Monday, November 27, 2006

Mais "Hallelujah"

"Hallelujah", do Leonard Cohen (o fodão da balaxita) tem tanta história que é verbete da Wikipedia. A versão aí embaixo é a "judaica", com uma letra cheia de referências ao velho testamento:

Ouvi que havia um acorde secreto
que Davi tocou, e isso satisfez o Senhor
Mas você não liga muito pra música, não?
Ele vai assim, a quarta, a quinta,a menor em queda, a maior em crescendo
O rei das batalhas compondo Aleluia.

Aleluia (4x)

Sua fé era forte mas você precisava de provas
E a viu se banhando sobre o teto
Sua beleza e o luar o sobrepujaram.
Ela o amarrou à cadeira da cozinha
derrubou seu trono e cortou seu cabelo
E de seus lábios colheu a Aleluia.

Aleluia (4x)

Você diz que tomei o nome em vão
Eu nem sei qual é o nome
Mas se eu tiver tomado, bom, e você com isso?
Há uma explosão de luz
em cada palavra
Não interessa qual você ouviu,
a sagrada
ou a quebrada Aleluia.

Aleluia (4x)

Fiz meu melhor, não foi lá muito
Não podia sentir, aí tentei tocar
Disse a verdade, não vim te enganar.
E mesmo que tudo tenha dado errado
Me ponho ante o Senhor das canções
Com nada na língua além de Aleluia.

Nessa versão já tem umas coisinhas legais, a começar pela descrição da melodia da música no começo (é essa mesmo, pena que eu não sei traduzir nome de nota musical). E, muitas vezes, ao vivo, como no vídeo abaixo, Cohen cantava "the baffled king" (o rei estupefato) ao invés de "battle king" (rei das batalhas, título bíblico de Davi).

Mas há outra versão completamente diferente:

Baby, já estive aqui
Conheço esse quarto, já andei esse chão.
Vivia sozinho antes de te conhecer.

É, vi sua bandeira no arco do triunfo.
Mas ouça, o amor não é uma marcha da vitória,
é uma fria e quebrada Aleluia.

Aleluia (4x)

Houve época em que você me deixou ver
o que acontecia dentro de você
Ah, mas agora você nunca mais me mostra, não?

Sim, mas eu lembro, quando me mexi dentro de você
A pomba sagrada, ela se moveu também,
e cada inspiração que dávamos era Aleluia.

Aleluia (4x)

Talvez haja um Deus lá em cima
Quanto a mim, tudo que aprendi do amor
É como atirar em alguém que sacou mais rápido.

Sim, mas não é um lamento que você ouve esta noite,
Não é a risada de quem diz ter visto a luz
Não, é uma fria e solitária Aleluia.

Aleluia (4x)

Fiz meu melhor, não foi lá muito
Não podia sentir, aí tentei tocar
Disse a verdade, não vim até aqui te enganar.

E mesmo que tudo tenha dado errado
Me ponho ante o Senhor das canções
Com nada em meus lábios além de Aleluia.

Em inglês as rimas são sensacionais. Cohen é o cara.

Sunday, November 26, 2006

Idéia em alta: redução relativa do gasto público

Funciona assim: tem que reduzir a relação déficit público/PIB para poder abaixar os juros. Lula vai reduzir gastos, mas, nesse cenário, não seria nada drástico. A maior redução viria aos poucos na medida em que se aumenta os gastos em proporção menor do que o PIB cresce. Se, por exemplo, o PIB é 10 e gasta-se 5, quando o PIB passar para 20 gastar-se-á 7. A relação dívida/PIB cairia de 50% para mais ou menos 30%.

Naturalmente, para dar certo o PIB precisa começar a crescer decentemente, o que depende dos juros caírem, o que depende de corte de custos. Por isso algum corte de custos será sempre necessário.

Uma idéia mais ou menos análoga seria parar de dar aumentos reais para a aposentadoria. Em vez de cortar alguma coisa, mantém-se o mesmo nível, só corrigindo a inflação, e o aumento de arrecadação vai reduzindo o déficit da previdência ao longo dos anos.

Tudo isso, na verdade, conta com um mecanismo meio esquisito: a administração de expectativas. A idéia é que, se o empresário quer investir, mas tem medo do juro continuar alto (porque o gasto é alto), pode começar a investir antes dele cair, se achar que, daqui a algum tempo, ele terá caído bastante (porque o gasto já cai agora). Assim, os benefícios de um ajuste de gastos futuro seriam antecipados.

Sei lá se isso é verdade.

Capitalização da Previdência (3)

Comentando as respostas do Alex e do Zé: de fato, a capitalização da previdência traz um risco. Quando tiver mais tempo vou tentar descobrir se já deu certo em algum lugar. Não sei se sou a favor, não, mas talvez seja menos pior do que cortar simplesmente. Alguma coisa vão ter que fazer.

Eleição na Câmara

Aparentemente, o PT está querendo fazer merda de novo na eleição para a câmara, lançando candidato próprio. Tem que ficar para o PMDB. É a regra da coalizão. Não gostou, manda o pessoal parar de dançar no plenário e elege mais deputados.

Clipe da Semana - Leonardo Cohen, "Hallelujah"

Façam um esforço e não prestem atenção no visual anos oitenta do coro.

Tuesday, November 21, 2006

Capitalizar a Previdência (2)

Vale lembrar, a capitalização da previdência foi defendida abertamente por Ciro Gomes e seu chapa Mangabeira Unger em 1998. É possível que uma versão moderada da coisa seja implementada.

Idéia em alta - Capitalizar a Previdência

Idéia que vem circulando por aí, parece que ganha impulso: alguma forma de capitalizar a previdência, isto é, pegar a grana dela e jogar na bolsa. Assim haveria mais recursos e menos necessidade de cortar, mas haveria também mais volatilidade. Em tempos normais, essa volatilidade não seria nada impressionante,mas há crises. Por isso a tendência é que se capitalize apenas parte do dinheiro.

Uma vantagem da idéia, naturalmente, é que a grana da previdência passaria a financiar a atividade econômica.

Gustavo Franco, na Época, sugere que o FGTS e o PIS sejam capitalizados; como poupança forçada eles pagam uma miséria de rendimento, que seria facilmente obtido no mercado financeiro com uma aplicação bem bunda. Nesse caso, o objetivo não seria aumentar a grana do FGTS ou do PIS, mas produzir o mesmo benefício com menos grana, o que permitiria cortar impostos sobre a folha de pagamento, o que seria evidentemente bom.

E consta que Gerdau andou falando em capitalização com Lula, e Lula achou interessante.

Embolado

Por enquanto, tudo embolado na composição do segundo governo Lula. Meirelles fica. Gushiken sai. Nada de muito diferente, muitos rumores contraditórios, Lula fala besteira na Venezuela, mas em casa é muito mais sensato. Não há muito o que comentar, no momento, sobre política nacional.

Back to the Cold Cow

De volta depois do feriado, atendendo aos numerosos pedidos dos dois leitores do blog!

Friday, November 03, 2006

Parada Técnica

Galera, pintou um trabalho aqui e o blog vai ter que ficar meio parado por uns quinze dias. Apareçam depois disso, ou escrevam o que quiserem aí nos comentários. Abração!

Thursday, November 02, 2006

Charge Atrasada



Faz um tempão que estou tentando colocar isso aqui, mas não sei como embed direto do Charges.com. Tive que esperar sair no YouTube, mas valeu a pena. O original, repito, é do Charges.com.

Cesar Benjamin se manda

Não sei porque não teve o menor destaque na imprensa paulista: o vice de HH, César Benjamin, vai sair do PSOL chutando o balde. Em entrevista ao JB semana passada, CB afirma que tentaram avacalhar o programa que ele tinha preparado para o partido. Aparentemente, o sujeito oculto da frase anterior é "O PSTU e seus dublês no PSOL, o MES de Luciana Genro e o CST de Babá". No segundo turno, a turma fez uma reunião em que decidiu que ninguém no PSOL poderia manifestar apoios públicos a Lula ou a Alckmin, e HH foi no senado dar a ordem. Problema: para essa reunião não foi chamado ninguém dos caras mais moderados do PSOL (os que eram mais orgânicos do PT - o Benjamin, o Plínio, o Chico Alencar, o Ivan Valente, o Edmílson).

HH estava certa em não apoiar ninguém. Exagerou selvagemente no tom ao criticar Lula no primeiro turno, chegando a criticá-lo como pai no debate da Globo. Seria ridículo que apoiasse alguém. Mas daí a impor a agenda de todo mundo no partido vai muita coisa.

O episódio nos lembra um negócio importante: esse pessoal que critica o PT por tê-los expulsado era a mesma turma que expulsou a Bete Mendes por votar no Tancredo, a Erundina, etc.

Continuando assim, o partido vai ter que mudar de nome para PSO. Ou PSTO.

Vergonha Nacional: Carlos Latuff

Carlos Latuff, um cartunista brasileio meio bobo-alegre que costuma publicar em jornalzinho militante (nada contra isso) e nos sites da galera de Seattle (idem), é um exemplo de como Osama sequestrou o movimento anti-globalização.

O cidadão, que faz umas charges meio bestas (daquelas Tio-Sam-cortando-garganta-de-criancinha), acaba de ficar em segundo lugar no concurso iraniano de charges sobre o holocausto. A charge mostra um árabe vestido com o uniforme de campo de concentração nazista, com um crescente no lugar da estrela de David. A mensagem, evidentemente imbecil, é que Israel (cujo governo, de fato, já cometeu vários crimes) é tão ruim quanto o genocídio nazista. Meio feio, visto que o sujeito já tem lá seus trinta anos e devia ter estudado alguma coisa sobre algo na vida.

Mas a vergonha maior não está no cartum (burrice todo mundo faz). O triste não é ter ganho o concurso, o triste é ter entrado. O concurso é obviamente um instrumento de manipulação do povo árabe feito por um de seus maiores opressores, o presidente do Irã, maior liderança, no momento, do anti-semitismo ("O socialismo dos analfabetos" - Isaac Deutscher) mundial.

Quem tiver estômago cheque o site do concurso (não vou colocar o link). A maioria das charges vencedoras é muito pior, e algumas são simplesmente enojantes.

O que faz um sujeito fazer uma merda dessas?

Arthur Virgílio

O senador, diplomata e lutador de jiu-jitsu (tudo pra dar certo) Arthur Virgílio disse a melhor frase da semana:

"Eu até queria fazer oposição construtiva, mas o governo Lula faz cada besteira..."

Pior eu, que quero fazer situação construtiva.

Wednesday, November 01, 2006

Amiano falou!!!

Do Amiano Marcelino:

"O que me deprime e a forma de fazer politica, e o fato de que as grandes questoes ainda estao sendo respondidas de maneiras definidas no final do governo Itamar"

Pra variar, Amiano disse tudo. PT contra PSDB, vai privatizar, não vai privatizar, quem o PMDB apoiará?, rapaz, nunca nesse país, CPI, etc. É tudo meio parecido, mesmo.

Agora, eu não estranharia se PT, PSDB, ou ambos, mudassem muito, ou, mesmo, acabassem nos próximos anos. Uma vez o Amiano (eu acho que foi ele, mas, se não foi, é porque deve ter dito coisa muito melhor), em uma importante sessão oracular, me disse que a solução era os dois acabarem. Do alto de todos os meus conhecimentos, digo com segurança: sei lá.

Blog do Mino Carta (2)

Reforça-se o boato sobre o Gerdau:

"Segunda-feira próxima, 6 de novembro, à noite, serão entregues os prêmios às empresas mais admiradas no Brasil, resultam de uma pesquisa anual entre empresários e executivos levada a cabo por CartaCapital e a Interscience. A solenidade será presidida pelo próprio reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva e, na qualidade de representante do empresariado nacional, falará Jorge Gerdau Johannpeter. (A Gerdau, entre as dez primeiras colocadas, ficou em quinto lugar, precedida por Natura, Vale do Rio Doce, Nestlé, Petrobras, nesta ordem). Muito interessante será ouvir Gerdau, que está sendo sondado para ocupar um ministério no próximo governo"

Blog do Mino Carta (1)

Tirada do Blog do Mino Carta:

"Chegou hoje ao Palácio do Planalto uma cesta de mimos, acompanhada por um bilhete de parabéns ao presidente reeleito. Assina Naji Nahas."

Ah, bom.

É interessante notar que, embora a Carta Capital tenha apoiado o Lula ostensivamente, Eles continuam fuçando essas histórias da telefonia. Dêem uma olhada, no mesmo blog, na discussão sobre possíveis ministros da justiça, e nos interesses conflitantes da Abril e da Veja.

Denis Rosenfeld

Em absoluto contraste com as besteiras do esquadrão de escória, Denis Rosenfeld expressa sua indignação contra a vitória de Lula de maneira bem mais inteligente. Em artigo de hoje na Folha, em meio a alguns exageros retóricos perfeitamente perdoáveis em texto político, reclama que o Brasil vinha em uma trajetória ética ascendente desde pouco antes do impeachment, e que agora houve um retrocesso. É um argumento forte.

Ninguém aqui vai defender a compra de apoios, e deve-se dar a Rosenfeld alguma razão.

Mas:

1) O progresso ético nos anos 90 não foi tão claro quanto Rosenfeld faz crer. Lembremos que, durante os anos 90, votamos em FHC, a despeito da compra de apoios, por ter controlado a inflação, e, na época, parecia haver uma alternativa ética - o PT, sobre o qual ainda não havia motivos para duvidar nesse, e somente nesse, aspecto. Neste caso, o mecanismo é semelhante, mas pode-se argumentar que, se houvesse, em 2006, uma alternativa confiável, a vida de Lula teria sido muito mais difícil. Alckmin é honesto, pessoalmente, mas, até onde se sabe, Lula também o é. O problema seriam os acordos políticos que ambos teriam que fazer para conseguir maoria parlamentar.

2) Por isso, devemos refletir se esse recuo foi consequência de um retrocesso moral ou da falta de um progresso político - a saber, a falta de um partido de direita em que se pudesse votar quando a esquerda falha eticamente (no período descrito por Rosenfeld como de progresso da ética, o PT desempenhava essa função).