava contra o anti-brasilianismo da facção 'blanca' uruguaia, então no poder, e o governo do Rio de Janeiro temia uma nova tentativa separatista. O governo do Uruguai tenta então compor uma aliança envolvendo as províncias argentinas e o Paraguai. Dá errado, as províncias argentinas não se revoltam como esperava, e os colorados tomam Montevidéu graças ao apoio militar brasileiro. Forma-se então um eixo, consagrado na tomada de poder pelos colorados em Montevidéu, envolvendo a Argentina e o Brasil.

Se López se destaca por alguma coisa, é por ter insistido em mandar seu povo para o sacrifício quando era evidente que não tinha mais a menor chance de vitória. O que, aliás, ocorreu logo no início da guerra, quando fica claro que Brasil, Argentina e Uruguai vão à guerra juntos. Mesmo assim, López insistiu por cinco anos, ao longo dos quais o Paraguai foi destruído de cima a baixo.

López também se destaca por um clássico da administração logística: encomendou armas e navios na Inglaterra, mas resolveu invadir o Brasil antes da encomenda chegar. Visto que o Paraguai não tem porto, e os portos disponíveis (Rio, Montevidéu e Buenos Aires) estavam em guerra com ele, a encomenda nunca chegou (apesar de já estar paga).

Se isso foi o máximo de líder anti-imperialista que a América Latina conseguiu produzir, não impressiona que o imperialismo tenha vencido.

Thursday, June 09, 2005

Crise Econômica

Está impossível encontrar The Economist no Rio de Janeiro há quase um mês. Trata-se do maior golpe no pensamento econômico brasileiro desde que Keynes nasceu em outro país. Aparentemente, mudaram a distribuidora, e, segundo o meu fenomenal jornaleiro (o Pascoal), a nova distribuidora deve ser a Abril. Até lá, sugiro que ninguém mexa no dinheiro que está no banco, e que as autoridades permaneçam com as mãos onde possamos vê-las.

PFL

É bastante saudável que o PFL queira se renovar. Mas por que é que, toda vez que eles tentam dar uma 'cara nova' ao partido, escolhem o filho de algum velho cacique? Primeiro foi o Luís Eduardo Magalhães (que Deus o tenha), depois a Roseana, agora é o filho do César Maia. Nada contra o filho de ninguém, mas parece que não há chance de um jovem normal entrar no PFL e atingir posição de liderança. Falta estrutura partidária, sobram estruturas tradicionais.

Na esquerda autoritária a renovação muitas vezes era por racha, nos partidos de direita parece ser por sucessão familiar. Se o velho PCB fosse assim, não haveria um PCdoB, mas um PCdoJr.

Eduardo Jorge

Artigo de Eduardo Jorge hoje na Folha sobre o futuro do PT. Eduardo Jorge, como se sabe, era o deputado do PT (ele saiu) que tinha uma proposta alternativa para a reforma da previdência. Não sei se era boa ou ruim, mas era uma proposta, e o PT se recusou a discuti-la na época.

E era mesmo só uma questão de tempo até alguém comparar o PT com o Darth Vader.

Wednesday, June 08, 2005

Scheinkman

Aliás, saiu um artigo interessante do Scheinkman na Folha sobre a política econômica brasileira. A sugestão, plausível, é que se reduza o peso dos preços administrados (ou que dependem muito do mercado internacional) no cálculo da meta de inflação.

Uma das coisas que mostram o quanto o cara é melhor que a média dos economistas (e dos cientistas sociais em geral) é o número de coisas que ele admite que não sabe.

Boa Notícia

Nessa confusão toda envolvendo o Instituto de Resseguros, uma boa notícia: Marcos Lisboa, o melhor quadro da equipe econômica, voltou para o governo. Uma boa reportagem saiu hoje no Globo. Aliás, quem quiser entender o governo Lula não pode deixar de ler o documento que Lisboa ajudou a escrever na campanha de 2002, A Agenda Perdida. Entre os que gostam do texto, esse que vos escreve. Entre os que não gostam, Maria da Conceição Tavares, que acusou Lisboa de ser um 'garoto semi-alfabetizado'. É delicada como a minha pele.

Se bem me lembro, o movimento que levou ao Agenda Perdida começou quando o Ciro Gomes, tentando ganhar espaço ao centro, conseguiu (senão me engano, através do Jereissati), que o José Alexandre Scheinkman escrevesse um programa econômico, que acabou não sendo incorporado oficialmente como programa do Ciro, e, órfão, foi adotado pelos economistas que assinaram a versão final do documento. O interessante é que aparentemente o documento foi recusado na campanha do Ciro por não bater com os planos do Mangabeira Unger, o que faz das picuinhas da campanha do quarto colocado na eleição presidencial de 2002 o debate mais interessante da política brasileira nos últimos anos.

Pessimismo Realista

Estava lendo o Alchemies of the Mind, do Jon Elster, e achei um negócio interessante. Aparentemente, experimentos de psicologia sugerem que os pessimistas são mesmo mais capazes de analisar probabilidades objetivas. Suas opiniões sobre o mundo lá fora são, portanto, mais realistas, não apenas do que a dos otimistas (até aí, nenhuma surpresa), mas também se comparadas às das pessoas equilibradas.

Mas, então, por que os pessimistas não estão sempre certos? Por que essa capacidade é contrabalançada por uma grave incapacidade de avaliar corretamente suas próprias possibilidades.

Faz sentido, e explica por que os pessimistas, fora do laboratório, dão boas opiniões mas conduzem horrendamente mal suas vidas. Afinal, fora do laboratório, ao decidir sobre suas vidas, o cálculo de probabilidade envolve levar em conta suas próprias capacidades.

Qual dos erros é preferível? No dizer de um otimista contemporâneo, 'É melhor subestimar os obstáculos do que subestimar o Brasil'. Boa frase, mas não é sempre verdade, não. Por exemplo, é melhor não ir para uma guerra que poderíamos ganhar do que ir sem saber que só podemos perder. O ideal, obviamente, é tentar sempre que se pode conseguir, e só então. Mas ninguém precisa de psicólogo para dizer isso.

No pensamento político muita gente já tinha sugerido que o ideal seria o 'pessimismo na análise, otimismo na ação' (frase do Romain Rolland citada pelo Gramsci). Também é boa a seguinte reflexão do E.H. Carr:

'No campo da ação, o realismo tende a enfatizar o poder irresistíveldas forças existentes e o caráter inevitável das tendências existentes, e a insistir em que a mais alta sabedoria reside em aceitar essas forças e tendências, e adaptar-se a elas. (...) O pensamento imaturo é predominantemente utópico e busca um objetivo. O pensamento que rejeita o objetivo como um todo é o pensamento da velhice. O pensamento maduro combina objetivo com observação e análise.'

O trecho acima está no clássico 'Vinte Anos de Crise'.

Tuesday, June 07, 2005

Consenso de Copenhagen

Não teve tanta cobertura na mídia, mas a The Economist patrocinou, alguns anos atrás, um esforço de encontrar soluções 'market-friendly' para os problemas sociais do mundo. Sou razoavelmente market-friendly, mas mesmo para quem não é, qualquer idéia bem argumentada deve ser bem-vinda. No espírito do chamado 'Consenso de Washington', o negócio ficou conhecido como 'Consenso de Copenhagen'.Os principais resultados podem ser encontrados aqui.

ONU

Artigo interessante do Koffi Annan na Foreign Affairs sobre a proposta de reforma da ONU. De fato, a guerra do Iraque precipitou o debate sobre a reforma da instituição. Mas o problema vem de muito mais longe: afinal de contas, membros recentes da Comissão de Direitos Humanos incluem paladinos da justiça como Cuba, Síria e Sudão!

Aliás, esse número da revista está muito bom.

Sunday, June 05, 2005

Ainda Unger

Aliás, se alguém quiser ler uma coisa bonita (em inglês), cheque ‘The Self Awakened’, rascunho disponível na página do Mangabeira (pois é, rapaz, em Harvard). Aí vai a tradução (por este seu humilde servo) de um trecho especialmente inspirado, a exortação final:

A imaginação acima do dogma, a vulnerabilidade acima da serenidade, a aspiração acima da obrigação, a comédia acima da tragédia, a esperança acima da experiência, a profecia acima da memória, a surpresa acima da repetição, o pessoal acima do impessoal, o tempo acima da eternidade, a vida acima de tudo.

Não é fraco, não, o sujeito. Se seria bom presidente, não sei, mas é bom escritor.

Mangabeira Unger

Roberto Mangabeira Unger é candidato a presidente do Brasil em 2006 . Lançou a candidatura no horário político de um pequeno partido, o PHS, que não lhe cobrou filiação (mas que ganhou uma bela publicidade). Unger espera conquistar o apoio do que foi historicamente seu partido (o PDT).

Não há dúvida de que a entrada de Unger na corrida eleva enormemente o nível do debate (bom, até aí, até eu). Sua viabilidade eleitoral é provavelmente muito pequena. Mas suas propostas são sem dúvida dignas de discussão, o que já o diferencia da massa dos partidos brasileiros, excetuado o PT: em que pese suas inconsistências, pelo menos o PT sustenta com suficiente firmeza mais de duas idéias, o que, além de lhe permitir o luxo da inconsistência, o coloca acima de todos os outros partidos brasileiros (bom, até aí, até eu).

O principal problema dos projetos de Unger é que lhe falta um co-autor economista. Como se sabe, ou se deveria saber, a filosofia política de Unger defende a plasticidade no poder: uma democracia que permita o experimentalismo, em que diferentes arranjos institucionais sejam constantemente testados pela comunidade democrática.

Este humilde sujeito que vos escreve gosta muito dos livros de filosofia de Unger (em especial 'Paixão: um ensaio sobre a personalidade'), mas crê que Unger julga mal o Estado Brasileiro: é claro que nele há muita rigidez; mas também há uma enorme fragilidade fiscal. A plasticidade sem dúvida aumenta o controle democrático, mas a crise fiscal corrói a solidez do Estado brasileiro até ele se tornar tão fluido que se torna imanipulável: ao lado da rigidez, a plasticidade tem outro limite, que é a evanescência, igualmente nociva à democracia.

Assim, a proposta de Unger de se renegociar a dívida pública esbarra no problema de que o financiamento público poderia se tornar difícil a longo prazo se a já baixíssima credibilidade do Estado brasileiro sofresse novo golpe. Talvez seja possível renegociar sem crise: mas Unger precisaria mostrar como.

Da mesma forma, algumas propostas que parecem boas são difíceis de se comprar sem uma apresentação detalhada de seu significado fiscal. É o caso da proposta de se eliminar todos (sim, todos) os engargos sobre a folha de salário, e bancar os direitos trabalhistas com os impostos gerais. Se for possível sem aumentos de impostos excessivos, parece brilhante. Mas Unger precisa mostrar que é.

Enfim, pelo menos parece que vai haver debate desta vez. Mas o que realmente preocupa é a possibilidade de Unger se ver próximo de uma candidatura como a de Garotinho. Com toda a probabilidade, isso significaria que propostas com potencial seriam desperdiçadas em implementações irresponsáveis.

Ainda isso

Diz a lenda que no início dos anos 90, Marco Aurélio Garcia (PT) e Leôncio Martins Rodrigues (PSDB) debatiam na televisão. A certa altura o tucano pergunta: ‘Mas, Marco Aurélio, quando é que o PT vai admitir que é social-democrata?’. E o petista responde: ‘E o PSDB, quando vai admitir que não é?’.

PT e PSDB

O Merval Pereira discute, na sua coluna de hoje, o problema mais interessante da política brasileira contemporânea: por que o PT e o PSDB não unem forças? A convergência programática é notável nos últimos anos, desde que o PT teve que virar governo e o PSDB começou a voltar a ser partido. As complementaridades são óbvias: o partido do muito cacique pra pouco índio (o PSDB) e o partido das multidões indígenas sem cacique (o PT). E a conveniência para o país também é evidente, uma vez que os dois partidos somados diminuiriam drasticamente a necessidade de buscar apoio nos Jeffersons da vida. Figuras como Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Gilberto Gil, Eduardo Azeredo e Eduardo Jorge já manifestaram interesse em uma aproximação. Mas nada acontece.

A coluna do Merval descreve em detalhe as brigas políticas que levaram à separação das duas tendências da social-democracia brasileira: as disputas no começo dos anos 90, a eleição de FHC como anti-Lula e o namoro do PT com o slogan ‘Fora FHC’, e, em especial, o fato de que a essencial política paulista está dividida entre os dois partidos (muito embora, como bem notou o Mangabeira - ver artigo 'Verticalização e Democracia' - não seja o caso no resto dos estados). Tudo isso é verdade.

Mas há outro fator envolvido: a absoluta incapacidade da direita brasileira de lançar um candidato a presidente viável. Depois da aposta em Collor, a direita se encontra absolutamente desmoralizada, o que dá chance a partidos de centro-esquerda – em especial o PSDB – de ultrapassarem o PT pela direita.

Enquanto a direita brasileira não for capaz de produzir um candidato cujo histórico bancário sobreviva a quinze minutos de escrutínio pela imprensa, o incentivo à união das duas grandes forças de centro-esquerda brasileira permanecem baixo. Merval Pereira afirma que a única chance dos dois se unirem é em um segundo turno contra Garotinho, que está tentando uma ultrapassagem pela esquerda. A longo prazo, porém, o mais provável é que só se unam quando precisarem enfrentar um candidato de direita (e, o que no momento atual é ainda mais inimaginável, um partido de direita) apresentável e eleitoralmente viável.

Bem-Vindos!

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