Thursday, March 30, 2006

Heloísa Helena (II)

A Heloísa Helena é como o Nunes, ex-centroavante do Flamengo. Doido, meio pereba, mas de vez em quando fazia um golaço (tendo inclusive dado o título mundial para o Mengo).

No momento, ela quer uma nova investigação para os caras que receberam o mensalão, que, inacreditavelmente, não são acusados de nada. A estimativa inicial era de que 60 ou 80 deputados fossem mensaleiros.

De maneira que José Dirceu, por exemplo, é acusado de corromper, mas ninguém é acusado de ter sido corrompido por ele. Que beleza.

Ou seja: os caras vão continuar lá, para corromper o próximo governo, seja ele qual for.

Heloísa Helena (I)

Segundo o ex-blog do artista anteriormente conhecido como César Maia, Heloísa Helena vai aparecer bem melhor nas próximas pesquisas. Há alguns meses que o César Maia enche a bola da Heloísa Helena. Evidentemente, é para tirar voto do Lula e forçar o segundo turno.

Afinal, se ela subir e ameaçar ganhar, eles têm munição para desinflá-la. Por exemplo:

O Olavo de Carvalho já cantou a bola, e os caras do Centro Acadêmico de comunicação da UNB investigaram. O PSOL tem entre seus membros Achille Lollo, um ex-Brigadas Vermelhas que foi condenado na Itália por incendiar criança. Sem sacanagem.

O vagabundo resolveu tacar fogo em um sujeito que era líder local de uma organização de direita. Tacou gasolina por baixo da porta do cara, e riscou um fósforo. Só estavam em casa os dois filhos do cara, que morreram. Na matéria do CACOM, há fotos.

Evidentemente, eu não acho que a Heloísa Helena taque fogo em criança, ou ache isso aceitável. Agora, por que é que a esquerda continua abrigando esses merdas? Só por que o PFL aceita o Bolsonaro? Esse é o padrão?

Enfim.

Ah, bom

Deu na CBN agora:

"- Professora, como a senhora explica a recente queda da poupança?
- Bem, isso se deve ao aumento do consumo."

Ah, bom.

Mas não é só aqui, não. Na Economist de duas semanas atrás saiu que um terrorista em julgamento nos EUA corria o risco de ser

"executado por execução letal"

É isso aí, como diria Jardel, clássico é clássico e vice-versa.

Tuesday, March 28, 2006

Preciosa

"Lula é culpado por várias gerações" - ACM neto

ACM, culpado, gerações....

Equipe Econômica

Alguns estão lendo a saída da equipe econômica como manifestação de ´desconfiança dos técnicos quanto ao Guido Mantega. Pode ser, mas acho também que pode ser o pessoal querendo se afastar do governo, por que está vendo que lá vem chumbo.

Fim da equipe econômica

Saíram hoje: o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e o secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani.

Mainardi

Na entrevista do Manhattan (que, ainda que puxa-saco, foi boa), um momento especialmente patético. Mainardi critica FHC pela escolha de Alckmin. FHC interrompe Mainardi e diz "É, você parece saber muita coisa, mas eu sei mais". Mainardi levou o toco de maneira grotescamente pusilânime, e fez cara de quem estava pensando "se eu me encolher, será que consigo ajoelhar mais baixo?".

Juros

Um monte de gente reclamando dos juros, mas hoje, o Globo, muito de leve, em um gráfico, tocou no ponto que realmente devia ser discutido. A última alta de juros foi justificada pelo medo da crise na economia americana, que até agora não veio.

Os melhores analistas acharam que vinha. Lendo a Economist, parecia iminente. O FHC, na sua última entrevista Lewinsky (no Manhattan Connection), admite que não sabe por que a crise ainda não veio, e o Ricardo Amorim (disparado o melhor comentarista do programa) prevê que seja agora no final do ano.

Essa é das grandes. Há, ao mesmo tempo 1) bolha imobiliária, um dos melhores sinais de que crise vem aí, como foi no caso do Japão nos anos 80; 2) os infames déficits gêmeos (interno e externo), universalmente reconhecidos como sinônimo de "vai dar merda"; 3) a aposentadoria da geração "baby boom", que vai estourar a previdência; 4) a desvalorização chinesa, que pode ser feita com mais ou menos barbeiragem. Enquanto isso, qualquer corte de gastos é dificílimo por causa da guerra.

Agora, o que eu queria saber é: por ter esperado a crise agora, o BC deu um prejuízo agora, mas terá diminuído o prejuízo futuro? Não tenho a menor idéia, mas suspeito que ninguém tenha.

Mantega

Todo mundo enfatizando que a política econômica não muda, mas o Delfim discorda. E junto com Palocci saiu o Murilo Portugal, e quase saiu o Joaquim Levy, que não se dá bem com o Mantega, e só ficou a pedido do Mercadante.

Impeachment

Começou a movimentação pelo impeachment: com a queda de Palocci, Lula perde seu ponto de apoio na elite, e a oposição se animou. César Maia pediu o impeachment hoje, o ACM neto fez ruídos nesse sentido, o Casoy pediu o impeachment na imprensa.

Monday, March 27, 2006

Pós-Palocci

Agora, embora eu tenha perdido muito do meu interesse pessoal na eleição que se avizinha, a situação pós-Palocci será curiosa. Não há mais nenhum grande envolvido no governo cuja demissão sangre o Lula eleitoralmente (aliás, lembremos que quando Dirceu caiu, profetizou: "Agora é o Palocci").

Portanto:

1) Ou a oposição vai reavivar a proposta de impeachment,

2) Ou a crise política acabou. Ninguém vai investigar caixa 2, distribuição de cargos por dinheiro, etc. por altruísmo, por que todo mundo tem telhado de vidro (lembram da proposta da CPI do caixa 2, que o Arthur Virgílio propôs por uns dois dias?).

Só se investiga se houver interesse eleitoral (aliás, era assim com o PT também). Não havendo, acabou. Claro, a crise vai ser um tema da campanha, mas se a oposição está disposta a fazer alguma coisa concreta é outra história.

Quem sabe isso não leva a campanha para um debate sobre propostas?

É, eu sei, eu sei.

Palocci - o fim

Palocci caiu. Mereceu cair, pela quebra de sigilo do caseiro. Agora provavelmente vai preso pela polícia de SP, que não vai perder a oportunidade de dar show. Como havia prometido, naufrago aqui como o último paloccista.

Sunday, March 26, 2006

Que espetáculo!

Vejam essa:

"A ex-primeira dama barbara Bush doou dinheiro para um fundo de ajuda ás vítimas do furacão [Katrina] com a condição de que fosse gasto com software educacional da empresa de seu filho Neil"

Ah, bom.

Suicidas

E, enquanto tudo vai para o caralho, estou lendo, devagarzinho, "Making Sense of Suicidal Missions", org. Diego Gambetta. Parece legal.

É uma série de artigos sobre missões em que a morte do executante é fundamental para o sucesso da missão. Ou seja, uma missão muito perigosa, mas que funciona se o cara conseguir escapar, não conta.

O primeiro capítulo, sobre os Kamikaze, é um resumão da bibliografia sobre o tema, mas eu gostei. O mais interessante é ver que os caras não eram, de jeito nenhum, uns malucos fanáticos pelo Imperador; a maioria disse que ia se matar pelas famílias (que, temiam que fossem estuprada pelos americanos), e pelos seus companheiros mais próximos, sua unidade, seu superior imediato. É uma lealdade incrível, mas não é lealdade ideológica. Entre os kamikazes havia marxistas, cristãos, liberais, garotos que estudaram no ocidente, e uma porrada de gente que estava pouco se lixando pra essas coisas.

Havia também a seguinte percepção: a perspectiva de sobrevivência de um piloto de caça era mesmo muito pequena. E até o dia em que o cara ia lá se explodir ele era tratado como um Deus, o que, aliás, era ruim para a disciplina. Que oficial vai ter autoridade contra o cara que é Deus?

Quando pediram voluntários, deram um papelzinho com "sim" e "não", o moleque fazia um círculo se não estivesse muito afim, mas aceitasse, se necessário; e dois círculos se estivesse amarradão pra ir. Teve moleque que fez os dois círculos com sangue, para garantir que iam entender que ele estava afim, mesmo.

Mas, por outro lado, entre os moleques da academia militar de elite, ninguém se ofereceu. Que beleza.

A coisa está feia

O governo Lula acabou com o episódio do caseiro, eu acho. Os formadores de opinião claramente deram uma guinada essa semana (com razão). O Globo, por exemplo, que sempre foi simpático ao Lula, está compensando com tudo, agora. Os que já eram de oposição se tornaram mais agressivos. Há mais deputados do PT falando mal.

E, sinal seguro de mudança, Quércia, que queria aliança com o PT, agora quer aliança com o PSDB.

Por outro lado, a Folha hoje publica denúncia de favorecimento na Nossa Caixa a aliados de Alckmin. A verdade é que, se o mesmo padrão de exigência dos últimos meses for aplicado aos políticos brasileiros, não vai sobrar um.

O que, naturalmente, é ruim. Conclusão: pode acontecer qualquer coisa nessa eleição, mas vai ser um negócio feio.

Saturday, March 25, 2006

And that's how it ends

“O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, deverá deixar o governo em breve. A Folha apurou que há possibilidade de que seja substituído até segunda-feira. Em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anteontem à noite, ele admitiu que perdeu "as condições políticas", segundo suas próprias palavras, de permanecer na Fazenda.

A única possibilidade de Palocci continuar ministro seria um desfecho rápido da investigação da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa que mostrasse que a violação não teve envolvimento da assessoria da Fazenda.A Polícia Federal, que faz essa investigação, já colheu indícios de que pelo menos o vazamento teria tido participação da assessoria do ministro."

Ué?

Escrevi três posts hoje: um não me lembro sobre o que era (devia ser mesmo importantíssimo), um sobre a CEF e outro sobre lobby. Dois não apareceram e o da CEF saiu pela metade. Apaguei o que sobrou, depois escrevo de novo.

O blogger está me sabotando!

Carmem Miranda

Clóvis Rossi, hoje na Folha:

"Não sei, ninguém sabe, se a corrupção é maior agora, com Collor ou no governo Fernando Henrique. Ninguém investiga a sério, a não ser caseiros. Mas não me lembro de nenhum "collorido" ter bancado Carmen Miranda de republiqueta no plenário, como fez Ângela Guadagnin, obviamente do PT"

Friday, March 24, 2006

Viés na mídia (2)

No RJ-TV de hoje, uma reportagem sobre a eleição em Campos (que foi cancelada por sacanagem do Garotinho e está sendo realizada agora). O candidato anti-garotinho (PDT, eu acho) é apresentado sorrindo, somos informados de que passou o dia "recebendo apoio dos eleitores", e encerra dando um depoimento do tipo "é isso aí, vamos para a vitória". Entra o candidato do Garotinho, que "também passou o dia fazendo campanha", e encerra com o glorioso depoimento: "Estamos em busca do voto dos indecisos que ainda não se decidiram".

Pô, um cara desses nem precisava ter viés.

Viés na mídia (1)

Na Época sobre o Alckmin, a matéria é simpática ao cara. Mas há um box com notas para o Alckmin pelas promessas de campanha cumpridas em SP; quem está folheando a revista só vê as notas, 2, 3, 4, no máximo 5. Quem ler direitinho vê que a nota máxima era 5, mas quem só folheou não percebeu. E, afinal, por que não dar nota de 0 a 10?

Não apóio mais nada

Aparentemente, Palocci caiu, mesmo. Menos pela acusação de ter ido na casa de Ribeirão Preto do que pela incrível atrocidade que foi a violação do sigilo bancário do caseiro. Se o caseiro recebeu ou não grana da oposição já não é mais a questão (acho até que deve ter recebido: pelas primeiras informações, a grana que o pai dele dizia ter mandado era menos do que tinha lá, não sei se essa informação se confirmou). O que é evidente é que o Jorge Matoso, da CEF, deve cair (no sentido de "é moralmente necessário que caia") e o Palocci deve cair (no sentido de "é provável que caia").

Com essa medida, eu oficialmente não apóio mais porra nenhuma.

Meu problema agora é em quem votar. Eu até simpatizo com o Alckmin, mas ele vem com o apoio daquela turma toda de sempre, e nisso eu não voto. Tenho uma pequena simpatia pelo Cristovam, nenhuma pelo Freire, mas nenhum tem a menor relevância. Não vou votar na Heloísa Helena. O Rigotto tinha cara de ser higiênico, mas perdeu para o Garotinho, que, enfim.

Thursday, March 23, 2006

Re-que-bra!

Quem quiser ver o vídeo da dona dançando pode encontrá-lo no site do Fernando Rodrigues. O Jornal do Globo passou o vídeo ao som de "I feel good". Qual vocês acham que seria a melhor trilha sonora? Eu voto, pelo título, em "Shake that money maker", de não me lembro quem.

É foda.

Troféu "A Classe do Estadista" 2006 - Sô feia mas tô na moda


Ainda é Março, mas duvido que alguma coisa ganhe disso. A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) comemora, no melhor estilo Tati Quebra-Barraco, a absolvição de um dos acusados do mensalão.

Oposição

É claro que o colapso das investigações foi fruto, sobretudo, do desinteresse de todos os lados.

Mas o desenlace da crise do mensalão provou, também, um negócio interessante: a partir do momento em que grande parte da mídia ficou simpática a Lula (em função da política econômica), a oposição percebeu que sempre foi um apêndice partidário da grande mídia: nem PSDB nem PFL têm qualquer condição de organizar uma passeata, escrever um artigo, enfim, mobilizar a sociedade para combater qualquer coisa que seja. Não são máquinas feitas para isso, como os Tories, os republicanos, a CDU alemã. Não por acaso, a única passeatazinha que teve só tinha gente do PDT.

Palocci

A violação do sigilo do caseiro é, na minha opinião, muito mais séria do que as acusações de corrupção. Vai cair gente, e, se bobear, vai o Palocci junto.

Pelo que eu entendi, as acusações atuais são muito menos sólidas do que as anteriores (antes havia provas de corrupção na administração de Ribeirão, mesmo, agora há contatos com os caras de Ribeirão).

Mas, naturalmente, a oposição já notou que a única maneira de atingir Lula é derrubar Palocci. Pois:

1) Já viram que não vão pegar ninguém do Mensalão sem cortar na própria carne.

2) A economia deve melhorar.

3) Alckmin precisa subir até Julho, ou esvazia.

4) Saindo Palocci, se enfraquece a base de apoio Lulistas com a elite, de quem muita gente da oposição morre de saudade.

Monday, March 20, 2006

Entrevista FHC: balanço

Legal. Os problemas do FHC são aqueles que todo mundo conhece. Vou comprar o livro.

Entrevista FHC: pior momento

Segundo FHC, Lula pecou por não ter formação. Ah, pelo amor de Deus. Se tivesse estudado Lula teria uma bancada maior no Congresso, a dívida pública seria menor, haveria menos necessidade de programas sociais focados (lembremos, o Bolsa-Família é apoiado pelos maiores especialistas do Brasil em pobreza, a turma da GV)? Com essas três variáveis você explica 80% das ações, boas e más, do governo Lula.

O problema de quadros do PT se revelou, sim, no segundo escalão em diante, e em áreas como a EMBRAPA. Mas isso é um problema totalmente diferente.

Entrevista FHC: a esquerda

A citação é meio grande, mas, em resumo: PT e PSDB "ocupam o mesmo espaço no espectro político". O PT se diferencia pela sua auto-representação revolucionária, que o impede de ter uma "prática política consequente". O PSDB não devia se chamar social-democrata, por que não tem sindicato, quem tem mais cara de social-democrata é o PT. Entretanto, a social-democracia européia está se tornando menos classista, no que se assemelha mais ao PSDB, embora o PT também caminhe nessa direção.

Concordo.

Entrevista FHC: a direita

"No Brasil, mais do que conservadorismo, temos uma mentalidade atrasada. O pensamento conservador filia-se a uma tradição ocidental que estabelece como pilar da ordem a família, a propriedade, os costumes. O nosso conservadorismo não é nada disso. Tem a ver com clientelismo, patrimonialismo, uso indevido dos recursos do Estado. Ele não é composto de um ideário, e sim de aproveitadores. Por que a "direita" no Brasil apóia todos os governos, não importa qual? Na história recente, ela apoiou o Sarney, apoiou o Collor, apoiou a mim, apóia o Lula. Por que seus integrantes não são de direita. Essa gente toda só quer estar perto do Estado, tirar vantagens dele."

Muito bem dito, no geral verdade, mas faço 3 ressalvas:

1) se é verdade que a direita apoiou esse pessoal todo, esse pessoal todo, quando já não era de direita quando eleito, deu uma boa guinada para a direita para se eleger.

2) A UDN era de direita, sim.

3) A direita fisiológica é, provalvemente, sinal não de falta de direitismo, mas de falta de esquerda de massas (o que era o caso no Brasil até o PT, e talvez seja o caso de agora em diante). Quando disputa contra uma esquerda forte, a direita assume o discurso da eficiência, do crescimento, etc. Quando não tem adversário, Bush. Se o PT acabar, o PFL descarta o PSDB rapidinho e começa de novo a do its thing.

Entrevista FHC: melhor momento

"Acho extraordinário ouvir o Lula hoje em dia. Chego até a pensar: Mas esse é o Lula ou sou eu?"

Entrevista FHC (I)

A primeira impressão da entrevista do FHC na Veja é que não é uma entrevista, é um boquete. O entrevistador, evidentemente de joelhos, compara o novo livro de FHC (que eu vou ler, deve ser ótimo) ao Príncipe, de Maquiavel ("O Autor de O Príncipe ilustra a teoria com eventos históricos; o da Arte da Política ilustra a história com a teoria", e que o leitor entenda como uma teoria pode ilustrar um fato). E, naturalmente, não há uma única, umazinha, referência à política cambial do FHC e seus efeitos sobre a dívida pública.

Mas não se deixem levar pela primeira impressão. Pulem as perguntas, gentilmente impressas em tinta mais clara, e leiam só as respostas. Há várias coisas interessantes.

Blogosfera Direitista

Andei procurando uns blogs brasileiros sobre política para linkar, e só achei um de esquerda, bem bobinho, de um secundarista de São Paulo. E encontrei vários de orientação direitista , no bom sentido: vários liberaizões, um ou outro mais tradicionalista. Muita gente repetindo o Olavo de Carvalho, e um tom bem juvenil.

Interessante: por que esquerdista brasileiro não faz blog (bom, tirando eu)? Se for por causa da crise política, onde estão os blogs tucanos (ou do PSOL)? Estou falando de esquerdismo no sentido mais amplo possível.

Há muito tempo existe o Mídia Independente, filiado ao Indymedia internacional, que organiza todos aqueles protestos contra a OMC. É possível postar qualquer coisa no site, o que certa vez levou um moleque burro a propor o assassinato do Olavo de Carvalho (e ser adequadamente processado por isso). E é notável o quão ruim é o nível dos posts. Quando conheci o site, há uns cinco anos, já era ruim, mas agora é realmente triste.

Enfim. Mudança na maré, crianças.

Não é só a Veja

Mais alguém não gostou da política externa do G-20.

Sunday, March 19, 2006

JB e Frossard

Esquisita a reportagem do JB hoje sobre a sucessão estadual. A Manchete e toda a reportagem dizem que o processo está polarizado entre Crivella (Meu Deus!) e Sérgio Cabral Filho/Garotinhos (Ahhhhhh!!!!!!!), o primeiro com 30 e poucos por cento, o segundo com uns 29. Segundo a reportagem, só a entrada de César Maia no páreo muda a história.

Mas, quem tiver paciência de olhar o gráfico, vê que Denise Frossard tem 20%. Se as candidaturas de José Roberto Silveira (meu voto, com 8%) e Vladimir Palmeira (2%) não decolarem, devem transferir para Frossard. Ou seja: a disputa pelo segundo lugar está completamente aberta.

Mas Cabral, tal como o JB, é Garotinho.

Serra e Alckmin

Os serristas estão insistindo que Serra não despertava medo por falta de ortodoxia econômica. Devia despertar. Ainda segundo Kennedy Alencar:

"Serra diz que Alckmin não conseguiu gastar todo o dinheiro que tem disponível para investir"

E todo mundo lembra das disputas com o Malan.

Alckmin e Covas

Do Kennedy Alencar, na Folha:

"Alckmin se apresentará como o herdeiro de Mário Covas, governador tucano que morreu em 2001 e que é um símbolo de moralidade para o PSDB. Ou seja, colar em Covas e se distanciar de Fernando Henrique Cardoso, presidente da República por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). Aí começarão os problemas de Lula. É fácil bater em FHC. Difícil atacar Covas"

Todo petista que se preza sempre soube que era muito mais fácil bater em FHC que em Covas. Os dois diziam a mesma coisa, mas quando o Covas dizia era verdade.

Saturday, March 18, 2006

Veja e a Política Externa

Poucas coisas mostram o bizarro despreparo dos jornalistas da revista Veja como sua discussão sobre a política externa do Lula. Evidentemente, a política do Celso Amorim teve muitas enfeitadas que não deram em nada, como a cúpula com os países árabes. Mas na revista dessa semana eles descrevem a pólítica externa como baseada em dois projetos, "ambos fracassados":

1- Conquistar o lugar no conselho de segurança. Isso deu errado, mesmo. Mas eu acho certo continuar tentando. Se houvesse a reforma e a vaga latino-americana ficasse com outro país, imaginem o que diriam do Itamaraty. Vale dizer, significou uma aproximação com Alemanha, Japão e Índia.

2- Liderar os países pobres. Para entender como Veja pode pensar que isso deu errado, devemos entender que a matéria desta semana é um elogio da política externa, que "finalmente" passou a privilegiar os países desenvolvidos, como a Inglaterra. Com isso, Veja mostra que não entendeu nem a viagem nem a política externa.

Na rodada de Doha da OMC, os países ricos prometeram eliminar os subsídios dos produtos agrários, base da economia do terceiro mundo. Pois bem, na subsequente conferência de Cancún, a União Européia deu pra trás no "eliminar", que interpretou como "reduzir um pouquinho bem pequenininho". Como resultado, Brasil, África do Sul, Índia e China decidiram que suas bundas não eram água benta (em que todo mundo passa a mão), e formaram o G-20.

Como resultado, pouco tempo depois os países desenvolvidos, no "pacote de Julho", voltavam a falar de "eliminação", que em Hong Kong foi programada até 2013.

Problema: em Hong Kong fixou-se um prazo, que termina daqui a um mês, para regulamentar isso. Ninguém fez nada até agora. O G-20 teme que seja enrolação do Peter Mandelsohn (negociador da UE), que depois vai usar o decurso de prazo pra inventar outra sacanagem.

Por isso Lula foi a Londres, para tentar que o Reino Unido (que critica a política agrária européia, defendida com unhas e dentes pela França) tente reiniciar as negociações. Lembremos que Mandelsohn foi ministro de Blair.

Evidentemente, tanto a política com o terceiro mundo quanto a política com o primeiro mundo visam favorecer o Brasil nas negociações da OMC.

Nada disso tem na Veja.

Ah! Que isso! Elas estão descontroladas!

Mainardi:

“O PSDB tinha dois candidatos. Um deles, segundo a última pesquisa do Ibope, estava empatado com Lula. O outro perdia no primeiro turno. O escolhido foi o que perdia no primeiro turno. Para quem está empenhado apenas em se livrar de Lula, como eu, e não dá a mínima para a disputa interna dos tucanos, o resultado não poderia ser pior. Pensei em atear fogo à sede do PSDB. Procurei seis ou sete pessoas para perguntar onde ficava o partido e acabei encontrando, meio por acaso, a caixa-preta do desastre peessedebista, que me permitiu reconstruir os eventos dos últimos dias"

O esôfago

Lula reclamou dos políticos que fazem política com o esôfago. Eis uma explicação do que faz o esôfago, vejam se vocês entendem.

Serristas desolados

Segundo o Jorge Bastos Moreno hoje no Globo, o serrista Caiado (aquele mesmo) quis fazer um manifesto contra a candidatura Alckmin. Que beleza.

E Jereissati, hoje, na Lillian Witte Fibbe, explica sua "falta de educação" (por ter mandado o Pauderney ir se foder). Segundo Jereissati, o problema é que a Globo queria encontrar alguém do PFL que fosse contra a candidatura Alckmin (Lilian: "poxa, mas não era tão difícil assim"), e chamou o Pauderney.

Jereissati diz que César Maia é uma pessoa "difícil".

Se Jereisssati concorrer com o slogan "Mandei o Pauderney e o César Maia à merda", eu voto.

Friday, March 17, 2006

Wishful Thinking

Ainda devo votar no Lula (aguardo decisão sobre o Palocci), mas acho péssimo que a oposição colapse dessa forma. Se o PT for fazer um segundo governo, precisa levar uma coça para se comportar melhor no congresso. Se ganhar fácil, não vai mudar nada.

Naturalmente, se o PFL rachar com o PSDB, abre-se a possibilidade do PT e o PSDB se aproximarem e eu finalmente ter em quem votar. É, eu sei, nem eu acredito nisso.

A classe do estadista II

Vejam que beleza o diálogo entre Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e o glorioso Pauderney Avelino (PFL-AM), tirado do blog do Fernando Rodrigues:

"Tasso [ríspido, em tom forte de cobrança] – Como você vai para a televisão, para a Globo, para falar mal do nosso candidato?

Pauderney – Arthur, o que é isso? Não estou acreditando...?

Tasso [aumentando o tom de voz] – É para acreditar, sim!

Pauderney [agora, já alterado e falando alto] – Olha aqui, ô rapaz, eu falo o que eu quiser, da forma que eu quiser. Não é você quem vai me amordaçar. E saiba que eu falei como possível aliado do PSDB.

Tasso – Eu não quero o seu apoio!

Pauderney [voltando-se para Arthur Virgílio, em tom de certo desdém] – Arthur, vocês começaram muito bem...

Tasso [irritadíssimo, quase gritando] – Vai se foder!

Pauderney – Vai se foder você!"

Que coisa linda. Estou dizendo, o pessoal do PSDB sempre me disse isso: a briga entre a tendência Serra (nesse caso, paoiada pelo PFL) e a tendência Mário Covas (que inclui Jereissati) faz a briga do Zé Dirceu com a Heloísa Helena parecer filme da Meg Ryan.

O ex-blog do artista anteriormente conhecido como César Maia já veio hoje falando mal do Jereissati. E o Maia pensa em rifar o Alckmin e se lançar, dizendo que mais um candidato ajuda a ter segundo turno, uma besteira, por que se o Alckmin entra sem o apoio do PFL não dá nem pro começo.

É, assim, o Alckmin não tem futuro, não. Mas acho que estão desperdiçando um candidato viável.

Wednesday, March 15, 2006

Comment is Free

Grande aquisição na blogosfera: o Guardian fez um mega-blog-jornalzão.

Monbiot

Vejam só a história que aconteceu com o George Monbiot, um dos fodões da balaxita do movimento anti-globalização.

Tuesday, March 14, 2006

A classe do estadista

Tirado do blog do Moreno:

"Nota zero para a reação do líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia. Apostou todas as fichas no Serra, com a ajuda de quem poderia sair candidato ao governo do Rio. Como seu sonho acabou, Maia disse que, por causa da verticalização, o PFL ainda vai decidir se fará coligação com o PSDB. Gesto feio e incompativel com a própria conduta de Rodrigo Maia."

Discordo frontalmente. Totalmente compatível.

Sem segundo turno

Uma análise interessante, ainda do Fernando Rodrigues: é provável que não haja segundo turno, ganhe Lula, ganhe Alckmin. Na última eleição, só houve segundo turno por que Garotinho e Ciro somaram, juntos, algo em torno de 30%. Se a verticalização tirar da disputa PMDB, PDT e PPS, Heloísa Helena precisaria ter 29% para haver segundo turno.

A briga pela candidatura própria do PMDB assume, assim, nova importância. Segundo o Noblat, a reunião da direção do PMDB na quinta decide se há prévias. O governo tem seis votos para cancelar a prévia, sete são considerados inflexíveis a favor das prévias, e os outros três decidem.

Alckmin Candidato

E o Alckmin foi mesmo escolhido como candidato. Os serristas estão mais desolados do que se tivessem perdido para Lula. Segundo Fernando Rodrigues,

"Parte considerável dos serristas considera inexorável o processo de “peemedebização” do PSDB. As facções vão proliferar. O partido não deu atenção à necessidade de construir um destino democrático para o espólio herdado de Montoro e de Mário Covas. O tucanato já é quase uma terra de ninguém. Tasso Jereissati, o presidente nacional, manda quase nada. FHC teve chiliques ontem à noite ao saber que Serra disse o que disse (que é candidato, mas contra as prévias). Aécio Neves só pensa em si próprio como candidato tucano em 2010. "

Só digo o seguinte: se o PSDB rachar por causa disso, é oficialmente o partido mais viadinho da história do mundo. Na verdade, eu acho que pela primeira vez o PSDB teve cara de partido.

E, se eles não colapsarem, acho que a candidatura Alckmin tem chance. Se não mais por nada, ela empolga a classe média. Se empolgar a classe média e começar a crescer, a elite lembra que Lula é amigo do Fidel e se manda para a candidatura Alckmin.

Reforma Agrária

E olha só quem acha que não faz mais sentido a boa e velha reforma agrária:

"Para Stédile, a expansão do agronegócio de ampla base tecnológica tornou obsoleto "o modelo das reformas agrárias clássicas" (Estadão de hoje)

E o Estado resume bem o programa dos caras:

"O comunismo, dizia Lênin, são os sovietes mais a eletricidade. No caso do MST e congêneres do exterior com os quais está aliado, como a Via Campesina e ONGs companheiras de viagem, a violência serve ao retrocesso - a desmodernização da economia rural e a virtual abolição do comércio internacional de produtos agrícolas. Em vez disso, o Éden da agricultura familiar, quando não o comunismo primitivo, que de há muito as populações indígenas que o praticavam já descartaram.

Essencialmente, como diria Stédile, não há diferença entre esse delírio e aqueles que conduziram aos inomináveis massacres da Revolução Cultural na China e do Khmer Vermelho no Camboja, décadas atrás. Nos dois casos, o inimigo era o conhecimento, a tecnologia, o progresso e o conforto material. Pol Pot, do Khmer, um revolucionário que estudou em Paris, queria simplesmente erradicar as cidades. Na China e no Camboja de então, uma Embrapa - matriz da moderna agricultura brasileira - teria o mesmo destino do centro gaúcho de pesquisas vandalizado pela descerebrada massa de manobra do MST."

Mas o triste é que o MST não é só massa de manobra. O que aconteceu é que o tempo que levou para organizá-los foi longo demais, e a janela de oportunidade da reforma agrária clássica fechou. Agora o MST é um enorme movimento sem bandeira.

O fato de que a liderança do MST é mezzo-maoísta não seria, normalmente, de maior importância. O normal seria essas lideranças começarem a perder espaço à medida em que as demandas começassem a ser atendidas pacificamente. Mas agora a demanda perdeu urgência (não acho que desapareceu completamente, não) e o movimento está aí, pronto para a ação, sem programa.

Uma das tarefas mais urgentes para a esquerda é encontrar uma solução para este problema.

Pizza

E a crise política dá pinta de que vai acabar em Pizza. Nem tanto pela absolvição do Brandt e do Luizinho, que, aliás, eram os mais absolvíveis dos acusados, mas por que, depois que livraram a barra dos caras do PP, a coisa perdeu a moral, mesmo. E há outro lado: dada a incrível incompetência da CPI para investigar o que quer que fosse, quem quiser votar pela absolvição vai, mesmo, poder alegar falta de provas para qualquer coisa além de caixa 2. E, como o governo bem sabe, ninguém vai começar uma cruzada contra o caixa 2.

Enfim, uma merda.

PSDB III

Os jornais hoje amanheceram dando a candidatura para o Alckmin, mas o Serra, aparentemente, acaba de mudar a opinião oficial expressa ontem, e talvez aceite prévias. Até que isto está animado.

Enquanto isso, o ex-blog do artista anteriormente conhecido como César Maia assume a linha "Primeira Leitura" e dá umas agulhadas no Alckmin. Diante do comentário de um assessor de Alckmin afirmando que "unção só quem dá é o Papa", o ex-blog afirma que os alckministas falam "com conhecimento de causa", lembrando o vínculo Alckmin-Opus Dei.

Mas no caso do PFL entende-se perfeitamente o serrismo. Afinal, se Serra renuncia, o PFL terá a prefeitura de São Paulo e do Rio de Janeiro pelos próximos dois anos. Já Alckmin só dá ao PFL o governo de SP por poucos meses.

E, vale dizer, se o PSDB perde a prefeitura e o governo de SP, o PFL finalmente consegue ultrapassá-lo e assume a liderança da oposição.

Xico Graziano

Muito bom artigo do Xico Graziano sobre reforma agrária, publicado no Globo de hoje. Aparentemente, o progresso da agricultura nos últimos anos fez com que o problema hoje seja achar mercado para os produtos, não produtos para um mercado insatisfeito. Enquanto isso, o MST pressiona para que seja elevado o critério para considerar a terra produtiva. Resultado: se o agricultor não produzir, perde a terra, se produzir não tem para quem vender.

Monday, March 13, 2006

The OC

E sempre se pode contar com este outro velho chapa, matriz do Reinaldo Azevedo, que afirma nesse artigo que

"Está aí o próprio sr. Alckmin, politicamente corretíssimo, adepto do casamento gay e, no mínimo, membro de um partido pertencente à Internacional Socialista, comprometido até à medula, portanto, com a estratégia do globalismo de esquerda. Apostar em Alckmin (ou de novo no próprio Serra) como alternativa "direitista" ao petismo é repetir a farsa das eleições de 2002."

Podia ser o slogan do Alckmin: "As pessoas certas me odeiam"

Escândalo!

Um heróico militante do PSOL foi censurado pela mídia burguesa!

Via Campesina

O ataque ao laboratório no Sul foi um ato de injustificável selvageria, que realmente dá vontade de chorar.

Fiquei curioso, aliás, de saber quem exatamente fez a merda. Na imprensa o ato foi atribuído a umas malucas da Via Campesina. Bom, o MST é da Via Campesina. Afinal, foi o MST que fez isso ou não?

Obviamente , o Stédile apoiou. Um imbecil do MST disse que a pesquisadora que perdeu a sua pesquisa, se fosse séria, não trabalharia para o projeto, que, segundo o site da via campesina, tornará a terra improdutiva para a agricultura para sempre. Entretanto, esse estudo publicado pela Esalq sugere que isso não é inevitável. E, cá entre nós, não se pode discutir isso na porrada.

O referido militante provavelmente acha que, se a pesquisadora fosse séria, juntar-se-ia ao movimento pela proibição da utilização da ciência na agricultura, e estudaria, pelada e sem instrumentos, o ciclo de crescimento da mandioca selvagem sobre a carcaça de seu filho que não tomou o antibiótico imperialista.

PSDB II

Aliás, esse nosso velho chapa está em guerra contra o Alckmin, e já defende que o grupo serrista rache com o PSDB.

Vale dizer, se o PT estiver mesmo inflando Alckmin, suspeito que se arrependerá.

PSDB

Certo, admito. Fiquei animado com a disputa pela indicação do nome do PSDB. Que, ao que parece, está tendendo para Alckmin, ou ao menos é o que dizem os comentaristas de hoje.

Eu achava que o melhor cenário para esta eleição ser animada era: Alckmin era lançado, Rigotto saía pelo PMDB, atropelava o tucano (ou, menos provável, este ganhava impulso se ganhasse a briga contra Rigotto) e disputava pau a pau com Lula.

Mas Rigotto não deve sair, por que a verticalização praticamente impede que o PMDB tenha candidato próprio (essa, pelo menos, parece ser a sabedoria convencional).

Pode ser, portanto, que Alckmin naufrague ainda no porto, e Lula ganhe a eleição fácil. O que seria péssimo. Se o governo conseguisse se defender das acusações de corrupção e se elegesse com base em seu bom (na minha opinião) histórico econômico, beleza. Mas se ganhar por WO, como é possível, será péssimo.

Mas eu não descartaria o Alckmin de saída, não. Em primeiro lugar, por que teria apoio sólido na elite brasileira preocupada com o risco Serra (vejam aqui um sujeito serrista puto com isso). Em segundo lugar, por que, se lhe falta carisma, engana-se quem acha que seriedade não ganha voto, se acompanhada de uma certa simpatia, que ele tem, sim.

Saturday, March 11, 2006

JB

Qualquer que seja sua opinião sobre a ocupação de favelas pelo exército, a manchete do JB de ontem foi exagerada. A repórter do JB estava no morro da providência no final da tarde quando o exército deu o toque de recolher. Ela então ficou presa em uma padaria durante o tiroteio, e só saiu quando o exército liberou. Manchete: "Fui refém do Exército".

Porra, quem só leu a manchete, o que me incluía até hoje de manhã, achou que o exército a tinha prendido, talvez por ter noticiado algo que o exército não queria que fosse publicado, enfim. mas não foi issso que aconteceu. Como já disse, podemos discordar de operações militares nas favelas, mas concordo que, se elas ocorrerem, os civis devem ficar em casa durante o tiroteio.

É o JB do Garotinho.

Thursday, March 09, 2006

Sullivan e o Iraque

O Andrew Sullivan publicou um artigo interessante sobre os erros cometidos pelos conservadores que apoiaram a guerra (como ele). Vários conservadores, como o Fukuyama, retiraram o apoio à guerra. Mas o Sullivan continua acreditando que alguma coisa boa pode sair dali.

Pois eu aproveito para dizer o que a esquerda que foi contra a guerra (como eu) errou.

Uma vez derrubado o Saddam, deveríamos ter nos engajado na construção da democracia iraquiana em vez de ficar dizendo "eu te disse, eu te disse". Os jornais de esquerda deveria ter se entusiasmado com as eleições iraquianas, ao invés de manifestar uma atitude derrotista. As diversas internacionais políticas, da democracia cristã ao trotskyismo, deveriam ter se mobilizado para patrocinar eventos, encontros e movimentos no Iraque. E ninguém deveria ter vacilado um segundo para dizer que os atentados contra civis (o Vieira de Mello incluso) eram um crime terrível.

Mais do que tudo, não é possível que qualquer um que tenha um mínimo de compreensão sobre a situação do Iraque, e um mínimo de compaixão pela sorte dos iraquianos, apóie a retirada imediata das tropas. Eu era contra a invasão, mas agora sou contra a retirada, que iniciaria oficialmente a guerra civil.

Mais Di Canio


Aliás, para quem gostou de ver, no post abaixo, a foto do Mussolini pendurado como um porco (e quem não gostou?) aproveitem a montagem com o Di Canio acima, e vejam outras semelhantes no infalível The Guardian.

Racismo no futebol


Concordo com o Juca Kfouri que o Antonio Carlos deveria ser banido do futebol pelos gestos racistas do último domingo.

Essas coisas você tem que parar no começo. Se o primeiro público de estádio a imitar macaco tivesse sido inteiro encarcerado, não teria acontecido de novo. E, como ninguém fez nada, chagamos no ponto em que este cidadão aí em cima (o Di Canio, da Lazio, ou Nazio, como é conhecida hoje em dia) faz um negócio desses.

O imbecil, que tem tatuado "Dux" em homenagem ao Mussolini, saúda com o gesto nazi (inventado pelo "Dux") a torcida extremista da Nazio, que, em tempos recentes, levaram para o estádio faixas como "Auschwitz é sua pátria, o forno é sua casa" contra jogadores brasileiros como Cafu e Aldair, e escrevem o SS de Societá Sportiva Lazio com o símbolo da SS nazista.

Recentemente, o vagabundo recebeu uma comitiva de vítimas do holocausto, mas disse que suas idéias continuam iguais, enfatizando, entretanto, que a violência não é a solução para nada.

Discordo totalmente. Se não fosse o heróico toco que os exércitos aliados (incluindo ítalo-brasileiros e os gloriosos, inesquecíveis partiggiani) deram no careca cujo pau o Di Canio chupa em seus sonhos, esta saudação seria até hoje obrigatória nos campos italianos.

Wednesday, March 08, 2006

Estadão apóia Alckmin

O editorial de hoje do Estadão apóia Alckmin para presidente, com o seguinte raciocínio:

Se Lula ganhar agora, não é nenhum fim do mundo, pois ele se revelou pragmático na economia. Mas se ele ganhar e Marta ganhar em SP, há boas chances do PT ficar no poder não por oito, mas por doze ou dezesseis anos (por que Marta seria uma candidata fortíssima para presidente). Daí que é melhor lançar Serra para o governo e Alckmin para a presidência. Inclusive por que, se Alckmin perder, nada de mais: ele só tem 53 anos, pode tentar de novo.

É uma bomba, na hora em que parecia que a coisa estava fechada com o Serra, os Alckmistas (como se define um colega meu) se mobilizaram com tudo. O Anselmo Góes hoje também aponta um crescimento da tendência pró-Alckmin.

Enquanto isso, a Dora Kramer especula sobre a idéia de uma chapa Serra-Alckmin. Pessoalmente, eu acho que seria uma loucura. Se perder, o PSDB entrega a prefeitura e o governo de SP para o PFL, que, com a prefeitura do Rio, tornar-se-ia o sócio majoritário da aliança daqui pra frente.

3 coisas interessantes:

1) Ressucita, com essa confusão toda, uma das brigas mais ferrenhas, e menos noticiadas, da política brasileira dos últimos anos, a briga entre a facção Covas e a facção Serra do PSDB. Quem conhece gente do partido sabe que ali era um pega-pra-capar fenomenal.

2) Mantenho minha opinião que a força do Alckmin é que ele tem mais cara de economicamente ortodoxo. Se é para tentar ultrapassar pela direita, é melhor pegar um cara com mais cara de direita. Não estou dizendo que ele seja o Olavo de Carvalho, apenas que tem mais perfil de sujeito em quem minha vó (ou o Estadão, ou a FIESP) vota. Mesmo que os dois tenham as mesmas propostas, Serra é ex-AP, Alckmin é ex-Opus Dei, o que tem lá seu valor simbólico.

3) Para além de tudo isso, uma curiosidade. Até a era FHC-Lula, ninguém no Brasil tinha sido presidente democraticamente eleito sem ter sido governador antes. Parece que voltamos ao velho esquema: Alckmin, Rigotto, Garotinho (bom, tecnicamente, ele foi "governador"), Aécio,...

Tuesday, March 07, 2006

Lula na The Economist

E Luís Inácio está mesmo com tudo. Vejam a entrevista dele na The Economist aqui.

De volta para o futuro

Que beleza! Tirado do blog do Fernando Rodrigues:

"Aprovada em 8 de fevereiro, a emenda que derruba a verticalização não é apenas mais um casuísmo do Congresso. É pior. O texto final aprovado contém um erro crasso de data. No seu artigo 2º está escrito o seguinte:

“Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação, aplicando-se às eleições que ocorrerão no ano de 2002”.

2002? Pois é. 2002. O Congresso está querendo legislar sobre o passado... Aprovou uma emenda à Constituição com o mesmo cuidado com que redige uma ata de reunião de condomínio."

Saturday, March 04, 2006

Cartuns

Aliás, o debate da Prospect desse mês (excelente, como sempre) é entre dois muçulmanos discutindo os cartuns dinamarqueses.

Eu acho que o cara tem razão, mas a dona tem um momento brilhante: diante da sugestão de que falta ao Islam uma reforma protestante, ela responde que o problema é que já teve reforma protestante: o wahabismo tem a maior cara de puritanismo.

Faz sentido: o protestantismo provavelmente teve efeitos democráticos por que a briga entre protestantes e católicos forçou o compromisso da tolerância, não por que qualquer um dos lados fosse especialmente democrata.

E tá aí um assunto em que qualquer debate de alto nível é uma surpresa agradável.

50 anos da denúncia dos crimes de Stalin

Esse ano faz 50 anos que Kruschev denunciou os crimes de Stalin (na verdade, uma fração deles) no congresso do PCUS. A denúncia foi, provavelmente, função do fato de que o terror tornava a vida da elite política muito curta. Entretanto, de fato levou ao desmonte do resto do equipamento de terror, como os Gulags. E muito do pior que o Stalin fez, como as mortes durante a coletivização da agricultura, não tinha como acontecer de novo.

Hoje em dia, em um país como o Brasil, é triste ver tanta gente que acha que se livra do fantasma do Stalin simplesmente se convertendo ao trotskysmo, ou dizendo "pois é, aquilo era ruim", e ignorando a similaridade entre suas propostas e as do bolchevismo. Enfim.

A propósito, a Prospect organizou um belo debate, entre dois grandes especialistas, a respeito dos crimes do Stalin e sua comparação com os do Hitler, que pode ser encontrado aqui. Note-se, entretanto, que boa parte da motivação dos autores é nacional: o Lieven é russo (anti-comunista, bem entendido), a Applebaum é de origem polonesa. Minha opinião é que o Lieven está correto, factualmente, mas entendo as preocupações políticas da Applebaum.

Verticalização

Com a manutenção da verticalização, os partidos só podem fazer alianças nos Estados com quem estiverem aliados para presidente. Vale dizer, aliança informal vale, e deve ser a regra.

Agora, torna mais difícil fatos novos. Por exemplo, é muito difícil que o PPS, ou mesmo o PDT, consigam lançar candidatos próprios, pois quem der tempo de televisão para eles terá que fazer essa aliança em nível nacional. Também favorece a manutenção da aliança PSDB-PFL, sendo que o PFL vai poder cobrar mais caro pelo apoio.

Talvez aumente a chance do PMDB lançar candidato próprio, por que não há ninguém com quem eles queiram se aliar em todos os Estados. Mas, por outro lado, se eles lançam, ninguém vai se aliar com eles em todos os Estados. Eu acho que se insistirem no Rigotto, têm chance.

Thursday, March 02, 2006

Caudilho sem-vergonha ganha carnaval!

Não, não, é outro! Vejam só o samba-enredo da escola vencedora do desfile de Campos, os Amigos da Farra (e dá-lhe piada pronta): "Jorge Picciani é ouro". Jorge Picciani, como se sabe, é presidente da ALERJ e candidato de Garotinho ao senado. Garotinho, aliás, foi tema da escola que ficou em segundo, a Ás de Ouro, e de mais 4 das seis escolas. Em matéria da Folha, vemos que os sambas da cidade caracterizam Garotinho como

"Político do povo, poeta popular, guerreiro do sol que nasceu sob a luz da magia na Lapa e vai da planície goytacaz ao Planalto, entre sonhos, lutas e vitórias."

Vale dizer, a reportagem da Folha, do último dia 15, diz que apenas uma das escolas da Campos não teve como tema políticos, a Unidos de Santa Cruz. Que, curiosamente, ficou em último.

O enredo da Santa Cruz era "Mito da Criação-A Criação da Mentira".

Por que me ufano de meu país

Deu no Globo hoje:

"Durante a sessão das 21h de anteontem do filme “Brokeback Mountain”, dos caubóis gays, no Arteplex, em Botafogo, dois homens começaram uma discussão por conta de um saco de pipocas derrubado. Ameaçavam-se com dedo na cara, prontos a se engalfinhar naquela encenação clássica dos caubóis machões urbanos. Foi quando a platéia, no clima do filme, começou a gritar: “Beija! Beija! Beija!”

Carnaval

Como todo mundo já sabe, a Vila Isabel ganhou o carnaval carioca com grana do Chávez. Como bem disse o Jornal da Globo de ontem, os efeitos não devem ser grandes, por que ninguém lembra dos mecenas, só das obras de arte.

Agora, eu tenho curiosidade de saber como apareceu esse apoio. A Vila sempre teve uma relação próxima com o PCB. Como se sabe, o Martinho da Vila era simpatizante do PCB, e recentemente se filiou ao PCdoB. A Ruça, ex-mulher dele e ex-presidente da Vila Isabel, foi vereadora do PCB no Rio. A Vila Isabel homenageou Prestes em 85 (e a Grande Rio fez o mesmo em 1998, mas há de convir que aí o cara já tinha morrido e não fazia só um ano do fim da ditadura).

Para quem quiser saber a história da relação do Partidão com o Samba ( Noca da Portela era filiado), esse artiguinho é legal.

Será que foi a galera do partidão que conseguiu os petrodólares?

De qualquer maneira, eu não vi quase nada dos desfiles esse ano, mas todo mundo dizia que a Unidos da Tijuca (que ganhou o estandarte de ouro) era barbada.