Friday, March 16, 2007

Fora Collor

"Todo mundo se dando bem e só eu vou levar uma tareba no c*?"
- Rogério Magri, membro do "ministério de craques" de Collor.

Collor ontem foi ao Congresso dizer que seu impeachment foi uma grande farsa. Aparentemente, conseguiu que parte da facção "leprosário moral" do Congresso se sensibilizasse. Entretanto, qualquer um que não esteja levando um por fora há de admitir o seguinte:

Ninguém provou nenhuma das acusações contra Collor, mas, até aí, ninguém provou nada contra nenhum dos mensaleiros, e nem vai provar, porque as investigações, em ambos os casos, foram mal conduzidas, e as denúncias tinham mais o objetivo de fazer os caras perderem o cargo do que de desvendar o crime. Isso não quer dizer, obviamente, que os crimes não tenham acontecido.

Collor cometeu o maior crime contra a economia popular da história do Brasil, o confisco da poupança. Até, aí, nada. O melhor é que se elegeu dizendo que seu adversário faria, se fosse eleito, o que ele mesmo veio a fazer. Ou seja: é o grau zero do caráter. E: o confisco não adiantou porra nenhuma, a inflação voltou rapidinho. Leiam o Pastore sobre o assunto.

E, talvez, o pior: Collor mobilizou um pequeno, mas dinâmico e valoroso, setor da elite de inclinação democrática e liberal, que, depois da catástrofe de seu governo, se viu completamente desmoralizado. Não sei se há como medir isso, mas me lembro claramente de jovens colegas, adversários valorosos, que se desiludiram da política por causa do vagabundo. Como resultado, a década seguinte viu uma sucessão de governos liderados por quadros de esquerda que precisavam aplicar políticas ortodoxas, sem, entretanto, contar com qualquer respaldo da opinião pública para as reformas de mercado (associadas ao Collor). FHC precisou comprar a opinião pública com o populismo cambial para fazer suas reformas, Lula foi atingido no meio do mandato por não ter feito algo do gênero.

Como eleitor da esquerda, sou o primeiro a dizer que o Brasil ganharia muito se tivesse uma direita liberal consistente, que, inclusive, ajudasse, em um debate lúcido, a corrigir certas besteiras da esquerda. Collor abortou o surgimento dessa direita, travou o início de nossa democracia, e seu legado é só esse. As boas iniciativas, como a abertura econômica, acabaram sendo contra-producentes, pois contribuíram para a associação das reformas de mercado com a corrupção.

Muito pouca gente fez mal ao Brasil como Collor. Que ele tenha a vergonha na cara para nos livrar de sua presença e de sua lembrança.

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