Sunday, August 14, 2005

Pós-Lula (III): partidos de direita

Em tese, o cenário estaria montado para uma ressurgência dos partidos de direita. Acho que, em alguma medida, isso vai acontecer, e é normal, e é bom: não é bom que as opiniões conservadoras, que são sustentadas por parte expressiva de nossa sociedade, sejam representadas apenas por marginais, como têm sido.

O grande desafio, naturalmente, é dar aos partidos de direita as credenciais éticas mínimas para se posicionarem diante de uma imprensa livre como a brasileira. O episódio Roseana Sarney foi típico: em primeiro lugar, do quanto a aliança PSDB-PFL é mais frágil do que se pensa. Em segundo lugar, de que não há nenhuma possibilidade de renovação da direita a não ser pelo critério hereditário, dada a impossibilidade de jovens direitistas honestos subirem por dentro de máquinas partidárias que fariam o Delúbio chorar de vergonha e desintegrar-se no nada. E, em terceiro, por que ficou claro que no debate ético a candidatura do PFL não sobreviveu um mês antes de aparecer dinheiro de procedência duvidosa.

É claro, também, que o PFL de Bornhausen ainda é melhor que os PPs, PTBs e PLs da vida. Esses partidos, entretanto, sobreviverão, ou pelo menos seus membros têm gande chance de sobreviver: é absolutamente notável o quanto se tem poupado os recebedores do Mensalão. Só se ataca os pagadores, em uma curiosa e significativa inversão do procedimento habitual. Um impeachment de Lula seria (será?) a vitória dos recebedores do Mensalão contra os pagadores de Mensalão. Afinal, quando o inigualável Valdemar Costa Neto renunciou, Severino, timoneiro e intelectual orgânico de PDT, PPS e companhia, ficou emocionadíssimo, e manifestou a Costa Neto que aquela casa esperava ansiosamente seu retorno triunfal.

Enfim, a questão é saber se a direita consegue se purificar a tempo. Caso consiga, pode ser a grande vitoriosa do pós-Lula. Creio que Bornhausen, político habilidosíssimo, já notou isso, e por isso apostou antes na candidatura Roseana, e agora, na de César Maia. Mas a limpeza do PFL seria um expurgo de tal dimensão que exigiria um José Dirceu possuído pelo demônio.

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