A crise política pode ter saído de controle essa semana, esses dias.
A Veja denuncia que o PT recebeu dinheiro de Cuba. Se comprovado, o PT perde o registro imediatamente, e uma porcentagem alta dos cargos públicos brasileiros, inclusive a presidência, perdem seus principais candidatos em 2006. Eu teria dificuldade de acreditar que alguém no PT foi burro a ponto de aceitar esse dinheiro, mas hoje em dia não tenho mais dificuldade de acreditar em nada. E, a propósito, eu ficaria mais feliz se fosse suborno. Mas isso eu sei que não foi. O PT provavelmente se esquivaria de criticar Castro com ou sem grana, o que eu acho muito pior.
PT e PSDB, com a mentalidade de centro acadêmico que os caracteriza, parecem ter perdido todo senso de proporção. O PT fez um programa de TV suicida partindo pra ignorância contra a oposição, e o PSDB, que aparentemente está deixando o Arthur Virgílio decidir coisas, pediu abertura de uma CPI do caixa 2, para se arrepender logo depois. O programa do PSDB dessa semana deve ser mais agressivo ainda.
O Jacques Wagner tentou contemporizar, argumentando que os dois partidos são muito parecidos, partidos primos. Mas o Arthur Virgílio contrapôs o argumento que também o são Israelenses e Palestinos, o que dá o tom do que se seguirá.
Os dois partidos perderam o controle de seus cães de guerra, Ideli Salvati e Arthur Virgílio. Está faltando estadista.
E o que é foda: a economia vai cada vez melhor. Justo quando consertamos o mais difícil, o que demorou uma década, uma briga de departamento da USP pode afundar o país com a ajuda do Roberto Jefferson.
Saturday, October 29, 2005
Thursday, October 27, 2005
Guinada à direita (2)
A Teresa Cruvinel hoje levanta também a possibilidade de que PT e PSDB se sangrem até a morte, abrindo caminho para as forças políticas que ganharam o referendo. Mesmo que isso não se materialize em candidato em 2006, o próximo governo, seja tucano ou petista, está ferrado. No dizer de Roberto Brandt, do PFL, como um governo tucano vai se relacionar com a ala modernizante do PT, que programaticamente lhe é muito próxima? Na opinião desse blog, esse foi todo o problema do governo Lula.
Se bem que também pode ser que os dois partidos se ataquem por que sabem que se o PFL crescer, eles abatem os caras na decolagem, de tanto esqueleto que eles têm no armário (como aconteceu no episódio Roseana). Se for isso, acho arriscado. Se o PFL lançar um desses moleques de doze anos da CPI, a sujeira a ser descoberta não é tão fácil de ligar ao candidato (dêem algum tempo ao garoto), e se bobear a coisa só pega quando ele tiver crescido nas pesquisas. Aí a Veja vira um panfleto, e voltamos à situação de antes de 1989.
Se bem que também pode ser que os dois partidos se ataquem por que sabem que se o PFL crescer, eles abatem os caras na decolagem, de tanto esqueleto que eles têm no armário (como aconteceu no episódio Roseana). Se for isso, acho arriscado. Se o PFL lançar um desses moleques de doze anos da CPI, a sujeira a ser descoberta não é tão fácil de ligar ao candidato (dêem algum tempo ao garoto), e se bobear a coisa só pega quando ele tiver crescido nas pesquisas. Aí a Veja vira um panfleto, e voltamos à situação de antes de 1989.
Tuesday, October 25, 2005
Guinada à direita
Como vocês viram primeiro aqui no blog (odeio quando um pretensioso filhadaputa diz isso), a direita está com a porta aberta, mas sem quem seja capaz de liderá-la, mais ou menos como o PT em 1998. Vejam hoje as colunas do Merval e essa entrevista no UOL.
Mas há esperança! Afinal, eu não dou uma dentro, sou Flamengo, votei no Lula, de maneira que o mais provável é que o maoísmo seja implantado no Brasil em breve. Ou o regime de Faraós, sei lá.
Mas há esperança! Afinal, eu não dou uma dentro, sou Flamengo, votei no Lula, de maneira que o mais provável é que o maoísmo seja implantado no Brasil em breve. Ou o regime de Faraós, sei lá.
Sunday, October 23, 2005
Referendo (final)
Saldo do referendo:
1) Maior derrota de todos os tempos para os institutos de pesquisa, que previam 10-15 pontos de vantagem para o não, e a diferença foi o dobro disso.
2) Provável aumento dos casos de posse de arma. É improvável que a turma da bala não aproveite pra mudar o estatuto, e muita gente, por pura desinformação, vai achar que agora liberou geral.
3) Aumento de visibilidade dos extremos do espectro político, como o MV-Brasil e o PSTUpido.
4) Mau começo, na minha opinião, para o renascimento da direita brasileira. Quem está na TV hoje são o Alberto Fraga, o Minha Creuza, e, principalmente, o Fleury. Adesão quase invisível da direita civilizada, do César Maia ao Denis Rosenfeld. Nenhum empresário.
5) Sinal de ocaso de uma geração de militantes de esquerda. Depoimento muito bobo do cara do Viva Rio. Nenhum sindicalista entrevistado na TV hoje. Absoluta timidez dos movimentos sociais diante da questão.
6) Ganhou a Veja. Que na edição de hoje critica Alckmin e Serra por serem viadinhos que não batem o suficiente no governo.
7) Por mais distorcida que fosse a lógica da campanha do Sim, algum senso de direitos pessoais eles despertaram, mais ou menos como na época da revolta da vacina. Novamente, entretanto, lamento que tenha sido essa a causa que causou essa discussão, pois temo como ela será direcionada pela liderança que ganhou força.
8) Por mais que, enfim, o impacto real sobre a violência fosse ser mínimo de qualquer maneira, houve mesmo no Brasil desses últimos dias um clima de discussão cívica extraordinariamente saudável. E provavelmente foi uma boa idéia começar a conversar nesse nível com um assunto que não tinha muita consequência, mesmo.
1) Maior derrota de todos os tempos para os institutos de pesquisa, que previam 10-15 pontos de vantagem para o não, e a diferença foi o dobro disso.
2) Provável aumento dos casos de posse de arma. É improvável que a turma da bala não aproveite pra mudar o estatuto, e muita gente, por pura desinformação, vai achar que agora liberou geral.
3) Aumento de visibilidade dos extremos do espectro político, como o MV-Brasil e o PSTUpido.
4) Mau começo, na minha opinião, para o renascimento da direita brasileira. Quem está na TV hoje são o Alberto Fraga, o Minha Creuza, e, principalmente, o Fleury. Adesão quase invisível da direita civilizada, do César Maia ao Denis Rosenfeld. Nenhum empresário.
5) Sinal de ocaso de uma geração de militantes de esquerda. Depoimento muito bobo do cara do Viva Rio. Nenhum sindicalista entrevistado na TV hoje. Absoluta timidez dos movimentos sociais diante da questão.
6) Ganhou a Veja. Que na edição de hoje critica Alckmin e Serra por serem viadinhos que não batem o suficiente no governo.
7) Por mais distorcida que fosse a lógica da campanha do Sim, algum senso de direitos pessoais eles despertaram, mais ou menos como na época da revolta da vacina. Novamente, entretanto, lamento que tenha sido essa a causa que causou essa discussão, pois temo como ela será direcionada pela liderança que ganhou força.
8) Por mais que, enfim, o impacto real sobre a violência fosse ser mínimo de qualquer maneira, houve mesmo no Brasil desses últimos dias um clima de discussão cívica extraordinariamente saudável. E provavelmente foi uma boa idéia começar a conversar nesse nível com um assunto que não tinha muita consequência, mesmo.
Saturday, October 22, 2005
Marilavo de Chauirvalho
Todos ouvimos o deprimente depoimento de Marilena Chauí afirmando que o governo Lula roubou por ter caído em uma armadilha tucana. Ele agora foi reeditado em outro contexto. Vejam:
"Tal como expliquei aqui semanas atrás, o presidente George W. Bush, embriagado por altos planos para o Oriente Médio, levou até o limite da imprudência a aposta no unanimismo bipartidário. Suas concessões ao partido adversário, que começaram com uma política fiscal inversa à prometida em campanha e culminaram na nomeação de uma contribuinte de Al Gore para a Suprema Corte, passando por uma tolerância quase suicida para com os imigrantes ilegais, receberam finalmente um “basta” da base conservadora. Isso já era esperado aqui desde muito tempo. Só é novidade para a mídia brasileira, que, após ter pintado Bush com as cores do conservadorismo radical, não podia mesmo enxergá-lo com suas dimensões reais de conciliador compulsivo. Vista daqui, a mídia brasileira é uma infindável comédia de erros." (Carvalho, em http://www.olavodecarvalho.org/semana/051010dc.htm)
Ou seja, o problema do Bush é que ele era moderado (provavelmente era também do Fórum de São Paulo). Bom, pra quem acha que a indisciplina fiscal foi concessão aos democratas, vejam o número de projetos fisiológicos aprovados em cada ano nos EUA, e comparem as administrações Bush e Clinton.
2005 - 13,997
2004 - 10,656
2003 - 9,362
2002 - 8,341
2001 - 6,333
2000 - 4,326
1999 - 2,838
1998 - 2100
1997 - 1,596
1996 - 958
1995 - 1439
Fonte: Andrew Sullivan
Isso, somado ao fato de que o principal fator de desequilíbrio fiscal nos EUA foi o corte de impostos de Bush, além, obviamente, da guerra, duas causas solidamente republicanas.
Está provado: Olavo de Carvalho é a Marilena Chauí do Bush.
Friday, October 21, 2005
A classe petista
Circula a idéia de que os petistas são uma nova classe, pequenos burocratas envolvidos na administração da sociedade por meio do Estado, dos sindicatos, etc. O Reinaldo de Azevedo diz algo assim, o Francisco de Oliveira também. O Azevedo cita o Milovan Djilas, dissidente Iugoslavo inteligente pra cacete, que não merecia essa.
Eu acho isso uma bobagem. Senão, vejamos.
O Milovan Djilas chamava a nomenklatura socialista de classe por que os meios de produção estavam estatizados, e, portanto, a autoridade absoluta sobre a política significava controle dos meios de produção. Vale dizer, na bibliografia sobre o Leste Europeu há uma grande controvérsia sobre isso, visto que há quem sustente que na verdade a administração econômica tinha muito mais autonomia, visto, inclusive, que os stalinos não entendiam porra nenhuma de economia. Suspeito que isso se aplique ao caso brasileiro, mas deixemos isso de lado por enquanto.
No Brasil, há um forte processo de desestatização. Há somente dois mecanismos pelos quais os petistas influenciam na disposição dos meios de produção. (1) por estarem no governo, e controlarem recursos do governo e empregos públicos, e (2) por terem influência, como sindicalistas, sobre os fundos de pensão.
O mecanismo (1) obviamente não pode caracterizar uma classe, visto que daqui a um ano eles perdem todo o poder. A tradição sociológica exige que classe seja um negócio mais ou menos estável. Evidentemente, pode-se tentar definir os políticos como um todo como classe, envolvendo também os outros partidos, etc., e estabelecendo que eles se revezam no poder. Eu acho isso infrutífero, por vários motivos, mas de qualquer maneira não é o que se tem dito.
O mecanismo (2) é mais promissor, mas desconheço que o PT exerça controle monolítico sobre os fundos de pensão. O poder dos sindicalistas na administração dos fundos existe, mas é compartilhado com gestores do governo (e aqui se aplica o raciocínio acima). De fato, a maior manipulação política dos fundos de que se tem notícia foi durante a privatização do governo FHC (e não, não acho que os tucanos sejam uma classe, ver raciocínio acima).
Enfim, o máximo que se pode dizer é que um pequeno grupo de petistas participa, segundo o revezamento eleitoral, da gestão de recursos públicos ou semi-públicos, em cuja gestão atuam conjuntamente com vários outros grupos políticos e econômicos.
E a principal conclusão disso tudo é que, por menos relevante que seja um fato, pode-se falar dele com palavras complicadas. Se você gosta desse tipo de coisa, não gosta de mim.
Eu acho isso uma bobagem. Senão, vejamos.
O Milovan Djilas chamava a nomenklatura socialista de classe por que os meios de produção estavam estatizados, e, portanto, a autoridade absoluta sobre a política significava controle dos meios de produção. Vale dizer, na bibliografia sobre o Leste Europeu há uma grande controvérsia sobre isso, visto que há quem sustente que na verdade a administração econômica tinha muito mais autonomia, visto, inclusive, que os stalinos não entendiam porra nenhuma de economia. Suspeito que isso se aplique ao caso brasileiro, mas deixemos isso de lado por enquanto.
No Brasil, há um forte processo de desestatização. Há somente dois mecanismos pelos quais os petistas influenciam na disposição dos meios de produção. (1) por estarem no governo, e controlarem recursos do governo e empregos públicos, e (2) por terem influência, como sindicalistas, sobre os fundos de pensão.
O mecanismo (1) obviamente não pode caracterizar uma classe, visto que daqui a um ano eles perdem todo o poder. A tradição sociológica exige que classe seja um negócio mais ou menos estável. Evidentemente, pode-se tentar definir os políticos como um todo como classe, envolvendo também os outros partidos, etc., e estabelecendo que eles se revezam no poder. Eu acho isso infrutífero, por vários motivos, mas de qualquer maneira não é o que se tem dito.
O mecanismo (2) é mais promissor, mas desconheço que o PT exerça controle monolítico sobre os fundos de pensão. O poder dos sindicalistas na administração dos fundos existe, mas é compartilhado com gestores do governo (e aqui se aplica o raciocínio acima). De fato, a maior manipulação política dos fundos de que se tem notícia foi durante a privatização do governo FHC (e não, não acho que os tucanos sejam uma classe, ver raciocínio acima).
Enfim, o máximo que se pode dizer é que um pequeno grupo de petistas participa, segundo o revezamento eleitoral, da gestão de recursos públicos ou semi-públicos, em cuja gestão atuam conjuntamente com vários outros grupos políticos e econômicos.
E a principal conclusão disso tudo é que, por menos relevante que seja um fato, pode-se falar dele com palavras complicadas. Se você gosta desse tipo de coisa, não gosta de mim.
Formulário
Se você quiser participar do debate atual sobre a crise política brasileira, é só completar o seguinte formulário:
Bláblábláblábláblábláblá, portanto ____________ é totalitário (a).
Complete com o PT/a mídia conforme sua orientação partidária.
Bláblábláblábláblábláblá, portanto ____________ é totalitário (a).
Complete com o PT/a mídia conforme sua orientação partidária.
Thursday, October 20, 2005
O artista e seu instrumento
Gosto muito mesmo de arte moderna, muito de arte contemporânea, mas tem coisa que pelamordedeus. Na lista do maior prêmio das artes britânicas, o Turner, tem uma tela chamada quadrado preto (uma tela quadrada, pintada de preto). E o melhor parecer se um pintor que só pinta bunda. Ah, bom.
Wednesday, October 19, 2005
Oposição Cubana
A oposição social-democrata cubana continua em cana, mas continua ativa. Não deixem de ver a revista deles. Ainda pretendo falar muito deles, e de seus planos para a transição cubana, em outras oportunidades.
Tuesday, October 18, 2005
Referendo II
Aliás, vale dizer, para quem acha que o desarmamento é coisa de regime totalitário, que não apenas a extrema-esquerda, mas também a extrema-direita, vota não.
Thursday, October 13, 2005
Tuesday, October 11, 2005
Graziano
Excelente artigo do Graziano hoje no Globo sobre uma nova lei de proteção de animais que, mesmo para os padrões dos legisladores brasileiros, é demais. Ela limita a jornada de trabalho dos animais de carga a 6 horas por dia (menos que a dos humanos), proíbe que uma carroça seja puxada por animais de espécies diferentes, e classifica os ratos, gambás e outras pragas urbanas como "animais filantrópicos". Proíbe a inseminação artificial e milhares de outras formas de progresso tecnológico. Pior do que a lei em si é imaginar os legisladores que acharam isso tudo razoável.
Saturday, October 08, 2005
Bush e a Suprema Corte
O Bush nomeou uma advogada completamente desconhecida para a suprema corte. A totalidade dos comentaristas manifestou sua perplexidade, e os conservadores estão realmente possessos, por esperarem a nomeação de um juiz conservador consagrado. Há um consenso de que a nomeação foi sintoma da tendência de Bush de privilegiar a lealdade (ela foi advogada dele) em detrimento da competência.
Não acho que seja isso.
A questão é que com as duas últimas nomeações Bush poderia começar a mexer no direito ao aborto. Como ninguém sabe o que essa senhora acha da vida, sua posição sobre o assunto fica em aberto. E eu acho que é isso mesmo que o Bush quer. Se ele nomeasse um conservador, começaria uma guerra civil no país. Se nomeasse um liberal, idem. Nomeando a tal da dona, deixa tudo em aberto, e prefere ser criticado por ser meio safado do que por ser um traidor da causa.
É como se o PT pudesse nomear o ministro do supremo que formaria uma maioria contra o direito da propriedade privada. Se o Lula nomeia o Stédile, é guerra civil. Se nomeia o Olavo de Carvalho, também. Aí ele vai, nomeia o Delúbio, todo mundo acha ele meio sem-vergonha, mas ninguém faz guerra civil.
No fundo, a abertura dessa segunda vaga na suprema corte foi um azar pro Bush, que provavelmente queria manter a reputação de conservador moral sem ter que fazer nada de prático a respeito.
Não acho que seja isso.
A questão é que com as duas últimas nomeações Bush poderia começar a mexer no direito ao aborto. Como ninguém sabe o que essa senhora acha da vida, sua posição sobre o assunto fica em aberto. E eu acho que é isso mesmo que o Bush quer. Se ele nomeasse um conservador, começaria uma guerra civil no país. Se nomeasse um liberal, idem. Nomeando a tal da dona, deixa tudo em aberto, e prefere ser criticado por ser meio safado do que por ser um traidor da causa.
É como se o PT pudesse nomear o ministro do supremo que formaria uma maioria contra o direito da propriedade privada. Se o Lula nomeia o Stédile, é guerra civil. Se nomeia o Olavo de Carvalho, também. Aí ele vai, nomeia o Delúbio, todo mundo acha ele meio sem-vergonha, mas ninguém faz guerra civil.
No fundo, a abertura dessa segunda vaga na suprema corte foi um azar pro Bush, que provavelmente queria manter a reputação de conservador moral sem ter que fazer nada de prático a respeito.
Friday, October 07, 2005
Anti-Minha Creuza
É raro, mas de vez em quando aparece um sujeito que merece os culhões que Deus lhe deu. Isso é algo que todo mundo precisa entender: os valores americanos são manipulados para toda espécie de sacanagem (como, aliás, os nossos), mas eles existem, sim. E quem sabe alguém lê a reportagem para o Minha Creuza, pra ele saber o que é um militar de verdade, do tipo que ainda há no exército que o expulsou, que na Itália matou muitos como ele.
IgNobel
Taí, gostei do IgNobel de economia. Na pior das hipóteses, correr atrás do negócio com uma marreta deve ser divertido.
Thursday, October 06, 2005
Desarmamento
Continuo mal impressionado com o nível do debate sobre o desarmamento. Ontem o Jô Soares declarou voto contrário à proibição. Até aí, tudo bem. Mas usou como argumento o seguinte: os totalitarismos, como o nazismo e o bolchevismo, desarmaram a população.
Besteira. Se isso prova alguma coisa, é que o totalitarismo leva ao desarmamento, não o contrário. Aliás, os dois totalitarismos em questão foram implementados por grupos que contavam com milícias particulares (as freikorps e a guarda vermelha). Se Weimar e o Kerensky tivessem desarmado a população, a história teria sido outra.
Outra analogia histórica que vem sendo utilizada: a revolução americana, única exclusivamente democrática, garantiu o direito de ter armas. É verdade. Garantiu aos homens brancos o direito de ter armas. O direito de portar armas garantia a esfera do totalitarismo de fazenda. Mas, novamente, esse argumento é irrelevante; pode-se argumentar que o problema é a restrição aos negros, não a permissão aos brancos.
A verdade é que não acho que nenhuma das analogias históricas acima tenha qualquer relevância para a situação brasileira. O problema é só o seguinte: algumas pessoas conseguem evitar crimes por que possuem armas. Outras pessoas morrem em consequência de gente que não cometeria o crime (ou o cometeria com muito menos força letal) se não tivesse arma. Quem você quer condenarà morte, o primeiro grupo ou o segundo? Eu voto para salvar o segundo. Respeito totalmente quem prefere salvar o primeiro.
Mas não custava nada manter o debate em torno das questões concretas.
Besteira. Se isso prova alguma coisa, é que o totalitarismo leva ao desarmamento, não o contrário. Aliás, os dois totalitarismos em questão foram implementados por grupos que contavam com milícias particulares (as freikorps e a guarda vermelha). Se Weimar e o Kerensky tivessem desarmado a população, a história teria sido outra.
Outra analogia histórica que vem sendo utilizada: a revolução americana, única exclusivamente democrática, garantiu o direito de ter armas. É verdade. Garantiu aos homens brancos o direito de ter armas. O direito de portar armas garantia a esfera do totalitarismo de fazenda. Mas, novamente, esse argumento é irrelevante; pode-se argumentar que o problema é a restrição aos negros, não a permissão aos brancos.
A verdade é que não acho que nenhuma das analogias históricas acima tenha qualquer relevância para a situação brasileira. O problema é só o seguinte: algumas pessoas conseguem evitar crimes por que possuem armas. Outras pessoas morrem em consequência de gente que não cometeria o crime (ou o cometeria com muito menos força letal) se não tivesse arma. Quem você quer condenarà morte, o primeiro grupo ou o segundo? Eu voto para salvar o segundo. Respeito totalmente quem prefere salvar o primeiro.
Mas não custava nada manter o debate em torno das questões concretas.
Wednesday, October 05, 2005
PMR (PR?)
Rapaz, o tal do PMR é ainda mais esquisito do que se pensava: o Mangabeira é presidente do negócio!!!!!!! Ouçam bem: o Mangabeira é presidente do partido do vice-presidente! É, rapaz, só quando morcego doar sangue, mesmo.
Esperemos agora a coalizão PMR-PSOL, com a chapa Mangabeira-Clodovil.
Esperemos agora a coalizão PMR-PSOL, com a chapa Mangabeira-Clodovil.
Meio confuso.
Está meio confuso.
O Mainardi foi a Brasília cobrir a eleição do Rebelo e voltou meio desanimado. Segundo ele, vários políticos da oposição desistiram de pedir o impeachment, e o glorioso Jader Barbalho (segundo o Mainardi, alguém que deveria "saber tudo sobre o assunto") disse que o problema é que, se pegar gente por caixa 2, não sobra um.
Agora, isso é que eu queria saber: era só caixa 2, mesmo? Eu não acredito nisso não. Pode não ter havido desvio direto de dinheiro público, mas algum jogo de influências tem que ter havido. O empréstimo do Valério para o PT é um absurdo, e já está claro que a profissão dele era transferir dinheiro de empresário para político, de político para político, etc. Mas de onde saiu o dinheiro?
Até agora, há duas hipóteses que eu já vi: era o Banco Rural tentando influenciar o governo em um negócio lá deles, ou era o Daniel Dantas idem. O depoimento do Dantas deixou um impasse: a Heloísa Helena deu para o Luís Estevão ou o outro deputado do PT é pedófilo? Ou seja, não está com cara de que ninguém vai descobrir nada, não.
E, se for jogo de influência, aí é que ninguém investiga mesmo. Não é só que o jogo de influência é responsável pela totalidade do caixa 2, é responsável pelo caixa 1, também.
Que bonito.
O Mainardi foi a Brasília cobrir a eleição do Rebelo e voltou meio desanimado. Segundo ele, vários políticos da oposição desistiram de pedir o impeachment, e o glorioso Jader Barbalho (segundo o Mainardi, alguém que deveria "saber tudo sobre o assunto") disse que o problema é que, se pegar gente por caixa 2, não sobra um.
Agora, isso é que eu queria saber: era só caixa 2, mesmo? Eu não acredito nisso não. Pode não ter havido desvio direto de dinheiro público, mas algum jogo de influências tem que ter havido. O empréstimo do Valério para o PT é um absurdo, e já está claro que a profissão dele era transferir dinheiro de empresário para político, de político para político, etc. Mas de onde saiu o dinheiro?
Até agora, há duas hipóteses que eu já vi: era o Banco Rural tentando influenciar o governo em um negócio lá deles, ou era o Daniel Dantas idem. O depoimento do Dantas deixou um impasse: a Heloísa Helena deu para o Luís Estevão ou o outro deputado do PT é pedófilo? Ou seja, não está com cara de que ninguém vai descobrir nada, não.
E, se for jogo de influência, aí é que ninguém investiga mesmo. Não é só que o jogo de influência é responsável pela totalidade do caixa 2, é responsável pelo caixa 1, também.
Que bonito.
Monday, October 03, 2005
Chávez
Chávez está no Roda Viva. Acaba de dizer que em Cuba não há ditadura, absolutamente. Ah, bom.
Plebiscito (II)
Os dois lados no plebiscito estão usando dados estatísticos. O mais significativo, na minha opinião, é a porcentagem dos crimes por motivos pessoais, que certamente seriam afetados pela venda de armas legais, ao contrário das vítimas do tráfico. Mas fica a advertência: esse assunto é difícil pra cacete de ser estudado empiricamente.
Para começar: essas estatísticas "no país X o número de armas é alto/baixo e o número de homicídios é alto/baixo" querem dizer pouquíssima coisa. Na própria reportagem da Veja há exemplos de dois países onde a venda de armas é proibida (Jamaica e Japão) com índices completamente diferentes. Só por esse exemplo já se vê que há fatores sociais que influenciam decisivamente o número de homicídios. Seria possível fazer uma análise estatística controlando para uma série de variáveis sócio-econômicas, mas até hoje não vi nada disso no debate brasileiro.
Mas o realmente difícil, metodologicamente, é "estabelecer o contra-factual": isto é, saber se, em um dado contexto, mantendo tudo igual, o número de armas influenciaria a violência.
Por exemplo, no filme do Michael Moore ele dá a informação de que várias das regiões americanas que mais têm armas são as que têm menor violência. Os opositores da proibição consideram esse o dado mais importante: afinal, o importante é o número de crimes que não acontecem por que a população está armada.
Agora, vai lá e mede isso. Só pra ter uma idéia da dificuldade do negócio, não bastaria ter dados sobre crimes frustrados; seria necessário saber quantos cidadãos tentariam assaltar casas se não tivessem medo do morador estar armado.
O contra-factual dos opositores da proibição é esse: se essa gente (por exemplo, os gaúchos) não estivessem armados, o crime seria maior lá. Mas o Rio Grande do Sul também tem várias outras características obviamente relacionadas ao nível de violência, como qualidade de vida.
Enfim, está com cara de que, se for com base nos dados apresentados até agora, ninguém vota em nada.
Para começar: essas estatísticas "no país X o número de armas é alto/baixo e o número de homicídios é alto/baixo" querem dizer pouquíssima coisa. Na própria reportagem da Veja há exemplos de dois países onde a venda de armas é proibida (Jamaica e Japão) com índices completamente diferentes. Só por esse exemplo já se vê que há fatores sociais que influenciam decisivamente o número de homicídios. Seria possível fazer uma análise estatística controlando para uma série de variáveis sócio-econômicas, mas até hoje não vi nada disso no debate brasileiro.
Mas o realmente difícil, metodologicamente, é "estabelecer o contra-factual": isto é, saber se, em um dado contexto, mantendo tudo igual, o número de armas influenciaria a violência.
Por exemplo, no filme do Michael Moore ele dá a informação de que várias das regiões americanas que mais têm armas são as que têm menor violência. Os opositores da proibição consideram esse o dado mais importante: afinal, o importante é o número de crimes que não acontecem por que a população está armada.
Agora, vai lá e mede isso. Só pra ter uma idéia da dificuldade do negócio, não bastaria ter dados sobre crimes frustrados; seria necessário saber quantos cidadãos tentariam assaltar casas se não tivessem medo do morador estar armado.
O contra-factual dos opositores da proibição é esse: se essa gente (por exemplo, os gaúchos) não estivessem armados, o crime seria maior lá. Mas o Rio Grande do Sul também tem várias outras características obviamente relacionadas ao nível de violência, como qualidade de vida.
Enfim, está com cara de que, se for com base nos dados apresentados até agora, ninguém vota em nada.
Plebiscito (I)
A capa da Veja dessa semana mostra que a direita realmente perdeu a vergonha. O plebiscito vai dar base popular a um movimento que até agora se limitava à elite política. Estou falando da direita de verdade, não o PSDB, coitado. Não é nem mesmo a direita evangélica, é a galera pesada, mesmo.
Claro, não é necessário ser de direita para ser contra o desarmamento. Eu, por exemplo, vou votar pela proibição, mas acho que a proposta tem um furo gravíssimo, que é o desarmamento rural; o cara que mora a seis horas da cidade mais próxima não pode ser obrigado a esperar a polícia chegar se for assaltado.
Enfim, embora não haja relação necessária, há relação empírica; a maioria dos militantes contra a proibição é de direita, mesmo que os eleitores não sejam. E os caras estão tendo um tremendo espaço de mídia a favor. O filho do Minha Creuza saiu hoje no Jornal Nacional dando um depoimento; e deve ter gente que acha que foi uma vitória contra o Fórum de São Paulo.
Claro, não é necessário ser de direita para ser contra o desarmamento. Eu, por exemplo, vou votar pela proibição, mas acho que a proposta tem um furo gravíssimo, que é o desarmamento rural; o cara que mora a seis horas da cidade mais próxima não pode ser obrigado a esperar a polícia chegar se for assaltado.
Enfim, embora não haja relação necessária, há relação empírica; a maioria dos militantes contra a proibição é de direita, mesmo que os eleitores não sejam. E os caras estão tendo um tremendo espaço de mídia a favor. O filho do Minha Creuza saiu hoje no Jornal Nacional dando um depoimento; e deve ter gente que acha que foi uma vitória contra o Fórum de São Paulo.
Saturday, October 01, 2005
Tom DeLay
Se todos os escândalos atuais da política brasileira (do Mensalão ao escândalo da arbitragem) tivessem sido feitos por um só cara, seria o Tom DeLay, líder dos republicanos na câmara americana, que acaba de renunciar, como seu equivalente severinístico.
Para entender DeLay, imaginem se o Zé Dirceu, em vez de ter sido guerrilheiro, tivesse virado dedo-duro do DOI-CODI. E imaginem que o PT, ao invés de ter sido eleito tendo que provar sua fidelidade com o sistema, fosse tão umbilicalmente ligado ao que o sistema tem de pior que pudesse fazer qualquer barbaridade. E imaginem que o espírito de Idi Amin Dada incorporasse no Dirceu. Pronto, Tom DeLay.
O ponto alto de sua carreira, na minha opinião, ocorreu quando foi encarregado de fazer um projeto qualquer para reduzir algum tipo de sacanagem (acho que financiamento ilegal de campanha), e, junto com outro safado, fez um projeto que, propositadamente, não resolvia nada. O melhor era o nome da lei, batizada com o nome dos dois autores: lei "DeLay-Dolittle" (em português, "atrase e faça pouco").
Para entender DeLay, imaginem se o Zé Dirceu, em vez de ter sido guerrilheiro, tivesse virado dedo-duro do DOI-CODI. E imaginem que o PT, ao invés de ter sido eleito tendo que provar sua fidelidade com o sistema, fosse tão umbilicalmente ligado ao que o sistema tem de pior que pudesse fazer qualquer barbaridade. E imaginem que o espírito de Idi Amin Dada incorporasse no Dirceu. Pronto, Tom DeLay.
O ponto alto de sua carreira, na minha opinião, ocorreu quando foi encarregado de fazer um projeto qualquer para reduzir algum tipo de sacanagem (acho que financiamento ilegal de campanha), e, junto com outro safado, fez um projeto que, propositadamente, não resolvia nada. O melhor era o nome da lei, batizada com o nome dos dois autores: lei "DeLay-Dolittle" (em português, "atrase e faça pouco").
PMR
Vejamos se eu entendi: a Igreja Universal criou um partido, o PMR (que já vai mudar de nome para PR). Até aí, tudo bem. Chamou o vice-presidente para entrar, ele entrou. É meio esquisito, mas tudo bem. Aparentemente, seria uma tentativa de reconstituição da base governista que estava no PL.
Mas aí chamaram o Mangabeira Unger, que acaba de romper com o PDT por que o partido, em uma demonstração de que o oportunismo sem querer pode levar à lucidez, deve lançar um "defensor do neoliberalismo" (o Buarque) para a presidência! Bom, quem, sabe, talvez, em uma hipótese remota fruto de minhas fantasias paranóicas, o vice-presidente seja de algum modo sutil envolvido com o atual governo.
Por isso o Mangabeira acaba de lançar a tese de que se trata de uma virada de mesa, como a Aliança Liberal de 1929 (pois é). Pessoas anteriormente envolvidas com o sistema se tornam dissidentes e passam a pregar mudança. Bem observou o Merval Pereira hoje que Mangabeira pode estar meio confuso. Bom, eu estou.
Mesmo para os padrões brasileiros, esse partido promete.
Mas aí chamaram o Mangabeira Unger, que acaba de romper com o PDT por que o partido, em uma demonstração de que o oportunismo sem querer pode levar à lucidez, deve lançar um "defensor do neoliberalismo" (o Buarque) para a presidência! Bom, quem, sabe, talvez, em uma hipótese remota fruto de minhas fantasias paranóicas, o vice-presidente seja de algum modo sutil envolvido com o atual governo.
Por isso o Mangabeira acaba de lançar a tese de que se trata de uma virada de mesa, como a Aliança Liberal de 1929 (pois é). Pessoas anteriormente envolvidas com o sistema se tornam dissidentes e passam a pregar mudança. Bem observou o Merval Pereira hoje que Mangabeira pode estar meio confuso. Bom, eu estou.
Mesmo para os padrões brasileiros, esse partido promete.
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