Thursday, August 25, 2005

Freakonomics

O livro Freakonomics, que o infalível Ed mencionou aqui outro dia, já é o livro de não-ficção mais vendido do Brasil. E os autores fizeram um blog, que parece ser legal.

Tarso Genro

Tarso Genro está levando a sério o esforço de limpar a direção do PT. Golaço.
Tarso Genro defende o abandono da política econômica. Gol contra.
E quem joga pelo empate é a oposição.

Ultra-Mega-Liberais pra cacete

Pra quem quer ver argumentos pró-mercado, chequem o blog conjunto do Nobel de economia Gary Becker e do juiz americano Richard Posner, que me foi recomendado por um colega que adora essas coisas.

Wednesday, August 24, 2005

Chauí e Giannotti

Isso me lembrou um debate entre a Chauí e o Giannotti, na época dos escândalos do governo FHC (os últimos). O que me lembro é o seguinte:

Giannotti escreveu um artigo na Folha que começava com uma bela introdução teórica, em que argumentava que, visto que a política é regra sobre regra, haveria sempre conflitos éticos, e uma zona ética cinzenta causada pela indeterminação de alguns desses conflitos. Achei isso uma grande idéia, mas logo depois o Giannotti argumentava que o movimento pró-CPI era na verdade um movimento de patrulhamento da imprensa que procurava aumentar seu poder político, e da oposição que era apenas eleitoreira e bláblábláblábláblánhémnhémnhémnhémnhémnhém.

Chauí escreveu uma resposta que começava, na minha opinião, mal, com uma introdução teórica que falava que a democracia era na verdade uma beleza e bláblábláblábláblánhémnhémnhémnhém. Entretanto, seguia-se uma grande sacada, quando afirmava que, segundo o próprio argumento do Giannotti, os limites da zona cinzenta deveriam ser determinados pelo debate público; e que, portanto, tanto a imprensa que buscava aumentar seu poder quanto a oposição que buscava ganhar eleição eram participantes legítimos do embate para fixar os limites da zona cinzenta.

Cito de memória, de maneira que posso estar caracterizando mal os dois artigos.

Mas me lembro que na época me pareceu que se você colasse o final do artigo da Chauí depois do começo do do Giannotti viraria um puta artigo.

Marilena Chauí

A crer nos jornais, a Marilena Chauí falou umas besteiras. Disse que o problema todo do governo Lula foi uma armadilha tucana, o que parece reeditar o argumento, que profundo desespero me causa, de que a causa da corrupção foi a política econômica. Enfim. Não tem nem o que dizer.

Tuesday, August 23, 2005

Agora tudo faz sentido!

Tem um televangelista vagabundo querendo matar o Chávez. Bom, até aí teve outro desses vagabundos aí que declarou que o 11 de Setembro foi punição a Nova York por que eles toleram gays, feministas, enfim. O mesmo vagabundo que quer matar o Chávez disse que Bush havia lhe garantido que não morreria ninguém na invasão do Iraque (Bush nega ter dito isso, e eu acredito). E tem gente que fala mal do Bispo Rodrigues.

Enquanto isso, um monte desses vagabundos acredita na teoria do arrebatamento, e apóia Israel para que o Templo de Salomão seja reconstruído (há, entretanto, propostas pacifistas), o que precipitaria o Segundo Advento (e, aliás, a condenação ao inferno de todos os judeus que não aceitassem se converter ao cristianismo).

Uma cronologia do arrebatamento pode ser encontrada aqui. A propósito, aparentemente o Bush não termina o mandato, e pode cair esse ano mesmo. Seguir-se-á então uma luta contra a besta escarlate da babilônia (a União Européia), uma guerra contra a Rússia e a China, e no final todo mundo que for gente boa voa pelado para o céu.

É bom saber que os caras têm um plano.

Saturday, August 20, 2005

Politicamente Correto

Enquanto subia de bonde, vi uma placa, na entrada de uma casa, com os dizeres "Cuidado: cachorro anti-social".

Com a Bênção de Santa Teresa

Hoje passei a tarde em Santa Teresa, um dos lugares mais legais do mundo. Não sei por que tem me dado vontade de passear pelo Centro do Rio e adjacências, provavelmente é por que é um lugar que eu gosto muito, e preciso recarregar as baterias durante a crise política. Pois justamente enquanto fazia isso, recebi um sinal de Deus.

Perto do Largo dos Guimarães, pouco antes do Restaurante Sobrenatural, e depois da gloriosa Adega do Arnaudo (assim mesmo), achei em uma loja um imãzinho de geladeira com a seguinte inscrição:

'Deixemos o pessimismo para tempos melhores'.

Concordo plenamente, e enquanto durar a crise, esse será o lema do Blog.

Friday, August 19, 2005

Enfim

Essa charge expressa bem minha opinião sobre a situação atual.

Ihhhh...

O ex-assessor do Pallocci acaba de depor dizendo que o atual ministro da Fazenda recebia mesada de empreiteiro quando era prefeito. O dólar subiu, a bolsa caiu. Dessa vez, sim, se for verdade acabou. Não no sentido de 'longo outono', acabou mesmo.

Thursday, August 18, 2005

Gamboa

Descobri um lugar maravilhoso, a livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, um lugar que eu adoro, especializada em Brasil: uma estante espetacular de História do Brasil, livros sobre samba pra cacete, livros sobre futebol, sobre arte, CDs de choro.

Comprei uma história do São Cristóvão Futebol Clube, que não sei quando poderei ler, mas comprei em homenagem ao meu avô, que foi por muito tempo torcedor do São Cristóvão. O título promete: 'Chuva de Glórias'.

E comprei um livro muito bom, que li rapidinho hoje tomando café. Sempre gostei da série Cantos do Rio, que conta a história dos bairros cariocas. Saiu agora um dos bairros mais interessantes de todos, a Gamboa, escrita por um dos maiores poetas brasileiros, o Alexei Bueno (na minha opinião, o melhor tradutor para o Português d'O Corvo, do Poe). Adorei, recomendo entusiasticamente.

Os que, como eu, são fanáticos pelo centro do Rio (conscientes de que há décadas aquilo é uma merda), certamente vão gostar.

Mais Renda Básica

Aliás, o artigo da Dissent, muito interessante, pode ser encontrado aqui.

Revelação estranha da semana, encontrada nesse mesmo artigo: o governo americano já estudou a possibilidade de se distribuir um imposto de renda negativo, e chegou a fazer um experimento, distribuindo-o para algumas famílias, e vendo o que acontece com seu incentivo para trabalhar. As horas trabalhadas caíram pouco entre os homens, 6%, mas muito para as mulheres, 19%. No menos machista Canadá, a diferença é mínima: 1% para os homens e 3% para as mulheres.

Mas o mais estranho é quem era responsável pelos experimentos nos EUA: Dick Cheney e Donald Rumsfeld.

Esse mundo é mesmo sortido.

Renda Básica em Israel

Idéias do tipo renda básica têm prosperado em vários lugares do mundo. Israel acaba de anunciar que planeja implementar um 'imposto de renda negativo' no futuro próximo. Que uma medida dessas seja anunciada pelo gabinete de Sharon mostra o quanto a sociedade israelense é contraditória, e interessante.

Jay Hammond, ex-governador do Alaska

Morreu , Jay Hammond, que foi governador do Alaska entre 1975 e 1982. Ouço-os todo dizendo, 'foda-se!'. Mas calma, o cara foi importante! Ele foi o criador do fundo permanente do Alaska.

Hammond foi um dos últimos americanos a se beneficiarem de uma lei da época da Guerra Civil que dava terra de graça para quem se comprometesse a construir uma casa e trabalhar a terra por pelo menos 5 anos. Enquanto fazia isso, e depois de ter sido caçador, pescador, e piloto de caça na Segunda Guerra Mundial, ficou invocado com o fato de que pescava-se muito salmão no Alaska sem que a população se beneficiasse com isso. Com idéias como essa, se elegeu governador, e, como os Alaskianos (sei lá se é isso) são sortudos pra cacete, justamente enquanto ele estava pensando em um jeito de distribuir o dinheiro da pesca para todo mundo, descobriram petróleo no Alaska. Ah, bom.

Desde então, o fundo permanente do Alaska distribui todo ano, para todos os residentes do Alaska (homens, mulheres e crianças) algo em torno de 1.000 dólares, sem mais nem menos. O dinheiro se origina nos dividendos de um fundo permanente formado com uma porcentagem dos impostos arrecadados com a produção de petróleo. Distribui-se assim o benefício do petróleo e se estimula a economia do Alaska, cujos governantes, ao contrário do Chávez, sabem que um dia o petróleo acaba.

As informações são do boletim da United States Basic Income Network (USBIG), onde achei o trecho seguinte, que tinha que traduzir. É baseado no depoimento de um jornalista da revista Dissent, Sean Butler.

" O pai da renda básica brasileira, Senador Eduardo Suplicy, também falou na conferência da USBIG no ano passado. Durante seu discurso, ele notou Jay Hammond sentado na primeira fila, e, para o aplauso geral da platéia, desceu do palco para apertar sua mão. Os dois pioneiros da renda básica haviam finalmente se encontrado.

Hammond e Suplicy fazem um par estranho. O Republicano Hammond, grandão, com sua barba branca estilo Hemingway, carrega seu ethos de autoconfiança (self-reliance) do extremo norte com orgulho. Suplicy, um membro fundador do esquerdista Partido dos Trabalhadores brasileiro, treinado como economista nos Estados Unidos, tem a aparência digna de um intelectual e político profissional.

É o encontro entre o socialismo tropical e o capitalismo ártico; ainda assim, de alguma maneira, quando se encontram pela renda básica, se dão bem".

Tuesday, August 16, 2005

Resultado:

Muito do que acontecerá nos EUA, e, portanto, no mundo, depende do que farão os chineses.

E os chineses recentemente abandonaram o dólar como âncora cambial, passando a utilizar uma cesta de várias moedas. Dependendo do quanto os chineses diminuam suas compras de títulos em dólar, os juros americanos podem subir muito, causando uma recessão global, ou, dependendo da velocidade da coisa, estourando a bolha imobiliária mundial.

Que bonito.

O que os chineses andam fazendo (II)

Essa é a parte que eu entendo menos.

Para se defender da especulação financeira que já avacalhou seus vizinhos asiáticos, os chineses vinham ancorando sua moeda no dólar. Basicamente, compravam quantidades obscenas de títulos da dívida americana (considerados o investimento mais seguro do mundo) e guardavam para um dia de chuva.

Quanto maior a probabilidade de que o governo pague suas dívidas, menos juros precisa pagar pelo seus títulos (por isso o Brasil paga juros altíssimos). Com tanto dinheiro chinês entrando, o juro dos títulos americanos de longo prazo caíram.

OU SEJA: novamente, isso contribuiu para que os juros nos EUA permaneçam bem mais baixos do que normalmente estariam, dado o nível de atividade econômica. Mais uma coisa inflando a bolha.

O que os chineses andam fazendo (I)

A entrada da China, da Índia, e Rússia no mercado mundial dobrou a força de trabalho do capitalismo global (metade desse aumento foi causado pela China). Mas esses países são pobres, e portanto praticamente não aumentaram o estoque mundial de capital. Portanto, o preço do trabalho caiu pra cacete. Os salários têm aumentado muito menos do que seria de se esperar em uma recuperação econômica, como a que vem acontecendo nos EUA

Consequência n.1: a participação dos lucros nos PIBs dos países ricos tornou-se, graças aquele bando de maoístas que governa a China, a maior desde a crise de 1929.

Consequência n.2: sem muito aumento de salários, e com uma invasão de produtos chineses ridiculamente baratos, a inflação mundial subiu menos do que se esperava, e anda bem baixa para um momento de recuperação da economia.

OU SEJA: ao mesmo tempo em que as pessoas começam a ter mais dinheiro (por causa da recuperação econômica), os juros permanecem meio baixos (não precisa aumentar, os chineses seguram a inflação). Daí que muitas pessoas, especialmente nos EUA, vêm pegando dinheiro emprestado a juros baixos para, por exemplo, comprar imóveis ou re-financiar suas hipotecas (daí a bolha no setor imobiliário mundial). Isto é: o FED americano fez o que sempre fazia para evitar uma bolha, mas agora os remédios tradicionais não funcionam tão bem por causa dos chineses.

China

Enquanto prestávamos atenção na careca do Marcos Valério, a The Economist fez a reportagem de economia mais difícil e mais importante que eu já vi na vida. Aparentemente, mudou tudo no mundo e só notamos agora. Segundo os caras, muitas das decisões econômicas mais importantes do mundo são agora tomadas na China.

Dentro da série ‘vou explicar pra ver se entendo’, segue o que eu acho que a reportagem quer dizer.

Rapaz!

No Amiano Marcelino descobri essa foto, espetacular!!!

Proms

Para quem gosta de música clássica, a BBC está transimitindo os PROMS, festival de música de altíssimo nível que tem em Londres todo ano, aqui.

Sunday, August 14, 2005

Links

Os links que não estavam funcionando (Prospect e Gabeira) já estão consertados. O da Polly Toynbee eu tirei, por que dava problema toda hora (mas não deixo de recomendar seus artigos).

Pós-Lula (V): o PT

Caso o PT não se desintegre após a crise iminente, não poderá mais evitar as questões que sempre o atormentaram: qual o lugar de movimentos reinvindicatórios da sociedade civil durante uma crise fiscal extremamente severa? Qual o papel dos sindicatos no novo quadro capitalista global? Em suma, diante da crise do Estado, como fazer a mediação entre sociedade civil e mercado? Se conseguir responder, torna-se novamente referência mundial. Se não conseguir, definha como os velhos PCB e PDT, e espera a decadência da próxima força de esquerda para ver se descola uma rebarba.

Essa questão está intimamente ligada a outra, mais diretamente ligada à crise atual: uma vez estabelecido que arranjo pode satisfazer as demandas sociais sem falir o Estado, restará a tarefa de saber que setores sociais podem ser aglutinados para ganhar de novo o governo, mas desta vez com maioria parlamentar.

Só não é uma certeza que o PT desapareça por que, ao contrário de todos os outros partidos, é um partido firmemente enraizado em movimentos sociais que certamente sobreviverão, em especial a CUT. Compartilha essas características com a social-democracia européia, que já se recuperou diversas vezes de escândalos de corrupção. Mas não é certo que se torne forte novamente, visto que permanece em aberto a questão da viabilidade da social-democracia brasileira.

Pós-Lula (IV): Garotinho

O pior cenário para o pós-Lula é, evidentemente, a vitória da hemorróida de Satã. Garotinho tem as credenciais éticas de quem acaba de tentar fraudar, na frente de todo mundo, as eleições de Campos. Economicamente, seria o retrocesso ao populismo mais vulgar. Desmoralizaria as Igrejas Evangélicas, que, bem, ou mal, são um setor importante da sociedade civil brasileira. Foi um dos principais articuladores da campanha por Severino, que hoje se suspeita ter sido uma grande revolta pela suspensão do pagamento do Mensalão. Só existe politicamente por causa de José Dirceu, que o elegeu quando forçou Benedita a ser sua vice. Não acredita na teoria da evolução, apesar de seus próprios evidentes traços simiescos, e, se eleito, o Brasil teria o único presidente anti-Darwin do mundo ocidental.

Como não sou só eu que acho isso tudo, cedo ou tarde sua candidatura seria alvo de tantos ataques que dificilmente decolaria. Mas pode se tornar líder de um movimento minoritário populista importante, ou pode ser usado pelo PMDB como moeda de troca no segundo turno.

Pós-Lula (III): partidos de direita

Em tese, o cenário estaria montado para uma ressurgência dos partidos de direita. Acho que, em alguma medida, isso vai acontecer, e é normal, e é bom: não é bom que as opiniões conservadoras, que são sustentadas por parte expressiva de nossa sociedade, sejam representadas apenas por marginais, como têm sido.

O grande desafio, naturalmente, é dar aos partidos de direita as credenciais éticas mínimas para se posicionarem diante de uma imprensa livre como a brasileira. O episódio Roseana Sarney foi típico: em primeiro lugar, do quanto a aliança PSDB-PFL é mais frágil do que se pensa. Em segundo lugar, de que não há nenhuma possibilidade de renovação da direita a não ser pelo critério hereditário, dada a impossibilidade de jovens direitistas honestos subirem por dentro de máquinas partidárias que fariam o Delúbio chorar de vergonha e desintegrar-se no nada. E, em terceiro, por que ficou claro que no debate ético a candidatura do PFL não sobreviveu um mês antes de aparecer dinheiro de procedência duvidosa.

É claro, também, que o PFL de Bornhausen ainda é melhor que os PPs, PTBs e PLs da vida. Esses partidos, entretanto, sobreviverão, ou pelo menos seus membros têm gande chance de sobreviver: é absolutamente notável o quanto se tem poupado os recebedores do Mensalão. Só se ataca os pagadores, em uma curiosa e significativa inversão do procedimento habitual. Um impeachment de Lula seria (será?) a vitória dos recebedores do Mensalão contra os pagadores de Mensalão. Afinal, quando o inigualável Valdemar Costa Neto renunciou, Severino, timoneiro e intelectual orgânico de PDT, PPS e companhia, ficou emocionadíssimo, e manifestou a Costa Neto que aquela casa esperava ansiosamente seu retorno triunfal.

Enfim, a questão é saber se a direita consegue se purificar a tempo. Caso consiga, pode ser a grande vitoriosa do pós-Lula. Creio que Bornhausen, político habilidosíssimo, já notou isso, e por isso apostou antes na candidatura Roseana, e agora, na de César Maia. Mas a limpeza do PFL seria um expurgo de tal dimensão que exigiria um José Dirceu possuído pelo demônio.

Pós-Lula (II): outros partidos de esquerda

Uma alternativa ao PT seria, naturalmente, a esquerda não-Lulista, formada, a essa altura do campeonato, por PDT, PPS e PSOL.

PDT e PPS vêm, a algum tempo, planejando uma fusão.Não se sabe o que sairia disso. O PDT é o resumo de tudo que há de atrasado na esquerda brasileira; à maneira norte-coreana, continuam a venerar o líder morto, ignoram completamente a possibilidade de aplicação da aritmética na gestão pública, não vêem espaço para os movimentos sociais na direção da esquerda, e seu compromisso com a ética fica claro no fato de que está representado na mesa do Severino.

O PPS se alia a qualquer coisa: Severino, Amazonino Mendes, o PDT. Ninguém mais comenta, mas quem trouxe o Jefferson para a aliança do Lula foi o PPS (o PTB era aliado do PPS durante a campanha do Ciro). Até aí, em outros tempos tinha se aliado ao Stalin. Entretanto, vinha tentando se firmar como alternativa de centro-esquerda, mais moderada que o PT, e Roberto Freire já havia dado várias declarações interessantes nesse sentido. Vamos ver se a soma belo discurso de centro-esquerda + Roberto Jefferson emplaca a reeleição, em terceira reencarnação, depois de PT e PSDB.

O P-SOL é o único partido anti-Lula que também é anti-Severino, o que poderia lhe garantir certa credibilidade. Mas o programa do P-SOL é tão pateticamente deprimente, e sua ruptura com o totalitarismo bolchevique tão débil, que tratar-se-ia apenas de substituir a ganância pelo sadismo como problemas do sistema político brasileiro. Não é tão ruim quanto o PSTU, mas até aí quase nada é.

Enfim, os outros partidos de esquerda só prometem o fim da estabilidade fiscal, com altíssima probabilidade de aumento da corrupção, não apenas por que historicamente foram mais, e não menos, propensos do que o PT a se aliar com corruptos, mas por que sua insignificância numérica implica que seriam obrigados a pagar ainda mais por deputado direitista.

Pós-Lula (I): PSDB

É óbvio que o fato da oposição ao Lula ser 95% corrupta (são, fundamentalmente, a frente pró-Severino) não livra a cara do governo em nada. No Impeachment do Collor, o que não faltou foi safado votando indignado, e isso foi excelente. Se os parlamentares honestos não puderem contar com a hipocrisia dos safados, ninguém limpa aquilo ali nunca. Afinal, sempre há a possibilidade de novas denúncias, que prendam amanhã o hipócrita que denuncia hoje.

Supondo, entretanto, que a crise leve seja ao impeachment, seja à total paralisia do governo, há outra questão, legítima. Finda a era Lula, o que emerge politicamente? Isso sim me parece deprimente.

O PSDB é o partido mais forte da oposição, mas acho que as comemorações tucanas têm sido prematuras, por dois motivos.

Em primeiro lugar, sem a ameaça de Lula, não sei se a direita vai continuar vendo razão para sustentar o PSDB, que, antes de FHC se lançar como anti-Lula, caminhava a passos largos para a irrelevância; é possível que haja uma crise da centro-esquerda em geral, encerrando o ciclo que começa com a redemocratização. E não devemos subestimar o quanto o eleitorado conservador esteve confortável, durante os últimos anos, na companhia dos ex-Ação Popular do PSDB. Suspeito que o referendo sobre o desarmamento pode ser o ponto de partida da rearticulação da direita tradicional no Brasil.

Em segundo lugar, o pacto de governabilidade do Lula provavelmente envolvia não meter o dedo nas feridas do FHC, nas privatizações e, em especial, na questão da dívida pública, dobrada durante a era FHC. Em troca, ninguém enchia muito o saco do PT por ter se oposto ao neoliberalismo com tanto entusiasmo. Não há por que respeitar isso agora.

Uma coisa me parece certa: se o PSDB quiser se consolidar, vai ter que ter um plano para o pós-FHC, o que, evidentemente ainda não tem.

Gaza

Não é preciso apoiar o governo Sharon para apoiar a retirada de Gaza. Agora, matéria publicada no Globo de hoje mostra um aspecto interessante do problema: a angústia dos palestinos que trabalham nas colônias israelenses em processo de desmonte. Além de ganharem mais que seus colegas governados pela ANP, têm a seguinte preocupação:

"Em Gaza o desemprego é muito grande e mesmo se as estufas continuarem aqui, somente aliados da Autoridade Nacional Palestina (ANP) terão o controle sobre região e sobre os empregos. Para nós não vai sobrar coisa alguma. A ANP só faz o que é bom para ela e não o que é bom para o povo" (Mahmoud, 33 anos)

O triste é o quanto isso é familiar em casos de lutas pela independência nacional. No Zimbabwe, por exemplo, o ditador Robert Mugabe está confiscando violentamente a terra dos agricultores brancos (e se negando a entregar comida aos seus opositores negros) para distribui-las a seus cúmplices. Qualquer hora escrevo de novo sobre o Zimbabwe, que está se tornando a Coréia do Norte do facismo.

A esquerda mundial, que tem ascendência sobre a ANP, deveria pressionar para que o mesmo não se repita na Palestina.

Friday, August 12, 2005

Crise Política IX

Agora, quem certamente nos proporcionará diversão é o filho do César Maia, que seguindo o eterno princípio genital de sucessão dos partidos de direita brasileiros, despontou como líder da oposição. Esse, eu garanto, é uma beleza.

Quando ganhou um cargo aqui na prefeitura (visto que seu curso de economia na Cândido Mendes, começado em 1989, não acabava nunca), proibiu os baleiros de porta de escola, por que eles poderiam vender cocaína para as crianças. Infelizmente, não prosseguiu no combate às lendas urbanas que tanto nos atormentam, de modo que a mulher loira do banheiro e o homem do saco continuam impunes.

Crise Política VIII

A maior revelação da CPI, sem sombra de dúvida, é o parlamentar tucano Gustavo Fruet, do Paraná. Altíssimo nível, excelente quadro, preciso, com a tranquilidade de quem sabe que tem argumentos. Se ele não descobrir nada, ninguém descobre: os outros membros da CPI não seriam capazes de provar que o Beira-Mar e Dona Ivone Lara não são a mesma pessoa.

Crise Política VII

Meu maior medo, portanto, não é o impeachment do Lula. É a quase certeza de que, se ele cai, sobe alguém que desfaz o legado do governo.

Certo, o mensalão vai voltar a ser substituído pela distribuição de cargos onde se pode roubar, como reinvindica a tendência Roberto Jefferson. Mas, por algum motivo, não acho que isso funcione como slogan que empolgue as massas.

Crise Política VI

E essa é a bobagem que mais me irrita: que a corrupção foi causada pela virada para o Centro. Se a virada tivesse acontecido antes, a crise de 2002 não teria sido tão séria (e o choque de ortodoxia poderia ter sido menor), o PT poderia, talvez, ter chegado agora com alianças ao centro melhores, ao invés de ter que comprar os últimos direitistas que ninguém quis comprar.

Zé Dirceu ganhou o poder que ganhou por se opor a radicais que, em geral, não tinham a menor idéia do que estavam falando. A tragédia começou na eleição carioca de 1998, quando o Campo Majoritário deixou de lançar uma candidata fortíssima (Benedita) ou um candidato que seria um excelente prefeito (Bittar) para apoiar a hemorróida de Satã. Sobrou como alternativa o Vladimir Palmeira, em cuja cabeça ninguém sabe direito o que há a essa altura do campeonato, e a direção nacional fez a intervenção mais desastrada de todos os tempos, e agora temos que engolir esses vagabundos que governam o Rio.

Em defesa to Tarso Genro: posso estar errado, mas se bem me lembro, ele se opôs à intervenção no Rio, mas teve que mudar de opinião depois por pressão do Campo Majoritário.

E tudo isso pra quê? Pra fazer aliança com o Brizola. É fogo.

Crise Política V

Agora, se o governo Lula acabar, mesmo, sobrarei eu a achar que foi uma pena, achei um excelente governo. Equilibrou as finanças sem fazer sacanagem pela primeira vez em décadas (nem confisco nem populismo fiscal ou cambial), criou o bolsa-família, cuja evidente qualidade é provada irrefutavelmente pelo fato de que a ignorantsia o critica sem parar (mas na ilha de sensatez que é a FGV, o Marcelo Neri elogia), o crédito em folha, o programa de legalização de propriedade de favelado (que, entretanto, deveria ter sido dez vezes mais apoiado financeiramente), incentivou as exportações (chequem os estudos do grupo do Agenda Perdida para ver a lógica disso), realizou uma política externa boa se descontadas certas barbeiragens (em um momento diplomático dificílimo), enfim. Deveria ter dado a Saúde e a Educação para caras dez vezes mais dinâmicos e preparados, e nunca poderia ter dado a ciência e tecnologia para os amigos do Garotinho, mas no saldo eu gostei. Visto que a auto-crítica que se seguirá na esquerda provavelmente vai dizer que a culpa da corrupção foi a virada para o centro, naufragarei como o último Paloccista.

Crise Política IV

O PT deve expulsar Dirceu por rito sumário, por ter impedido que Tarso Genro retirasse a legenda dos parlamentares que renunciassem para evitar a cassação. E isso mesmo se depois se provar que ele é inocente da organização do mensalão.

Aliás, suspeito que a presidência de Genro, que poderia ser a salvação do PT em outros tempos, tenha chegado tarde demais.

Crise Política III

Agora, o que realmente me enoja é o desembaraço com que a esquerda filovarguista - PDT e PPS (mudar de nome não muda tanta coisa não, Freire) - agora se coloca como guardiã da ética.

Por exemplo, o PPS está chocadíssimo com o recebimento de dinheiro pelo exterior. Ah, sim. Como se a única fonte de renda do PCB não fosse o dinheiro da venda dos cadáveres dos bebês da Ucrânia.

E os dois partidos, que alegam ter se distanciado do governo por não suportar o cheiro da corrupção, estão representados na mesa da Câmara, escolhida por esse sumo-sacerdote da Transparência Internacional que é o Severino. Aliás, a mesa é exata aliança entre a frente Mensalão (PP, essas coisas) e a oposição.

Crise Política II

Agora, uma coisa que eu acho que está sendo mal-interpretada é a transferência de dinheiro da conta no exterior do Marcos Valério para o Duda Mendonça. O baluarte da mais cristalina ética e paladino da transparência Carlos Sampaio (quem viveu em Campinas conhece) sugeriu que o PT pode ser extinto, pois trata-se de dinheiro recebido do exterior, o que é proibido pela Constituição.

Bom, evidentemente a Constituição se refere a dinheiro vindo de estrangeiros: o que se quer impedir é que um governo estrangeiro, ou empresas estrangeiras, ou movimentos políticos estrangeiros, interfiram no processo político brasileiro. Se um brasileiro burla o sistema com uma conta no exterior, é crime, mas não o descrito na Constituição e citado pelo Sampaio.

A essa altura do campeonato, pode ser o menor dos detalhes, mas quis deixar claro que as leis da Física ainda se aplicam, o que implica que o Carlos Sampaio falou merda.

Crise Política I

Como todo mundo, estou revoltado com a crise política. Agora, eu tenho a impressão de que a oposição está comprando a teoria do governo: pelo tanto que os oposicionistas ficaram entusiasmados com o depoimento do Duda Mendonça, parecem ter aceitado a tese de que o problema foi contribuição de campanha. Se tiver sido, mesmo, pessoalmente fico muito menos chocado do que se tiver havido roubo dos cofres públicos, mas ainda permaneço cético.

Voltamos

Ficamos muito tempo sem postar, por que 1) A crise politica estava me deixando muito puto da vida, e não estava conseguindo escrever nada de mais ou menos civilizado, e 2) Estava lendo uns livros bons. Mas o homem que entende de Antiguidade Romana tardia mais do que Aristóteles jamais entendeu reclamou, então eu tive que voltar a escrever.

Tuesday, August 02, 2005

Clareza Cristalina

Posso ter ouvido errado, mas acho que um deputado da Comissão de Ética acaba de dizer que o que Dirceu declarou era 'incrível, mas não crível'. Ah, bom.