Wednesday, November 01, 2006

Denis Rosenfeld

Em absoluto contraste com as besteiras do esquadrão de escória, Denis Rosenfeld expressa sua indignação contra a vitória de Lula de maneira bem mais inteligente. Em artigo de hoje na Folha, em meio a alguns exageros retóricos perfeitamente perdoáveis em texto político, reclama que o Brasil vinha em uma trajetória ética ascendente desde pouco antes do impeachment, e que agora houve um retrocesso. É um argumento forte.

Ninguém aqui vai defender a compra de apoios, e deve-se dar a Rosenfeld alguma razão.

Mas:

1) O progresso ético nos anos 90 não foi tão claro quanto Rosenfeld faz crer. Lembremos que, durante os anos 90, votamos em FHC, a despeito da compra de apoios, por ter controlado a inflação, e, na época, parecia haver uma alternativa ética - o PT, sobre o qual ainda não havia motivos para duvidar nesse, e somente nesse, aspecto. Neste caso, o mecanismo é semelhante, mas pode-se argumentar que, se houvesse, em 2006, uma alternativa confiável, a vida de Lula teria sido muito mais difícil. Alckmin é honesto, pessoalmente, mas, até onde se sabe, Lula também o é. O problema seriam os acordos políticos que ambos teriam que fazer para conseguir maoria parlamentar.

2) Por isso, devemos refletir se esse recuo foi consequência de um retrocesso moral ou da falta de um progresso político - a saber, a falta de um partido de direita em que se pudesse votar quando a esquerda falha eticamente (no período descrito por Rosenfeld como de progresso da ética, o PT desempenhava essa função).

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