Wednesday, August 29, 2007

Mudamos


Levando em conta os comentários de vocês, resolvemos mudar de endereço, e de agora em diante postaremos no Wordpress. O novo link é:




Alguns comentários sobre a mudança:


1) Analisando os prós e contras, chegamos à conclusão de que o Blogger é bem melhor para quem entende de html. É muito mais flexível, e dá pra fazer mais coisa com ele. Uma vez que o WordPress tem o html fechado, não dá nem pra colocar um webcounter como o Google Analytics (eles têm um lá, deles, parece mais ou menos). Por outro lado, para quem não entende de html, como eu, o Wordpress oferece templates prontinhos mais bacanas: bem mais bonitos e com alguns recursos interessantes, como essas várias sub-pagininhas no alto da página.


2) Os posts já estão quase todos exportados para lá, mas há vários problemas com imagens, vídeos e links, que vou corrigindo aos poucos. Se um post for sem importância e estiver com cara de dar muito trabalho, vou apagar. De qualquer maneira, esse blog continuará aqui, não será apagado, de maneira que, se alguém, por algum motivo, quiser checar um post antigo mal-exportado, é só vir aqui.


3) Os comentários ainda estão começando a ser exportados agora, por isso vou responder por aqui (e por lá, também) ainda essa semana. Mas os posts novos só serão lançados lá.


Espero que vocês gostem do novo visual, e continuem prestigiando o NPTO. Estamos com uma audiência média de 80-90 pessoas, e alguns leitores fiéis, que esperamos manter (porque até que está divertido fazer esse negócio). Se alguém notar alguma coisa que não funciona na nova página, por favor, avise.

Tuesday, August 28, 2007

Boa Notícia

Certo, é deprimente ouvir a história do escândalo de corrupção de 2003. Agora, não podemos perder a perspectiva: uma vez descoberto o caso, houve a denúncia, ela foi acolhida pelo Procurador Geral (não mais um “engavetador geral”), caiu na mão de um relator indicado pelo governo, e não há o menor sinal de condescendência até agora. Acompanhar os debates no STF (com todos os problemas que o STF tem) tem sido um saudável contrapeso ao ridículo que foi a CPI (”Dirceeeeu…sai daí, Dirceeeeu….”). Não se trata de elogiar o governo por suas indicações (afinal, é o mesmo governo no banco dos réus), mas sim constatar um certo amadurecimento institucional.

Monday, August 27, 2007

Ruy Fausto

Boa entrevista na Folha de ontem com o Ruy Fausto, professor da Universidade de Paris. A enrevista marca o lançamento de um livro de artigos sobre política, meio mal apresentado pela reportagem: aparentemente, trata-se de uma coletânea de artigos sobre política (alguns dos quais, se bem entendi, já comentamos aqui, onde costumamos gostar do que o cara fala sobre política), A Esquerda Difícil. O livro certamente será resenhado aqui quando sair. Enquanto isso, os melhores momentos da entrevista:

Mensalão

"Lamentavelmente, parte da intelectualidade do PT tomou a defesa do partido, e portanto dos corruptos, e pôs a culpa na imprensa pelo escândalo, como se ela tivesse montado o essencial. A tendência a transformar tudo em complô da mídia -que está longe de ser inocente, principalmente na sua atitude para com o governo Lula, mas, no caso do mensalão, fora as diatribes sinistras contra intelectuais do PT proferidas por certa revista, ela acertou muito mais do que errou- é propriamente lamentável, e mostra a total desorientação de parte da intelectualidade petista.

Não se defendem princípios, defende-se um partido. Como se os partidos não apodrecessem, e como se eles fossem mais importantes do que um projeto socialista democrático sério. Essa atitude mistificou parte da opinião universitária, que "não acredita" no mensalão, como se se tratasse de um problema de crença ou de fé (se o mensalão era quinzenal, ou semestral, isso interessa pouco, o essencial é que houve corrupção, e grande). Com isso não quero dizer que nada preste no PT, nem que ele não tenha mais interesse. Há certo número de pessoas honestas e com convicções ali. Só que são minoritárias. Veremos se ainda podem desempenhar algum papel. "

Revista

"Creio que precisaríamos de uma revista, mas uma revista com gente que tenha posições bastante convergentes, e que se disponha a trabalhar no sentido de uma crítica intransigente ao petismo acrítico, ao revolucionarismo -inclusive o niilista- e às pseudo-sociais-democracias nacionais, que na realidade não têm nada de social-democratas. Uma revista política e teórica que fosse nessa direção representaria um passo importante, no sentido da preparação de uma reorganização política. Pelo menos denunciaríamos os sofismas e as jogadas de uns e outros. A partir daí, e entrando em contato com o que existe de melhor em vários grupos ou partidos (há gente politicamente sã, mesmo se minoritária, um pouco por todo lado, inclusive fora de grupos ou partidos) veríamos o que seria possível fazer a médio prazo."

Comentários NaPratica: ainda temos mais esperança no PT a médio prazo (mais sobre isso em post a ser publicado em breve), mas já manifestamos a intenção de comprar a revista do Ruy Fausto e linkar aqui. Tenho uma certa curiosidade sobre quem seriam os outros autores.

Wordpress

Fizemos um modelinho do blog lá no Wordpress. Dêem uma sacada e digam o que vocês acham.

Thursday, August 23, 2007

Ciro Gomes

Deu na Folha de ontem: Lula, em discussão com governadores do PT, disse que o partido não deve se fechar para a possibilidade de apoiar um candidato de outro partido da base, como Ciro Gomes.

Não há dúvida de que Ciro é o candidato mais forte à sucessão de Lula junto ao eleitorado. Marta está na descendente, Palocci, Mercadante e Genoíno dançaram durante a crise política. Dilma é uma possibilidade, mas não tem nome junto à população, ainda.

Mas uma candidatura Ciro traria um desafio interessante. Em 98 e 2002, Ciro, que antes se elegera pelo PSDB, tentava tirar votos do PT, e assim abrir um flanco à centro-esquerda para brigar com os tucanos. Se for candidato com o apoio do PT, entra em uma disputa direta com PFL/PSDB, e precisaria se mover de novo para o centro, sem, entretanto, desmobilizar a militância petista, provavelmente desconfiada de um candidato de fora do PT.

É um equilibrismo difícil, mas possível. O que Ciro deve evitar a qualquer custo é se deixar caracterizar como candidato da esquerda tradicional (PDT, parte do PSB, essas coisas). Não ganharia o PT e perderia o centro.

Lembremos que Ciro concorrerá contra Aécio, faixa-preta de primeira, que certamente vai saber roubar eleitores à esquerda quando precisar, até porque não entrou na facção mais raivosa da oposição durante a crise política. Se o candidato do PSDB for Serra, a situação é mais fácil.

A propósito: qualquer que seja o candidato do governo, suas chances começam a se estabelecer na próxima eleição para prefeito, quando o PT tem sua grande chance de se reconstruir em São Paulo antes da eleição presidencial de 2010.

WordPress

Muita gente me diz que eu deveria mudar o blog para o wordpress. Alguém aí sabe se é uma boa?

UCTV

Para quem tem trabalho chato e gosta de estudar, uma boa alternativa são os Podcasts. Você vai fazendo suas tarefazinhas bestas e ouvindo coisas interessantes no fone de ouvido. Alguns posts abaixo há a indicação de um podcast sobre filosofia, e estamos sempre falando do EconTalk. Aí vai mais uma sugestão: a UCTV, webtv da Universidade de Berkeley. Há duas entrevistas com autores de livros comentados aqui recentemente, "O Vulto das Torres" e "The Right Nation". O do Amartya Sen tem o volume muito baixo, infelizmente, e recomendamos o da Amy Chua, cujo livro sobre democracia e mercado em países com conflito étnico esperamos ler um dia desses.

Wednesday, August 22, 2007

Fraude na Câmara de São Paulo

Vocês já devem ter visto na imprensa a história do concurso da câmara de SP, que foi aquela beleza: um monte de gente da mesma família gabaritando o concurso. Até aí, mais um caso de fraude.

O interessante é o seguinte: uns candidatos revoltados saíram atrás da história e descobriram, através da Internet e do Orkut, o grau de parentesco dos candidatos e, que maravilha, descobriram que outros aprovados com notas altas são amigos da família. O trabalho de investigação pode ser encontrado no blog da fraude do concurso da câmara. Como resultado, do MP até a fundação que organizou o concurso, todo mundo está investigando.

Agora vejam só que interessante: dois aspectos da cultura brasileira colidem nesse episódio. Um, obviamente, é o nepotismo. Mas o outro, mais novo, é a tendência a escancarar sua vida pessoal na internet.

Interessante, hein?

Desigualdade cresce na Venezuela

Revolução Bolivariana é isso aí: enquanto o moderadíssimo Lula fez o coeficiente de Gini do Brasil cair 4,6%, o coeficiente de Gini da Venezuela CRESCEU o dobro disso (9%). É isso aí, companheiros: a desigualdade do socialismo do século XXI é MAIOR do que a do capitalismo do século XIX que havia antes na Venezuela. Que espetáculo.

(hat tip: Marginal Revolution)

Tuesday, August 21, 2007

Reagan sabia das coisas

Como diz a versão de Bezerra da Silva para o princípio da identidade aristotélico, Malandro é Malandro, Mané é Mané. Embarcamos na onda e citamos aqui o hoax do Reagan escrevendo sobre o Bush. Foi mal aí, e valeu ao anônimo pela dica.

Podcasts Filosóficos

Eu não tenho como baixar o Real Audio aqui no trabalho, mas, para quem tiver o programa, essa série de podcasts com filósofos tem cara de ser bem legal.

Fábula Econômica

Na entrevista do EconTalk com o Robert Barro, o apresentador Russ Roberts acabou a gravação propondo o seguinte problema para seus leitores:

Um turista ocidental vai passar as férias em uma ilha habitada somente por nativos cuja economia se baseia no escambo. Chegando lá, tenta pagar por uma tenda para sua estadia com um cheque. O nativo não entende que diabos é aquilo, mas acha o cheque bonitão (devia ser um desses cheques de rico, cheios de brilhozinho), e aceita o negócio. Mostra o cheque para os seus compatriotas, que também acham bonitão e começam a oferecer coisas por ele. Uma vez os nativos tendo se amarrado no cheque, o turista se dá bem, pois consegue pagar por tudo com cheques que jamais serão descontados, uma vez que passaram a funcionar como moeda dos nativos.

PERGUNTA: quem pagou pelas férias do cara?

Quem quiser a resposta pode ir checar. Mas o interessante foi o comentário de um dos leitores (Anshu Sharma):

" The Island is China holding our US denominated currency never 'cashing' it for real goods or services. By delivering goods and services in exchange of IOUs to the (US) visitor, the island (China) is extending an indefinite interest-free loan to the visitor. The vacation is therefore fully paid for by the islanders.

So let's go shop till we drop at Wal-Mart. China is paying!"

Explicação: os chineses estão, faz anos, torrando uma grana preta em títulos da dívida americana. Isso, como nota o Barro, faz com que a estabilidade da economia americana se converta em um importante produto de exportação. Daí o diagnóstico de muita gente boa de que a China sustentava a expansão do consumo americana até outro dia.

Agora, a questão é saber se, no momento, a crise americana é tal que a confiança chinesa diminua significativamente a ponto dos EUA perderem essa fonte de financiamento. Isso, sim, empurraria a crise atual para outro nível de gravidade. Mas não sei se isso acontece, não.

Monday, August 20, 2007

Para os cinéfilos

Nosso velho grande chapa Luiz Felipe, o popular Téo, está escrevendo uma coluna sobre cinema na Internet. Já está recomendado, e será linkado aí do lado hoje.

Friday, August 17, 2007

Cansei Cansou

Não há muito como caracterizar o ato do Cansei de hoje senão como um fracasso. O único comentarista que parece discordar, pelo que vi, é o Olavúnculo. Na Paulista, hoje, ninguém fez minuto de silêncio. Nenhum dos meus colegas tucanos, a crer na minha rápida pesquisa por email, fez minuto de silêncio - aliás, tucano de pedigree mesmo parece não ser muito chegado no Cansei, não (ao menos essa é minha impressão).

Agora, vendo as fotos, lendo os posts nos blogs, me dá a impressão de que foi uma coisa pra gente muito longe do meu gosto. Sabe aquele espantalho das elites que o governo gosta de atacar? Uns caras resolveram dar vida ao bicho.

O bicho é feio. E a trilha sonora é do Agnaldo Rayol.

O nicho de mercado de uma direita de qualidade no Brasil permanece vazio.

Piauí, cansei, etc.

A desgraça desses movimentos de classe alta no Brasil é que o nível intelectual de nossa elite é baixíssimo: quando os caras começam a relaxar e falar como falam em particular, só sai merda. Vide o depoimento do cara da Philips sobre o Piauí (hat tip: Dr. ABC). E o nível intelectual é essencial em um movimento desse tipo, que só pode ter algum sucesso se convencer os formadores de opinião, se esses influírem sobre os canais normais de disseminação cultural - igrejas, partidos, rodas de bar, etc.

O que eu acho que pode acontecer é que o Cansei vai mobilizar em torno do Lula uma parte da esquerda até agora rompida com o governo. O resto é só uma tentativa de tornar o apoio ao Lula "unfit for polite company", mas a company do caso não é muito polite, não, de maneira que deve ficar tudo igual.

Aliás, hoje é o dia do minuto de silêncio do Cansei, que contará com o apoio entusiasmado dos funcionários do Magazine Luiza.

Em vez do minuto de silêncio, poderiam fazer um minuto de exposição de qualquer proposta que fosse sobre o que quer que fosse. Na verdade, eu queria era uns dez anos de silêncio desse pessoal, de mãos dadas ao pessoal da velha esquerda, para que os adultos pudessem discutir coisas sérias. Na época da crise política de 2005 (da qual a culpa é inteiramente do governo), toda discussão adulta foi interrompida, e ainda não voltou.

Thursday, August 16, 2007

Três Donas que eu devia ler

Três autoras que eu deveria ler (ou ler mais): na verdade, suspeito que eu devia ficar quieto até ler a primeira direito.

1) Hanna Arendt: já li o "Totalitarismo", precisava ler "A Condição Humana", os outros livros sobre filosofia política.

2) Martha Nussbaum, cujo perfil pode ser lido aqui, e que vocês podem ouvir falando sobre conflitos étnicos na Índia aqui. Escreveu com o Amartya Sen, escreveu um texto interessante sobre cosmopolitismo (estava disponível online, parece que tiraram), e uns textos sobre emoção e razão que têm cara de ser muito bacanas.

3) Seyla Ben-Habib, que não apenas era da banca do mestre Jedi Josué Pereira da Silva, escreveu um livro que tem tudo pra ser bom, "Critique, Norm and Utopia", e um outro sobre a Arendt que também tem cara de ser ótimo.

Quando eu ler eu aviso pra vocês.

Livrão: "Disgrace", de J.M. Coetzee


Certo, o cara já ganhou o Prêmio Nobel de literatura, o livro é de 2000, de maneira que não se trata de nenhuma grande descoberta da minha parte dizer que esse livro é realmente um espetáculo.

A Companhia das Letras evitou o falso cognato e traduziu como "Desonra", mas, se tivesse cometido e traduzido como "Desgraça", não estaria muito longe da história, não.

O livro conta a história de um professor sul-africano de literatura solitário e meio tarado que dá em cima de uma jovem aluna da faculdade. Dá certo. Após alguns encontros, em que o leitor fica meio na dúvida sobre o quanto foi assédio sexual e o quanto foi voluntário, a menina processa o cara por assédio, e ele protagoniza um momento memorável: após confessar ter feito mesmo a coisa, os administradores da universidade dizem que aliviam a barra dele se ele der mostras de que não apenas confessa como também está arrependido, sinceramente. Ele afirma que estabelecer a sinceridade de sua contrição não é atribuição de um tribunal, é uma matéria extraordinariamente complexa, e, por princípio, se limita a confessar. É demitido sem pensão.

Até aí, beleza.

Vai então morar com sua filha que virou fazendeira no interior da África do Sul. A menina é uma idealista, defensora dos direitos dos animais, e lésbica. O protagonista começa a participar da vida dela, desempenhar tarefas da fazenda, e quando parece que tudo vai mais ou menos, três negros entram na fazenda, roubam tudo, estupram a menina, trancam o cara no banheiro e tacam fogo nele.

Aí a coisa começa a piorar.

Há várias desonras em jogo: a desonra do próprio personagem, publicamente denunciado como velho sedutor de menores e demitido; a vergonha de sua filha estuprada; e, principalmente, a vergonha da África do Sul, um país inteiro em penitência, em desgraça, em vergonha, sendo lentamente absorvido pela África que o cerca (de dentro, inclusive). A extrema decadência humana do personagem principal, sua progressiva incapacidade de expiar seus erros, a falta de reconhecimento pelo pouco que consegue, e a progressiva adaptação à velhice, à deterioração; a desonra como a perda do direito de ter uma injustiça contra si reparada.

Um clássico sobre a busca incessante de bodes expiatórios para o sacrifício (na última cena do livro isso é claro), à maneira d' "A Mancha Humana", do Philip Roth, outro livraço, do qual me lembrei algumas vezes enquanto lia. Talvez seja até melhor, não sei.

Enfim, para quem tiver tempo para dedicar a um livro denso, eu recomendo.

Wednesday, August 15, 2007

Rússia

A Paula do Nel Mezzo del Camino me chamou atenção sobre o artigo do Bernardo Carvalho sobre a situação política da Rússia atual. O artigo é legal, mesmo, vale a pena ler.

Sobre a Rússia: para entender a situação atual, vale a pena relembrar uns artigos esquecidos dos anos 90.

O Anders Aslund, economista sueco que deu assessoria para vários governos pós-socialistas, lançou a seguinte idéia: certo, os oligarcas russos roubaram as empresas. Foi. Agora, deveríamos nós encher o saco dos caras? Não. A obtenção de propriedade por meios ilícitos foi a regra, não a exceção, na maior parte dos países capitalistas (concessão de terras gratuitas para construir linha de trem, pirataria, etc., o que o Marx chamava de "acumulação primitiva"). Há sinais de que os oligarcas que sobreviveram à crise de 98 estavam administrando suas empresas mais ou menos bem. Nesse cenário, diz o Aslund, é melhor deixar como está do que arriscar re-estatizar de novo e privatizar direito (quem garante que dessa vez seria direito?).

É um argumento razoável. Só que tem outro lado, bem explicado por um sociólogo húngaro chamado Akos Rona-Tas. O "capitalismo político" russo pode se reproduzir indefinidamente, porque, cada vez que se faz uma privatização na base da sacanagem, a população fica chocada com o episódio, passa a desprezar os ricos (mesmo os que não têm nada a ver com isso), e pedir que o Estado intervenha pra por ordem nessa zorra. Aí o Estado (por exemplo, o Putin) começa a perseguir alguns dos novos milionários (os que não aceitam apoiar o governo) e redistribuir o que for confiscado para seus cupinchas em uma nova rodada de sacanagem. Aí a população fica desiludida...

Em uma interpretação mais otimista, é possível que o ciclo vá perdendo intensidade com o tempo. Nessa nova rodada o Putin já vai distribuir menos empresas, comparado ao que o Yeltsin entregou, e é possível que o próximo governante tenha menos ainda para redistribuir.

Mas realmente não é um quadro muito bonito.

Sobre o Bernardo Carvalho: eu gosto dos livros dele, como já dito aqui. Recomendo especialmente o Mongólia.

CM volta a ser spam




Não sei nem o que comentar a respeito disso:



"Publicitários enviaram a este Ex-Blog este anúncio do Banco do Brasil. Afirmam que é uma mensagem subliminar com o número 3, com vistas a ir disseminando a idéia de um terceiro mandato. Decida pelo 3... mandato? Banco... da Sustentabilidade... do mandato? Será????"


Saiu no Ex-Blog do CM. Quando eu começo a me animar a ler de novo (às vezes sai umas coisas boas mesmo), ele faz dessas. A foto do anúncio (que, aliás, eu nunca vi) está aí em cima. Só me resta levantar e ir tomar meus 3 cafés de hábito.


Café...Filho? ...PRESIDENTE... Café Filho? ...PRESIDENTE PELA TERCEIRA VEZ...etc.?

Tuesday, August 14, 2007

Rodrik vs. Tabarrok

Briga de cachorro grande na blogosfera econômica: o Dan Rodrik (link aí do lado em breve), professor de economia em Harvard, escreveu um artigo em defesa dos países fazerem política industrial. O Alex Tabarrok, que, junto com o Tyler Cowen, escreve o excelente blog Marginal Revolution (link já aí do lado) desceu a lenha, e o debate foi parar no Free Exchange, blog da The Economist (que concorda com o Tabarrok). O debate teve, inclusive, impacto na blogosfera brasileira, com o Hermenauta e o FYI "torcendo", respectivamente, pelo Rodrik e pelo Tabarrok. Se eu entendi, trata-se do seguinte:

Disse o Rodrik: os economistas aceitam a intervenção estatal em áreas como saúde e educação, mas não na indústria. No caso das políticas sociais, os argumentos a favor se baseiam na teoria das falhas de mercado, as externalidades positivas da educação, etc. Embora esses argumentos sejam intelectualmente muito plausíveis, e sejam indiretamente relacionados a pressupostos mais ou menos aceitos, ainda não existe um corpo de evidências empíricas muito sólido que os apóie. Mesmo assim, os economistas em geral continuam aceintando a intervenção com base neles.

Ora, a situação no caso da política industrial é exatamente a mesma: há argumentos baseados nessas mesmas teorias, igualmente plausíveis, mas sem grande sustentação em estudos empíricos. Não há motivo, portanto, para a gente não discutir, pelo menos, a conveniência de se fazer política industrial. Para apoiar seu argumento, o Rodrik lista alguns exemplos de políticas industriais que deram certo.

O Tabarrok caracterizou esse argumento como "o pior de todos os tempos", e reescreveu-o assim:

1 - Nós aceitamos umas coisas aí mesmo sem evidência empírica.

2 - Não temos evidência empírica a favor da conveniência de se fazer política industrial.

3 - Devemos, pois, aceitar a conveniência de se fazer política industrial.

Foi essa versão que o blog da The Economist aceitou. Mas, se vocês prestarem atenção no argumento do Rodrik, ele não é esse aí, não (que seria mesmo uma droga). A base do argumento é a tal das teorias da falha de mercado, que, pelo que eu sei, é amplamente aceita (o que não quer dizer que sua aplicação nesse caso o seja). Nos comentários do Marginal Revolution, o vosso mané aqui tinha que dar um pitaco, e reformulou o argumento assim:

"1 - Economists support state intervention in some areas where there is no rock-solid empirical evidence for it, ONLY PLAUSIBLE THEORETICAL CONSIDERATIONS LOGICALLY DERIVED FROM USUALLY ACCEPTED PRINCIPLES, OF WHICH WE HAVE ONLY INDIRECT EMPIRICAL EVIDENCE (the whole market failures discussion).

2 - Some of these theoretical considerations should apply to industrial policy.

3 - We therefore should be open to discuss the convenience of industrial policy."

Daí em diante o negócio pode ser verdadeiro ou falso, mas não é trivialmente errado, como sugeriram o Tabarrok e o Free Exchange.

Acrescento mais dois pontos:

1) Acho que aceitamos o argumento no caso da política social porque consideramos a perspectiva das crianças ficarem fora da escola tão horroroso que não queremos correr o risco das falhas de mercado ocorrerem. Somos mais céticos no caso da política industrial porque não consideramos um crescimento econômico sub-ótimo tão terrível assim para correr os riscos associados à intervenção do Estado (corrupção, ineficiência, etc.). Mas, como me chamaram a atenção lá nos comentários, isso é só especulação.

2) Não sei como se poderia fazer um teste econométrico da conveniência de se fazer política industrial, acho a variável "política industrial" ampla demais: involve subsídios, barreiras alfandegárias, políticas de inovação e incentivo, enfim, um monte de coisas diferentes. Mas, enfim, não é porque eu não sei fazer que é impossível.

Monday, August 13, 2007

Eleição para Prefeito em São Paulo

A Folha publicou ontem pesquisa para a prefeitura de SP, com Alckmin na frente de Marta e Kassab em empate técnico com Maluf e Erundina (um pouco atrás, mas ainda em empate técnico). Vamos especular, que essa é a graça da coisa.

Eu achei boa notícia para o Kassab. O Alckmin provavelmente chegou no teto. Todo mundo já conhece o sujeito, que foi governador e candidato a presidente vitorioso na cidade. Quem ainda não vota nele no primeiro turno dificilmente virá a votar, visto que a chance de ele ou o Kassab ou o Maluf não irem para o segundo turno é nula (o que exclui um voto útil de direita). Kassab, por outro lado, vai para a arena pela primeira vez. Se vonseguir tirar 8 pontos de Alckmin e 5 de Maluf, passa o tucano. Na simulação atual, perde para Marta no segundo turno, mas, depois de se tornar conhecido, pode ser diferente.

Alckmin joga pelo empate. Se vai ao segundo turno com Marta, vence, salvo mudança drástica no quadro, pois recebe o apoio de Kassab, mais alguma transferência do Maluf. Não pode deixar o Kassab crescer, mas tampouco pode acabar com o cara, pois vai precisar do apoio dele no segundo turno.

Marta está individualmente bem, mas isolada. Para ganhar, precisa, primeiro, garantir o segundo turno, o que não é improvável. Mas, se cair muito, pode haver voto útil em Erundina (não vi a simulação com a Erundina, gostaria de ver). Supondo que não caia, precisa garantir a transferência de todo voto da Erundina e do Paulinho da Força Sindical, mais aquela facção dos mais pobres que o PT sempre disputou com Maluf (precisaria melhorar o discurso sobre segurança, precisaria enfatizar muito isso). Daí em diante a diferença cai abaixo de dez pontos, e, não tem jeito, precisa tirar voto do adversário no segundo turno.

A minha curiosidade sobre Erundina no segundo turno é a seguinte: eu acho que ela receberia transferência de Alckmin no segundo turno. Com o apoio da Marta, ganharia do Kassab.

Alckmin ganha se a eleição for morna. Kassab pode tocar fogo no negócio. Marta ganha se conquistar os votos de Erundina e redefinir a imagem, jogando a fama de braba para o lado positivo ("firme contra o crime", algo assim). Nós aqui gostaríamos de ver a Erundina tendo uma chance.

Friday, August 10, 2007

Eu os nomeio imperdoáveis

Certo, quando eu era moleque eu gostava de heavy metal para extravasar agressividade, ir para os shows para dar cotovelada na cara dos caras e levar uns chutes sempre no maior espírito de camaradagem, etc. Agora, tem umas coisas de que eu gostava que eu até hoje sinceramente acho bonito, da mesma forma que acho pintura renascentista bonita. Uma delas é The Unforgiven, do Metallica.

Thursday, August 09, 2007

Livraço: "Divided Jerusalem", de Bernard Wasserstein



Estava procurando um livro sobre o conflito no Oriente Médio que fosse minimamente equilibrado, e esse pareceu ser ele: é elogiado como tal pelo Independent e pela Economist, de maneira que achei que valia a pena. E valeu. É realmente excelente.

O livro é uma história da cidade de Jerusalém do ponto de vista diplomático. Isto é, não é uma discussão religiosa sobre quem tem direito a que pedaço da cidade ou da Palestina. Não vou resumir, só recomendar que alguma editora tenha a decência de traduzir. Vejam só algumas das coisas que eu não sabia:

1 - Talvez a coisa mais interessante do livro: o quanto cada uma das três religiões monoteístas variou em seu julgamento sobre a santidade de Jerusalém. Em geral, essas flutuações acompanharam as idas e vindas da política internacional. Nas três religiões - judaísmo, cristianismo e islã - sempre teve alguém dizendo que Jerusalém tinha que ser propriedade do seu próprio grupo. Mas hoje, por exemplo (meu, não do livro), quando a perspectiva de uma reconquista cristã é remota, não se vê gente nos jornais ocidentais exaltando a santidade da cidade e exigindo sua conquista.

O caso mais impressionante é o dos sionistas. Os sionistas eram fundamentalmente laicos, e tinham até um certo desprezo pela religiosidade dos judeus nativos da Palestina. Até estavam afim de ficar com Jerusalém, mas não jogavam todo seu peso nisso, não. A cidade deles era Tel Aviv, muito maior e cosmopolita. Aceitaram vários esquemas de divisão da cidade ou internacionalização até que o glorioso rei da Jordânia atacou Israel durante a guerra de 6 dias, sem a menor chance de ganhar. Como resposta, Israel invadiu Jerusalém e pegou pra eles. Daí em diante, e só daí em diante, Jerusalém passou a ser considerada o ponto central da identidade nacional israelense.

Os muçulmanos, por sua vez, decidiram mais ou menos tardiamente que Jerusalém era um lugar sagrado, em parte para inspirar o pessoal a ir dar porrada nos cruzados. Há no livro um relato de um soberano muçulmano que deu umas chicotadas em viajantes por acharem que eles estavam indo a Jerusalém como quem vai a Meca. Enfim, é claro que existem argumentos teológicos de todos os lados, mas eles aparecem com mais frequência quando tem disputa política na jogada.

2 - Durante a maior parte do último milênio, a grande briga religiosa em Jerusalém era entre Cristãos latinos e ortodoxos, que proporcionavam um bonito espetáculo periódico de monges saindo na rua pra bater em outros com pedaço de pau. As potências ocidentais se revezavam pela proteção dos peregrinos cristãos, com Veneza, do lado dos latinos sendo sucedida pela França, que ainda chegou a ser contestada pela Itália depois da unificação. Entre os ortodoxos brigavam gregos e russos (brigam até hoje, e, aliás, brigaram inclusive durante o período soviético). O Kaiser alemão bolou um negócio impressionante: um bispado comum luterano/anglicano, que ele sonhava ser a base de uma aliança estável anglo-germânica. E a impressão que dá é que os otomanos administraram essa bagunça o melhor possível, com muita corrupção, mas sem fanatismo. Em um dado momento, as chaves da Igreja do Santo Sepulcro (dividida por latinos e ortodoxos) foram dadas para uma família muçulmana, para evitar confusão, e isso deu certo por um bom tempo.

3 - O plano original das potências ocidentais para dividir a Palestina do Mandato Britânico (que é mais ou menos o que se está tentando fazer até agora por lá) era dividir uma parte judaica, uma parte árabe (que iria para a Jordânia - o nacionalismo palestino demorou para ser reconhecido), e Jerusalém seria cidade aberta, sob controle da ONU. Eu tenho imensa simpatia por essa proposta, o que comprova outra tese do autor, que ao longo da história todo mundo que não tinha exército lá era a favor da internacionalização. É uma pena que a proposta tenha realmente caído em descrédito, era a solução óbvia para o problema. Hoje em dia, com a cidade radicalmente dividida, seria mesmo difícil.

Mas talvez o ponto mais assustador seja a progressiva radicalização por cada vez menos espaço: começa com a discussão de como partilhar a Palestina, depois como partilhar Jerusalém, e depois chega-se no ponto em que se discute como dividir o monte do Templo, incluindo seu subsolo e cada metro de seu perímetro. Em nome desse pedacinho, grupos extremistas de ambos os lados já mataram e morreram às pencas.

E no livro tem muito mais coisa. Recomendo enfaticamente.

Mellão: chegou a hora de dizer bosta!

O João Mellão escreveu umas besteiras no Estadão sobre o Lula ir para o Nordeste, onde gostam dele, e não voltar. Que beleza. Vejam só:

“Nada contra o fato de o presidente se refugiar nos Estados nordestinos. Afinal, é neles que se encontra a grande maioria de seus eleitores, todos eles devidamente subornados pelo Bolsa-Família. Mas, a bem da Nação, a sua passagem deveria ser só de ida. Chegou a hora de dizer: Basta!”

Comentário do sempre inteligente Luiz Felipe Alencastro:

"O raciocínio cerebrino do deputado pressupõe que a legitimidade presidencial só existe nas regiões onde Lula obteve maioria eleitoral. Lula venceu na maioria dos Estados do Norte e do Nordeste, mas ganhou também em Brasília, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nestes 5 Estados ele obteve uma vantagem de 7.291.000 votos sobre Alckmin no segundo turno. Ou seja, mesmo que todos os brasileiros do Norte e do Nordeste tivessem ficado em casa, ou pertencessem a um outro país, Lula ainda dava de lavada no candidato tucano no segundo turno. Para ser coerente, o deputado do DEM deveria também incluir todos os brasilienses, goianos, capixabas, mineiros e cariocas no seu ‘chega pra lá’ excludente e preconceituoso. De quebra, poderia agregar ainda, neste mesmo grupo de “subornados” cujo voto vale menos que o dele e de seus amigos, e que não pertence à "Nação" deles, todos os eleitores da Baixada Santista e da Grande São Paulo, que também deram a maioria de seus votos a Lula.Falta quanto tempo ainda para a direita brasileira aprender o caminho das pedras da prática democrática?"

Ja botamos aqui na época da eleição: dos dez maiores municípios do estado de SP, Lula ganhou em 5, Alckmin em 5.

Eu acho que foi o velho Gramsci que disse: quando um movimento começa a falar só para os seus, é porque está em retirada. Isso está acontecendo no PT, mas até que isso é normal: os caras ganharam o poder, ficaram lá um tempo, começaram a perder o ímpeto. Agora, é impressionante que essas coisas como o Cansei e o Mellão já comecem assim, dando a saída recuando pro goleiro.

Imaginem como esse artigo pode municiar os apoiadores do Lula no resto do país. Na verdade, o Mellão provavelmente está consciente do seu horizonte político - no máximo, ser deputado por SP, e está se conformando com o papel. Agora, que o partido dele não se manifeste sobre isso mostra que o PFL não tem o menor risco de ter projeto nacional.

A propósito: antes que me acusem de ser anti-paulista, sou carioca residente em São Paulo, e meu currículo de bandeirante é muito melhor do que o do Mellão: ou ele já pegou ônibus pra ir dar aula em Votuporanga? Sou um grande admirador de São Paulo, fã de carteirinha das colônias japonesas e italiana (com quem aprendi a falar com as mãos), viciado em pizza (que, de fato, é melhor aqui que na Itália), formado pela sociologia paulista, e minha alma mater é a UNICAMP. Certo, o sujeito que deu a sorte de ser carioca não abandona a raça nem que queira (e porque quereria? Duas palavras: biscoito globo), mas eu também adoro essa porra aqui. O problema de São Paulo é que os paulistas são como os americanos: só oferecem um único emprego para vagabundo, o de governá-los.

PS: sempre deixando claro, não estou defendendo a política carioca em contraste com a política paulista. Se a câmara de vereadores do Rio fosse implantada na Somália, os caras sentiriam saudades dos bons e velhos senhores da guerra que antes os oprimiam.

Boxeadores Cubanos

Antes de dizer qualquer coisa, devo admitir que, do ponto de vista estritamente legal, o governo acertou em deixar os boxeadores cubanos irem embora. O status de perseguido político precisa ser explicitamente requerido, e os boxeadores não o fizeram. A favor do governo brasileiro está o fato de que o jogador de handebol que pediu asilo vai ganhar.

Agora: é meio óbvio que o motivo do arrependimento dos caras foi ameaça a suas famílias. O governo brasileiro deveria ter condicionado a autorização para que saíssem do país a uma garantia do governo cubano de que não haveria sanções contra eles ou contra os seus, acompanhada de monitoramento por organizações de defesa dos direitos humanos. Dava para proibir os caras de saírem? Bom, dava. Segurava eles por violação de visto, qualquer coisa.

É compreensível o desejo de evitar um incidente diplomático, mas, se alguma coisa acontecer com esses caras - por exemplo, se eles forem proibidos de lutar - parte da responsabilidade é nossa.

Posts

Só para informar: não teve post nas últimas horas porque o Blogger está meio esquisito, o espaço para digitar está sem os ícones para imagem, inserir links, etc. Assim que eles voltarem, voltamos.

Tuesday, August 07, 2007

Marcos Cintra e o Cansei

Basicamente, o que eu queria dizer sobre o Cansei foi dito pelo Marcos Cintra, um dos quatro liberais consistentes de que o Brasil dispõe (fora ele tem o Paulo Guedes, o Armínio Fraga, e estou colocando mais um aí de margem de erro). Em resumo:

"Da mesma forma, o milionário movimento "Quero mais Brasil", que uniu em 2006 entidades empresariais e sindicais, só resultou em mais faturamento para a mídia. Pouco restou de concreto. Por que esses milhões de reais não são usados no financiamento de "think tanks", usinas de estudos e de propostas concretas para os problemas brasileiros? Por que sindicatos, federações e centrais de trabalhadores não investem na elaboração de caminhos a serem trilhados pelo país, em vez de só se queixarem? "

(hat tip: ectoplasma do Dr. ABC)

PS: alguém sabe uma tradução para hat tip (o reconhecimento de que um post foi inspirado na dica de outra pessoa)?

Monday, August 06, 2007

Costa Rica

Faz um tempo que tento achar algo para ler sobre a Costa Rica, desde que li um artigo do Ruy Fausto sobre Cuba. A Costa Rica fez uma revolução de esquerda em meados do século passado que, vejam só, não descambou para a ditadura, mas conseguiu resultados excelentes na área social (melhores que os de Cuba). E não vale dizer que os caras eram reacionários disfarçados, porque eles inclusive apoiaram as revoluções cubana e nicaraguense (até elas descambarem, muito mais a primeira que a segunda, para o autoritarismo). Enfim, ainda quero estudar mais a história dos caras. Mas fiquei positivamente surpreso por encontrar um artigo do Sirkis sobre o líder revolucionário Pepe Figueres, em que ele justamente chama atenção para o fato de que a experiência da Costa Rica recebe muito menos atenção do que a cubana.

Boxeadores Cubanos

O governo brasileiro não pode deportar os boxeadores cubanos. Eles certamente sofrerão perseguição política se voltarem a Cuba, e o Brasil, onde muitas das autoridades já foram exilados, não pode compactuar com esse tipo de arbitrariedade.

A situação é difícil, entretanto, porque os boxeadores afirmam querer voltar volutariamente. Se pedissem asilo, diz Tarso Genro, conseguiriam imediatamente. Eu estou disposto a apostar que esse "voluntariamente" quer dizer "porque senão minha família em Cuba está ferrada". Mas o fato é que, legalmente, o Brasil não pode apelar para a cláusula do preso político sem que os interessados se definam como tais.

Entretanto, o Brasil pode jogar seu peso diplomático para garantir, não só a segurança dos caras, como também a de suas famílias. Se os caras quiserem fugir para a Bolívia para voltar para Cuba, não há muito o que fazer, mas, se não o fizerem, o Brasil deve, no mínimo, dar-lhes visto de permanência, e eles que partam se o desejarem. E devemos pedir ajuda a organizações internacionais de direitos humanos para garantir que não sofram represálias em Cuba, se, por falta de alternativa, desejarem mesmo voltar.

Parabéns ao Luiz Felipe Alencastro e ao Gaspari por terem defendido os boxeadores, que não estão encontrando muita simpatia na imprensa brasileira.

Friday, August 03, 2007

Foreign Policy TV

A Foreign Policy (ver link aí do lado) acaba de lançar uma TV no YouTube, cujo primeiro episódio é um debate com o seguinte título: os EUA iriam à guerra contra a China por Taiwan? Vale a pena ver.


Finalmente uma campanha séria


Que Cansei, cansamos, que nada! Campanha séria é essa!


Thursday, August 02, 2007

Movimento "Cansei"

Síntese dos dois posts perdidos sobre o movimento "Cansei":

Muita agitação em torno do movimento "Cansei", organizado por uma série de grupos de gente rica (jovens empresários da FIESP, um pessoal da OAB, etc.) e liderado por, enfim, aquele apresentador de TV, o João Dória Jr., uma espécie de Amaury Jr. sem graça.

Há grande controvérsia em torno do quão apartidário é o movimento: o Dória diz que é, as reportagens sobre a passeata que eles organizaram sugerem que, decididamente, não é: é um movimento de gente rica contra o Lula. Sobre isso, duas coisas:

1) Não há nada de errado nisso. É perfeitamente possível que alguns problemas que afligem os ricos especialmente - como o risco de sequestros, ou de desastre de avião - também afete os mais pobres, talvez mais indiretamente. Nesses casos, as propostas devem ser julgadas por seus próprios méritos, não pela origem social dos que as propõem. Não tive a impressão de que haja muitas propostas, mas, nesse caso, trata-se apenas de uma passeata de oposição, o que, naturalmente, também é legítimo.

2) Se os ricos querem, por algum motivo que me escapa, ser contra o Lula, fariam melhor em apresentar propostas que sensibilizem os pobres do que em se organizar como grupo de interesse.

O pessoal do cansei está se esforçando para perder a imagem de "golpista", "elitista", etc. O presidente da Philips hoje na Folha diz que se o Lula quiser entrar, será bem-vindo. Agora, discordo do seguinte:

" Se tivesse proposta seria um movimento partidário. Como não é partidário não pode ter proposta."

Digamos, por exemplo, que eu lance um movimento para regularizar a propriedade dos favelados (como propõe o De Soto). Eleitores do PT poderiam apoiar porque ajuda os pobres, eleitores do [espaço para ser preenchido com o nome do partido consistente defensor do capitalismo que ainda não existe] podem ficar contentes com a potencialização do capitalismo na base. O movimento teria gente de vários partidos, mas se pautaria por uma proposta concreta. Um movimento que propusesse medidas contra a corrupção, por exemplo, poderia facilmente atrair gente de várias simpatias partidárias.

O presidente da Philips argumenta que o movimento quer propor uma reflexão. Reflexão se propõe começando-a, oferecendo uma proposta para a discussão.

PS: ô nomezinho besta pra movimento.

PS2: a imagem que eu queria colocar, mas não consegui (e acabei apagando tudo por engano) era a charge do Angeli na Folha.

Foi mal, aí

Galera, foi mal, fui tentar colocar umas imagens e apaguei os dois posts sobre o movimento "Cansei". Tenho os rascunhos, vou postá-los acima, mas peço desculpas para o pessoal que comentou. Quem quiser comentar de novo, sinta-se à vontade, e quem quiser me xingar por ter perdido o negócio, também.

Giddens e a esquerda

Saiu hoje no boletim do CM o resumo de um artigo do Giddens no El Pais, sobre o futuro da esquerda. Como resuminho ex post do que fez o New Labour é legal. Ei-lo:

"1. Há uma série de princípios estratégicos principais, bem diferenciados do pensamento da esquerda tradicional. O primeiro é: apoderar-se do centro político. Nenhum partido social-democrata pode hoje triunfar se pretender atrair uma determinada classe. O importante é tratar de mover o centro da gravidade política para a esquerda. Nos últimos dez anos, o trabalhismo soube fazê-lo.

2. O segundo princípio é: assegurar a solidez da economia. Garantir mais justiça social significa contar com uma economia mais sólida, não o contrário. Os governos trabalhistas anteriores, quase sem exceção, acabaram em crise econômica aos poucos anos de deter o poder.

3. O terceiro princípio é o de realizar grandes investimentos nos serviços públicos, mas insistindo em que sejam acompanhados de reformas destinadas a fazer com que tais serviços sejam mais eficientes e transparentes e tenham maior capacidade de reação. Para isso são essenciais a possibilidade de escolha e a competência.

4. O quarto princípio é o de criar um novo contrato entre o Estado e os cidadãos, que inclua tanto direitos, quanto responsabilidades. O governo deve proporcionar os recursos necessários para ajudar a gente a construir sua própria vida, mas a gente deve cumprir sua parte no pacto. Por exemplo, até agora, as indenizações por desemprego eram um direito incondicional. Mas agora, essa situação convida a não assumir nenhuma responsabilidade e tem o efeito de impedir o acesso dos trabalhadores a certos postos de trabalho. As pessoas que perdem seus empregos devem responsabilizar-se pela procura de trabalho e, ao mesmo tempo, devem ter a possibilidade de atualizar sua formação quando o necessitem.

5. Por último, o princípio mais controvertido – embora crucial para o êxito do trabalhismo – não permitir que a direita política monopolize nenhuma questão. A direita tende a prevalecer sempre em áreas, como a ordem pública, a imigração e o terrorismo; temos de buscar soluções de centro esquerda para estes problemas. Dadas as repercussões de viver num mundo mais globalizado, é preciso que encontremos um novo equilíbrio entre as liberdades civis e a segurança."

Essa pra mim é a lista de tarefas para o governo Lula. Até agora, o item 1 até que vai mais ou menos, o item 2 vai bem, o item 3 só começou agora (o que é péssimo), o item 4 está falho (mas a questão é menos urgente no Brasil, onde coisas como seguro desemprego são uma piada) e o item 5 só apareceu no radar do governo agora, com a aproximação com o Cabral.

Wednesday, August 01, 2007

Gente que Faz

Vi essa no Tyler Cowen e achei excepcional. Em vários países, não há a figura do cobrador de ônibus ou trem. Você compra a passagem e entra. Se não comprar, entra também. De quando em quando, entra um fiscal e checa quem está com passagem ou não. Quem não estiver paga uma multa bem maior que o preço da passagem. Pois bem.

Em Mumbai, Índia, uns indivíduos empreendedores inventaram um seguro para o picareta caloteiro que pega o trem sem pagar. Ao invés de pagar o trem, ele compra um seguro na entrada da estação, mais barato que a passagem. Se o fiscal parar ele, o "segurador" paga a multa.

Pra fazer sacanagem todo mundo tem idéia.

Globalização e seus saudosistas (eu)

Dois posts importantes no Daniel Drezner hoje. Um é o começo da matéria da Newsweek sobre a situação atual do mundo:

"For all the whining and worrying in the United States and abroad, therefore—and for all the real and pressing problems that remain—the world has never had it so good. The most advanced countries are allies and are generally devoted to the betterment of their own and other peoples. More than a third of humanity lives in countries growing at about 10 percent annually. Living standards have never been higher, life spans longer or politics freer, and there is every reason to expect such trends to continue. This generally benign context, in which great-power war and depressions are extremely unlikely, is the backdrop against which less serious or more speculative problems—terrorism, diplomatic rivalries, slow or unevenly distributed growth, future climate changes—loom large.

It is crucial to remember, however, that our generally happy condition is neither accidental nor inevitable. It is the result of wise choices made by leaders and publics in decades past—a legacy that could be squandered if we take things like great-power peace or an open global trading system for granted, or get spooked into rash or imprudent actions that create more problems than they solve.

This was the Bush administration's real failure: intoxicated by self-righteous hubris, it never understood that dominance could be exercised but legitimate authority had to be earned. So it scorned the routine diplomatic maintenance necessary to keep the system in good working order, only to find itself isolated when its pet projects came a cropper. At this point, having squandered most of his capital and having defined himself so starkly through his initial policies, there is little Bush can do to change anyone's mind about anything. His successor, however, will get a fresh start. And if the next administration can avoid Bush's mistakes, it should find keeping the world on track much easier than most currently expect."

Minha impressão é que todo mundo "took for granted" os benefícios da globalização e ninguém se esforçou para manter o negócio funcionando. O que nos leva ao segundo post, sobre uma proposta de deputados americanos de impor restrições comerciais à China. Como resposta, um grupo de 100 economistas norte-americanos (incluindo um punhado de Nobéis e o próprio Drezner) lançou um manifesto, reproduzido abaixo:

"We, the undersigned, have serious concerns about the recent protectionist sentiments coming from Congress, especially with regards to China.

By the end of this year, China will most likely be the United States' second largest trading partner. Over the past six years, total trade between the two countries has soared, growing from $116 billion in 2000 to almost $343 billion in 2006. That's an average growth rate of almost 20% a year.

This marvelous growth has led to more affordable goods, higher productivity, strong job growth, and a higher standard of living for both countries. These economic benefits were made possible in large part because both China and the United States embraced freer trade.

As economists, we understand the vital and beneficial role that free trade plays in the world economy. Conversely, we believe that barriers to free trade destroy wealth and benefit no one in the long run. Because of these fundamental economic principles, we sign this letter to advise Congress against imposing retaliatory trade measures against China.

There is no foundation in economics that supports punitive tariffs. China currently supplies American consumers with inexpensive goods and low-interest rate loans. Retaliatory tariffs on China are tantamount to taxing ourselves as a punishment. Worse, such a move will likely encourage China to impose its own tariffs, increasing the possibility of a futile and harmful trade war. American consumers and businesses would pay the price for this senseless war through higher prices, worse jobs, and reduced economic growth.

We urge Congress to discard any plans for increased protectionism, and instead urge lawmakers to work towards fostering stronger global economic ties through free trade."

Como boa parte da globalização são os EUA e a China comerciando entre si, uma guerra comercial entre eles seria uma desgraça. Antes que o pessoal de esquerda se anime, o que está acabando é o lado bom da globalização: os problemas continuam existindo. Ainda vamos sentir saudade dos anos 90.

É como a gente sempre diz

Do livro "Calendário do Poder", do Frei Betto (achado pelo Dr. ABC), página 37:

"A mim importa o comando do novo presidente pautado pelo programa de governo e os princípios que sempre regeram o PT. Quem paga a banda escolhe a música: e eu conheço a que soa bem aos ouvidos de Lula: a questão social.

Muitas vezes, na prática a teoria é outra".

Tuesday, July 31, 2007

Tyler Cohen no EconTalk

Se vocês forem ouvir um só economista falar esse ano (bom, se não forem, eu entendo), ouçam esse podcast do Tyler Cowen, do Marginal Revolution, no EconTalk.

Entre as idéias do cara: algumas formas de regulação de mercado equivalem à defesa dos direitos de propriedade. Por exemplo, se você compra um leite estragado, pode processar a empresa e recuperar sua grana. A vigilância santiária simplesmente evita esse tipo de fraude, e, da mesma forma que as cortes, protege o seu dinheiro. Nesse e em outros casos, o que devemos decidir para defender os direitos de propriedade é se confiamos mais na agência reguladora ou nos tribunais (aqui no Brasil a escolha é dura, hein?).

E mais um monte de comentários interessantes sobre arte, culinária, teoria econômica, e as mais variadas coisas. Assim que tiver grana vou comprar um livro desse cara. Enquanto isso, leio o Marginal Revolution, o blog dele, linkado aí do lado. Aliás, para quem ainda não viu: uma das diversões da blogosfera no momento é descobrir o blog secreto do Tyler Cowen, que só envia o endereço para quem compra o livro dele antecipadamente. O trato é: quem achar não revela. Ainda não achei, não.

Esses dias entra aí o link do EconTalk, uma boa idéia que deveria ser mais explorada.

FP e os economistas

A Foreign Policy fez uma lista das "cinco mentiras que o seu economista já te disse". Concorde-se ou discorde-se, ficou engraçado. Na verdade, o que a lista mostra é que é difícil pra caramba isolar certas relações empíricas dos milhões de outros processos que acontecem ao mesmo tempo.

Novidades

Coloquei hoje aí do lado a licença do Creative Commons (citem o que quiser, mas não cobrem por isso, nem modifiquem a citação) e o widget do Free Exchange, blog da The Economist. Se alguém achar que ficou pesado, diga.

Dworkin

A excelente Novos Estudos CEBRAP publicou uma entrevista (em Março, vi atrasado) com o filósofo e jurista norte-americano Ronald Dworkin.Tem um argumento interessante sobre cotas raciais:

"Eu defendo que uma sociedade sem sem preconceito racial e sem esterótipos tem probabilidade maior de ser justa na distribuição de riquezas e também tem maior probabilidade de ser melhor para todas as pessoas, em muitos outros aspectos. Parece-me que a questão ao Brasil é se as cotas em discussão tornariam a sociedade melhor no futuro, nesses aspectos. Não acho que um suposto direito à compensação deveria figurar no argumento".

Esse é o argumento mais difícil de julgar no que se refere à ação afirmativa: há um efeito auto-reprodutivo na discriminação, que é difícil de medir e de combater. Se uma circunstância histórica qualquer - como a escravidão africana - faz com que não haja negros entre a elite, o preconceito de que negros não têm capacidade, ou de que casar com negros é decair socialmente, ou que negros são ignorantes, ou que negros têm maior probabilidade de serem bandidos ou maus alunos - tende a se formar. Uma vez estabelecido, o preconceito reproduz a segregação: os negros são preteridos em promoções, a cor negra é associada ao fracasso e à pobreza (e não à liderança e ao sucesso, traços desejáveis em muitas das melhores profissões), quando não à imoralidade (daí que atrizes negras tendem a se destacar em papéis de gostosas vagabundas, enquanto atrizes brancas são "namoradinhas do Brasil"). Isso mantém os negros fora da elite, o que, por sua vez, etc, o ciclo se reproduz.

A ação afirmativa, se bem-sucedida, favoreceria o surgimento de lideranças negras, empresários negros, intelectuais negros, sacerdotes negros, etc.Essas figuras, por sua simples existência, aos poucos minariam a idéia de que negro é igual a fracasso. Isso diminuiria o preconceito dos brancos e, muito mais importante, daria modelos de comportamento para os jovens negros, que passariam a aspirar mais do que serem esportistas ou cantores de rap.

Que o fenômeno que se quer combater existe é inegável, mas também é inegável que é muito difícil medir o quanto ele é forte em cada situação concreta. Isso faz com que seja difícil saber em que casos a solução proposta é eficaz, e o quanto é eficaz. Eu não sei.

A propósito, quem ler a entrevista do Dworkin pode ficar curioso com a idéia do "seguro hipotético". Se eu me lembro bem (e por que eu me lembraria?), a idéia é mais ou menos o seguinte: suponha que, todo mundo na sua sociedade se reúna, receba uma graninha igual, e esqueça o que sabe sobre a própria vida (se é rico ou pobre, homem ou mulher, doente ou saudável, jovem ou velho, etc.), mas não sobre os riscos que poderá correr (o risco de ficar doente, de ser vítima de preconceito, de ser pobre, de morrer, etc.). Calcule o seguro que cada um aceitaria, racionalmente, pagar por cada um desses riscos, mande todo mundo de volta pra sociedade, e pague o seguro para quem for vítima de cada um desses problemas. É uma derivação, eu acho, da "situação originária" do John Rawls.

Se eu tiver entendido errado, por favor, corrijam-me.

Eu adoro pato



Diante das reclamações da Sra. Blogonete e da pequena blogoninha de que um blog de política sério não poderia incluir a frase "Eu adoro pato", resolvemos fazer uma homenagem a essa singela criatura tão injustiçada.

Monday, July 30, 2007

Lula e os Cubanos

Deu no Blog do CM:

"Ontem à noite nos bastidores do Maracanã pelo menos um dirigente cubano, comentava que Fidel não desculpa Lula por este não ter detido os quatro cubanos que desertaram da delegação ao Pan-07. -Afinal -dizia- no momento que a chefia da delegação os considerou fugidos, eles passaram a ser clandestinos no Brasil o que obrigava a polícia brasileira a detê-los e devolvê-los a seu país. É assim com qualquer clandestino em qualquer país do mundo, completou o dirigente."

Em tempo: a legislação brasileira prevê acordos de extradição com vários países, mas descarta a extradição de presos políticos. Se Lula extraditasse os cubanos mesmo sabendo que eles sofreriam represálias políticas, estaria cometendo crime.

Pan no Rio

É difícil negar que o Pan do Rio foi um sucesso, ou pelo menos, não foi um fracasso como se esperava. Certo, o Governo deu dinheiro pra fazer uns três Pans, o César Maia fez um, sabe-se lá onde foi parar o dinheiro dos outros dois, mas, enfim.

Não houve incidentes de violência, e, à exceção dos esportes praticados na cidade do rock (baseball e softball), os equipamentos funcionaram bem. Segundo gente que foi lá ver, o estádio de atletismo é ótimo. A festa fez bem para a auto-estima da cidade, que estava precisando.

O desempenho esportivo também foi muito bom, com recorde de medalhas. Quem quiser reclamar que o Pan não se compara à olimpíada, que reclame. Eu acho uma besteira. Não é porque não somos melhores que a China ou a Rússia que não podemos comemorar ser melhores que o Canadá ou a Argentina, por exemplo. Não é o melhor, mas também é bom.

Cuba e Iraque

Interessante o artigo do Newton Carlos na Folha de sábado. Trechos mais importantes:

"Numa reunião do Council on Foreign Relations, entidade de ponta no "establishment" diplomático americano, foram lembrados dois erros graves dos Estados Unidos no Iraque: a destruição do Exército iraquiano e do partido Baath, de Saddam Hussein, instituições-chave que mantinham a integridade do país invadido.

O conselho implícito é de que os Estados Unidos não cometam "os mesmos erros" em Cuba, onde também só há duas instituições, o Exército e o Partido Comunista. Terão de lidar com eles em qualquer iniciativa futura. O Exército, por exemplo, estendeu sua influência muito além do campo militar.Generais são ministros do Interior e do Açúcar e procurador-geral. Militares treinados no exterior em escolas de condução de negócios estão à frente de cerca de 300 empresas com o controle de 80% das exportações de mercadorias e de parcelas consideráveis dos ganhos em turismo e serviços.Um general, vice-ministro da Defesa, dirige o Grupo de Administração Federal, "holding" do Exército. Controla lugares turísticos, como o Cubanacan, uma cadeia de casas de câmbio, a aviação civil, a Marinha mercante e empresas de pesca."

Friday, July 27, 2007

David Brooks

O David Brooks, comentarista conservador bastante inteligente do NYT, escreveu um artigo dizendo que a economia americana não vai tão mal, não. Não sou assinante do Times Select (infelizmente), por isso não tenho acesso ao artigo inteiro. Muita gente falou mal (vejam a lista no Hermenauta), e o Tyler Cowen defendeu. Vi um resumo do artigo no FYI e comentei lá, quem quiser ver dê uma passada (e aproveite para ler os outros posts do blog).

Agora, tem um argumento que eu já vi feito em outros lugares e que eu tenho que criticar na frente de todo mundo. É o seguinte: certo, a desigualdade nos EUA subiu, mas o fato é que os mais ricos estão trabalhando muito mais horas por semana, enquanto que os pobres têm mais horas de lazer. Ou seja, os ricos estão ganhando mais porque trabalham mais.

O argumento é falso, pois:

Não há Cristo que me prove que os retornos para cada hora adicional de trabalho são os mesmos para pessoas em diferentes pontos da curva de renda. Se você é pago por hora, seu rendimento vai crescer linearmente a cada hora que você trabalhar a mais: assim, se você ganha 1 dólar por hora e trabalha mais uma hora, você ganha 1 dólar a mais. Se trabalhar 8 horas a mais (por exemplo, o sábado inteiro), seu salário cresce 8 dólares (e seu fim de semana vai pro saco). Por outro lado, se você é pago por rendimento, 8 horas a mais podem ser a diferença que vai permitir a você atingir uma meta da empresa e ganhar um bônus que pode dobrar seu salário.

Ou, dito de outra forma: se o mesmo prêmio fosse oferecido aos mais pobres, eles trabalhariam tanto quanto os ricos. A menos que se refute essa afirmação, o argumento citado pelo Brooks não se sustenta.

Logo: QUANDO SE FALA DE DIFERENTES CLASSES SOCIAIS, as horas trabalhadas são CONSEQUÊNCIA de se ter empregos bons que pagam bem. Não devemos utilizá-las, portanto, para explicar o quanto se ganha. Claro, dentro de cada classe - onde a relação hora/rendimento é mais ou menos a mesma - usar a variável é perfeitamente legítimo.

PS: hoje os links para o FYI e para o Cowen devem entrar aí do lado.

Thursday, July 26, 2007

Subsídios Agrícolas

Essa é pra vocês ficarem deprimidos. Quem acompanha a discussão sobre a rodada de Doha da OMC sabe que o que emperra aquele negócio (do nosso ponto de vista) são os subsídios que os países ricos dão a seus agribusinessmen. Pois, bem, segundo essa reportagem do New York Times (que eu vi no Daniel Drezner), as condições da agricultura americana no momento seriam ideais para o governo cortar os tais subsídios: os fazendeiros americanos estão enchendo a burra de dinheiro e o governo precisa conter gastos. Mas não, eles não vão cortar nada, porque os dois partidos têm medo de perder meia dúzia de deputados nas próximas eleições. Que beleza.

Wednesday, July 25, 2007

Efraim Filho

Vocês já devem ter visto a história do deputado Efraim Filho (DEM-PB), que, baseado em sua interpretação pessoal da caixa preta da TAM, afirmou que o piloto do avião não tentou arremeter. Acabou que era só a opinião dele, não o fruto de qualquer investigação técnica. Enfim, mais um caso de deputado brasileiro falando besteira, nem dá mais manchete.

Mas o que me chamou a atenção foi o PFL ter mandado um moleque desses para uma missão importante como acompanhar a abertuda da caixa preta nos EUA. É, sem dúvida, mais um esforço do partido para promover novos quadros à linha de frente do partido, afastando dos holofotes os nomes ligados ao regime militar (que, não tenho dúvida, continuam mandando). Daí Rodrigo Maia, ACM Neto, e Efraim Filho, que é, bem, filho, enfim, do Efraim, o Morais, ex-deputado. Lembremos, foi o caso do Collor.

O que é notável nisso aí é que toda essa turma é filho ou neto de figurões do partido. Não houve a mais pálida tentativa de recrutar jovens políticos talentosos da base. A molecada caiu de para-quedas em postos de direção sem nunca ter ralado em trabalho de base. Agora me digam, com essa formação política - política é um bico que papai me arrumou - o que se pode esperar dessa garotada em termos de renovação da cultura política brasileira?

A idéia de "Novos Nomes" perde um pouco a graça quando consiste apenas no acréscimo de "Jr." aos nomes velhos.

Enchentes em Oxford



Hoje no UOL havia a notícia de que a cidade universitária de Oxford foi evacuada por causa das enchentes. Na verdade, a coisa está feia, mesmo, mas só algumas partes dos arredores da cidade (Botley, em especial, onde tem um pub que vende um sanduba bom) foram evacuadas. Pode ser que a cheia atinja a área central, mas ainda não atingiu gravemente, pelo que eu pude entender da BBC (se bem que encheu o gramado do Christ Church). Agora, a interrupção do serviço de trem é realmente gravíssima, porque muita gente trabalha em Londres, e muita gente que trabalha em Oxford mora em cidadezinhas perto (essas sim, muito efetadas pela cheia do Tâmisa).

Como eu sou um sujeito prudente, só morei em beira de rio enquanto estava lá. Perto de casa (das duas) havia placas de "Flood Risk", e uma multidão de patos (eu adoro pato).

A foto aí de cima é de Port Meadows, um pasto público perto de onde eu morava. Pois é, um pasto público. A regra é medieval, e continua em curso: quem quiser levar sua vaca pra comer grama lá é só levar. É perto do rio (que, normalmente, é muito mais estreito do que na foto), e um lugar muito bacana para passear. Andando pelo pasto para uma vilazinha ao norte da cidade tem um Pub espetacular (esqueci o nome) na beira do rio, onde, por algum motivo, vivia um pavão. Não sei se pavão nada, mas, se não nadar, esse já foi pro saco. Port Meadows é um dos lugares que eu mais gosto no mundo.

Como ninguém mais aguenta a situação, Amiano Marcelino já foi chamado de volta para Oxford para por ordem na casa.

Monday, July 23, 2007

Tatyana Zaslavskaya

Reportagem interessante na Open Democracy sobre a Tatyana Zaslavskaya, socióloga russa que lançou o slogan "Perestroika" bem antes do Gorbachev. O legal da reportagem é dar uma idéia do que foi fazer sociologia na URSS (dêem uma olhada nos dois artigos citados no final do texto). A sociologia não era aceita na URSS porque, vocês já imaginam, a sociedade socialista não tinha os problemas - desigualdade, racismo, crime, etc. - que justificavam sua existência no ocidente. Certo, então beleza.

Aberturas para a sociologia só ocorreram timidamente durante o período Kruschev e nos países do chamado socialismo reformado, como a Hungria (onde, aliás, houve uma bela safra de economistas independentes, como o excelente Kornai), a Iugoslávia e a Polônia.

Mas, mesmo nesses casos, a abertura não foi lá essas coisas: o maior sociólogo do Leste Europeu foi o Iván Szélenyi, que nos anos 70 foi encarregado de estudar um projeto de habitação popular de sua Hungria natal. Deixaram o cara fazer a pesquisa, e quando ele foi apresentar os resultados, eis que ele descobriu que os caras do partido andavam abocanhando as melhores casas (que beleza). Censuraram. Szélenyi acabou se mandando para os EUA, onde se consagrou profissionalmente. Em 1993, coordenou, juntamente com o Donald Treiman, um grande projeto de pesquisa em seis países do Leste, cujos dados, para quem estiver interessado, estão disponíveis na Internet.

Pois bem: a crer na reportagem, a turma do Putin já começou a encher o saco dos sociólogos de novo.

Hitchens

Excelente resenha do Christopher Hitchens sobre um livro que reúne artigos do Marx jornalista. Realmente vale a pena.

Outro dia vi o Hitchens citado como "jornalista com famosa militância de direita". Na verdade, o Hitchens é um sujeito meio estranho. Sua fama de direitista veio recentemente, pelo apoio apaixonado que deu à Guerra do Iraque. Mas até alguns (bom, vá lá, alguns e mais um pouquinho) anos atrás ele era trotskysta, escreveu livro com o Edward Said, e descia o pau em todo mundo. Agora ficou famoso (e rico) por ter escrito um manifesto ateu ("God is Not Great"), que tem cara de ser uma merda (amanhã escrevo sobre isso), mas já desqualifica ele como típico republicano. Se quiserem ler um negócio bacana dele, leiam o livro sobre o Orwell, muito legal.

Vejam como o mundo ficou complicado: havia, no jornalismo inglês, a história dos "irmãos Hitchens", o Christopher esquerdista e o Peter, Tory de carteirinha. Na guerra do Iraque, o Christopher apoiou a guerra e, se não me falha a memória, o Peter foi contra.

PS: quando lerem a matéria do Hitchens, não deixem de prestar atenção no anúncio do Guardian com os presidentes americanos.

Livraço: The Right Nation, de John Micklethwait e Adrian Woolbridge





Para vocês terem idéia de como esse livro é bom, o Micklethwait virou editor da The Economist depois de escrevê-lo. É de 2004, se não me engano, mas só agora tive tempo de ler.

O livro é um estudo sobre a "Nação à Direita", o conservadorismo americano. O tema é fascinante para quem gosta de política: o conservadorismo americano é um movimento organizadíssimo (o que não quer dizer centralizado), que atua em várias frentes - cultural, política, religiosa - e consegue eleger presidentes conservadores no país mais capitalista (isto é, onde "tudo que é sólido" tende a "se desmanchar no ar") do mundo.

Não dá para resumir o livro, alguém tem que traduzir e vocês têm que ler. Mas aqui vão algumas idéias discutidas, e comentários.

Há algumas tendências da história americana que favorecem uma nação à direita da Europa desenvolvida. Em primeiro lugar, dizem os autores, a geografia: os amplos espaços disponíveis para os poucos colonizadores garantiam que o sujeito que normalmente viraria um proletário pobre nas cidades conseguisse se tornar proprietário nas terras à Oeste.

O Wild West formou algumas das tradições do conservadorismo norte-americano, como a preferência por sentenças criminais severíssimas, típicas de áreas de expansão de fronteira, onde o Estado é fraco para impor a lei. Ao mesmo tempo, produziu a peculiaridade do conservadorismo americano, se contraposto ao europeu: o conservadorismo americano é um movimento expansionista e otimista, não defensivo ou nostálgico. É resultado da combinação de grandes oportunidades de lucro com o risco permanente de anarquia, característicos da fronteira, que geram uma ideologia ao mesmo tempo dinâmica e rígida.

Se os autores conhecessem a história brasileira, talvez preferissem dizer que não foi a geografia o fator preponderante, mas a atitude política diante da geografia. Se bem me lembro das minhas aulas de história, um dos episódios mais polêmicos de nossa história foi a famosa Lei de Terras, que declarou que as terras devolutas eram do Estado, o que matou na origem o processo de "corrida para o Oeste" no Brasil (ou, pelo menos, fechou-o aos pobres).

Há, além disso, a religiosidade intensa - grande parte dos primeiros colonos era formada por dissidentes religiosos, e a separação entre Igreja e Estado, longe de enfraquecer a religião, fortaleceu-a, pois, conforme era a intenção dos founding fathers, forçou as Igrejas a irem atrás dos fiéis ou irem à falência.

E há o fracasso da esquerda americana em lidar com a herança dos anos 60. Reagan conquistou vários eleitores democratas dizendo "Não foram vocês que deixaram os democratas, foram os democratas que os deixaram". A partir do momento em que os democratas passaram a defender fanaticamente as bandeiras dos anos 60 (como, por exemplo, o direito ao aborto até quase o dia do nascimento, só revogado faz uns dois anos), perderam grande parte de seu eleitorado. Os negros, por exemplo, a mais sólida maioria democrata, também são um eleitorado mais religioso que os brancos. Lembram do que a Jandira Fhegalli fez na última eleição para o senado no Rio? Então, os democratas também fizeram, com o mesmo resultado.

Finalmente, há uma espécie de dinâmica global em curso: muitas das idéias novas (goste-se ou não goste-se delas) têm vindo da direita. A esquerda cada vez mais fala de "defesa dos direitos", "defesa da soberania", mas fica só na defesa, mesmo.

Agora, há uma tensão fundamental dentro do conservadorismo americano, que pode ser resumida entre os republicanos "não mexam no meu dinheiro" da Costa Oeste, representados pelo Reagan e, hoje em dia, pelo glorioso Schwaznegger, e a turma do cinturão bíblico, representada pelo Bush e sua turma. O problema é o seguinte: se é verdade que a maior defesa da direita vem do coração da América, também é verdade que esses são os setores com menos condições de competir economicamente. As áreas mais dinâmicas são ou controladas por republicanos Costa Oeste (minoritários dentro do partido) ou por democratas (ou, ainda, por republicanos meio democratas, como esses prefeitos de Nova Iorque que são repbublicanos mas defendem o direito ao aborto, os gays, etc.). Esse último ponto ainda enfatiza que essa diferença de interesse econômicos também são acompanhadas de diferenças de valores: o Schwaznegger está pouco se lixando se os gays quiserem casar, mas para a base do Bush isso provavelmente traria o apocalipse.

Enfim, livraço.

Bruno Gaspar

Certo, nessa eu vou queimar meu filme, e já espero a queda de audiência. Mas, enfim.

Quando eu vi a cena do MAG e seu assessor, o Bruno Gaspar, me ocorreu que o tal do Bruno podia ser um aluno de quem eu fui monitor (Política III - Teoria do Estado). Mas achei o cara meio diferente, a imagem não é muito nítida, e calculei que o cara era novo demais para estar nessa (não sei se já tem 30).

Mas eis que a Paulinha me diz aí nos comentários que é o cara, mesmo. Daí que eu vou dizer o seguinte:

Esse cara é muito bom. Foi um dos melhores alunos que eu vi no curso, muito inteligente, mesmo, e bastante idealista. Eu ainda era militante do PT na época, e às vezes ele covnersava comigo sobre o movimento estudantil (minha drug of choice no começo dos anos 90), o PT, essas coisas. Me lembro dele comentando que estava meio desorientado porque, ideologicamente, se identificava com o PT moderado da Articulação, mas se sentia incomodado com o jeito pesado deles fazerem política dentro do partido (na época ainda não se falava em corrupção, mas o Dirceu já tinha sido re-cooptado pelo Lula depois do racha de 1994, e atuava como disciplinador das tendências radicais). Concordamos que o certo era apoiar a Articulação ideologicamente - defender o PT social-democrata - mas não entrar nas jogadas mais pesadas, como a intervenção no PT do Rio.

Acabou que o que me encheu o saco no PT foi justamente isso, a dificuldade em escapar da escolha entre moderados que estavam fechando muito o espaço de discussão dentro do partido e um bando de radicais que só falavam merda (dando razão, vale dizer, à liderança que não queria ouvi-los). Muita gente até hoje não entendeu isso: a Heloísa Helena não é o oposto do Zé Dirceu, é a justificativa do Zé Dirceu.

Enfim, o Bruno parece ter entrado direto na política, o que pode ser muito bom para o país, pois trata-se de um quadro com grande potencial, independente do que o meu glorioso partido possa ter feito com ele nesse meio-tempo. Se ele se queimar de vez nessa história, eu acho que sairemos perdendo.

Friday, July 20, 2007

Troféu "A Classe do Estadista" 2007

Nem o Arthur Virgílio, que já tinha virado hors-concours do troféu, compete com essa do glorioso Marco Aurélio Garcia



É evidente que os caras não estão comemorando o acidente, mas, mesmo assim.

Widget do Pan

Botei um widget do Pan aí do lado. Achei bacaninha.

Coalizão no Iraque (2)

Para quem se interessar por isso, aqui vão alguns verbetes da Wikipedia sobre os grupos insurgentes que se uniram no Iraque: a Brigada da Revolução de 1920 (um grupo que, evidentemente, olha longe no futuro) é uma turma islamista que tira seu nome da revolta contra o Império Britânico em (dã) 1920. A crer na Wikipedia, se mantém fora da guerra civil contra os xiitas, e, corre o boato, já teve conversas com o exército americano, por ter denunciado a turma da Al-Qaeda (a Base para o Jihad na Mesopotâmia). O Hamas iraquiano é uma dissidência da Brigada 1920 formada esse ano (de maneira que não sei se significa tanto assim eles terem feito uma coalizão). O Ansar-al Sunna parece ser curdo ou ter vínculos com islamistas curdos (que se opõe ao regime curdo, semi-independente). Embora tenha se aproximado da Al-Qaeda em um dado momento, agora parece estar brigando com ela.

A impressão que dá é que são movimentos islamistas, não sei bem com que grau de radicalismo, mas que não estão afim de fazer guerra civil contra os xiitas, ao contrário da Al-Qaeda, que quer ver o circo pegar fogo.

Thursday, July 19, 2007

Frente no Iraque

Três grupos armados Suni no Iraque acabam de formar uma frente para negociar a retirada dos EUA: as Brigadas da revolução de 1920, a Ansar-al Sunna, e o Hammas Iraquiano (esse deve ser uma beleza). Em tese, poderia ser uma boa notícia, visto que os caras renegam tanto a Al-Qaeda quanto o Ba'ath, e a notícia poderia ser o começo de uma negociação de paz.

Bom, tomara que seja, mas os sinais iniciais não são muito bons, visto que os caras não aceitam conversar com quem tiver participado das instituições iraquianas durante a ocupação, afirmam a nulidade de todas as leis promulgadas durante o período, mas não dizem a) que leis colocarão no lugar, nem b) se pretendem fuzilar todo mundo que participou do sistema político iraquiano nesse meio tempo, o que inclui os sindicatos, o partido comunista, grupos liberais e de mulheres, etc.

A notícia saiu no Guardian.

Fatwas mais imbecis de todos os tempos

A Foreign Policy acaba de eleger as fatwas (decretos islâmicos) mais idiotas de todos os tempos. Entre as tristes, como a condenação da vacina da pólio, destaque para a fatwa contra o Pokemon e a contra o sexo entre pessoas nuas (mesmo casadas), que, segundo a revista, foi recebida pelos muçulmanos às gargalhadas.

Wednesday, July 18, 2007

Acidente em Congonhas

Li no UOL que a pista de Congonhas foi entregue sem as ranhuras que escoariam a água em caso de chuva. Rapaz, se for mesmo verdade eu não tenho nem ânimo para comentar.

A propósito, dêem uma olhada no Hermenauta e vejam o sistema de segurança do JFK, que parece bastante razoável, e custa só 4 milhões de dólares.

Tuesday, July 17, 2007

Jade e Ouro

Jade Barbosa

A Jade Barbosa fez uma apresentação espetacular, mas acabou caindo no final, em parte, talvez, pela algazarra que o ginásio estava fazendo. Até aí, parabéns para a menina por ser boa pra cacete no que faz - eu achei que foi ela que nos deu a prata nas equipes. Não é disso que eu vou falar.

O que me dá nervoso é a corja de vagabundos que sai falando, é perdedora (veja posto do Nel Mezzo), brasileiro é assim, mesmo, não nasceu pra vencer, essas coisas. Não vou discutir com isso. Só vou deixar claro: se você acha isso você é um merda. Fora daqui. Não tem nada que eu queira explicar que você seja capaz de entender. Eu já raspei da sola do meu sapato coisas com maior capacidade de reflexão do que você. O meu cachorro peida em um dia médio mais neurônios do que você jamais comportou em sua caixa craniana deformada. Se houver um demônio, se o demônio tiver hemorróidas, se houver um ser tão torpe que não seja aceito como vizinho pela associação dos moradores da hemorróida do demônio, esse ser é o Anjo Gabriel comparado a você.

A única tarefa cultural dos brasileiros, de direita de esquerda, de cima e de baixo, flamenguistas e vascaínos, é erradicar completamente esse estado de espírito da identidade nacional.

Parabéns à Jade, que salta como um anjo, e parabéns às menininhas americanas que ganharam.

PS: hehehe, Jade acaba de conquistar o ouro. Way to go, girl.

Monday, July 16, 2007

Wall Street Journal, que feio

O WSJ fez um editorial meio picareta com um graficozinho tão sem-vergonha que até eu sei que está errado. Olhem o gráfico aqui no Hermenauta, me digam se a linha que eles colocaram no gráfico é a "best fit", e aproveitem para ler os comentários que o Hermenauta listou (eu vi originalmente no Brad De Long, que vou linkar aí qualquer hora).

Scheinkman e a criminalidade

Muito bom o artigo do José Alexandre Scheinkman na Folha domingo. Dado assustador: em uma estimativa conservadora, a violência nos custa 5% do PIB. E pesquisas mostram que a criminalidade reduz o crescimento das cidades. Vale a pena ler.

Vaia ao Lula, etc.

Muita gente anda dizendo que a vaia ao Lula foi orquestrada pela turma do CM, o que é evidentemente verdade. Agora, uma coisa é dizer que a turma do CM começou a vaia, outra é dizer que todo mundo que vaiou vaiou por causa disso. Se Lula não tivesse perdido apoio na classe média carioca, seriam só os caras da Juventude César Maia (por mais assustador que seja, isso existe, sim, formalmente, um esquema meio juventude hitlerista) vaiando num canto.

De qualquer forma, faltou espírito esportivo ao Lula: deveria ter feito o discurso mesmo assim.

Mas CM pode ter cruzado uma linha: até o final do PAN, ninguém vai atrás dele pelos gastos 4 vezes maiores do que o previsto (e a necessidade de investimento federal mais ou menos 20 vezes maior do que o previsto). Mas quando acabar a festa, vão, sim.

Agora, muita gente que eu conheço anda discutindo o seguinte: o CM tem fama de muitas coisas, mas nunca teve fama de corrupto. É óbvio que a diferença de preço foi toda roubada. Mas foi roubada por quem? Pela turma do CM, mesmo, ou por que outra turma?

De qualquer forma, aqui também a trégua vale. Agora eu vou é torcer (espetacular o cara da ginástica olímpica de pé quebrado, não?)

Thursday, July 12, 2007

O eixo do mal-governado

Aliás, nosso companheiro Chávez está tentando formar uma espécie de aliança dos países mais mal-governados do mundo, juntando Venezuela, Bolívia, Bielo-Rússia, Irã (segundo maior exportador de petróleo do mundo, enfrentando racionamento de gasolina), Zimbabwe. Temo que uma hora dessas ele queira convidar os dirigentes do Flamengo para serem chefes desse negócio.

Aliás, se vocês quiserem ler um negócio engraçado sobre o eixo do mal, não deixem de ler isso aqui. É atribuído ao cara do Monty Phyton, mas parece que não é dele, não. Eu, se fosse ele, assinava mesmo assim.

Lá se vai o Zimbabwe

O Zimbabwe não aparece muito aqui no noticiário, mas devia: o governo do ditador Robert Mugabe é um dos mais desastrosos do mundo, e condena à mais absoluta miséria um país que tinha tudo para ser um dos mais desenvolvidos da região.

Mugabe era considerado um governante mais ou menos razoável desde a independência até a hora em que um outro sujeito resolveu se candidatar à presidência e pareceu que ia ganhar. Daí em diante partiu para a ignorância, e fez uma peculiar reforma agrária, em que a terra dos fazendeiros brancos foi confiscada e redistribuída para os figurões do governo. De posse de fazendas espetaculares, os caras conseguiram levar a agricultura à falência em um ano (e, vejam que beleza: um deles agora está na comissão de desenvolvimento sustentável da ONU). Mugabe passou a recrutar moleques para um campo de escoteiros do mal, onde os garotos aprendem a espancar adversários do regime e estuprar coletivamente meninas. Quando disseram que ele parecia o Hitler, ele disse que seria "dez vezes o Hitler".

Adquiriu o hábito de sequestrar famílias em favelas majoritariamente de oposição e levar para o campo, para eles readquirirem sua identidade camponesa: as famílias eram levadas até o sertão lá do Zimbabwe e soltas no meio da mata seca, sem qualquer alimento, instrumento de trabalho, semente, ou água. Muita gente morreu na beira da estrada tentando voltar para uma cidade.

A crer nesse artigo da Wikipedia, o desemprego atualmente no Zimbabwe é de 60% da força de trabalho. Os juros estão em 70%, a inflação está em mais ou menos 1.500.000%, há fome e racionamento de comida.

O Daniel Drezner já fez um bolão para saber em quantos meses o Zimbabwe colapsa, e a The Economist também diz que a coisa está feia.

Agora, nesse contexto, quem seria filhodaputa de ser amigo do Mugabe? Só outro filhodaputa. Que, aliás, outro dia disse que a Bielo-Rússia, última ditadura da Europa, era um modelo de estado social como o que ele queria criar em casa.

Wednesday, July 11, 2007

Voltaram os Títulos

Voltemos agora à nossa programação normal

Tuesday, July 10, 2007

Saramago começa a perceber

O Saramago, que tanta besteira já falou sobre Cuba, resolveu mandar bem e dar uma cutucada na esquerda latino-americana, em especial as FARC. Disse o provecto e Nobélico escriba, reproduzido no UOL:

"BOGOTÁ, 9 Jul 2007 (AFP) - O prêmio Nobel de Literatura (1998) José Saramago alertou nesta segunda-feira a imprensa colombiana para uma "tentação autoritária" observada em setores de esquerda que chegaram ao poder na América Latina.Saramago concedeu uma entrevista coletiva em Bogotá, cidade designada como a capital mundial do livro pela Unesco e onde o escritor português participa de uma conferência sobre o uso do livro como instrumento da paz.

José Saramago disse que a esquerda "sofre uma espécie de tentação maligna que é a fragmentação" ao responder a uma pergunta do jornal El Tiempo sobre o ressurgimento de governos desta tendência na América Latina; deu a entender que mantinha suas reservas."Há uma tendência autoritária em muitos países. Nada restou dos ideais", afirmou o prêmio Nobel, que também adotou um tom crítico com relação aos grupos armados que atuam na Colômbia, incluindo as guerrilhas de esquerda.

"Há desaparecidos, seqüestrados, paramilitares e guerrilheiros que, no começo, suponho que tivessem vontade de mudar algo, mas se tornaram seqüestradores e narcotraficantes, e o pior é que eles já não saberiam viver de outra forma", lamentou."

Mickey Hamouse

Bom, até que o Blogger corrija o problema, postaremos sem título. O título desse seria, ou "Mickey Hamouse", ou "Al Disney", ou "Farfour se Fourdeu".

O Hamas tinha um programa infantil em que um rato igual ao Mickey - o glorioso Farfour - ensinava as crianças como é legal ser terrorista. Pois é. Infelizmente, devemos anunciar que ontem o valoroso combatente Farfour encontrou o martírio nas mãos dos israelenses. Sabemos de fonte segura que já se encontra no paraíso, onde uma multidão de Minnies virgens satisfazem todos os seus mais sórdidos desejos, à beira de um rio de queijo suíço derretido. Entretanto, companheiros, não desanimem! O sheik Pateta já organiza a resposta ao ocupante sionista!



Agora, falando sério, que coisa triste.
Alguém sabe porque eu não consigo colocar título nos posts? A caixa do título parece não funcionar, por isso não pus nada hoje nem ontem.

Thursday, July 05, 2007

Grande Calligaris

Excelente, muito bom mesmo, o artigo do Contardo Calligaris hoje na Folha sobre os playboys filhosdaputa que resolveram espancar uma trabalhadora. Trecho:

"(...) a inteligência humana tem limites, a estupidez não tem. Essa diferença aparece sobretudo no comportamento de grupo. Imaginemos que a gente possa dar um valor numérico à inteligência e à estupidez. E suponhamos que o valor médio seja dois. Pois bem, três sujeitos mediamente inteligentes, uma vez agrupados, terão inteligência seis. Com a estupidez, a coisa não funciona assim: a estupidez cresce exponencialmente. A soma de três estúpidos não é estupidez seis, mas estupidez oito (dois vezes dois, vezes dois). Quatro estúpidos: estupidez 16. Cinco: estupidez 32.

Curiosamente, essa regra vale até chegar, mais ou menos, a um grupo de dez. Aí a coisa tranca: a partir de dez, torna-se mais provável que haja alguém para discordar da boçalidade ambiente. Não porque, entre dez, haveria necessariamente um herói ou um sábio, mas porque, num grupo de dez, quem se opõe conta com a séria possibilidade de que, no grupo, haja ao menos um outro para se opor junto com ele.

Esse funcionamento, por sua vez, decai quando o grupo se torna massa. É difícil dizer a partir de quantos membros isso acontece, mas não é preciso que sejam muitos: um grupo de linchamento, por exemplo, pode desenvolver toda sua estupidez coletiva com 20 ou 30 membros. "

Comentário meu: é por isso que eu gosto de política: política é um monte de dinâmicas como essa, mas com enfrentamentos em campo aberto.

Wednesday, July 04, 2007

Ha-Joon Chang

Ainda na Prospect, o economista famosão Ha-Joon Chang escreve algo que me parece muito parecido com o que o Brasil defende na OMC: o livre-comércio, a longo prazo, é uma beleza, mas todos os países desenvolvidos adotaram o protecionismo até serem fortes o suficiente para competir.

O argumento parece razoável, embora haja algumas inadequações: por exemplo, Chang afirma que o Brasil começou a adotar medidas neoliberais nos anos 80, o que não me parece verdade. Por outro lado, alguém pode discutir a premissa do artigo: o que deu certo no passado (o protecionismo) é o que dará certo agora? Talvez sim, talvez não.

Gordon Brown

Algumas visões de Gordon Brown, novo primeiro-ministro da Grã-Bretanha.

A sempre excelente Prospect faz uma edição especial sobre Brown o Intelectual. Lendo os artigos tem-se a impressão de um cara inteligente e CDF, que já foi fã do Gramsci, e tem uma certa fama de estar à esquerda do Blair, como acredita esse cara da LSE entrevistado pela Carta Capital. Por outro lado, foi o chanceler do tesouro que deu autonomia ao banco central, e parece tender mais para o lado mainstream na gestão da economia (que aprendeu na marra, meio como o Palocci, mas onde tem fama de entendido). E, vejam que interessante, parece ser um cara muito preocupado com a moral, na tradição da esquerda religiosa (Brown é membro da Igreja da Escócia), nessa vertente da esquerda que se preocupa com a dissolução da comunidade pelo individualismo, essas coisas. A crer nos artigos da Prospect, admira alguns autores da direita americana que escreveram sobre o assunto.

E, para complicar mais o quadro, é um dos caras que falam mais sério a respeito de ajuda internacional para o desenvolvimento (me lembro quando se comprometeu a comprar grandes quantidades de vacina para a malária, se alguém a descobrisse; a malária talvez tenha sido a doença que mais matou gente até hoje, mas ninguém descobre a cura, entre outros motivos, porque os consumidores em potencial são duros).

Finalmente: é, como o Blair, uma tremenda raposa política. Foi esperto o suficiente para apoiar o Blair e só derrubá-lo dentro do Labour quando viu que ia ganhar.

Aparentemente, Brown até que se saiu bem em seu primeiro question time, momento semanal em que o primeiro-ministro vai até a câmara dos comuns e fica sendo detonado pelo líder da oposição, enquanto os parlamentares de cada lado gritam "iiiihhhh!!", "uuuhhhhh!!!!", "eu não deixava!", essas coisas de briga de recreio.

Tuesday, July 03, 2007

Graduate Tax

Inspirado na pergunta do RDC: a graduate tax é um imposto cobrado dos alunos de universidade pública que, depois de formados, alcancem um certo nível de renda. Há várias versões da proposta, mas a que me parece mais interessante é a graduate contrubution, que é cobrada apenas por um tempo limitado de tempo. A experiência de política semelhante mais bem-sucedida do mundo é a da Austrália.

As várias formas de graduate tax (ou graduate contributions) tentam conciliar três princípios:

1) Uma enorme parte da desigualdade de renda é causada pelas desigualdades educacionais, mas o acesso à universidade ainda é, mesmo em países europeus que oferecem universidade gratuita aos seus cidadãos, fortemente condicionado pela origem de classe dos alunos (a exceção, se não me engano, é a Suécia, onde essa desigualdade caiu bastante nas últimas décadas). Isso quer dizer que a educação superior potencializa desigualdades pré-existentes: quem consegue conclui-la é o sujeito com mais dinheiro, que se distancia ainda mais da média da população por ter obtido seu diploma. Dado que, seja por subvenção seja por isenção fiscal, grande parte da educação é patrocinada pelo gasto público, é preocupante que dinheiro dos contribuintes faça a desigualdade crescer: na prática, os contribuintes pobres pagam para que os contribuintes ricos aumentem sua vantagem sobre eles. Naturalmente, uma das frentes para se combater o problema é procurar facilitar o acesso de mais pobres à universidade (o que, o exemplo sueco parece sugerir, depende inclusive de reduzir a insegurança econômica dos pais, o que libera os filhos a ficarem sem trabalhar durante a faculdade). Mas outra maneira de lidar com isso é taxar os universitários pela vantagem de mercado individual obtida com ajuda do gasto público coletivo. O dinheiro assim arrecadado poderia ser reinvestido na universidade, fazendo com que mais pobres possam cursá-las.

2) A cobrança de mensalidades, longe de resolver o problema, agrava-o, pois o acesso de estudantes pobres se torna ainda mais difícil. Naturalmente, se todos os custos da educação superior forem cobertos pelas mensalidades (isto é, sem dinheiro público envolvido de nenhuma forma), poder-se-ia argumentar que a graduate tax seria injusta. Mas a educação 100% financiada por mensalidades é muito rara, e impossível em áreas onde a pesquisa é muito cara e os retornos profissionais comparativamente baixos (como na pesquisa básica). Portanto, se a USP, por exemplo, cobrasse mensalidades, elas jamais cobririam todos os gastos, e o subsídio restante seria distribuído de maneira mais injusta ainda do que hoje, visto que os alunos pobres não poderiam pagar. Isto se dá por um motivo simples, que é a distinção crucial entre a graduate tax e a mensalidade: a mensalidade é paga PELOS PAIS DO ALUNO, o que faz com que a origem de classe seja um determinante de sucesso crucial. A Graduate tax é paga PELO ALUNO, SE ELE SE DER BEM NO MERCADO, o que reduz muito (mas não totalmente, visto que os pais podem ajudá-lo) o peso do fator origem.

Um exemplo que eu conheço bem: eu. Eu (e, com boa probabilidade, você que está lendo) nasci em uma família nos 5% mais ricos do Brasil (o Brasil é tão desigual que o limite do 5% não é tão alto, não), e estudei em colégio particular (meio ruim, mas particular). Por isso, e por ser bom aluno, passei para uma universidade pública, onde fiz também mestrado. Depois consegui uma bolsa de estudos do governo para fazer doutorado no exterior.

Comparemos minha situação com a de um contemporâneo meu que tenha nascido na Rocinha, mas que também fosse bom aluno. Por melhor que fosse, não teria passado na mesma universidade que eu, o que garante que não passou no mesmo mestrado e nem, muito menos, ganhou a bolsa para o doutorado. Mas nós dois contribuímos para pagar a universidade e financiar o CNPq (segundo nossa renda, o que é o único critério justo).

Ou seja: quando nós terminamos o segundo grau eu devia ter uns 30%, 40% de qualificação a mais que o cara. Quando eu terminei a UNICAMP, já tinha 300%, 400% a mais, e, se o meu São Benedito me der uma força e eu conseguir acabar o doutorado, terei, tranquilamente, mais que dez vezes seu potencial de renda. A beleza da coisa, do meu ponto-de-vista, é que ele ajudou a pagar para que eu ganhasse essa vantagem sobre ele.

A educação é um bem posicional: seu valor de mercado depende de quão educados são seus competidores no mercado de trabalho (quando quase ninguém tinha curso primário, ter o secundário dava uma bela grana, etc.). Portanto, não parece muito razoável que um sujeito me pague para ganhar dele em um jogo em que eu já saí com vantagem.

Vale notar, é fundamental que a taxa só seja cobrada de quem realmente passar a ganhar bem em função de seu diploma: se o cara ficar desempregado, ou se ganhar muito pouco, não deve pagar nada. Se não for assim, o estudante pobre não poderá correr o risco de fazer o curso, pois não saberá se poderá pagar depois. Na Austrália, aparentemente, esse desestímulo não ocorreu.

Naturalmente, há várias formas de implementar essa proposta. A taxa pode ser vitalícia, ou só pelo tempo necessário para pagar o que o aluno custou (minha opção seria essa), pode ser a mesma para todo mundo a partir de um certo nível de renda ou pode ir se tornando progressiva, pode ser maior ou menor, etc. Um resumo das alternativas pode ser encontrado nesse paper do governo britânico.

No Brasil, houve uma proposta parecida com essa, apresentada pela deputada Selma Schons, do PT do Paraná. Como vocês podem perceber, não fez muito sucesso.