Wednesday, August 29, 2007

Mudamos


Levando em conta os comentários de vocês, resolvemos mudar de endereço, e de agora em diante postaremos no Wordpress. O novo link é:




Alguns comentários sobre a mudança:


1) Analisando os prós e contras, chegamos à conclusão de que o Blogger é bem melhor para quem entende de html. É muito mais flexível, e dá pra fazer mais coisa com ele. Uma vez que o WordPress tem o html fechado, não dá nem pra colocar um webcounter como o Google Analytics (eles têm um lá, deles, parece mais ou menos). Por outro lado, para quem não entende de html, como eu, o Wordpress oferece templates prontinhos mais bacanas: bem mais bonitos e com alguns recursos interessantes, como essas várias sub-pagininhas no alto da página.


2) Os posts já estão quase todos exportados para lá, mas há vários problemas com imagens, vídeos e links, que vou corrigindo aos poucos. Se um post for sem importância e estiver com cara de dar muito trabalho, vou apagar. De qualquer maneira, esse blog continuará aqui, não será apagado, de maneira que, se alguém, por algum motivo, quiser checar um post antigo mal-exportado, é só vir aqui.


3) Os comentários ainda estão começando a ser exportados agora, por isso vou responder por aqui (e por lá, também) ainda essa semana. Mas os posts novos só serão lançados lá.


Espero que vocês gostem do novo visual, e continuem prestigiando o NPTO. Estamos com uma audiência média de 80-90 pessoas, e alguns leitores fiéis, que esperamos manter (porque até que está divertido fazer esse negócio). Se alguém notar alguma coisa que não funciona na nova página, por favor, avise.

Tuesday, August 28, 2007

Boa Notícia

Certo, é deprimente ouvir a história do escândalo de corrupção de 2003. Agora, não podemos perder a perspectiva: uma vez descoberto o caso, houve a denúncia, ela foi acolhida pelo Procurador Geral (não mais um “engavetador geral”), caiu na mão de um relator indicado pelo governo, e não há o menor sinal de condescendência até agora. Acompanhar os debates no STF (com todos os problemas que o STF tem) tem sido um saudável contrapeso ao ridículo que foi a CPI (”Dirceeeeu…sai daí, Dirceeeeu….”). Não se trata de elogiar o governo por suas indicações (afinal, é o mesmo governo no banco dos réus), mas sim constatar um certo amadurecimento institucional.

Monday, August 27, 2007

Ruy Fausto

Boa entrevista na Folha de ontem com o Ruy Fausto, professor da Universidade de Paris. A enrevista marca o lançamento de um livro de artigos sobre política, meio mal apresentado pela reportagem: aparentemente, trata-se de uma coletânea de artigos sobre política (alguns dos quais, se bem entendi, já comentamos aqui, onde costumamos gostar do que o cara fala sobre política), A Esquerda Difícil. O livro certamente será resenhado aqui quando sair. Enquanto isso, os melhores momentos da entrevista:

Mensalão

"Lamentavelmente, parte da intelectualidade do PT tomou a defesa do partido, e portanto dos corruptos, e pôs a culpa na imprensa pelo escândalo, como se ela tivesse montado o essencial. A tendência a transformar tudo em complô da mídia -que está longe de ser inocente, principalmente na sua atitude para com o governo Lula, mas, no caso do mensalão, fora as diatribes sinistras contra intelectuais do PT proferidas por certa revista, ela acertou muito mais do que errou- é propriamente lamentável, e mostra a total desorientação de parte da intelectualidade petista.

Não se defendem princípios, defende-se um partido. Como se os partidos não apodrecessem, e como se eles fossem mais importantes do que um projeto socialista democrático sério. Essa atitude mistificou parte da opinião universitária, que "não acredita" no mensalão, como se se tratasse de um problema de crença ou de fé (se o mensalão era quinzenal, ou semestral, isso interessa pouco, o essencial é que houve corrupção, e grande). Com isso não quero dizer que nada preste no PT, nem que ele não tenha mais interesse. Há certo número de pessoas honestas e com convicções ali. Só que são minoritárias. Veremos se ainda podem desempenhar algum papel. "

Revista

"Creio que precisaríamos de uma revista, mas uma revista com gente que tenha posições bastante convergentes, e que se disponha a trabalhar no sentido de uma crítica intransigente ao petismo acrítico, ao revolucionarismo -inclusive o niilista- e às pseudo-sociais-democracias nacionais, que na realidade não têm nada de social-democratas. Uma revista política e teórica que fosse nessa direção representaria um passo importante, no sentido da preparação de uma reorganização política. Pelo menos denunciaríamos os sofismas e as jogadas de uns e outros. A partir daí, e entrando em contato com o que existe de melhor em vários grupos ou partidos (há gente politicamente sã, mesmo se minoritária, um pouco por todo lado, inclusive fora de grupos ou partidos) veríamos o que seria possível fazer a médio prazo."

Comentários NaPratica: ainda temos mais esperança no PT a médio prazo (mais sobre isso em post a ser publicado em breve), mas já manifestamos a intenção de comprar a revista do Ruy Fausto e linkar aqui. Tenho uma certa curiosidade sobre quem seriam os outros autores.

Wordpress

Fizemos um modelinho do blog lá no Wordpress. Dêem uma sacada e digam o que vocês acham.

Thursday, August 23, 2007

Ciro Gomes

Deu na Folha de ontem: Lula, em discussão com governadores do PT, disse que o partido não deve se fechar para a possibilidade de apoiar um candidato de outro partido da base, como Ciro Gomes.

Não há dúvida de que Ciro é o candidato mais forte à sucessão de Lula junto ao eleitorado. Marta está na descendente, Palocci, Mercadante e Genoíno dançaram durante a crise política. Dilma é uma possibilidade, mas não tem nome junto à população, ainda.

Mas uma candidatura Ciro traria um desafio interessante. Em 98 e 2002, Ciro, que antes se elegera pelo PSDB, tentava tirar votos do PT, e assim abrir um flanco à centro-esquerda para brigar com os tucanos. Se for candidato com o apoio do PT, entra em uma disputa direta com PFL/PSDB, e precisaria se mover de novo para o centro, sem, entretanto, desmobilizar a militância petista, provavelmente desconfiada de um candidato de fora do PT.

É um equilibrismo difícil, mas possível. O que Ciro deve evitar a qualquer custo é se deixar caracterizar como candidato da esquerda tradicional (PDT, parte do PSB, essas coisas). Não ganharia o PT e perderia o centro.

Lembremos que Ciro concorrerá contra Aécio, faixa-preta de primeira, que certamente vai saber roubar eleitores à esquerda quando precisar, até porque não entrou na facção mais raivosa da oposição durante a crise política. Se o candidato do PSDB for Serra, a situação é mais fácil.

A propósito: qualquer que seja o candidato do governo, suas chances começam a se estabelecer na próxima eleição para prefeito, quando o PT tem sua grande chance de se reconstruir em São Paulo antes da eleição presidencial de 2010.

WordPress

Muita gente me diz que eu deveria mudar o blog para o wordpress. Alguém aí sabe se é uma boa?

UCTV

Para quem tem trabalho chato e gosta de estudar, uma boa alternativa são os Podcasts. Você vai fazendo suas tarefazinhas bestas e ouvindo coisas interessantes no fone de ouvido. Alguns posts abaixo há a indicação de um podcast sobre filosofia, e estamos sempre falando do EconTalk. Aí vai mais uma sugestão: a UCTV, webtv da Universidade de Berkeley. Há duas entrevistas com autores de livros comentados aqui recentemente, "O Vulto das Torres" e "The Right Nation". O do Amartya Sen tem o volume muito baixo, infelizmente, e recomendamos o da Amy Chua, cujo livro sobre democracia e mercado em países com conflito étnico esperamos ler um dia desses.

Wednesday, August 22, 2007

Fraude na Câmara de São Paulo

Vocês já devem ter visto na imprensa a história do concurso da câmara de SP, que foi aquela beleza: um monte de gente da mesma família gabaritando o concurso. Até aí, mais um caso de fraude.

O interessante é o seguinte: uns candidatos revoltados saíram atrás da história e descobriram, através da Internet e do Orkut, o grau de parentesco dos candidatos e, que maravilha, descobriram que outros aprovados com notas altas são amigos da família. O trabalho de investigação pode ser encontrado no blog da fraude do concurso da câmara. Como resultado, do MP até a fundação que organizou o concurso, todo mundo está investigando.

Agora vejam só que interessante: dois aspectos da cultura brasileira colidem nesse episódio. Um, obviamente, é o nepotismo. Mas o outro, mais novo, é a tendência a escancarar sua vida pessoal na internet.

Interessante, hein?

Desigualdade cresce na Venezuela

Revolução Bolivariana é isso aí: enquanto o moderadíssimo Lula fez o coeficiente de Gini do Brasil cair 4,6%, o coeficiente de Gini da Venezuela CRESCEU o dobro disso (9%). É isso aí, companheiros: a desigualdade do socialismo do século XXI é MAIOR do que a do capitalismo do século XIX que havia antes na Venezuela. Que espetáculo.

(hat tip: Marginal Revolution)

Tuesday, August 21, 2007

Reagan sabia das coisas

Como diz a versão de Bezerra da Silva para o princípio da identidade aristotélico, Malandro é Malandro, Mané é Mané. Embarcamos na onda e citamos aqui o hoax do Reagan escrevendo sobre o Bush. Foi mal aí, e valeu ao anônimo pela dica.

Podcasts Filosóficos

Eu não tenho como baixar o Real Audio aqui no trabalho, mas, para quem tiver o programa, essa série de podcasts com filósofos tem cara de ser bem legal.

Fábula Econômica

Na entrevista do EconTalk com o Robert Barro, o apresentador Russ Roberts acabou a gravação propondo o seguinte problema para seus leitores:

Um turista ocidental vai passar as férias em uma ilha habitada somente por nativos cuja economia se baseia no escambo. Chegando lá, tenta pagar por uma tenda para sua estadia com um cheque. O nativo não entende que diabos é aquilo, mas acha o cheque bonitão (devia ser um desses cheques de rico, cheios de brilhozinho), e aceita o negócio. Mostra o cheque para os seus compatriotas, que também acham bonitão e começam a oferecer coisas por ele. Uma vez os nativos tendo se amarrado no cheque, o turista se dá bem, pois consegue pagar por tudo com cheques que jamais serão descontados, uma vez que passaram a funcionar como moeda dos nativos.

PERGUNTA: quem pagou pelas férias do cara?

Quem quiser a resposta pode ir checar. Mas o interessante foi o comentário de um dos leitores (Anshu Sharma):

" The Island is China holding our US denominated currency never 'cashing' it for real goods or services. By delivering goods and services in exchange of IOUs to the (US) visitor, the island (China) is extending an indefinite interest-free loan to the visitor. The vacation is therefore fully paid for by the islanders.

So let's go shop till we drop at Wal-Mart. China is paying!"

Explicação: os chineses estão, faz anos, torrando uma grana preta em títulos da dívida americana. Isso, como nota o Barro, faz com que a estabilidade da economia americana se converta em um importante produto de exportação. Daí o diagnóstico de muita gente boa de que a China sustentava a expansão do consumo americana até outro dia.

Agora, a questão é saber se, no momento, a crise americana é tal que a confiança chinesa diminua significativamente a ponto dos EUA perderem essa fonte de financiamento. Isso, sim, empurraria a crise atual para outro nível de gravidade. Mas não sei se isso acontece, não.

Monday, August 20, 2007

Para os cinéfilos

Nosso velho grande chapa Luiz Felipe, o popular Téo, está escrevendo uma coluna sobre cinema na Internet. Já está recomendado, e será linkado aí do lado hoje.

Friday, August 17, 2007

Cansei Cansou

Não há muito como caracterizar o ato do Cansei de hoje senão como um fracasso. O único comentarista que parece discordar, pelo que vi, é o Olavúnculo. Na Paulista, hoje, ninguém fez minuto de silêncio. Nenhum dos meus colegas tucanos, a crer na minha rápida pesquisa por email, fez minuto de silêncio - aliás, tucano de pedigree mesmo parece não ser muito chegado no Cansei, não (ao menos essa é minha impressão).

Agora, vendo as fotos, lendo os posts nos blogs, me dá a impressão de que foi uma coisa pra gente muito longe do meu gosto. Sabe aquele espantalho das elites que o governo gosta de atacar? Uns caras resolveram dar vida ao bicho.

O bicho é feio. E a trilha sonora é do Agnaldo Rayol.

O nicho de mercado de uma direita de qualidade no Brasil permanece vazio.

Piauí, cansei, etc.

A desgraça desses movimentos de classe alta no Brasil é que o nível intelectual de nossa elite é baixíssimo: quando os caras começam a relaxar e falar como falam em particular, só sai merda. Vide o depoimento do cara da Philips sobre o Piauí (hat tip: Dr. ABC). E o nível intelectual é essencial em um movimento desse tipo, que só pode ter algum sucesso se convencer os formadores de opinião, se esses influírem sobre os canais normais de disseminação cultural - igrejas, partidos, rodas de bar, etc.

O que eu acho que pode acontecer é que o Cansei vai mobilizar em torno do Lula uma parte da esquerda até agora rompida com o governo. O resto é só uma tentativa de tornar o apoio ao Lula "unfit for polite company", mas a company do caso não é muito polite, não, de maneira que deve ficar tudo igual.

Aliás, hoje é o dia do minuto de silêncio do Cansei, que contará com o apoio entusiasmado dos funcionários do Magazine Luiza.

Em vez do minuto de silêncio, poderiam fazer um minuto de exposição de qualquer proposta que fosse sobre o que quer que fosse. Na verdade, eu queria era uns dez anos de silêncio desse pessoal, de mãos dadas ao pessoal da velha esquerda, para que os adultos pudessem discutir coisas sérias. Na época da crise política de 2005 (da qual a culpa é inteiramente do governo), toda discussão adulta foi interrompida, e ainda não voltou.

Thursday, August 16, 2007

Três Donas que eu devia ler

Três autoras que eu deveria ler (ou ler mais): na verdade, suspeito que eu devia ficar quieto até ler a primeira direito.

1) Hanna Arendt: já li o "Totalitarismo", precisava ler "A Condição Humana", os outros livros sobre filosofia política.

2) Martha Nussbaum, cujo perfil pode ser lido aqui, e que vocês podem ouvir falando sobre conflitos étnicos na Índia aqui. Escreveu com o Amartya Sen, escreveu um texto interessante sobre cosmopolitismo (estava disponível online, parece que tiraram), e uns textos sobre emoção e razão que têm cara de ser muito bacanas.

3) Seyla Ben-Habib, que não apenas era da banca do mestre Jedi Josué Pereira da Silva, escreveu um livro que tem tudo pra ser bom, "Critique, Norm and Utopia", e um outro sobre a Arendt que também tem cara de ser ótimo.

Quando eu ler eu aviso pra vocês.

Livrão: "Disgrace", de J.M. Coetzee


Certo, o cara já ganhou o Prêmio Nobel de literatura, o livro é de 2000, de maneira que não se trata de nenhuma grande descoberta da minha parte dizer que esse livro é realmente um espetáculo.

A Companhia das Letras evitou o falso cognato e traduziu como "Desonra", mas, se tivesse cometido e traduzido como "Desgraça", não estaria muito longe da história, não.

O livro conta a história de um professor sul-africano de literatura solitário e meio tarado que dá em cima de uma jovem aluna da faculdade. Dá certo. Após alguns encontros, em que o leitor fica meio na dúvida sobre o quanto foi assédio sexual e o quanto foi voluntário, a menina processa o cara por assédio, e ele protagoniza um momento memorável: após confessar ter feito mesmo a coisa, os administradores da universidade dizem que aliviam a barra dele se ele der mostras de que não apenas confessa como também está arrependido, sinceramente. Ele afirma que estabelecer a sinceridade de sua contrição não é atribuição de um tribunal, é uma matéria extraordinariamente complexa, e, por princípio, se limita a confessar. É demitido sem pensão.

Até aí, beleza.

Vai então morar com sua filha que virou fazendeira no interior da África do Sul. A menina é uma idealista, defensora dos direitos dos animais, e lésbica. O protagonista começa a participar da vida dela, desempenhar tarefas da fazenda, e quando parece que tudo vai mais ou menos, três negros entram na fazenda, roubam tudo, estupram a menina, trancam o cara no banheiro e tacam fogo nele.

Aí a coisa começa a piorar.

Há várias desonras em jogo: a desonra do próprio personagem, publicamente denunciado como velho sedutor de menores e demitido; a vergonha de sua filha estuprada; e, principalmente, a vergonha da África do Sul, um país inteiro em penitência, em desgraça, em vergonha, sendo lentamente absorvido pela África que o cerca (de dentro, inclusive). A extrema decadência humana do personagem principal, sua progressiva incapacidade de expiar seus erros, a falta de reconhecimento pelo pouco que consegue, e a progressiva adaptação à velhice, à deterioração; a desonra como a perda do direito de ter uma injustiça contra si reparada.

Um clássico sobre a busca incessante de bodes expiatórios para o sacrifício (na última cena do livro isso é claro), à maneira d' "A Mancha Humana", do Philip Roth, outro livraço, do qual me lembrei algumas vezes enquanto lia. Talvez seja até melhor, não sei.

Enfim, para quem tiver tempo para dedicar a um livro denso, eu recomendo.

Wednesday, August 15, 2007

Rússia

A Paula do Nel Mezzo del Camino me chamou atenção sobre o artigo do Bernardo Carvalho sobre a situação política da Rússia atual. O artigo é legal, mesmo, vale a pena ler.

Sobre a Rússia: para entender a situação atual, vale a pena relembrar uns artigos esquecidos dos anos 90.

O Anders Aslund, economista sueco que deu assessoria para vários governos pós-socialistas, lançou a seguinte idéia: certo, os oligarcas russos roubaram as empresas. Foi. Agora, deveríamos nós encher o saco dos caras? Não. A obtenção de propriedade por meios ilícitos foi a regra, não a exceção, na maior parte dos países capitalistas (concessão de terras gratuitas para construir linha de trem, pirataria, etc., o que o Marx chamava de "acumulação primitiva"). Há sinais de que os oligarcas que sobreviveram à crise de 98 estavam administrando suas empresas mais ou menos bem. Nesse cenário, diz o Aslund, é melhor deixar como está do que arriscar re-estatizar de novo e privatizar direito (quem garante que dessa vez seria direito?).

É um argumento razoável. Só que tem outro lado, bem explicado por um sociólogo húngaro chamado Akos Rona-Tas. O "capitalismo político" russo pode se reproduzir indefinidamente, porque, cada vez que se faz uma privatização na base da sacanagem, a população fica chocada com o episódio, passa a desprezar os ricos (mesmo os que não têm nada a ver com isso), e pedir que o Estado intervenha pra por ordem nessa zorra. Aí o Estado (por exemplo, o Putin) começa a perseguir alguns dos novos milionários (os que não aceitam apoiar o governo) e redistribuir o que for confiscado para seus cupinchas em uma nova rodada de sacanagem. Aí a população fica desiludida...

Em uma interpretação mais otimista, é possível que o ciclo vá perdendo intensidade com o tempo. Nessa nova rodada o Putin já vai distribuir menos empresas, comparado ao que o Yeltsin entregou, e é possível que o próximo governante tenha menos ainda para redistribuir.

Mas realmente não é um quadro muito bonito.

Sobre o Bernardo Carvalho: eu gosto dos livros dele, como já dito aqui. Recomendo especialmente o Mongólia.

CM volta a ser spam




Não sei nem o que comentar a respeito disso:



"Publicitários enviaram a este Ex-Blog este anúncio do Banco do Brasil. Afirmam que é uma mensagem subliminar com o número 3, com vistas a ir disseminando a idéia de um terceiro mandato. Decida pelo 3... mandato? Banco... da Sustentabilidade... do mandato? Será????"


Saiu no Ex-Blog do CM. Quando eu começo a me animar a ler de novo (às vezes sai umas coisas boas mesmo), ele faz dessas. A foto do anúncio (que, aliás, eu nunca vi) está aí em cima. Só me resta levantar e ir tomar meus 3 cafés de hábito.


Café...Filho? ...PRESIDENTE... Café Filho? ...PRESIDENTE PELA TERCEIRA VEZ...etc.?

Tuesday, August 14, 2007

Rodrik vs. Tabarrok

Briga de cachorro grande na blogosfera econômica: o Dan Rodrik (link aí do lado em breve), professor de economia em Harvard, escreveu um artigo em defesa dos países fazerem política industrial. O Alex Tabarrok, que, junto com o Tyler Cowen, escreve o excelente blog Marginal Revolution (link já aí do lado) desceu a lenha, e o debate foi parar no Free Exchange, blog da The Economist (que concorda com o Tabarrok). O debate teve, inclusive, impacto na blogosfera brasileira, com o Hermenauta e o FYI "torcendo", respectivamente, pelo Rodrik e pelo Tabarrok. Se eu entendi, trata-se do seguinte:

Disse o Rodrik: os economistas aceitam a intervenção estatal em áreas como saúde e educação, mas não na indústria. No caso das políticas sociais, os argumentos a favor se baseiam na teoria das falhas de mercado, as externalidades positivas da educação, etc. Embora esses argumentos sejam intelectualmente muito plausíveis, e sejam indiretamente relacionados a pressupostos mais ou menos aceitos, ainda não existe um corpo de evidências empíricas muito sólido que os apóie. Mesmo assim, os economistas em geral continuam aceintando a intervenção com base neles.

Ora, a situação no caso da política industrial é exatamente a mesma: há argumentos baseados nessas mesmas teorias, igualmente plausíveis, mas sem grande sustentação em estudos empíricos. Não há motivo, portanto, para a gente não discutir, pelo menos, a conveniência de se fazer política industrial. Para apoiar seu argumento, o Rodrik lista alguns exemplos de políticas industriais que deram certo.

O Tabarrok caracterizou esse argumento como "o pior de todos os tempos", e reescreveu-o assim:

1 - Nós aceitamos umas coisas aí mesmo sem evidência empírica.

2 - Não temos evidência empírica a favor da conveniência de se fazer política industrial.

3 - Devemos, pois, aceitar a conveniência de se fazer política industrial.

Foi essa versão que o blog da The Economist aceitou. Mas, se vocês prestarem atenção no argumento do Rodrik, ele não é esse aí, não (que seria mesmo uma droga). A base do argumento é a tal das teorias da falha de mercado, que, pelo que eu sei, é amplamente aceita (o que não quer dizer que sua aplicação nesse caso o seja). Nos comentários do Marginal Revolution, o vosso mané aqui tinha que dar um pitaco, e reformulou o argumento assim:

"1 - Economists support state intervention in some areas where there is no rock-solid empirical evidence for it, ONLY PLAUSIBLE THEORETICAL CONSIDERATIONS LOGICALLY DERIVED FROM USUALLY ACCEPTED PRINCIPLES, OF WHICH WE HAVE ONLY INDIRECT EMPIRICAL EVIDENCE (the whole market failures discussion).

2 - Some of these theoretical considerations should apply to industrial policy.

3 - We therefore should be open to discuss the convenience of industrial policy."

Daí em diante o negócio pode ser verdadeiro ou falso, mas não é trivialmente errado, como sugeriram o Tabarrok e o Free Exchange.

Acrescento mais dois pontos:

1) Acho que aceitamos o argumento no caso da política social porque consideramos a perspectiva das crianças ficarem fora da escola tão horroroso que não queremos correr o risco das falhas de mercado ocorrerem. Somos mais céticos no caso da política industrial porque não consideramos um crescimento econômico sub-ótimo tão terrível assim para correr os riscos associados à intervenção do Estado (corrupção, ineficiência, etc.). Mas, como me chamaram a atenção lá nos comentários, isso é só especulação.

2) Não sei como se poderia fazer um teste econométrico da conveniência de se fazer política industrial, acho a variável "política industrial" ampla demais: involve subsídios, barreiras alfandegárias, políticas de inovação e incentivo, enfim, um monte de coisas diferentes. Mas, enfim, não é porque eu não sei fazer que é impossível.

Monday, August 13, 2007

Eleição para Prefeito em São Paulo

A Folha publicou ontem pesquisa para a prefeitura de SP, com Alckmin na frente de Marta e Kassab em empate técnico com Maluf e Erundina (um pouco atrás, mas ainda em empate técnico). Vamos especular, que essa é a graça da coisa.

Eu achei boa notícia para o Kassab. O Alckmin provavelmente chegou no teto. Todo mundo já conhece o sujeito, que foi governador e candidato a presidente vitorioso na cidade. Quem ainda não vota nele no primeiro turno dificilmente virá a votar, visto que a chance de ele ou o Kassab ou o Maluf não irem para o segundo turno é nula (o que exclui um voto útil de direita). Kassab, por outro lado, vai para a arena pela primeira vez. Se vonseguir tirar 8 pontos de Alckmin e 5 de Maluf, passa o tucano. Na simulação atual, perde para Marta no segundo turno, mas, depois de se tornar conhecido, pode ser diferente.

Alckmin joga pelo empate. Se vai ao segundo turno com Marta, vence, salvo mudança drástica no quadro, pois recebe o apoio de Kassab, mais alguma transferência do Maluf. Não pode deixar o Kassab crescer, mas tampouco pode acabar com o cara, pois vai precisar do apoio dele no segundo turno.

Marta está individualmente bem, mas isolada. Para ganhar, precisa, primeiro, garantir o segundo turno, o que não é improvável. Mas, se cair muito, pode haver voto útil em Erundina (não vi a simulação com a Erundina, gostaria de ver). Supondo que não caia, precisa garantir a transferência de todo voto da Erundina e do Paulinho da Força Sindical, mais aquela facção dos mais pobres que o PT sempre disputou com Maluf (precisaria melhorar o discurso sobre segurança, precisaria enfatizar muito isso). Daí em diante a diferença cai abaixo de dez pontos, e, não tem jeito, precisa tirar voto do adversário no segundo turno.

A minha curiosidade sobre Erundina no segundo turno é a seguinte: eu acho que ela receberia transferência de Alckmin no segundo turno. Com o apoio da Marta, ganharia do Kassab.

Alckmin ganha se a eleição for morna. Kassab pode tocar fogo no negócio. Marta ganha se conquistar os votos de Erundina e redefinir a imagem, jogando a fama de braba para o lado positivo ("firme contra o crime", algo assim). Nós aqui gostaríamos de ver a Erundina tendo uma chance.

Friday, August 10, 2007

Eu os nomeio imperdoáveis

Certo, quando eu era moleque eu gostava de heavy metal para extravasar agressividade, ir para os shows para dar cotovelada na cara dos caras e levar uns chutes sempre no maior espírito de camaradagem, etc. Agora, tem umas coisas de que eu gostava que eu até hoje sinceramente acho bonito, da mesma forma que acho pintura renascentista bonita. Uma delas é The Unforgiven, do Metallica.

Thursday, August 09, 2007

Livraço: "Divided Jerusalem", de Bernard Wasserstein



Estava procurando um livro sobre o conflito no Oriente Médio que fosse minimamente equilibrado, e esse pareceu ser ele: é elogiado como tal pelo Independent e pela Economist, de maneira que achei que valia a pena. E valeu. É realmente excelente.

O livro é uma história da cidade de Jerusalém do ponto de vista diplomático. Isto é, não é uma discussão religiosa sobre quem tem direito a que pedaço da cidade ou da Palestina. Não vou resumir, só recomendar que alguma editora tenha a decência de traduzir. Vejam só algumas das coisas que eu não sabia:

1 - Talvez a coisa mais interessante do livro: o quanto cada uma das três religiões monoteístas variou em seu julgamento sobre a santidade de Jerusalém. Em geral, essas flutuações acompanharam as idas e vindas da política internacional. Nas três religiões - judaísmo, cristianismo e islã - sempre teve alguém dizendo que Jerusalém tinha que ser propriedade do seu próprio grupo. Mas hoje, por exemplo (meu, não do livro), quando a perspectiva de uma reconquista cristã é remota, não se vê gente nos jornais ocidentais exaltando a santidade da cidade e exigindo sua conquista.

O caso mais impressionante é o dos sionistas. Os sionistas eram fundamentalmente laicos, e tinham até um certo desprezo pela religiosidade dos judeus nativos da Palestina. Até estavam afim de ficar com Jerusalém, mas não jogavam todo seu peso nisso, não. A cidade deles era Tel Aviv, muito maior e cosmopolita. Aceitaram vários esquemas de divisão da cidade ou internacionalização até que o glorioso rei da Jordânia atacou Israel durante a guerra de 6 dias, sem a menor chance de ganhar. Como resposta, Israel invadiu Jerusalém e pegou pra eles. Daí em diante, e só daí em diante, Jerusalém passou a ser considerada o ponto central da identidade nacional israelense.

Os muçulmanos, por sua vez, decidiram mais ou menos tardiamente que Jerusalém era um lugar sagrado, em parte para inspirar o pessoal a ir dar porrada nos cruzados. Há no livro um relato de um soberano muçulmano que deu umas chicotadas em viajantes por acharem que eles estavam indo a Jerusalém como quem vai a Meca. Enfim, é claro que existem argumentos teológicos de todos os lados, mas eles aparecem com mais frequência quando tem disputa política na jogada.

2 - Durante a maior parte do último milênio, a grande briga religiosa em Jerusalém era entre Cristãos latinos e ortodoxos, que proporcionavam um bonito espetáculo periódico de monges saindo na rua pra bater em outros com pedaço de pau. As potências ocidentais se revezavam pela proteção dos peregrinos cristãos, com Veneza, do lado dos latinos sendo sucedida pela França, que ainda chegou a ser contestada pela Itália depois da unificação. Entre os ortodoxos brigavam gregos e russos (brigam até hoje, e, aliás, brigaram inclusive durante o período soviético). O Kaiser alemão bolou um negócio impressionante: um bispado comum luterano/anglicano, que ele sonhava ser a base de uma aliança estável anglo-germânica. E a impressão que dá é que os otomanos administraram essa bagunça o melhor possível, com muita corrupção, mas sem fanatismo. Em um dado momento, as chaves da Igreja do Santo Sepulcro (dividida por latinos e ortodoxos) foram dadas para uma família muçulmana, para evitar confusão, e isso deu certo por um bom tempo.

3 - O plano original das potências ocidentais para dividir a Palestina do Mandato Britânico (que é mais ou menos o que se está tentando fazer até agora por lá) era dividir uma parte judaica, uma parte árabe (que iria para a Jordânia - o nacionalismo palestino demorou para ser reconhecido), e Jerusalém seria cidade aberta, sob controle da ONU. Eu tenho imensa simpatia por essa proposta, o que comprova outra tese do autor, que ao longo da história todo mundo que não tinha exército lá era a favor da internacionalização. É uma pena que a proposta tenha realmente caído em descrédito, era a solução óbvia para o problema. Hoje em dia, com a cidade radicalmente dividida, seria mesmo difícil.

Mas talvez o ponto mais assustador seja a progressiva radicalização por cada vez menos espaço: começa com a discussão de como partilhar a Palestina, depois como partilhar Jerusalém, e depois chega-se no ponto em que se discute como dividir o monte do Templo, incluindo seu subsolo e cada metro de seu perímetro. Em nome desse pedacinho, grupos extremistas de ambos os lados já mataram e morreram às pencas.

E no livro tem muito mais coisa. Recomendo enfaticamente.

Mellão: chegou a hora de dizer bosta!

O João Mellão escreveu umas besteiras no Estadão sobre o Lula ir para o Nordeste, onde gostam dele, e não voltar. Que beleza. Vejam só:

“Nada contra o fato de o presidente se refugiar nos Estados nordestinos. Afinal, é neles que se encontra a grande maioria de seus eleitores, todos eles devidamente subornados pelo Bolsa-Família. Mas, a bem da Nação, a sua passagem deveria ser só de ida. Chegou a hora de dizer: Basta!”

Comentário do sempre inteligente Luiz Felipe Alencastro:

"O raciocínio cerebrino do deputado pressupõe que a legitimidade presidencial só existe nas regiões onde Lula obteve maioria eleitoral. Lula venceu na maioria dos Estados do Norte e do Nordeste, mas ganhou também em Brasília, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nestes 5 Estados ele obteve uma vantagem de 7.291.000 votos sobre Alckmin no segundo turno. Ou seja, mesmo que todos os brasileiros do Norte e do Nordeste tivessem ficado em casa, ou pertencessem a um outro país, Lula ainda dava de lavada no candidato tucano no segundo turno. Para ser coerente, o deputado do DEM deveria também incluir todos os brasilienses, goianos, capixabas, mineiros e cariocas no seu ‘chega pra lá’ excludente e preconceituoso. De quebra, poderia agregar ainda, neste mesmo grupo de “subornados” cujo voto vale menos que o dele e de seus amigos, e que não pertence à "Nação" deles, todos os eleitores da Baixada Santista e da Grande São Paulo, que também deram a maioria de seus votos a Lula.Falta quanto tempo ainda para a direita brasileira aprender o caminho das pedras da prática democrática?"

Ja botamos aqui na época da eleição: dos dez maiores municípios do estado de SP, Lula ganhou em 5, Alckmin em 5.

Eu acho que foi o velho Gramsci que disse: quando um movimento começa a falar só para os seus, é porque está em retirada. Isso está acontecendo no PT, mas até que isso é normal: os caras ganharam o poder, ficaram lá um tempo, começaram a perder o ímpeto. Agora, é impressionante que essas coisas como o Cansei e o Mellão já comecem assim, dando a saída recuando pro goleiro.

Imaginem como esse artigo pode municiar os apoiadores do Lula no resto do país. Na verdade, o Mellão provavelmente está consciente do seu horizonte político - no máximo, ser deputado por SP, e está se conformando com o papel. Agora, que o partido dele não se manifeste sobre isso mostra que o PFL não tem o menor risco de ter projeto nacional.

A propósito: antes que me acusem de ser anti-paulista, sou carioca residente em São Paulo, e meu currículo de bandeirante é muito melhor do que o do Mellão: ou ele já pegou ônibus pra ir dar aula em Votuporanga? Sou um grande admirador de São Paulo, fã de carteirinha das colônias japonesas e italiana (com quem aprendi a falar com as mãos), viciado em pizza (que, de fato, é melhor aqui que na Itália), formado pela sociologia paulista, e minha alma mater é a UNICAMP. Certo, o sujeito que deu a sorte de ser carioca não abandona a raça nem que queira (e porque quereria? Duas palavras: biscoito globo), mas eu também adoro essa porra aqui. O problema de São Paulo é que os paulistas são como os americanos: só oferecem um único emprego para vagabundo, o de governá-los.

PS: sempre deixando claro, não estou defendendo a política carioca em contraste com a política paulista. Se a câmara de vereadores do Rio fosse implantada na Somália, os caras sentiriam saudades dos bons e velhos senhores da guerra que antes os oprimiam.

Boxeadores Cubanos

Antes de dizer qualquer coisa, devo admitir que, do ponto de vista estritamente legal, o governo acertou em deixar os boxeadores cubanos irem embora. O status de perseguido político precisa ser explicitamente requerido, e os boxeadores não o fizeram. A favor do governo brasileiro está o fato de que o jogador de handebol que pediu asilo vai ganhar.

Agora: é meio óbvio que o motivo do arrependimento dos caras foi ameaça a suas famílias. O governo brasileiro deveria ter condicionado a autorização para que saíssem do país a uma garantia do governo cubano de que não haveria sanções contra eles ou contra os seus, acompanhada de monitoramento por organizações de defesa dos direitos humanos. Dava para proibir os caras de saírem? Bom, dava. Segurava eles por violação de visto, qualquer coisa.

É compreensível o desejo de evitar um incidente diplomático, mas, se alguma coisa acontecer com esses caras - por exemplo, se eles forem proibidos de lutar - parte da responsabilidade é nossa.

Posts

Só para informar: não teve post nas últimas horas porque o Blogger está meio esquisito, o espaço para digitar está sem os ícones para imagem, inserir links, etc. Assim que eles voltarem, voltamos.

Tuesday, August 07, 2007

Marcos Cintra e o Cansei

Basicamente, o que eu queria dizer sobre o Cansei foi dito pelo Marcos Cintra, um dos quatro liberais consistentes de que o Brasil dispõe (fora ele tem o Paulo Guedes, o Armínio Fraga, e estou colocando mais um aí de margem de erro). Em resumo:

"Da mesma forma, o milionário movimento "Quero mais Brasil", que uniu em 2006 entidades empresariais e sindicais, só resultou em mais faturamento para a mídia. Pouco restou de concreto. Por que esses milhões de reais não são usados no financiamento de "think tanks", usinas de estudos e de propostas concretas para os problemas brasileiros? Por que sindicatos, federações e centrais de trabalhadores não investem na elaboração de caminhos a serem trilhados pelo país, em vez de só se queixarem? "

(hat tip: ectoplasma do Dr. ABC)

PS: alguém sabe uma tradução para hat tip (o reconhecimento de que um post foi inspirado na dica de outra pessoa)?

Monday, August 06, 2007

Costa Rica

Faz um tempo que tento achar algo para ler sobre a Costa Rica, desde que li um artigo do Ruy Fausto sobre Cuba. A Costa Rica fez uma revolução de esquerda em meados do século passado que, vejam só, não descambou para a ditadura, mas conseguiu resultados excelentes na área social (melhores que os de Cuba). E não vale dizer que os caras eram reacionários disfarçados, porque eles inclusive apoiaram as revoluções cubana e nicaraguense (até elas descambarem, muito mais a primeira que a segunda, para o autoritarismo). Enfim, ainda quero estudar mais a história dos caras. Mas fiquei positivamente surpreso por encontrar um artigo do Sirkis sobre o líder revolucionário Pepe Figueres, em que ele justamente chama atenção para o fato de que a experiência da Costa Rica recebe muito menos atenção do que a cubana.

Boxeadores Cubanos

O governo brasileiro não pode deportar os boxeadores cubanos. Eles certamente sofrerão perseguição política se voltarem a Cuba, e o Brasil, onde muitas das autoridades já foram exilados, não pode compactuar com esse tipo de arbitrariedade.

A situação é difícil, entretanto, porque os boxeadores afirmam querer voltar volutariamente. Se pedissem asilo, diz Tarso Genro, conseguiriam imediatamente. Eu estou disposto a apostar que esse "voluntariamente" quer dizer "porque senão minha família em Cuba está ferrada". Mas o fato é que, legalmente, o Brasil não pode apelar para a cláusula do preso político sem que os interessados se definam como tais.

Entretanto, o Brasil pode jogar seu peso diplomático para garantir, não só a segurança dos caras, como também a de suas famílias. Se os caras quiserem fugir para a Bolívia para voltar para Cuba, não há muito o que fazer, mas, se não o fizerem, o Brasil deve, no mínimo, dar-lhes visto de permanência, e eles que partam se o desejarem. E devemos pedir ajuda a organizações internacionais de direitos humanos para garantir que não sofram represálias em Cuba, se, por falta de alternativa, desejarem mesmo voltar.

Parabéns ao Luiz Felipe Alencastro e ao Gaspari por terem defendido os boxeadores, que não estão encontrando muita simpatia na imprensa brasileira.

Friday, August 03, 2007

Foreign Policy TV

A Foreign Policy (ver link aí do lado) acaba de lançar uma TV no YouTube, cujo primeiro episódio é um debate com o seguinte título: os EUA iriam à guerra contra a China por Taiwan? Vale a pena ver.


Finalmente uma campanha séria


Que Cansei, cansamos, que nada! Campanha séria é essa!


Thursday, August 02, 2007

Movimento "Cansei"

Síntese dos dois posts perdidos sobre o movimento "Cansei":

Muita agitação em torno do movimento "Cansei", organizado por uma série de grupos de gente rica (jovens empresários da FIESP, um pessoal da OAB, etc.) e liderado por, enfim, aquele apresentador de TV, o João Dória Jr., uma espécie de Amaury Jr. sem graça.

Há grande controvérsia em torno do quão apartidário é o movimento: o Dória diz que é, as reportagens sobre a passeata que eles organizaram sugerem que, decididamente, não é: é um movimento de gente rica contra o Lula. Sobre isso, duas coisas:

1) Não há nada de errado nisso. É perfeitamente possível que alguns problemas que afligem os ricos especialmente - como o risco de sequestros, ou de desastre de avião - também afete os mais pobres, talvez mais indiretamente. Nesses casos, as propostas devem ser julgadas por seus próprios méritos, não pela origem social dos que as propõem. Não tive a impressão de que haja muitas propostas, mas, nesse caso, trata-se apenas de uma passeata de oposição, o que, naturalmente, também é legítimo.

2) Se os ricos querem, por algum motivo que me escapa, ser contra o Lula, fariam melhor em apresentar propostas que sensibilizem os pobres do que em se organizar como grupo de interesse.

O pessoal do cansei está se esforçando para perder a imagem de "golpista", "elitista", etc. O presidente da Philips hoje na Folha diz que se o Lula quiser entrar, será bem-vindo. Agora, discordo do seguinte:

" Se tivesse proposta seria um movimento partidário. Como não é partidário não pode ter proposta."

Digamos, por exemplo, que eu lance um movimento para regularizar a propriedade dos favelados (como propõe o De Soto). Eleitores do PT poderiam apoiar porque ajuda os pobres, eleitores do [espaço para ser preenchido com o nome do partido consistente defensor do capitalismo que ainda não existe] podem ficar contentes com a potencialização do capitalismo na base. O movimento teria gente de vários partidos, mas se pautaria por uma proposta concreta. Um movimento que propusesse medidas contra a corrupção, por exemplo, poderia facilmente atrair gente de várias simpatias partidárias.

O presidente da Philips argumenta que o movimento quer propor uma reflexão. Reflexão se propõe começando-a, oferecendo uma proposta para a discussão.

PS: ô nomezinho besta pra movimento.

PS2: a imagem que eu queria colocar, mas não consegui (e acabei apagando tudo por engano) era a charge do Angeli na Folha.

Foi mal, aí

Galera, foi mal, fui tentar colocar umas imagens e apaguei os dois posts sobre o movimento "Cansei". Tenho os rascunhos, vou postá-los acima, mas peço desculpas para o pessoal que comentou. Quem quiser comentar de novo, sinta-se à vontade, e quem quiser me xingar por ter perdido o negócio, também.

Giddens e a esquerda

Saiu hoje no boletim do CM o resumo de um artigo do Giddens no El Pais, sobre o futuro da esquerda. Como resuminho ex post do que fez o New Labour é legal. Ei-lo:

"1. Há uma série de princípios estratégicos principais, bem diferenciados do pensamento da esquerda tradicional. O primeiro é: apoderar-se do centro político. Nenhum partido social-democrata pode hoje triunfar se pretender atrair uma determinada classe. O importante é tratar de mover o centro da gravidade política para a esquerda. Nos últimos dez anos, o trabalhismo soube fazê-lo.

2. O segundo princípio é: assegurar a solidez da economia. Garantir mais justiça social significa contar com uma economia mais sólida, não o contrário. Os governos trabalhistas anteriores, quase sem exceção, acabaram em crise econômica aos poucos anos de deter o poder.

3. O terceiro princípio é o de realizar grandes investimentos nos serviços públicos, mas insistindo em que sejam acompanhados de reformas destinadas a fazer com que tais serviços sejam mais eficientes e transparentes e tenham maior capacidade de reação. Para isso são essenciais a possibilidade de escolha e a competência.

4. O quarto princípio é o de criar um novo contrato entre o Estado e os cidadãos, que inclua tanto direitos, quanto responsabilidades. O governo deve proporcionar os recursos necessários para ajudar a gente a construir sua própria vida, mas a gente deve cumprir sua parte no pacto. Por exemplo, até agora, as indenizações por desemprego eram um direito incondicional. Mas agora, essa situação convida a não assumir nenhuma responsabilidade e tem o efeito de impedir o acesso dos trabalhadores a certos postos de trabalho. As pessoas que perdem seus empregos devem responsabilizar-se pela procura de trabalho e, ao mesmo tempo, devem ter a possibilidade de atualizar sua formação quando o necessitem.

5. Por último, o princípio mais controvertido – embora crucial para o êxito do trabalhismo – não permitir que a direita política monopolize nenhuma questão. A direita tende a prevalecer sempre em áreas, como a ordem pública, a imigração e o terrorismo; temos de buscar soluções de centro esquerda para estes problemas. Dadas as repercussões de viver num mundo mais globalizado, é preciso que encontremos um novo equilíbrio entre as liberdades civis e a segurança."

Essa pra mim é a lista de tarefas para o governo Lula. Até agora, o item 1 até que vai mais ou menos, o item 2 vai bem, o item 3 só começou agora (o que é péssimo), o item 4 está falho (mas a questão é menos urgente no Brasil, onde coisas como seguro desemprego são uma piada) e o item 5 só apareceu no radar do governo agora, com a aproximação com o Cabral.

Wednesday, August 01, 2007

Gente que Faz

Vi essa no Tyler Cowen e achei excepcional. Em vários países, não há a figura do cobrador de ônibus ou trem. Você compra a passagem e entra. Se não comprar, entra também. De quando em quando, entra um fiscal e checa quem está com passagem ou não. Quem não estiver paga uma multa bem maior que o preço da passagem. Pois bem.

Em Mumbai, Índia, uns indivíduos empreendedores inventaram um seguro para o picareta caloteiro que pega o trem sem pagar. Ao invés de pagar o trem, ele compra um seguro na entrada da estação, mais barato que a passagem. Se o fiscal parar ele, o "segurador" paga a multa.

Pra fazer sacanagem todo mundo tem idéia.

Globalização e seus saudosistas (eu)

Dois posts importantes no Daniel Drezner hoje. Um é o começo da matéria da Newsweek sobre a situação atual do mundo:

"For all the whining and worrying in the United States and abroad, therefore—and for all the real and pressing problems that remain—the world has never had it so good. The most advanced countries are allies and are generally devoted to the betterment of their own and other peoples. More than a third of humanity lives in countries growing at about 10 percent annually. Living standards have never been higher, life spans longer or politics freer, and there is every reason to expect such trends to continue. This generally benign context, in which great-power war and depressions are extremely unlikely, is the backdrop against which less serious or more speculative problems—terrorism, diplomatic rivalries, slow or unevenly distributed growth, future climate changes—loom large.

It is crucial to remember, however, that our generally happy condition is neither accidental nor inevitable. It is the result of wise choices made by leaders and publics in decades past—a legacy that could be squandered if we take things like great-power peace or an open global trading system for granted, or get spooked into rash or imprudent actions that create more problems than they solve.

This was the Bush administration's real failure: intoxicated by self-righteous hubris, it never understood that dominance could be exercised but legitimate authority had to be earned. So it scorned the routine diplomatic maintenance necessary to keep the system in good working order, only to find itself isolated when its pet projects came a cropper. At this point, having squandered most of his capital and having defined himself so starkly through his initial policies, there is little Bush can do to change anyone's mind about anything. His successor, however, will get a fresh start. And if the next administration can avoid Bush's mistakes, it should find keeping the world on track much easier than most currently expect."

Minha impressão é que todo mundo "took for granted" os benefícios da globalização e ninguém se esforçou para manter o negócio funcionando. O que nos leva ao segundo post, sobre uma proposta de deputados americanos de impor restrições comerciais à China. Como resposta, um grupo de 100 economistas norte-americanos (incluindo um punhado de Nobéis e o próprio Drezner) lançou um manifesto, reproduzido abaixo:

"We, the undersigned, have serious concerns about the recent protectionist sentiments coming from Congress, especially with regards to China.

By the end of this year, China will most likely be the United States' second largest trading partner. Over the past six years, total trade between the two countries has soared, growing from $116 billion in 2000 to almost $343 billion in 2006. That's an average growth rate of almost 20% a year.

This marvelous growth has led to more affordable goods, higher productivity, strong job growth, and a higher standard of living for both countries. These economic benefits were made possible in large part because both China and the United States embraced freer trade.

As economists, we understand the vital and beneficial role that free trade plays in the world economy. Conversely, we believe that barriers to free trade destroy wealth and benefit no one in the long run. Because of these fundamental economic principles, we sign this letter to advise Congress against imposing retaliatory trade measures against China.

There is no foundation in economics that supports punitive tariffs. China currently supplies American consumers with inexpensive goods and low-interest rate loans. Retaliatory tariffs on China are tantamount to taxing ourselves as a punishment. Worse, such a move will likely encourage China to impose its own tariffs, increasing the possibility of a futile and harmful trade war. American consumers and businesses would pay the price for this senseless war through higher prices, worse jobs, and reduced economic growth.

We urge Congress to discard any plans for increased protectionism, and instead urge lawmakers to work towards fostering stronger global economic ties through free trade."

Como boa parte da globalização são os EUA e a China comerciando entre si, uma guerra comercial entre eles seria uma desgraça. Antes que o pessoal de esquerda se anime, o que está acabando é o lado bom da globalização: os problemas continuam existindo. Ainda vamos sentir saudade dos anos 90.

É como a gente sempre diz

Do livro "Calendário do Poder", do Frei Betto (achado pelo Dr. ABC), página 37:

"A mim importa o comando do novo presidente pautado pelo programa de governo e os princípios que sempre regeram o PT. Quem paga a banda escolhe a música: e eu conheço a que soa bem aos ouvidos de Lula: a questão social.

Muitas vezes, na prática a teoria é outra".