Segundo O Globo, FHC fez, na tal conferência com empresários, um comentário meio enigmático: segundo o ex-presidente de um dos negócios mais confusos, bizarros e povoado de maluco do mundo (a Associação Internacional de Sociologia), o problema do Brasil é a urbanização. Ela causou a crise fiscal, a crise social, tudo.
Não deixa de ser uma tese, mas tem cara desses negócios de sociólogo que me fazem ter vontade de voltar a me chamar de cientista político, ou mentir que sou fonoaudiólogo.
Naturalmente, a urbanização aumenta o gasto com infra-estrutura urbana (dã!), o operariado urbano conseguiu vários direitos sociais mais cedo que o campesinato, enfim. Agora, como dizíamos na época do referendo, qual é o contra-factual? Algumas possibilidades:
1) O Brasil se mantém rural, mas continua crescendo. Nesse caso, esperamos, o enorme campesinato teria, do mesmo jeito, eventualmente conquistado direitos sociais e atingido níveis de consumo atualmente desfrutados pela população urbana. Nesse caso, seria mais barato fazer uma escola pra cada trinta crianças que moram na fazenda, ao invés de uma escola para cada trezentas que moram em um subúrbio carioca? Eu acho que seria mais caro.
2) O Brasil continua sem direitos sociais, o que, naturalmente, reduz muito o gasto público. O fato de que os brasileiros não conhecem outro mundo senão o da fazenda diminui a tendência ao consumismo, o que de fato torna possível escapar da onda de violência que temos. Isto é, se o Brasil não tivesse se desenvolvido, não teria esses problemas de país de industrialização retardatária, por que seria um país pobre pra cacete. Ah, bom.
Provavelmente, FH estava citando algum trabalho com um argumento dez vezes mais complexo que esse. Mas então valia a pena explicar direito.
Friday, February 17, 2006
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