Saturday, March 18, 2006

Veja e a Política Externa

Poucas coisas mostram o bizarro despreparo dos jornalistas da revista Veja como sua discussão sobre a política externa do Lula. Evidentemente, a política do Celso Amorim teve muitas enfeitadas que não deram em nada, como a cúpula com os países árabes. Mas na revista dessa semana eles descrevem a pólítica externa como baseada em dois projetos, "ambos fracassados":

1- Conquistar o lugar no conselho de segurança. Isso deu errado, mesmo. Mas eu acho certo continuar tentando. Se houvesse a reforma e a vaga latino-americana ficasse com outro país, imaginem o que diriam do Itamaraty. Vale dizer, significou uma aproximação com Alemanha, Japão e Índia.

2- Liderar os países pobres. Para entender como Veja pode pensar que isso deu errado, devemos entender que a matéria desta semana é um elogio da política externa, que "finalmente" passou a privilegiar os países desenvolvidos, como a Inglaterra. Com isso, Veja mostra que não entendeu nem a viagem nem a política externa.

Na rodada de Doha da OMC, os países ricos prometeram eliminar os subsídios dos produtos agrários, base da economia do terceiro mundo. Pois bem, na subsequente conferência de Cancún, a União Européia deu pra trás no "eliminar", que interpretou como "reduzir um pouquinho bem pequenininho". Como resultado, Brasil, África do Sul, Índia e China decidiram que suas bundas não eram água benta (em que todo mundo passa a mão), e formaram o G-20.

Como resultado, pouco tempo depois os países desenvolvidos, no "pacote de Julho", voltavam a falar de "eliminação", que em Hong Kong foi programada até 2013.

Problema: em Hong Kong fixou-se um prazo, que termina daqui a um mês, para regulamentar isso. Ninguém fez nada até agora. O G-20 teme que seja enrolação do Peter Mandelsohn (negociador da UE), que depois vai usar o decurso de prazo pra inventar outra sacanagem.

Por isso Lula foi a Londres, para tentar que o Reino Unido (que critica a política agrária européia, defendida com unhas e dentes pela França) tente reiniciar as negociações. Lembremos que Mandelsohn foi ministro de Blair.

Evidentemente, tanto a política com o terceiro mundo quanto a política com o primeiro mundo visam favorecer o Brasil nas negociações da OMC.

Nada disso tem na Veja.

1 comment:

Anonymous said...

A Veja é a primeira propaganda eleitoral "gratuita" que é paga *diretamente* pelo próprio eleitorado. Eles perderam totalmente a compostura (ou resolveram se tornar resposta à Carta Capital).