É óbvio que o fato da oposição ao Lula ser 95% corrupta (são, fundamentalmente, a frente pró-Severino) não livra a cara do governo em nada. No Impeachment do Collor, o que não faltou foi safado votando indignado, e isso foi excelente. Se os parlamentares honestos não puderem contar com a hipocrisia dos safados, ninguém limpa aquilo ali nunca. Afinal, sempre há a possibilidade de novas denúncias, que prendam amanhã o hipócrita que denuncia hoje.
Supondo, entretanto, que a crise leve seja ao impeachment, seja à total paralisia do governo, há outra questão, legítima. Finda a era Lula, o que emerge politicamente? Isso sim me parece deprimente.
O PSDB é o partido mais forte da oposição, mas acho que as comemorações tucanas têm sido prematuras, por dois motivos.
Em primeiro lugar, sem a ameaça de Lula, não sei se a direita vai continuar vendo razão para sustentar o PSDB, que, antes de FHC se lançar como anti-Lula, caminhava a passos largos para a irrelevância; é possível que haja uma crise da centro-esquerda em geral, encerrando o ciclo que começa com a redemocratização. E não devemos subestimar o quanto o eleitorado conservador esteve confortável, durante os últimos anos, na companhia dos ex-Ação Popular do PSDB. Suspeito que o referendo sobre o desarmamento pode ser o ponto de partida da rearticulação da direita tradicional no Brasil.
Em segundo lugar, o pacto de governabilidade do Lula provavelmente envolvia não meter o dedo nas feridas do FHC, nas privatizações e, em especial, na questão da dívida pública, dobrada durante a era FHC. Em troca, ninguém enchia muito o saco do PT por ter se oposto ao neoliberalismo com tanto entusiasmo. Não há por que respeitar isso agora.
Uma coisa me parece certa: se o PSDB quiser se consolidar, vai ter que ter um plano para o pós-FHC, o que, evidentemente ainda não tem.
Sunday, August 14, 2005
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