Monday, October 03, 2005

Plebiscito (II)

Os dois lados no plebiscito estão usando dados estatísticos. O mais significativo, na minha opinião, é a porcentagem dos crimes por motivos pessoais, que certamente seriam afetados pela venda de armas legais, ao contrário das vítimas do tráfico. Mas fica a advertência: esse assunto é difícil pra cacete de ser estudado empiricamente.

Para começar: essas estatísticas "no país X o número de armas é alto/baixo e o número de homicídios é alto/baixo" querem dizer pouquíssima coisa. Na própria reportagem da Veja há exemplos de dois países onde a venda de armas é proibida (Jamaica e Japão) com índices completamente diferentes. Só por esse exemplo já se vê que há fatores sociais que influenciam decisivamente o número de homicídios. Seria possível fazer uma análise estatística controlando para uma série de variáveis sócio-econômicas, mas até hoje não vi nada disso no debate brasileiro.

Mas o realmente difícil, metodologicamente, é "estabelecer o contra-factual": isto é, saber se, em um dado contexto, mantendo tudo igual, o número de armas influenciaria a violência.

Por exemplo, no filme do Michael Moore ele dá a informação de que várias das regiões americanas que mais têm armas são as que têm menor violência. Os opositores da proibição consideram esse o dado mais importante: afinal, o importante é o número de crimes que não acontecem por que a população está armada.

Agora, vai lá e mede isso. Só pra ter uma idéia da dificuldade do negócio, não bastaria ter dados sobre crimes frustrados; seria necessário saber quantos cidadãos tentariam assaltar casas se não tivessem medo do morador estar armado.

O contra-factual dos opositores da proibição é esse: se essa gente (por exemplo, os gaúchos) não estivessem armados, o crime seria maior lá. Mas o Rio Grande do Sul também tem várias outras características obviamente relacionadas ao nível de violência, como qualidade de vida.

Enfim, está com cara de que, se for com base nos dados apresentados até agora, ninguém vota em nada.

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