Continuo mal impressionado com o nível do debate sobre o desarmamento. Ontem o Jô Soares declarou voto contrário à proibição. Até aí, tudo bem. Mas usou como argumento o seguinte: os totalitarismos, como o nazismo e o bolchevismo, desarmaram a população.
Besteira. Se isso prova alguma coisa, é que o totalitarismo leva ao desarmamento, não o contrário. Aliás, os dois totalitarismos em questão foram implementados por grupos que contavam com milícias particulares (as freikorps e a guarda vermelha). Se Weimar e o Kerensky tivessem desarmado a população, a história teria sido outra.
Outra analogia histórica que vem sendo utilizada: a revolução americana, única exclusivamente democrática, garantiu o direito de ter armas. É verdade. Garantiu aos homens brancos o direito de ter armas. O direito de portar armas garantia a esfera do totalitarismo de fazenda. Mas, novamente, esse argumento é irrelevante; pode-se argumentar que o problema é a restrição aos negros, não a permissão aos brancos.
A verdade é que não acho que nenhuma das analogias históricas acima tenha qualquer relevância para a situação brasileira. O problema é só o seguinte: algumas pessoas conseguem evitar crimes por que possuem armas. Outras pessoas morrem em consequência de gente que não cometeria o crime (ou o cometeria com muito menos força letal) se não tivesse arma. Quem você quer condenarà morte, o primeiro grupo ou o segundo? Eu voto para salvar o segundo. Respeito totalmente quem prefere salvar o primeiro.
Mas não custava nada manter o debate em torno das questões concretas.
Thursday, October 06, 2005
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