Thursday, July 28, 2005

Reação ao Terror

Artigo muito interessante na The Economist sobre as consequências do terrorismo. Pesquisa do Nobel de Economia Gary Becker analisa o impacto de atentados terroristas no comportamento cotidiano das populações afetadas. Afinal, o objetivo dos terroristas não é tanto matar 50 pessoas no metrô, mas sim espalhar um medo vago e generalizado entre toda a população. A ênfase da pesquisa é a diferença entre o risco e o medo. Objetivamente, a probabilidade de cada passageiro de ônibus individual morrer em um atentado é muito pequena, mas o medo vai além do risco objetivo.

A pesquisa mostra que a tendência é a seguinte: quem fazia algo regularmente não deixa de fazer. Quem fazia ocasionalmente deixa de fazer. Por exemplo, quem frequentava Cafés (alvo comum em Israel, por exemplo) regularmente continua frequentando mesmo com o atentado. Mas quem ia no Café só de vez em quando deixa de ir. O mesmo vale para usuários de ônibus e metrô depois de atentados nesses meios de transporte.

Os pesquisadores sugerem que as pessoas em um certo momento 'decidem' se têm medo ou não de continuar com certo comportamento, e essa decisão se baseia na preferência que têm ou não têm por tal comportamento. Uma vez tomada a decisão, ela tende a ser mantida, mesmo que o risco real varie.

Charge

Vejam essa charge.

Sunday, July 24, 2005

Tese

Para quem já fez, faz ou fará tese, ou para quem gosta de gozar da cara de quem fez, faz ou fará, esse artigo do José Murilo de Carvalho é muito engraçado.

Saturday, July 23, 2005

Putaqueopariu

Não tem nem o que dizer.

Gênio da Raça

Vejam como anda o sistema educacional brasileiro. Segundo O Globo, um sujeito chamado Bruno Marini Mendes vendia drogas pelo Orkut. A investigação do caso mostrou que o elemento também havia fraudado o exame da OAB de Junho último. A escuta telefônica da polícia pegou ele recebendo as respostas de um cúmplice. Suspeita-se que seu pai, que é advogado, tenha participado do esquema, visto que na mesma escuta achou-se uma ligação em que o pai pergunta se o filho foi bem na prova e ele diz que sim, pois 'conseguiu fazer o esquema via Embratel' (que bonito). Mas o realmente espetacular é que o Globo nos informa que

'mesmo com a cola eletrônica o acusado não passou na prova'

Vê-se, portanto, que o acusado é uma vítima da sociedade, que não dá apoio aos portadores de deficiência mental extremamente severa, semi-vegetativos. Desamparado pela sociedade que jamais compreenderá, pelos objetos da realidade que jamais compreenderá, pelas operações mentais mais elementares que jamais compreenderá, pelos deuses, que jamais o compreenderão, só lhe restou recorrer ao crime.

Wednesday, July 20, 2005

Varrer

A princípio, me parece que a entrevista do Lula foi burrice. Pelo conteúdo, talvez (ainda é cedo para medir os efeitos). Mas pela forma, sem dúvida. Dizer 'fizemos o que todos faziam' com sobriedade é expor uma falha do sistema. Mas dizer a mesma coisa com cara de quem acha que era isso que tinha que ter feito mesmo é exigir que se lhe dê uma muqueta na cara.

Agora, é realmente enojante ver os caras na CPI indignados, com as exceções de sempre: Heloísa Helena (ideologicamente obtusa, mas indiscutivelmente digna), Jefferson Peres, etc. Com relação ao resto (e a todos os partidos), é realmente uma maravilha. A indignação deve ser técnica: 'porra, não sabe nem fazer caixa 2? Nós aqui fazemos caixa 9, 10!'.

Se chega no Lula? Alguma coisa chega, mas ficaria surpreso se alguém achasse um vínculo direto; nessas coisas, todo subordinado sabe que não é para contar para o chefe, por que o chefe não quer saber (FHC certamente não sabia que compraram votos na reeleição, nenhum empresário ouve de seu contador a frase 'aí, descobri uma sacanagem pra gente sonegar', etc.). Mas, obviamente, quando você vê que o glorioso Bispo Rodrigues te apóia, você sabe que alguém do seu lado está fazendo sacanagem, e isso Lula sabia.

Por outro lado, na direção do PT vai ter que rodar muito mais gente, não resta dúvida. E, se não expulsarem o Delúbio, os militantes devem invadir a sede e pegar o dízimo de volta.

Vai ter que varrer.

Monday, July 18, 2005

Whitehouse.org


Um dos sites de humor mais absurdos dos EUA é o whitehouse.org. Não é o site da Casa Branca, não. Mas finge ser, como caricatura do direitismo americano. Bobeira, bobeira, absoluta bobeira, e meio repetitivo. Mas engraçado. Vejam, por exemplo, os comunicados do "Departamento para a Fé", ilustrados pela foto acima.

Veríssimo

Quem sabe escrever, sabe escrever:

"Depois do delúbio (a denúncia de doações dadivosas de dinheiro disfarçado a deputados) e do dizlúbio (a denúncia de dízimos com destino duvidoso) chegou, ai de nós, o daslúbio — a denúncia de distintas dondocas distraidamente defraudadoras. É demais. "

Thursday, July 14, 2005

Artigo sobre o atentado

O reformulado blog do Renato Gimenes tem um artigo interessante sobre a atitude a ser tomada diante do terrorismo.

Morta é a tua véia

A social-democracia escandinava não morreu, não, (vejam o final dessa entrevista, que vi primeiro no site do Daniel Drezner) e dá a chave para a nova esquerda: insistir em uma rede de segurança generosa, flexibilizar o mercado de trabalho. Como dizia o Marcos Bernardi, o lance dos Escandinavos é a ênfase em retreinar os desempregados para uma reinserção rápida. No Brasil, onde a informalidade é um problema seríssimo, talvez isso seja ainda mais aplicável (ou não? Será que o modelo escandinavo atual depende da força-de-trabalho extraordinariamente educada pelo modelo escandinavo anterior? Ainda estou pensando sobre isso).

Tuesday, July 12, 2005

Ash

O Timothy Garton Ash escreveu um artigo discutindo quem devia entrar nesse negócio de G8, e chegou à conclusão de que a Rússia deveria sair (meio pobre, sem democracia), e o Brasil e a Índia (grandes, crescendo, democráticos) deveriam entrar. Mas nem ele acha que vai acontecer.

Monday, July 11, 2005

Bin Laden e o Iraque

Achei a fatwa do Bin Laden. O trecho a que me referia era o seguinte:

"Sob tais circunstâncias, não há mal se os interesses dos muçulmanos convergir com o interesse dos socialistas na luta contra os cruzados, apesar de nossa crença na infidelidade dos socialistas.
A jurisdição dos socialistas e tais governantes caiu há muito tempo.
Socialistas são infiéis onde quer que estejam, seja em Bagdá ou em Aden."

Agora, se ele acha que o Saddam era socialista, imaginem o que acha da Suécia.

Quem se interessar sobre as opiniões de um filósofo deste quilate pode achá-las reunidas neste site.

Artigo do The Guardian

Esse artigo, recomendado por um amigo, diz com clareza o que eu também acho sobre de quem é a culpa, e qual o lado progressista do conflito que culminou no 11 de Setembro, em Bali, em Madri e em Londres.

Não são os representantes imperfeitos das democracias, Blair ou Bush (esse é muito imperfeito, mesmo). São as democracias, mesmo. No artigo do Guardian, fica claro que ninguém será poupado se não se converter ao wahabismo.

Mas, então, disse Osama, por que eles não atacam a Suécia? Dêem-lhes mais tempo que eles atacam.

Sunday, July 10, 2005

Ali Kamel e o Atentado

Nessa coluna do Ali Kamel, ele defende o que eu também acho: a potência agressora é a Al Qaeda. Discordo da idéia de que havia uma ligação de Bin Laden com Saddam. A Fatwa que ele cita toma cuidado em defender o Iraque, e não Saddam, e em uma fatwa posterior (que estou tentando achar) o Bin Laden diz explicitamente que não apóia os socialistas do Baath. Mas com o resto da coluna eu estou de acordo. E já que as analogias (perigosíssimas) com as Segunda Guerra Mundial estão em moda, eu também faço uma: muito da crítica anti-americana que defende (ou tolera) a Al Qaeda é análoga ao disgnóstico de que a social-democracia,não o facismo, era o verdadeiro inimigo.

A analogia é perigosa, evidentemente, por que a relação de forças é completamente diferente da dos anos 30. A Alemanha tinha um potencial de agressão infinitamente maior do que a da turma do Bin Laden (ao menos enquanto nao conseguirem bomba atomica).

Saturday, July 09, 2005

O Orgulho Londrino

Vi esse poema no site do Andrew Sullivan, e achei tão bonito e apropriado para a ocasião que o traduzi. É do Noel Coward.

Orgulho Londrino

O orgulho londrino graça concedida
O orgulho londrino é livre e uma flor
O orgulho londrino cidade querida
E nosso orgulho, que seja o que for.
Cidade cinzenta
Altiva implantada
e assim preservada
por mil anos de história.
Permaneça, cidade,
Encantada em fumaça,
berço de nosso medo esperança memória.
Toda blitz
sua resistência lhe enfirme
Do Ritz
Ao Anchor and Crown.
Nada pode jamais derrotar
o orgulho de London Town.

Friday, July 08, 2005

Atentado V

Quem pode condenar Osama? Eu. Todos. Quem chegar primeiro.

Atentado IV

Do ponto de vista ocidental, e mesmo, provavelmente, do ponto de vista do Islã, é claro que a guerra de Osama não é santa.

Mas menos certo ainda é dizer que é guerra. Há um elemento de virilidade, de coragem, no culto à guerra santa, cuja nobreza, por mais distorcida e doente que seja, não existe no vagabundo que explode sua carcaça fétida estourando criança no trem.

Osama não serve a um Deus de Paz, nem a um Deus guerreiro. Não há cultura humana que o justifique.

Atentado III

Nesse exato momento, em Londres, seres humanos normais, nem muito bons nem muito ruins, voltam às suas vidas, que procuram levar de maneira razoavelmente decente. Tenho fé que a sociedade britânica, certamente uma das mais tolerantes do mundo, não mudará seus valores como esperam os jihadistas. Nem precisam. Houve uma época, afinal, em que o esporte nacional foi caçar facista.

Enquanto isso, Osama se contorce em sua caverna, no estado que C.S. Lewis definiu como a punição de Judas: o desespero sem arrependimento.

Atentado II

A Guerra do Iraque não justifica nenhuma das atrocidades na Espanha ou na Grã-Bretanha.

Em primeiro lugar, por que eticamente essa posição é simplesmente insustentável, visto que se trata de focalizar os ataques em civis.

Em segundo lugar, taticamente, do ponto de vista dos que se opõem à guerra, seria uma imbecilidade: a Espanha não se retirou por causa dos atentados. Zapatero já propunha a retirada meses antes, e foi eleito por que Aznar mentiu para a população sobre os atentados. Não estranharia se Blair não saísse disso fortalecido.

E, em terceiro lugar, Osama era inimigo jurado de Saddam; só na última hora, antes da guerra, declarou seu apoio com reservas aos 'socialistas' do Baath (maior ofensa que já se fez ao pobre Marx), que, jurou, combateria novamente na primeira oportunidade se Saddam sobrevivesse à guerra. Confessou, portanto, que só se opôs à invasão pelos EUA por que planejava uma invasão rival.

Atentado Terrorista em Londres

Politicamente, sem problema: todos sabemos como sempre acaba o sujeito que bombardeia Londres e/ou ataca a Rússia no inverno. O ataque foi, sem dúvida, um fracasso: a evacuação foi eficiente, o número de vítimas, dado o fluxo de pessoas no metrô naquela hora, foi pequeno.

Humanamente, a tragédia de gente que morre na mais absoluta inocência, por que tem gente que quer se fingir de soldado sem soldado do outro lado. Do lado da casa do Bin Laden há soldados americanos; se lutasse contra eles, poderia estar certo ou errado, dependendo da opinião de cada um. Mas ele prefere lutar com as velhinhas inglesas no trem para casa, e mesmo assim não vai lá pessoalmente.

O que me consola é a esperança de que haja um momento, mesmo que imesuravelmente curto, em que o terrorista suicida vê que está morrendo, se entrega para seu deus (ou sua causa, ou o que quer que seja), e descobre ou que não existe céu ou que existe inferno.

É o que garante meu sono de noite, e sopra vento sob minhas asas.

Sunday, July 03, 2005

Quem não se animar com isso que vá encher o saco de outro

O troféu 'paladino do bom, do belo e do verdadeiro, capaz de fulminar o mal em qualquer de suas manifestações com um simples olhar' vai para o MIT, que desenvolveu um laptop de 100 dólares, para ser usado por estudantes pobres.

E, por incrível que pareça, parece que o Brasil vai tomar a dianteira nisso, encomendando 1 milhão dos bichinhos, com o plano de distribuir um para cada um dos estudantes de escola pública brasileira. Parece bom demais para ser verdade, mas coisas mais estranhas já aconteceram nesse país. Vejam a história hoje no Estadão.

A Conspiração

É ridícula a tese governista de que há uma conspiração de direita em curso para derrubar Lula. Não se trata de dizer (com a habitual sacada), como Veríssimo, que no velho script da conspiração de direita para derrubar governo de esquerda, falta aqui o governo de esquerda. A verdade é que poucos na elite têm interesse em derrubar a política econômica atual, e praticamente ninguém tem interesse em instabilidade institucional.

Em sua maior parte, as atuais denúncias são apenas o velho espetáculo, que a longo prazo é bom, da oposição tentando enfraquecer o governo para a próxima eleição, utilizando crimes que parecem ter acontecido, mesmo.

Mas eu acho que há mesmo um setor que gostaria da derrubada de Lula. É a indústria do anti-Lula, que existe desde 1999 e cuja principal criação foi FHC. Apesar de FHC, os principais anti-Lula eram políticos e jornalistas de direita, mesmo, que em grande parte viviam das contribuições de campanha para derrotar o fantasma do PT. Com a Longa Marcha para o Centro, esse pessoal deve estar passando dificuldade financeira, coitados. Mas ninguém ali tem, eu acho, força para derrubar ninguém.

Saturday, July 02, 2005

Sachs, China e Brasil

Antes de falar no Bush e no Blair, achei esse artigo de dois anos atrás do Sachs em que ele fala das lições chinesas para o Brasil. Achei interessante, e realmente parece confirmar que, ao menos no plano do diagnóstico, há muito menos polêmica do que se pensa. O plano é educação + investimento em ciência e tecnologia + exportação.

Em especial, gostei do que diz o Sachs sobre a necessidade do Brasil assumir a liderança mundial em agrociência, dado o imenso peso do país no mercado agrícola (e o fato de que já somos muito bons na área). Um velho argumento (que já foi meio correto) contra a ênfase no desenvolvimento agrícola, de que não favorecia a modernização, cai por terra em tempo de biotecnologia.

Agora, faltava alguém escrever sobre as lições brasileiras para a China. Há várias, a começar pela democracia. Como dizia o Amartya Sen, quando tudo vai bem e todo mundo prospera parece que ninguém precisa de democracia. Mas quando vem a crise e é hora de decidir quem vai apertar os cintos, é justamente para os mais pobres que faz falta a democracia.

E, vale dizer, a China tem problemas econômicos muito sérios. Voltaremos a isso no futuro.

PS: Fiquei curioso em saber quem era a 'importante figura da equipe econômica' que disse ao Sachs que o Brasil poderia se desenvolver só a partir do mercado interno; segundo o artigo, o cara perdeu o emprego na crise de 1999. Não acredito que tenha sido o Gustavo Franco.

Blair e Brown

O Reino Unido está fazendo uma grande ofensiva de ajuda internacional: recentemente, o chanceler do tesouro Gordon Brown prometeu comprar vacina da malária (um dos problemas da malária é que os potenciais consumidores do remédio não têm dinheiro para justificar o investimento), está tentando perdoar dívidas de países pobres, e parece comprometido mesmo a fazer com que se cumpram as chamadas Metas do Milênio. Provavelmente, querem mostrar que o Trabalhismo ainda quer dizer alguma coisa. Para mim, provou.

Recentemente, o primeiro-ministro britânico Tony Blair foi aos EUA pedir um aumento da ajuda internacional para a África.Voltaremos a isso em um próximo post.

PST-O

O PSTU já tem um novo companheiro de viagem em sua luta contra a globalização.