Thursday, August 31, 2006

Segundo Turno

Cresce entre os leitores do blog (bom, o Alex e o Zé falaram nisso) a opinião de que vale a pena ter segundo turno, mesmo que o Lula ganhe, para o PT saber que o pessoal apóia, mas não acha bonito essas sacanagens todas. Ando propenso a concordar. Talvez vote no Cristovam, mesmo achando que ele não foi um bom ministro da educação. Enfim. Seja lá o que eu faça, não vai ser muito entusiasmado.

Mas temos que ver pelo lado bom. Por exemplo, o PCO não vai ganhar. Já é alguma coisa.

Zé is back

Para quem não sabe, o Blog para Zanzar, do Zé, voltou ao mundo dos vivos! Muito legal o post sobre o partido dos piratas suecos (não, não é sacanagem), e as dicas de site de informática. Não deixem de checar.

Alckmin no cinema

Segundo a Folha de hoje, Alckmin estava fazendo campanha no centro do Rio quando, sem querer, foi cumprimentar eleitores na fila de um cinema pornô.

Como gafe é engraçadinha, mas o melhor é imaginar os caras na fila. O sujeito lá tentando ser discreto, tentando entrar no cinema sem ninguém ver, e de repente vem o cara que pode ser o próximo presidente da república, com comitiva, com televisão, com imprensa, com fotógrafo, enfim, praticamente uma banda de música, e joga o holofote sobre ele.

Isso é que é azar, hein, rapaz?

Slogan

Agora, eu se fosse o Alckmin, ou o Buarque, concorreria com o slogan "Vou fazer a mesma coisa, mas sem comprar deputado". O triste é que provavelmente seria mentira. Mas o meu voto conquistava.

Wednesday, August 30, 2006

Em estado de negação

O blog do CM continua em seu comovente esforço de levantar a campanha do Alckmin. Tá certo, oposição é pra isso mesmo. Agora, tem momentos patéticos. Como se viu, Lula subiu nas últimas pesquisas. Vejam os comentários do CM:

"PESQUISA SENSUS!Independente do resultado -que aliás é igual ao último Ibope- na reta final de uma eleição, não se pode fazer campo em 4 dias -22 a 25 deagosto- saltar um fim de semana importante para a troca de opiniõesentre as famílias e vizinhos, e publicá-la no dia 29 de agosto, 4dias depois do último dia e 6 dias depois do ponto médio da pesquisa.Já não vale nada! Assim não dá!"

Até é verdade, mas alguém acha que isso é que explica a diferença entre Lula e Alckmin? Meio triste. Mas onde se vê o surto em processo mesmo é na análise do Datafolha:

"DATA-FOLHA: BOAS NOTÍCIAS PARA ALCKMIN!
1. Lula tem 50%. Demais 38%. Diferença 12 pontos.
2. Ótimo+Bom de Lula: 48%. Esse é o teto verdadeiro. Diferença 10pontos."

Nessa já foram 2 pontinhos, baseado na teoria de que o teto é o ótimo+bom, o que é plausível, frequente, mas de maneira nenhuma certo. Dependendo do contexto, e parece ser o caso agora, pode-se votar num maisoumenos por falta de opção.

"3. Não-Voto (branco, nulo, não sabe): 12%. Na eleição teremos nomínimo o dobro de Não-Voto (abstenção+nulo+branco)."

Se CM está falando de alguma regularidade histórica (quanto de não-voto na pesquisa e quanto dá no final), além de ser arriscado acreditar nessas coisas, precisaria apresentar os dados para as presidenciais brasileiras. E lembremos que CM está supondo 1 em cada 6 pessoas que acham Lula ótimo ou bom vai desistir de votar.

" A proporção de abstenção entre os eleitores de Lula (nordeste, menores níveis derenda e instrução), é muito maior. Se a distribuirmos em 80% e 20%,teremos: Lula 40%. Demais 36%. Diferença 4 pontos."

Deixemos de lado o fato de que podemos esperar um aumento do voto nulo precisamente entre os eleitores de maior instrução, que são mais revoltados com o mensalão e não ganham bolsa-família. O lance é que o CM está sugerindo que, se os candidatos de oposição crescerem, somados, 2 pontos, empatam com Lula em 38.

Agora, vejam: esses pontos precisam ser tirados do Lula (os não-votos saíram da conta), e precisam ser decisões firmes (visto que já se excluíram os votos que numa dessas podem virar não-voto). E, pior: precisam ser extraídos da parte da população que acha o governo bom ou ótimo (que foram só os que sobraram).

Segundo, CM, tem segundo turno se alguns milhões de pessoas que gostam do governo resolverem entusiasticamente votar na oposição. Bom, aí, só se aparecer a foto do Lula estuprando Madre Teresa de Calcutá.

Na verdade, a situação do Alckmin não é tão ruim justamente por que ainda pode crescer em cima do não-voto mais do que o Lula. Eu acho que ainda pode ter segundo turno, sim. Mas, se depender do consolo do CM, o Alckmin desanima.

Tuesday, August 29, 2006

PPPs

Um bom editorial hoje na Folha, sobre as parcerias público-privadas, a grande aposta da geração de governos Lula-FHC para a retomada do investimento em infra-estrutura no Brasil.

Unger e Lula

O Mangabeira Unger, que ficou meio sumido depois que entrou para o PRB (que acabou apoiando o Lula), escreveu um artigo meio conciliador hoje na Folha. Diz ele:

"A solução é que o novo governo Lula abrace projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social que nossas duas classes médias possam compreender e apoiar. Projeto que, sem renegar o realismo fiscal ou a ajuda emergencial aos que penam na miséria, abra portas para a ascensão econômica e educativa de dezenas de milhões de brasileiros.

Reduzido a seus elementos mais básicos, esse projeto tem três diretrizes. Oportunidade educativa: sacudir o ensino público de cima a baixo para melhorar-lhe dramaticamente a qualidade. Oportunidade econômica: fazer os interesses do trabalho e da produção prevalecerem sobre os do rentismo, acabar com a informalidade a que continuam condenados 60% dos trabalhadores e usar os poderes e os recursos do Estado para dar condição aos esforçados -acesso a crédito, tecnologia, conhecimento e escala. Oportunidade política: separar a política dos negócios, tirando-a da sombra corruptora do dinheiro.

Para que se efetive tal projeto, duas coisas são necessárias. A primeira é o presidente reeleito ousar, sabendo quando unir e quando dividir. A segunda é que alguns de seus adversários de ontem se disponham a lutar, como seus aliados de amanhã, para dar braços e asas à energia frustrada do país".

Interessante. Uma das boas surpresas que poderiam acontecer com o Brasil seria o Unger, o maior nome da teoria social brasileira, propor coisas mais concretas e procurar uma inserção melhor no cenário político brasileiro.

Monday, August 21, 2006

Bernard Lewis (4)

E, enfim, o Lewis adverte para o perigo de um ataque do Irã a Israel, bem, amanhã.

Bernard Lewis (3)

E vejam essa:

"Não haverá taxação sem representação" marca um passo crucial no desenvolvimento da democracia ocidental. Infelizmente, o oposto também é verdadeiro - não há representação sem taxação. Governos cuja riqueza deriva do petróleo não têm necessidade de assembléias populares para impor e arrecadar impostos, e podem se dar ao luxo, por algum tempo, pelo menos, de ignorar a opinião pública."

Bernard Lewis (2)

Vejam que idéia interessante:

"O fundador do Cristianismo ordenou a seus seguidores dar a "César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mat 22:21) - e, durante séculos, o cristianismo cresceu e se desenvolveu como uma religião dos oprimidos, até que, com a conversão do imperador Constantino, o próprio César tornou-se cristão e inaugurou uma série de mudanças através dos quais a nova fé ganhou o Império Romano e transformou sua civilização.

O fundador do Islã foi seu próprio Constantino, e fundou seu próprio Estado e Império. Assim, ele não criou - nem necessitou criar - uma igreja. (...) Na Roma pagã, César era Deus. Para os cristãos, há uma escolha entre Deus e César (...) No Islã, não havia nenhuma escolha árdua como essa a fazer."

O que, segundo o Lewis, explica o vínculo entre o Islã e a política de Estado. Disse o Khomeini que "Ou o Islã é política, ou não é nada".

Sei lá se é verdade, mas é interessante.

Bernard Lewis

Acabei de comprar "A Crise do Islã", do Bernard Lewis. O Lewis é um cara controverso, e um dos alvos favoritos do Edward Said. É judeu, e abertamente pró-Israel e pró-EUA. E é um tremendo orientalista. Tendo isto tudo em mente (e precauções semelhantes são necessárias para ser ler o Said), lê-se o livro dele com grande interesse. Tem umas sacadas muito boas.

Friday, August 18, 2006

Livro

O livro no Brasil é caro. Eu sempre quis, e quero, um dia ter uma editora, e, pelo que andei estudando, há alguns motivos para o livro ser caro. O mais cruel é que as tiragens são pequenas, por que o público leitor é pequeno, o que, naturalmente, se deve em grande parte ao fato de que o livro é caro.

Agora, que é caro, é caro. Exemplo: na banca em frente à Livraria Cultura, vende-se livros de bolso, alguns bem legais, em geral obras curtas, a maioria da LPM, por doze pratas. Se você entrar na livraria, acha "Guerra e Paz" de Tolstoi, de mil páginas, importado, em inglês, pelos mesmos doze reais. Quer dizer, achava, porque eu comprei.

Descontem o preço da importação, o fato de que o livro tem três vezes mais páginas do que o da banca, e vejam quanto custa um livro, em edição de bolso, no Brasil e nos EUA.

PS: a propósito, quem estiver de bobeira passando pela Livraria Cultura, vá ao segundo andar e compre "Why Orwell Matters", do Christopher Hitchens, sobre (dã) o Orwell. Excelente livro.

Thursday, August 17, 2006

Textinho

Tem um texto aqui do vosso humilde servo no blog do Euston Manifesto, sobre a possibilidade de ser organizar sindicatos em nível global. Em defesa dele, só posso dizer uma coisa: tem só uma página.

Serra

Vi uma entrevista com o Serra em que ele foi muito mal. Tem tanta vantagem que não vai fazer diferença, mas precisa, urgentemente, arrumar uma resposta boa para a pergunta

"O senhor vai levar o mandato de governador até o fim ou vai se candidatar a presidente?"

Por que essa de "sei lá, quatro anos é tanto tempo..." não vai colar, não. Se o Serra for ao debate, o Mercadante e o Quércia vão se esbaldar fazendo tabelinha sobre isso.

Lula

No dia acabei não comentando, mas não podemos deixar de registar que o Lula disse que seu governo deu firme "combate à ética", e que em seu governo "só o que caiu foi o salário". Clássicos.

Alckmin

Agora, tem uma coisa que o César Maia tem razão: a campanha do Alckmin errou feio ao não reconhecer a importância do horário reservado aos candidatos no Jornal Nacional, muito mais importante do que o horário gratuito. Como disse o CM, Lula acertou, só aparecendo como presidente, inaugurando obra, assinando lei, etc. Heloísa Helena mandou bem, fazendo quase todo dia uma passeatazinha com flores e crianças, só para ter o que mostrar no JN. Enquanto isso, Alckmin sempre aparece em ambientes fechados, em conversas com políticos, na sede do PSDB, etc. Vacilo seríssimo.

Horário Eleitoral

Ontem vi o horário eleitoral pela primeira vez esse ano, e tenho uma boa notícia. O caixa dois diminuiu, mesmo. A prova é que todos os programas são simplesmente horrorosos, muito pobres, muito ruins. Beleza.

Como destaque, só um anormal que termina gritando "óleo de peroba neles!" e sacode um vidro da referida substância no ar.

Wednesday, August 16, 2006

Vietnã

Recebi um desses e-mails indignados sobre a situação do país, a criminalidade, etc. Simpatizo, mas não pude deixar de notar que o autor usa uma metáfora meio preocupante:

"O Brasil não precisa de fome zero, essa campanha populista de um presidente ignorante e mau intencionado como Lula. O Brasil precisa é de CORRUPÇÃO ZERO. Essa é a única saída. Se os americanos tinham na guerra do Vietnã algo porque lutar, os brasileiros têm a luta contra a corrupção."

Bom, os EUA perderam no Vietnã.

E lá se vai a porra toda

Para uma visão pessimista do resultado da guerra no Líbano, vejam o último post do Amiano Marcelino (não sei linkar pra um post específico, foi mal).

Reconstrução

Essa do Andrew Sullivan eu tive que traduzir:

"Acho que, se Bush e Rumsfeld realmente queriam reconstruir o Iraque (e hoje já duvido disso, dado o número de tropas que mandaram), eles poderiam ter arrumado um terceirizado melhor que a Halliburton. Como por exemplo, o Hezbollah. Apesar do que, deve-se admitir a seu favor, Bush entregou o que restou do Estado Iraquiano a um clone do Hezbollah no sul Shiita, de modo que é possível que agora a reconstrução comece - e sirva à mensagem de propaganda do inimigo, ao invés da nossa. E assim segue a música."

Ex-Iraque

Ganha força a proposta de desmembrar o Iraque, apresentada neste artigo por Peter Galbraith. A idéia é a seguinte: Bush e Blair estão fracos politicamente, em grande parte pelo fiasco no Iraque. Por isso não podem mandar para o Iraque o número enorme de soldados (muitos dos quais morreriam com certeza) que seriam necessários para reestabelecer a ordem no Iraque. Em vez de ficar de sacanagem, deveriam redefinir o objetivo da missão: impedir que o Iraque seja usado para a Al Qaeda lançar ataques contra os EUA.

Para isso, o Iraque seria desmembrado em três pedaços: o sul shiita e pró-Irã (que beleza), o centro sunita em guerra civil (que maravilha) e o Curdistão, que está em paz e funcionando bem. As tropas dos EUA iriam para o Curdistão, e ficariam paradas lá para a eventualidade de ter que intervir nos outros dois pedaços.

Você vê que a coisa está feia quando a única alternativa parece ser fortalecer o Irã e comprar uma briga com a Turquia, melhor aliado americano na região depois de Israel, que não quer saber de independência curda de jeito nenhum.

Que bonito.

Vitória de Pirro

Tanto Israel quanto o Hizbollah anunciaram vitória na guerra. Nessa porradaria recente, o Hizbollah ganhou: não devolveu os prisioneiros, sobreviveu, se tornou mais popular no Líbano. Mas no quadro estratégico mais amplo, o Irã e o Hezbollah se fuderam.

Os dois soldados prisioneiros devem, segundo a Time, ser devolvidos em troca de prisioneiros do Hezbollah. Mas o mais importante é que, acabando a guerra agora, o objetivo do Irã de tornar os EUA mais amigáveis na negociação nuclear, ou a ambição do Hizbollah de conseguir de volta as Fazendas de Shiba, foram para o caralho.

Por terem concordado com o cessar-fogo sem desarmamento do Hizbollah, EUA e Israel vão ter que endurecer de agora em diante. Para quem, como eu, achou que o propósito da coisa toda era fortalecer o Irã, parece que o negócio não deu certo, não.

É como se eu encontrasse meu vizinho lutador de jiu-jitsu no elevador e desse um chute no saco dele. Ela desmaiava e eu corria quando o elevador chegasse na portaria. Mas como é que eu voltava pra casa depois?

Tuesday, August 15, 2006

Debate (VI)

Feio o Lula não ir. Disse alguém durante o debate (acho que foi o Lobão) que, quem apoioiu o Lula desde 1989 não pode deixar de ficar decepcionado por ele fazer a mesma coisa que antes faziam contra ele. A frase anterior, aliás, pode ser usada em uma variedade de contextos.

Agora, se o Lula viu o debate, aí é que ele não vai nos próximos, mesmo. HH e Alckmin estavam ensaiadíssimos na dupla tira bom e tira mau. Se os dois pegam o Lula em um debate, iam tentar armar um bobinho em volta dele.

Para terminar, uma frase do Eymael: o Lula nunca sabe de nada, vai ver que não sabia que tinha debate ontem.

Debate (V)

Luciano Bivar, candidato nanico, não é uma nulidade como os nanicos em geral são. Tem perfil ideológico claro, liberalzão. Defende o imposto único, corte de gastos, etc. Deve estar triangulando pelo PSL para depois ser candidato a alguma coisa por um partido maior.

O Eymael é aquilo mesmo.

Debate (IV)

Heloísa Helena incomparável nas considerações finais. Não disse nada de qualquer relevância, mas emocionou.

Monday, August 14, 2006

Debatte (III)

Os assessores do Alckmin deveriam insistir para os repórteres perguntassem mais sobre o PCC. O tom monotônico do Alckmin é um desastre. Mas quando fala do PCC fica meio puto da vida, e fala com muito mais confiança. Alckmin é, entre os candidatos presentes, o único que está levando a sério a possibilidade de ganhar, e isso é uma limitação séria: sabe que se falar pode ser que tenha que fazer (o Eymael, por outro lado, está todo relaxadão). Alckmin se saiu muito mal em vários momentos, não por falar besteira, mas por passar despercebido. Seus melhores momentos, fora a resposta do PCC (muito boa), foram as dobradinhas com HH. Não vai virar a eleição com os debates.

Debate (II)

Heloísa Helena é infinitamente melhor comunicadora que todos os outros candidatos juntos. Quando começa a falar do "jogo sórdido dos banqueiros", é aquela merda. É uma daquelas candidatas do tipo "tudo que tem alguma importância será prioridade". Parece sinceramente acreditar que a direita tem interesse em impedir o crescimento capitalista. Há uma honestidade na Heloísa Helena, é fácil entender que se sinta falta disso. Mas é justamente quem é idealista que tem mais obrigação de escolher as idéias certas para defender (o Maluf pode defender qualquer idéia, por que não vai seguir nenhuma, mesmo).

Debate (I)

Cristovam Buarque não parece candidato. Concordo com a maioria das coisas que ele diz, mas parece mais interessado em fazer bonito defendendo a educação (o que é uma boa) do que em convencer alguém a votar nele.

Benjamin





O repórter da Band acaba de anunciar uma mudança radical no quadro eleitoral: o vice de Heloísa Helena agora é WALTER BENJAMIN! Infelizmente, era só um boato. O vice é o César Benjamin, mesmo, que tem suas qualidades, mas não é, enfim.

Isso me lembrou o aluno que uma vez, em uma aula, lendo um texto em voz alta, disse: "Segundo Walter, Benjamin no capitalismo moderno..."

Thursday, August 10, 2006

Gabeira

Resolvi votar no Gabeira para deputado federal. Ando meio de saco cheio, e não deixa de ser interessante que resolva votar justamente no primeiro cara por quem já fiz campanha, nos idos de 1986.

Tenho minhas restrições a respeito do Gabeira. Não é tanto que eu não concorde com as coisas que ele faz, mas acho que é um cara que poderia ser melhor utilizado.

Não é possível que um quadro como ele dê prioridade à descriminalização da maconha. Eu sou contra a descriminalização. Se maconha não fizer tão mal à saúde, que seja legalizada, produzida pela Souza Cruz segundo recomendações do ministério da saúde, etc. Se não for assim, que seja proibida. O que não pode é liberar o playboy para comprar e proibir o favelado de vender.

Também não gosto muito da oposição aos transgênicos, do jeito que é feito. Se não me engano, ese foi o argumento do Gabeira para romper com o governo. A evidência contra os transgênicos é altamente controversa. Há a questão política do domínio das multinacionais sobre a produção de sementes, mas, se for só isso, que o governo produza transgênicos. Caso se descubra, com fortes evidências, que transgênicos causam câncer, proíba-se. Mas ainda não se descobriu isso.

De uma certa forma, o Gabeira representa a turma de 68: sem muita idéia do que fazer com o binômio estado-economia, mas atenta aos importantes temas que não cabem nesse esquema. Agora, uma hora alguém, quem sabe, em uma hipótese remota fruto de minhas fantasias paranóicas, deveria se preocupar com o Estado e a economia.

MAS: acho que nos últimos tempos o Gabeira resolveu crescer à altura do seu potencial.

Em primeiro lugar, por ter enfrentado a corrupção no congresso. Só por tirar o Severino ele já merece meu voto.

E, em segundo lugar, por ter se mobilizado contra a repressão aos dissidentes cubanos, o que o resto da esquerda brasileira falhou vergonhosamente em fazer.

Por esses dois pontos, de agora em diante o blog terá o banner da campanha do Gabeira aí do lado. E espero que o Gabeira continue se apresentando para as grandes questões, para o combate à desigualdade, à pobreza, à violência.

Bush

Descoberto o problema do Bush: ele não reza direito.

Tuesday, August 08, 2006

Ah, bom

Ouçam só essa: a rede de lanchonetes Joe and Leo's, originária do Rio (e muito boa), abriu filiais em São Paulo, e fez a besteira de escolher o slogan "O jeito carioca de comer" (algo assim). Foi um fracasso. Para corrigir, a lanchonete agora se chama Joe and Leo's São Paulo, tem uma bandeira gigantesca de São Paulo na parede, e um brasão do Estado no fundo. Que bonito.

Sunday, August 06, 2006

DJ Paulão

É o maior evento da história da música desde que Paul McCartney morreu e foi substituído por um sósia: o magnânimo DJ Paulão lançou um novo mix tape. Paul is dead, but Big Paul is not.

Cenário Ideal para Cuba

Supondo que se queira fazer uma transição razoavelmente pacífica (isto é, por iniciativa dos próprios cubanos) em Cuba, eu sugiro o seguinte:

1- Que a transição seja rápida após a morte de Fidel. Em geral, quando os países socialistas ainda tinham líderes fortes, como Stalin ou Mao, a nomenklatura era fraca. Isso é bom para a transição, pois dificulta que a nomenklatura privatize para si mesma.

2- Que a nova liderança seja formada por dissidentes, mas que o PC continue existindo, e, a partir da segunda eleição, seja um partido de centro-esquerda forte, que impeça o desmonte das políticas sociais.

3- Fim da restrição à criação de novos negócios, inclusive com capital estrangeiro, uma vez que é sempre difícil recuperar as velhas estatais (esse foi o insight básico da China).

4- Pouca ou nenhuma restituição aos proprietários pré-comunistas, que não são mais os mais qualificados para gerir as empresas. Além disso, a restituição é uma confusão do caralho ("Meu pai era dono desse terreno, agora construíram uma fábrica em cima, eu quero ser dono de metade da fábrica").

5- Liberalização de preços rápida, privatização lenta. Note-se que o método de distribuição de vales de privatização para a população não é, como poderia parecer, um método rápido: a situação das empresas só muda mesmo quando algum agente privado consegue comprar uma grande quantidade de títulos de outras pessoas.

6- Seria besteira desperdiçar o capital acumulado na comunidade emigrada em Miami. Os chineses usaram extensivamente dinheiro da diáspora chinesa (que forma a elite econômica de países como as Filipinas ou a Indonésia). Mas o controle tem que estar com os nativos.

Cenário ideal é, naturalmente, sempre ideal. Sei lá o que vai dar pra fazer na prática.

Cuba na Carta Capital

A matéria mais positiva que se pode escrever, dentro dos limites da civilização (bom, mais ou menos), sobre Cuba, é a publicada na Carta Capital dessa semana, pelo Antonio Luiz M.C. Costa. O viés é claro: cita os números dos assassinados pelo regime mas enfatiza que a repressão diminuiu muito. Quem quiser saber sobre a repressão em Cuba que cheque as fontes oposicionistas (o que aliás, vale para qualquer regime). No final da reportagem, cita o caso dos médicos cubanos que atuam na AL curando catarata, sem mencionar que essa operação foi realizada em contrapartida ao óleo subsidiado de Chávez. Enfim.

Mas tem algumas histórias interessantes, e uma análise digna de nota, bem melhor do que a média do que se escreve sobre Cuba:

"O desmoronamento automático do regime após a morte de Fidel continua a ser uma aposta arriscada: se aos nacionalistas das repúblicas da Europa Oriental e da ex-URSS o socialismo representava a submissão ao imperialismo russo, aos patriotas de Cuba representa o desafio ao igualmente detestado imperialismo dos EUA. Além disso, ao contrário dos antigos integrantes da Nomenklatura soviética, os burocratas e gerentes cubanos não alimentam grandes esperanças de projetar-se como empresários e capitalistas de uma eventual Perestroika: esse papel estaria certamente reservado aos exilados de Miami, que continuam a se julgar no direito de retomar terras, propriedades e empresas perdidas"

Vamos ver.

Saturday, August 05, 2006

Philip Roth

Uma entrevista legal do Philip Roth para o rádio. Muito boa, especialmente na parte em que ele pergunta

- Posso responder sinceramente?

E a entrevistadora responde:

- Não, prefiro que você minta.

Thursday, August 03, 2006

Manifesto

Esse foi o manifesto contra a repressão em Cuba organizado pelo Ruy Fausto em 2003. Eu assinaria.

O manifesto dos intelectuais de esquerda

Os abaixo-assinados, homens e mulheres de esquerda, adversários da política do atual governo americano, vêm a publico protestar contra o processo movido pelo governo de Fidel Castro contra um grupo importante de dissidentes em Cuba.

Aproveitando a ‘‘distração’’ da opinião pública mundial, empenhada nas mobilizações contra a intervenção americana no Iraque, e valendo-se do depoimento de policiais infiltrados nas organizações de oposição, o governo cubano condenou 43 dos 78 dissidentes indiciados a penas de prisão que vão de 6 a 28 anos!

O ‘‘crime’’ que os dissidentes praticaram foi o de trabalhar em prol de uma transição pacífica e democrática em Cuba. Fazem parte do grupo, entre outros, a economista Marta Beatriz Roque, o poeta e jornalista Raul Rivero, o economista Oscar Espinosa Chepe, todos condenados a 20 anos de prisão, e um dos organizadores do projeto Varela, Hector Palacios, condenado a 25 anos. O projeto Varela, no quadro do qual foram colhidas, legalmente, onze mil assinaturas em prol de uma democratização pacífica, é particularmente visado pelo governo castrista.

Se o projeto se inscreve, e por boas razões, contra as manobras de auto-eternização do poder autocrático, seria bom lembrar que ele também contraria a política dos defensores do embargo e os planos nada pacíficos da imigração de extrema-direita. Apesar das aparências, denunciar a violência dos poderes despótico-burocráticos de direita ou de pseudo-esquerda não leva água para o moinho da política expansionista dos falcões de Washington. A erradicação das ditaduras de direita ou de pseudo-esquerda está longe de ser a verdadeira razão da política dos ultra, e, mais do que isso, a existência das ditaduras conforta essa política; tanto no plano ideológico, como no plano prático. Viu-se como é impossível organizar a resistência popular contra uma agressão externa (a fortiori, quando esta se faz em nome da ‘‘democracia’’) lá onde não existe um verdadeiro governo democrático. A condenação dos dissidentes cubanos é tão ilegítima quanto o tratamento que dá o governo americano aos seus prisioneiros em Guantanamo, tratamento contra o qual também protestamos.

Contra o expansionismo do império, contra os despotismos de toda sorte, seus opostos-complementares. Liberdade para os dissidentes cubanos. Por uma transição pacífica e democrática em Cuba.

Ruy Fausto, Leda Tenório da Motta, Marcio Suzuki, Newton Bignotto, Lucia Santaella, Olgária Matos, Gabriel Cohn, Marta Kawano, Marcio Seligman, Ricardo Goldenberg, Ricardo R. Terra, Ana Matilde Tenòrio da Motta, Luis Henrique Lopes dos Santos, Claudio Willer, Douglas Ferreira Barros, Catarina Koltai, Renato Janine Ribeiro, Elisabeth de Souza Lobo, Sylvia Caiubi, Amélia Cohn, Sedi Hirano, Celso Vieira de Souza, Andréa Gomes Fernandes, Luis Felipe Alencastro, Guilherme Simões Gomes Jr., Eduardo Kugelmas, Carlos Alberto Ribeiro de Moura, Gildo Marçal Brandão, Mario Miranda, Julio Plaza, Paulo A. da Silveira Filho, Heloisa Fernandes Silveira, Iraci del Nero da Costa, Scarlett Marton e outros.

PS dos três primeiros signatários — Esse abaixo-assinado já estava circulando, quando o governo de Cuba, após um julgamento sumário, executou três pessoas que haviam tentado se apossar de uma embarcação cubana.

Fidel Castro

Ao que parece, Fidel está indo pro saco. Que vá.

Não há dúvida de que Castro tem um legado, especialmente na construção do sistema de saúde cubano. É claro que tudo que fez foi com dinheiro soviético, mas, até aí, muita gente gastou o suborno soviético em arma (ou mandou pra Suiça). Quando acabou o subsídio, Cuba cortou gastos militares, a Coréia do Norte matou milhões de fome para fazer bomba atômica. É meio foda dizer que um sujeito pelo menos era melhor que o maluco da Coréia do Norte, mas a comparação é relevante por que eram dois sujeitos na mesma situação de poder absoluto, que, certamente, teria corrompido muita gente boa.

Também é verdade que Castro quase destruiu o mundo. A crise dos mísses cubanos, hoje sabemos, foi o momento em que mais nos aproximamos do holocausto nuclear, e Castro achou que Kruschev foi meio bichinha de dar pra trás.

E, enfim, Castro é um ditador terrível. Líderes oposicionistas, nesse exato momento, apodrecem na cadeia. Lula, que tanta tristeza sente nessa hora, deveria se solidarizar com os sindicalistas cubanos, reduzidos à mais patética peleguice pela polícia secreta. Fidel o teria fuzilado no começo de 79, e teria desonrado sua família chamando-o de verme a serviço do imperialismo. É vergonhoso que Fernando Morais diga que não devemos nos preocupar com a doença de Castro, por que "o povo cubano está preparado para isso". Como Morais sabe o que se passa pela cabeça do povo cubano, se ele não tem voz?

Que morra Castro. E que caia o regime cubano, assim que uma alternativa razoável se constituir dentro de Cuba. Se não cair assim, cairá por Miami, e aí, sim, teremos o pior dos dois mundos.

Que beleza

Posse dos analistas de uma prestigiada instituição financeira pública brasileira. O diretor faz um belo discurso sobre os novos contratados: "Vocês são os melhores dos melhores do mercado, aprovados em uma seleção rigorosíssima, um acúmulo de talentos que nós, dos recursos humanos, certamente teremos dificuldades em administrar! Vocês são intelectuais, que não tomam a parte pelo todo, e que têm uma visão ampla de todos os processos da instituição, e, no limite, dos processos da sociedade em geral. Vocês têm consciência de que é preciso modernizar a máquina pública, e trazem uma visão saudavelmente nova para a organização! Enfim, sejam bem-vindos. Alguma pergunta?"

Levanta a mão um gordinho.

- Eu posso usar o malote oficial do banco para mandar carta para minha mãe?

Tuesday, August 01, 2006

OMC




Se tem um troço deprimente é o fracasso da rodada de Doha, que deveria liberalizar o comércio internacional na área de agricultura, que tenderia a beneficiar os países mais pobres. Enfim, pobre só se fode. O evento inspirou a capa acima da The Economist, que tem uma reportagem boa sobre a desgraça.