Friday, October 21, 2005

A classe petista

Circula a idéia de que os petistas são uma nova classe, pequenos burocratas envolvidos na administração da sociedade por meio do Estado, dos sindicatos, etc. O Reinaldo de Azevedo diz algo assim, o Francisco de Oliveira também. O Azevedo cita o Milovan Djilas, dissidente Iugoslavo inteligente pra cacete, que não merecia essa.

Eu acho isso uma bobagem. Senão, vejamos.

O Milovan Djilas chamava a nomenklatura socialista de classe por que os meios de produção estavam estatizados, e, portanto, a autoridade absoluta sobre a política significava controle dos meios de produção. Vale dizer, na bibliografia sobre o Leste Europeu há uma grande controvérsia sobre isso, visto que há quem sustente que na verdade a administração econômica tinha muito mais autonomia, visto, inclusive, que os stalinos não entendiam porra nenhuma de economia. Suspeito que isso se aplique ao caso brasileiro, mas deixemos isso de lado por enquanto.

No Brasil, há um forte processo de desestatização. Há somente dois mecanismos pelos quais os petistas influenciam na disposição dos meios de produção. (1) por estarem no governo, e controlarem recursos do governo e empregos públicos, e (2) por terem influência, como sindicalistas, sobre os fundos de pensão.

O mecanismo (1) obviamente não pode caracterizar uma classe, visto que daqui a um ano eles perdem todo o poder. A tradição sociológica exige que classe seja um negócio mais ou menos estável. Evidentemente, pode-se tentar definir os políticos como um todo como classe, envolvendo também os outros partidos, etc., e estabelecendo que eles se revezam no poder. Eu acho isso infrutífero, por vários motivos, mas de qualquer maneira não é o que se tem dito.

O mecanismo (2) é mais promissor, mas desconheço que o PT exerça controle monolítico sobre os fundos de pensão. O poder dos sindicalistas na administração dos fundos existe, mas é compartilhado com gestores do governo (e aqui se aplica o raciocínio acima). De fato, a maior manipulação política dos fundos de que se tem notícia foi durante a privatização do governo FHC (e não, não acho que os tucanos sejam uma classe, ver raciocínio acima).

Enfim, o máximo que se pode dizer é que um pequeno grupo de petistas participa, segundo o revezamento eleitoral, da gestão de recursos públicos ou semi-públicos, em cuja gestão atuam conjuntamente com vários outros grupos políticos e econômicos.

E a principal conclusão disso tudo é que, por menos relevante que seja um fato, pode-se falar dele com palavras complicadas. Se você gosta desse tipo de coisa, não gosta de mim.

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