Vocês devem ter visto na imprensa que um relatório da UNICEF deu aos EUA e ao Reino Unido a duvidosa honra de serem os piores países, entre os países ricos, para se ser criança. Não há dúvida de que o padrão de vida na social-democracia escandinava, em geral (não só para crianças), é melhor, e que de fato a situação da mulher (portanto, das mães) é muito boa nesses lugares: por exemplo, na Holanda as condições de trabalho em tempo parcial (ótimo para mães de crianças pequenas) são muito boas, comparativamente.
Agora, cuidado com essas informações sobre pobreza no primeiro mundo. Claro, há o problema da imigração ilegal, que faz com que uma parcela pequena, mas não desprezível, da população viva sem os direitos sociais garantidos aos cidadãos. Mas vejam só esses dados sobre os pobres nos EUA, tirados do blog da The Economist:
- 46% dos pobres nos EUA têm casa própria, e o tamanho médio da casa de um pobre americano é: três quartos, um banheiro e meio e garagem.
- 76% dos pobres têm ar-condicionado.
- Mais do que dois terços das casas pobres têm mais do que dois cômodos por pessoa.
- Quase três quartos dos pobres têm carro, e trinta por cento têm dois ou mais carros.
- 62% dos pobres têm TV a cabo.
Aviso aos navegantes: cuidado com médias quando se está falando de pobreza. Entre os pobres há os grotescamente pobres, que podem ser muitos ou poucos. Não é raro que a desigualdade de renda entre os pobres seja considerável. Mas, de qualquer maneira, é difícil pensar nesses "pobres" como membros da mesma categoria que os nossos pobres.
Há, entretanto, uma semelhança grande: quem está no fundo da hierarquia social provavelmente fornecerá mais recrutas para o crime, não só por pobreza, mas por necessidade de status ( = probabilidade de arrumar parceiros sexuais desejáveis), principalmente dos rapazes jovens.
Para o moleque de quinze anos, é muito melhor viver no Bronx (com todas as facilidades descritas aí em cima) do que em Adis Abeba. Mas o moleque mais pobre que todo mundo (no ambiente em que vive) vai sempre perder mulher pra todo mundo (idem), a menos que tenha algo especial: seja muito bonito, muito bom de cama, muito bom jogador de basquete, etc.; ou se for ganhar dinheiro no crime; ou se for muito inteligente, E a sociedade em questão oferecer um sistema educacional que o permita explorar esse potencial para subir na vida, bem como um coeficiente de Gini que torne a distância a ser percorrida menos desanimadora. Aí, sim, nesse quesito, os escandinavos disparam na frente de todo mundo.
Alguém poderia, naturalmente, sugerir que os adolescentes pobres do Bronx se conformassem com seu bem-estar material e esquecessem suas dificuldades de impressionar as meninas. A graça dessa proposta é que ela oficialmente tira do anarquismo o troféu de proposta política mais incompatível com a natureza humana de todos os tempos.
Tuesday, February 27, 2007
Monday, February 26, 2007
Reforma Ministerial
Apesar da promessa de Tarso Genro de que a reforma sairia até o dia 30 de fevereiro (pois é, pois é), até agora nada. Os sinais até agora não são bons. Ninguém mais fala de Gerdau, de Delfim, Ciro parece que não vai. Mas o inexpressivo Márcio Fortes fica, ou é substituído por Marta Suplicy (bela prefeitura até que decidiu ganhar a eleição gastando muito mais do que tinha no último ano). Enfim, nada que pareça muito significativo.
Paulo Nogueira Batista foi para o FMI. Isso foi interpretado como avanço dos "desenvolvimentistas", mas, não sei, não. Era esse o posto que, supunha-se, seria destinado ao Bivilacqua, o diretor do BACEN que a turma da Dilma quer tirar. Será que vão deixar o Bevilacqua sem posto, ou será que ele não sai?
Paulo Nogueira Batista foi para o FMI. Isso foi interpretado como avanço dos "desenvolvimentistas", mas, não sei, não. Era esse o posto que, supunha-se, seria destinado ao Bivilacqua, o diretor do BACEN que a turma da Dilma quer tirar. Será que vão deixar o Bevilacqua sem posto, ou será que ele não sai?
Oscar
Só para registrar que ganhei o bolão do Oscar aqui do trabalho, tendo visto apenas um dos filmes (o que ganhou), como diria Agamenon Mendes Pedreira, para não me deixar influenciar.
Friday, February 23, 2007
Mancada
Qualquer hora eles apagam, mas está demorando. O Globo On-line está dando uma manchete, grande, com foto, sobre Ingrid Bittencourt, candidata colombiana sequestrada pelos FARCistas, onde se lê "Candidata BOLIVIANA...". Já vi várias dessas em outros jornais on-line, aparentemente eles não têm revisor.
Thursday, February 22, 2007
Troféu "Não ganhou, mas é o que todo mundo vai lembrar" 2007: Bateria da Viradouro
Isso foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida. Paulo Barros, o carnavalesco, é recomendação permanente do blog, é o legítimo sucessor do grande Joãozinho Trinta.
Sindicatos Iraquianos
Após décadas de opressão Ba'athista, os sindicatos iraquianos tentam heroicamente se organizar e enfrentar, além dos adversários de praxe, os reatauracionistas Ba'ath (que, aliás, acabam de fazer um atentado com armas químicas contra civis). Fica aqui a homenagem ao líder sindicalista Hadi Saleh, assassinado em 2005 por facistas Ba'ath de maneira especialmente cruel. Um obituário escrito por um dos mais célebres sociólogos iraquianos pode ser encontrado aqui. Aqui se lê um documento oficial da TUC inglesa sobre os atentados contra sindicalistas (todos perpetrados pelo que uma parte crescentemente idiota da esquerda brasileira ainda chama de "resistência iraquiana").
A propósito, quem quiser dar uma força para os sindicalistas iraquianos, pode fazê-lo através desse site.
A propósito, quem quiser dar uma força para os sindicalistas iraquianos, pode fazê-lo através desse site.
Iwo Jima
Interessante o post do Luiz Felipe Alencastro sobre a resenha do filme do Clint Eastwood sobre Iwo Jima que saiu no Libération. Aparentemente, no esforço de ser equilibrado com os japoneses, Eastwood acabou apresentando os japoneses como gente boa demais, esquecendo as campanhas militares na Coréia, etc. Mas é aquele negócio: se o cara tivesse feito o filme mostrando as atrocidades na Coréia, alguém ia dizer "Mas e os milhares de mortos de Hiroshima?", e alguém ia responder, "E os mortos na China?", e a coisa não acabava nunca.
A propósito, já que vocês vão lá no blog do LFA, não deixem de ver os posts sobre o Marx, bem interessantes.
A propósito, já que vocês vão lá no blog do LFA, não deixem de ver os posts sobre o Marx, bem interessantes.
Iraque
Pelo que ando lendo, há três opções para a estratégia americana no Iraque no momento:
1 - A escalada, isto é, a tentativa de corrigir a falta de tropas que caracterizava a desastrosa estratégia de Rumsfeld. Com tropas suficientes, os americanos poderiam reprimir os insurgentes e o governo Iraquiano teria condições de pelo menos tentar funcionar. Essa solução provavelmente seria a melhor, se não fossem dois fatores: 1) o número de tropas enviadas por Bush ainda é pequeno. A estimativa dos que antes criticavam Rumsfeld é que seriam necessárias duas ou três vezes o número da escalada atual para manter o Iraque estável. Mas, a essa altura do campeonato, Bush precisaria reinstaurar o alistamento obrigatório, o que não seria aceito pela população americana. e 2) o atual governo Iraque é suspeito de ser parte ativa na Guerra civil ao lado dos xiitas, o que quer dizer que o engajamento americano não poderia ser simplesmente de defesa do governo Iraquiano.
2 - A partição: isto é, acabar com esse negócio de Iraque. O Curdistão, que é autônomo e estável desde os anos noventa, ficaria entregue aos Curdos, o Sul aos xiitas, o centro aos sunitas. A separação não precisaria ser total: o Iraque poderia sobreviver como uma federação sem poder algum sobre as províncias. Os problemas dessa solução são óbvios: a Turquia não quer a independência Curda, e sabe-se lá o que aconteceria se o grande território xiita se aliasse ao Irã xiita.
3 - A retirada, com a consciência de que o Iraque mergulharia no caos. Considerando-se que a guerra civil é inevitável, deixa-se que ela se resolva com os massacres habituais, e toma-se uma posição a partir daí. Os americanos conservariam bases no Curdistão e no Afeganistão, para qualquer emergência. Deixando de lado o pequeno detalhe do genocídio inevitável, os EUA perderiam completamente qualquer vestígio de credibilidade internacional, e mesmo as oposições pró-ocidente ao redor do mundo passariam a procurar ajuda em outro lugar, talvez na Europa.
Se alguém tiver alguma solução, cartas para The White House, 1600 Pennsylvania Avenue NW, Washington, DC 20500.
1 - A escalada, isto é, a tentativa de corrigir a falta de tropas que caracterizava a desastrosa estratégia de Rumsfeld. Com tropas suficientes, os americanos poderiam reprimir os insurgentes e o governo Iraquiano teria condições de pelo menos tentar funcionar. Essa solução provavelmente seria a melhor, se não fossem dois fatores: 1) o número de tropas enviadas por Bush ainda é pequeno. A estimativa dos que antes criticavam Rumsfeld é que seriam necessárias duas ou três vezes o número da escalada atual para manter o Iraque estável. Mas, a essa altura do campeonato, Bush precisaria reinstaurar o alistamento obrigatório, o que não seria aceito pela população americana. e 2) o atual governo Iraque é suspeito de ser parte ativa na Guerra civil ao lado dos xiitas, o que quer dizer que o engajamento americano não poderia ser simplesmente de defesa do governo Iraquiano.
2 - A partição: isto é, acabar com esse negócio de Iraque. O Curdistão, que é autônomo e estável desde os anos noventa, ficaria entregue aos Curdos, o Sul aos xiitas, o centro aos sunitas. A separação não precisaria ser total: o Iraque poderia sobreviver como uma federação sem poder algum sobre as províncias. Os problemas dessa solução são óbvios: a Turquia não quer a independência Curda, e sabe-se lá o que aconteceria se o grande território xiita se aliasse ao Irã xiita.
3 - A retirada, com a consciência de que o Iraque mergulharia no caos. Considerando-se que a guerra civil é inevitável, deixa-se que ela se resolva com os massacres habituais, e toma-se uma posição a partir daí. Os americanos conservariam bases no Curdistão e no Afeganistão, para qualquer emergência. Deixando de lado o pequeno detalhe do genocídio inevitável, os EUA perderiam completamente qualquer vestígio de credibilidade internacional, e mesmo as oposições pró-ocidente ao redor do mundo passariam a procurar ajuda em outro lugar, talvez na Europa.
Se alguém tiver alguma solução, cartas para The White House, 1600 Pennsylvania Avenue NW, Washington, DC 20500.
Sunday, February 18, 2007
Simpatia é quase Amor
Certo, certo, tem problema, tem estresse. Agora, hoje ouvia o Simpatia é Quase Amor passando enquanto eu boiava no mar de Ipanema olhando o por-do-sol. Ou seja, pra reclamar, só sendo muito chato.
E, vejam como é o mundo hoje, o desfile já está no Youtube!
E, vejam como é o mundo hoje, o desfile já está no Youtube!
Friday, February 16, 2007
Socialismo Petista (2)
Não posso participar do debate no site do PT, porque não sou mais filiado. Mas, se fosse, escreveria mais ou menos o seguinte:
O PT é o último grande partido da social-democracia fordista, e se consolidou exatamente quando o tipo de acumulação capitalista que lhe deu origem entrou em crise. Por isso, tem a característica, muito rara dentro da esquerda tradicional, de ter uma base sindical forte mas não ter a opção de simplesmente cobrar medidas keynesianas tradicionais (devido à crise fiscal). Deve, portanto, ser muito mais maleável e criativo do que seus pares europeus nos últimos cinquenta anos, o que é ao mesmo tempo uma dificuldade imensa e uma oportunidade.
O primeiro passo para isso é abandonar qualquer resquício de socialismo bolchevique: ainda que se use o termo "socialista" (que existia já muito antes do bolchevismo e do marxismo), deve-se preenchê-lo com conteúdo social-democrata: aceita-se o capitalismo como modo de produção e a democracia burguesa como mecanismo de representação e redistribuição de renda.
Entretanto, o PT não tem a opção de simplesmente repetir a social-democracia européia do século XX. Deve, portanto, reformar a social-democracia, como fizeram, de diferentes maneiras, os partidos trabalhista inglês ou social-democrata sueco. Os eixos para esta transformação devem ser cinco:
1) Abandono da defesa incondicional do funcionalismo público, e reforma do Estado para que seja mais orientado para o consumidor. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que, como a social-democracia clássica, o PT deve continuar defendendo a provisão estatal dos meios mínimos para a vida (saúde) e liberdade (educação universal), deve também estabelecer controles sobre os provedores estatais destes serviços, para que os usuários possam ter controle sobre os serviços que recebem (uma texto interessante de Tony Blair sobre isso pode ser encontrado aqui). Neste aspecto, é preciso aceitar parte da crítica liberal à social-democracia.
2) Tomada de posição firme na trascendência do capitalismo fordista, através da defesa de políticas que desvinculem parcialmente a vida e a liberdade do mercado de trabalho, em especial a renda básica. Se acreditamos que as liberdades modernas são burguesas, então devemos admitir que sua defesa (à qual muitas vezes o movimento operário se lançou apaixonadamente) de implicar, em algum grau, a defesa do capitalismo. Mas, se não aceitamos que o capitalismo determine todas as chances que uma pessoa terá na vida, devemos fazer com que tenham alguma chance de sobreviver fora da relação salarial, que, notava Marx, é o traço distintivo do capitalismo (e não a propriedade privada, cuja abolição, na URSS, não implicou qualquer progresso rumo à superação da alienação capitalista).
3) Participação do Estado na moldagem do tipo de capitalismo reinante no Brasil, através da potencialização dos excluídos para o mercado, através do microcrédito, da concessão de títulos de propriedade para a casa dos pobres, da radical eliminação da burocracia necessária para se abrir um negócio, etc.
4) Redimensionamento da problemática nacionalista em termos de defesa da inserção soberana na ordem global, o que implica montagem de um sistema nacional de inovação que permita que o Brasil seja produtor e participante do diálogo científico cosmopolita. No debate entre ortodoxos e keynesianos, falta Schumpeter.
5) Apoio à toda iniciativa social-democrata no terceiro mundo, em especial nos casos em que os nossos pares lutam em condições dificílimas, como no Iraque (onde sindicalistas são alvos constantes de atentados terroristas) ou em Cuba.
Tem toda cara de que ia fazer o maior sucesso, isso. Já vejo o pessoal d' "o Trabalho" fazendo festa.
O PT é o último grande partido da social-democracia fordista, e se consolidou exatamente quando o tipo de acumulação capitalista que lhe deu origem entrou em crise. Por isso, tem a característica, muito rara dentro da esquerda tradicional, de ter uma base sindical forte mas não ter a opção de simplesmente cobrar medidas keynesianas tradicionais (devido à crise fiscal). Deve, portanto, ser muito mais maleável e criativo do que seus pares europeus nos últimos cinquenta anos, o que é ao mesmo tempo uma dificuldade imensa e uma oportunidade.
O primeiro passo para isso é abandonar qualquer resquício de socialismo bolchevique: ainda que se use o termo "socialista" (que existia já muito antes do bolchevismo e do marxismo), deve-se preenchê-lo com conteúdo social-democrata: aceita-se o capitalismo como modo de produção e a democracia burguesa como mecanismo de representação e redistribuição de renda.
Entretanto, o PT não tem a opção de simplesmente repetir a social-democracia européia do século XX. Deve, portanto, reformar a social-democracia, como fizeram, de diferentes maneiras, os partidos trabalhista inglês ou social-democrata sueco. Os eixos para esta transformação devem ser cinco:
1) Abandono da defesa incondicional do funcionalismo público, e reforma do Estado para que seja mais orientado para o consumidor. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que, como a social-democracia clássica, o PT deve continuar defendendo a provisão estatal dos meios mínimos para a vida (saúde) e liberdade (educação universal), deve também estabelecer controles sobre os provedores estatais destes serviços, para que os usuários possam ter controle sobre os serviços que recebem (uma texto interessante de Tony Blair sobre isso pode ser encontrado aqui). Neste aspecto, é preciso aceitar parte da crítica liberal à social-democracia.
2) Tomada de posição firme na trascendência do capitalismo fordista, através da defesa de políticas que desvinculem parcialmente a vida e a liberdade do mercado de trabalho, em especial a renda básica. Se acreditamos que as liberdades modernas são burguesas, então devemos admitir que sua defesa (à qual muitas vezes o movimento operário se lançou apaixonadamente) de implicar, em algum grau, a defesa do capitalismo. Mas, se não aceitamos que o capitalismo determine todas as chances que uma pessoa terá na vida, devemos fazer com que tenham alguma chance de sobreviver fora da relação salarial, que, notava Marx, é o traço distintivo do capitalismo (e não a propriedade privada, cuja abolição, na URSS, não implicou qualquer progresso rumo à superação da alienação capitalista).
3) Participação do Estado na moldagem do tipo de capitalismo reinante no Brasil, através da potencialização dos excluídos para o mercado, através do microcrédito, da concessão de títulos de propriedade para a casa dos pobres, da radical eliminação da burocracia necessária para se abrir um negócio, etc.
4) Redimensionamento da problemática nacionalista em termos de defesa da inserção soberana na ordem global, o que implica montagem de um sistema nacional de inovação que permita que o Brasil seja produtor e participante do diálogo científico cosmopolita. No debate entre ortodoxos e keynesianos, falta Schumpeter.
5) Apoio à toda iniciativa social-democrata no terceiro mundo, em especial nos casos em que os nossos pares lutam em condições dificílimas, como no Iraque (onde sindicalistas são alvos constantes de atentados terroristas) ou em Cuba.
Tem toda cara de que ia fazer o maior sucesso, isso. Já vejo o pessoal d' "o Trabalho" fazendo festa.
Socialismo Petista (1)
Filiados ao PT podem agora postar pequenos textos no site do partido sobre um dos três temas do congresso petista que se aproxima: "O Brasil que queremos", "O Socialismo Petista" e "PT: concepção e funcionamento". A iniciativa é boa, mas a utilização até agora é meio decepcionante.
No item "O socialismo petista", há três textos, que comentamos brevemente em seguida:
Valter Pomar: depois de uma introdução em que as grandes calamidades do século XX são listadas SEM QUE SE FALE DO STALINISMO E DO MAOÍSMO, Pomar afirma que, nos anos 80, o capitalismo consegue impor pesadas derrotas ao socialismo e ao desenvolvimentismo: nenhuma palavra sobre o fato de que ambos entraram em crise sozinho, e, aí sim, foram vencidos pelo neoliberalismo, que continuou de pé. Afirma-se que nos 25 anos seguintes o mundo teve "menos prosperidade", o que é falso (300 milhões de pessoas, a população do Mundo na Idade Média, saíram da pobreza durante os anos 90 na China). Visto que o capitalismo é injusto, devemos ser socialistas, MESMO SEM QUE SE DIGA NADA QUE INDIQUE REMOTAMENTE COMO SERIA O SOCIALISMO. A social-democracia é, então, criticada por não ter sido capaz de produzir o socialismo, o que, enfim, talvez, tenha sido porque os operários acharam a social-democracia melhor do que qualquer coisa chamada de socialismo oferecida como opção real, ou porque a social-democracia produziu as melhores condições de vida experimentadas pelos seres humanos em sua história.
Rodrigo de Sousa Soares e Rodrigo Freire de Carvalho e Silva: o melhor dos três textos, mas meio esquisito. Defende a revolução democrática, a inclusão social, a correção das desigualdades do mercado, rejeita a planificação, e conclui: "A construção do socialismo se dará através da luta permanente pela hegemonia, na sociedade, de valores democráticos, republicanos e solidários, expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Valores opostos ao individualismo e à competição liberal-capitalistas". Por que, exatamente, os valores individualistas estariam em contradição com a DUDH? A DUDH não seria justamente a formulação clássica dos valores burgueses? Ou só porque um negócio é bom não pode ser burguês? Dá a impressão de que os autores já romperam com o bolchevismo (palmas para eles) mas ainda não tiveram coragem de abraçar a social-democracia.
Afonso Magalhães: horroroso. Começa saudando Chávez e termina saudando "os sete primeiros anos da revolução russa". Diz claramente que "Não precisamos, nem temos o direito, de reinventar a roda! ". Ou seja, esqueçam os massacres da Ucrânia, esqueçam a grande fome de Mao (a maior do século, uma das maiores da história, 30 milhões de mortos), esqueçam a liberdade, a crítica, e escolham o timoneiro Magalhães como secretário-geral do Camboja.
No item "O socialismo petista", há três textos, que comentamos brevemente em seguida:
Valter Pomar: depois de uma introdução em que as grandes calamidades do século XX são listadas SEM QUE SE FALE DO STALINISMO E DO MAOÍSMO, Pomar afirma que, nos anos 80, o capitalismo consegue impor pesadas derrotas ao socialismo e ao desenvolvimentismo: nenhuma palavra sobre o fato de que ambos entraram em crise sozinho, e, aí sim, foram vencidos pelo neoliberalismo, que continuou de pé. Afirma-se que nos 25 anos seguintes o mundo teve "menos prosperidade", o que é falso (300 milhões de pessoas, a população do Mundo na Idade Média, saíram da pobreza durante os anos 90 na China). Visto que o capitalismo é injusto, devemos ser socialistas, MESMO SEM QUE SE DIGA NADA QUE INDIQUE REMOTAMENTE COMO SERIA O SOCIALISMO. A social-democracia é, então, criticada por não ter sido capaz de produzir o socialismo, o que, enfim, talvez, tenha sido porque os operários acharam a social-democracia melhor do que qualquer coisa chamada de socialismo oferecida como opção real, ou porque a social-democracia produziu as melhores condições de vida experimentadas pelos seres humanos em sua história.
Rodrigo de Sousa Soares e Rodrigo Freire de Carvalho e Silva: o melhor dos três textos, mas meio esquisito. Defende a revolução democrática, a inclusão social, a correção das desigualdades do mercado, rejeita a planificação, e conclui: "A construção do socialismo se dará através da luta permanente pela hegemonia, na sociedade, de valores democráticos, republicanos e solidários, expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Valores opostos ao individualismo e à competição liberal-capitalistas". Por que, exatamente, os valores individualistas estariam em contradição com a DUDH? A DUDH não seria justamente a formulação clássica dos valores burgueses? Ou só porque um negócio é bom não pode ser burguês? Dá a impressão de que os autores já romperam com o bolchevismo (palmas para eles) mas ainda não tiveram coragem de abraçar a social-democracia.
Afonso Magalhães: horroroso. Começa saudando Chávez e termina saudando "os sete primeiros anos da revolução russa". Diz claramente que "Não precisamos, nem temos o direito, de reinventar a roda! ". Ou seja, esqueçam os massacres da Ucrânia, esqueçam a grande fome de Mao (a maior do século, uma das maiores da história, 30 milhões de mortos), esqueçam a liberdade, a crítica, e escolham o timoneiro Magalhães como secretário-geral do Camboja.
Asterix estava certo
Um pessoal invejoso aí anda espalhando que Cleópatra era baranga, mesmo contra a evidência de vários albuns do Asterix, que provam incontestavelmente que ela era lindona. Pois bem: isso é um trabalho para Amiano Marcelino!
Thursday, February 15, 2007
Mais fogo na Ségolène
Agora é pesado, da The Economist. Mas inclui um comentário interessante: se é verdade que os planos de Royal provavelmente elevariam o gasto público em algo como 35%, os cortes de impostos de Sarkozy provavelmente elevariam em 30%. Sarkozy argumenta, naturalmente, que seu corte vai dinamizar a economia. Esse é o assunto que falta no discurso de Royal: crescimento.
Venkatesh e as Gangues
Um dos melhores livros que existem sobre gangues de rua nos EUA é American Project, do Sudhir Alladi Venkatesh. Venkatesh havia sido assistente de pesquisa do grande William J. Wilson, autor do clássico The Truly Disadvantaged. Ambos se especializaram em pesquisar guetos negros americanos, em especial o Robert Taylor Project de Chicago (que lembra um pouco Cidade de Deus, no Rio). Vale a pena ler os dois. Mas o que vamos abordar aqui é um tema que Venkatesh analisou juntamente com Steven Levitt (do Freakonomics): as finanças as gangues de tráfico de drogas.
Venkatesh conseguiu botar a mão em um verdadeiro tesouro, o livro-caixa da gangue que ele estudava (se não me engano, os Black Kings). Lewitt analisou as contas dos caras e concluiu que:
1 - O soldadinho do tráfico, o "avião", ganha mal, mais ou menos o que ganharia no mercado de trabalho em um emprego normal, e tem várias vezes mais chance de morrer assassinado do que seus pares no mercado legal com o mesmo nível educacional.
2 - Já o gerente de boca ganha bem mais do que ganharia no mercado com seu nível educacional. Por isso, ninguém entra nesse negócio se não for com a intenção de subri na organização.
3 - Como é que se sobe na organização? Sendo bicho solto: normalmente, atacando o território dos adversários da gangue.
4 - Mas a guerra é, para a gangue, terrível: a lucratividade cai enormemente, e os prejuízos são recorrentes.
5 - Portanto, o sistema é instável: não há lucro para a empresa durante a guerra, mas é do interesse dos funcionários começar a guerra o tempo todo. Daí o caos que é a briga de quadrilhas, nos morros cariocas, por exemplo.
Estou explicando tudo isso de cabeça, se alguma coisa estiver errado, peço desculpas. O artigo original está aqui.
Venkatesh conseguiu botar a mão em um verdadeiro tesouro, o livro-caixa da gangue que ele estudava (se não me engano, os Black Kings). Lewitt analisou as contas dos caras e concluiu que:
1 - O soldadinho do tráfico, o "avião", ganha mal, mais ou menos o que ganharia no mercado de trabalho em um emprego normal, e tem várias vezes mais chance de morrer assassinado do que seus pares no mercado legal com o mesmo nível educacional.
2 - Já o gerente de boca ganha bem mais do que ganharia no mercado com seu nível educacional. Por isso, ninguém entra nesse negócio se não for com a intenção de subri na organização.
3 - Como é que se sobe na organização? Sendo bicho solto: normalmente, atacando o território dos adversários da gangue.
4 - Mas a guerra é, para a gangue, terrível: a lucratividade cai enormemente, e os prejuízos são recorrentes.
5 - Portanto, o sistema é instável: não há lucro para a empresa durante a guerra, mas é do interesse dos funcionários começar a guerra o tempo todo. Daí o caos que é a briga de quadrilhas, nos morros cariocas, por exemplo.
Estou explicando tudo isso de cabeça, se alguma coisa estiver errado, peço desculpas. O artigo original está aqui.
Troféu "Enquanto íamos com a farinha, ele voltava com a farofa" 2007 - Amiano Marcelino
Contardo Calligaris e o Estatuto do Menor
Considerações interessantes do psicanalista Contardo Calligaris na Folha de hoje:
"Por exemplo, no último número da "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 33, 2006), uma pesquisa de Schmitt, Pinto, Gomes, Quevedo e Stein mostra que "adolescentes infratores graves (autores de homicídio, estupro e latrocínio) possuem personalidade psicopática e risco aumentado de reincidência criminal, mas não apresentam maior prevalência de história de abuso na infância do que outros adolescentes infratores". "
(...)
"na mesma "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 31, 2004), Jorge Wohney Ferreira Amaro publicou uma crítica fundamentada e radical do Estatuto da Criança e do Adolescente. Resumindo suas conclusões:
Ou o menor é consciente de seu ato, e, portanto, imputável como um adulto; Ou seu desenvolvimento é incompleto, e, nesse caso, nada garante que ele se complete num máximo de três anos; Ou, então, o jovem sofre de um Transtorno da Personalidade Anti-Social (psicopatia), cuja cura (quando acontece) exige raramente menos de uma década de esforços.
Em suma, a maioridade penal poderia ser reduzida para 16 ou 14 anos, mas não é isso que realmente importa. A hipocrisia está no artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual, para um menor, "em nenhuma hipótese, o período máximo de internação excederá a três anos". Ora, a decência, o bom senso e a coerência pedem que uma comissão, um juiz especializado ou mesmo um júri popular decidam, antes de mais nada, se o menor acusado deve ser julgado como adulto ou não. Caso ele seja reconhecido como menor ou como portador de um transtorno da personalidade, o jovem só deveria ser devolvido à sociedade uma vez "completado" seu desenvolvimento ou sua cura -que isso leve três anos, ou dez, ou 50. "
Faz todo sentido, mas, como cientista social, não posse deixar de ter certa curiosidade a respeito do quão robusto é o conceito de "personalidade psicopática". Pode ser que seja robusto, sim, eu é que não sei se é.
"Por exemplo, no último número da "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 33, 2006), uma pesquisa de Schmitt, Pinto, Gomes, Quevedo e Stein mostra que "adolescentes infratores graves (autores de homicídio, estupro e latrocínio) possuem personalidade psicopática e risco aumentado de reincidência criminal, mas não apresentam maior prevalência de história de abuso na infância do que outros adolescentes infratores". "
(...)
"na mesma "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 31, 2004), Jorge Wohney Ferreira Amaro publicou uma crítica fundamentada e radical do Estatuto da Criança e do Adolescente. Resumindo suas conclusões:
Ou o menor é consciente de seu ato, e, portanto, imputável como um adulto; Ou seu desenvolvimento é incompleto, e, nesse caso, nada garante que ele se complete num máximo de três anos; Ou, então, o jovem sofre de um Transtorno da Personalidade Anti-Social (psicopatia), cuja cura (quando acontece) exige raramente menos de uma década de esforços.
Em suma, a maioridade penal poderia ser reduzida para 16 ou 14 anos, mas não é isso que realmente importa. A hipocrisia está no artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual, para um menor, "em nenhuma hipótese, o período máximo de internação excederá a três anos". Ora, a decência, o bom senso e a coerência pedem que uma comissão, um juiz especializado ou mesmo um júri popular decidam, antes de mais nada, se o menor acusado deve ser julgado como adulto ou não. Caso ele seja reconhecido como menor ou como portador de um transtorno da personalidade, o jovem só deveria ser devolvido à sociedade uma vez "completado" seu desenvolvimento ou sua cura -que isso leve três anos, ou dez, ou 50. "
Faz todo sentido, mas, como cientista social, não posse deixar de ter certa curiosidade a respeito do quão robusto é o conceito de "personalidade psicopática". Pode ser que seja robusto, sim, eu é que não sei se é.
Fogo em Ségolène
Hoje o blog do Luiz Felipe Alencastro relata uma impressionante ofensiva empresarial contra Ségolène Royal, que incluem rumores de fuga de capitais, aumento do "risco França" e coisas do gênero. Esse é o mecanismo de operação do Império do Hardt e Negri: ninguém precisa invadir mais a França, basta ameaçar sair. Se não me engano muito, o Vargas já antevia o princípio quando dizia que o verdadeiro imperialismo era a recusa a se investir nos países em desenvolvimento (algo assim, li no livro do Visentini, estou citando de cabeça). Naturalmente, o mecanismo só funciona porque ninguém sabe como concorrer com a máquina de produtividade que é a rede empresarial do capitalismo global.
Agora, eu tinha um colega sueco (o grande Pär) que dizia que dia sim, dia não, a Volvo ameaçava sair da Suécia, mas nunca saía.
O que é, sim, possível, é que o nível de investimento caia, ou que novas plantas sejam abertas em outros países (suspeito que já o sejam) dependendo das medidas a serem implementadas.
Agora, eu tinha um colega sueco (o grande Pär) que dizia que dia sim, dia não, a Volvo ameaçava sair da Suécia, mas nunca saía.
O que é, sim, possível, é que o nível de investimento caia, ou que novas plantas sejam abertas em outros países (suspeito que já o sejam) dependendo das medidas a serem implementadas.
Wednesday, February 14, 2007
Ségolène Royal
A eleição francesa para presidente promete ser uma das mais interessantes dos últimos tempos, com candidatos razoavelmente apresentáveis à esquerda (Royal) e à direita (Sarkozy). Como não vai surpreender ninguém, o blog tem sua simpatia pelo partido socialista. Mas ainda não entendi direito a que veio Royal. Entre algumas definições possíveis, a do Luiz Felipe Alencastro, a do Tim King (da Prospect), que fez um excelente blog só sobre a eleição francesa.
Minha leitura inicial das propostas de Royal sugere que o PS francês ainda não diferenciou bem duas coisas: garantir um monte de direitos trabalhistas e garantir um monte de políticas sociais. Não é a mesma coisa, e devem ter pesos diferentes na política de esquerda.
Garantir direitos trabalhistas pode ou não interessar à esquerda, conforme a situação exige que se preste mais atenção aos interesses dos trabalhadores empregados ou dos desempregados (que podem ser prejudicados por uma legislação rígida que dificulte novas contratações). Mas garantir políticas sociais é, sem dúvida, um objetivo da esquerda, que pode ser mais fácil de conciliar com o crescimento econômico. É possível, por exemplo, que em muitos países (entre eles, creio, o Brasil), seja desejável flexibilizar a legislação trabalhista e intensificar a redistribuição dos frutos do crescimento que daí resultariam (para trabalhadores empregados e desempregados, sindicalizados ou não, transferidos diretamente como renda - básica - ou pela organização de um bom sistema educacional para seus filhos, etc.).
Minha leitura inicial das propostas de Royal sugere que o PS francês ainda não diferenciou bem duas coisas: garantir um monte de direitos trabalhistas e garantir um monte de políticas sociais. Não é a mesma coisa, e devem ter pesos diferentes na política de esquerda.
Garantir direitos trabalhistas pode ou não interessar à esquerda, conforme a situação exige que se preste mais atenção aos interesses dos trabalhadores empregados ou dos desempregados (que podem ser prejudicados por uma legislação rígida que dificulte novas contratações). Mas garantir políticas sociais é, sem dúvida, um objetivo da esquerda, que pode ser mais fácil de conciliar com o crescimento econômico. É possível, por exemplo, que em muitos países (entre eles, creio, o Brasil), seja desejável flexibilizar a legislação trabalhista e intensificar a redistribuição dos frutos do crescimento que daí resultariam (para trabalhadores empregados e desempregados, sindicalizados ou não, transferidos diretamente como renda - básica - ou pela organização de um bom sistema educacional para seus filhos, etc.).
Tuesday, February 13, 2007
A morte de João Hélio
A tortura brutal a que foi submetido o menininho João no Rio, a animalesca bestialidade dos leprosos morais que foram satânicos frente à inocência, torna difícil falar qualquer coisa.
Mas tenho aqui uma sugestão: que a legislação seja modificada para dar maior peso às características da vítima na determinação da pena. Por exemplo, quem mata uma criança não deve apenas ter uma pena maior do que a de quem me matar; deve ter o triplo, dez vezes a pena. Se houver alguma definição de irrecuperável certamente será essa: o assassino de criança.
É universalmente reconhecido que o único altruísmo que sabemos estar inscrito em nossos genes é a disposição de morrer para proteger nossos filhos. O sujeito que não tem esse mínimo de instinto, terá que valor moral? Quem faz isso é incapaz de fazer o que?
Acredito piamente que alguém que matou cinquenta, cem rivais do tráfico de cocaína possa, a princípio, ser recuperado. Mas não tenho a menor dúvida de que o assassino de criança é o zero da moral, completamente incapaz de chegar a 0,0000000000001. Se eu fosse traficante de cocaína (o que seria possível, se minha vida tivesse sido outra), certamente seria capaz de matar meus rivais, e tenho certeza de que o faria. Mas jamais poderia me imaginar voluntária e conscientemente matando uma criança, tenho imensa dificuldade de aceitar que alguém seja capaz de fazê-lo, e não tenho dúvida de que quem o for é o mais baixo dos rastejantes.
Mas tenho aqui uma sugestão: que a legislação seja modificada para dar maior peso às características da vítima na determinação da pena. Por exemplo, quem mata uma criança não deve apenas ter uma pena maior do que a de quem me matar; deve ter o triplo, dez vezes a pena. Se houver alguma definição de irrecuperável certamente será essa: o assassino de criança.
É universalmente reconhecido que o único altruísmo que sabemos estar inscrito em nossos genes é a disposição de morrer para proteger nossos filhos. O sujeito que não tem esse mínimo de instinto, terá que valor moral? Quem faz isso é incapaz de fazer o que?
Acredito piamente que alguém que matou cinquenta, cem rivais do tráfico de cocaína possa, a princípio, ser recuperado. Mas não tenho a menor dúvida de que o assassino de criança é o zero da moral, completamente incapaz de chegar a 0,0000000000001. Se eu fosse traficante de cocaína (o que seria possível, se minha vida tivesse sido outra), certamente seria capaz de matar meus rivais, e tenho certeza de que o faria. Mas jamais poderia me imaginar voluntária e conscientemente matando uma criança, tenho imensa dificuldade de aceitar que alguém seja capaz de fazê-lo, e não tenho dúvida de que quem o for é o mais baixo dos rastejantes.
Blog do Noblat
Atualizei hoje o endereço do blog do Noblat aí do lado, já com o endereço do Globo. O Blog está de luto pela morte do João Hélio.
Esquerda Internacionalista
Belo artigo do Michael Walzer na Dissent, disponível no blog do Norman Geras.
Friday, February 09, 2007
Teresa Cristina (2)
Mais um vídeo da Teresa Cristina, que é uma dica perpétua do blog, principalmente se o show for na Lapa.
Paulo Francis
Vou ser honesto com vocês: eu até hoje não entendi porque Paulo Francis é considerado um grande coisa. Não estou dizendo que não fosse: só que ninguém até agora me provou que era.
Certo, o cara escrevia bem, de vez em quando era engraçado, e, a crer na maioria dos textos que comemoram os dez anos de sua morte, devia ser um sujeito excelente para companheiro de farra e amizade, um sujeito bacana para ser seu chapa, que teve uma vida muito interessante. Também acredito que fosse culto, embora suas gafes culturais sejam também famosas e bem-documentadas. Teve o mérito de fundar o Pasquim, mas, não, nem todo mundo que fundou o Pasquim escreve bem pra cacete, não.
Enfim, embora tenha lido seus artigos durante alguns anos, não me lembro de absolutamente nada de importante que tenha lido neles pela primeira vez. Por isso fiquei com a impressão de que era um cara razoavelmente inteligente, que tinha razão contra a esquerda em uma série de coisas (e não em outras), mas que não merecia o destaque todo que tinha.
Expressei essa opinião para algumas pessoas que quase tiveram um enfarto. Contrito, procurei uns textos na Internet, que achei, novamente, razoáveis, espirituosos, mas nada excelente, longe disso. Li o livro do Daniel Piza sobre ele, descobri que ele fez mais ou menos o percurso político do James Burnham (de Trotsky a Reagan), o que também não me impressionou - não tive a impressão de que suas opiniões políticas, nem quando era de esquerda nem quando era de direita, fossem especialmente esclarecidas (se comparadas às de outros intelectuais à esquerda e à direita). Não li nenhum dos romances, talvez seja isso, mas conheço alguns fãs de Francis que não gostam dos romances. Enfim, ainda estou para ser convencido, mas permaneço sem preconceito.
Mas a turma que gosta está em polvorosa. No Wunderblogs (aquele pessoal meio de direita, alguns inteligentes, e com aquela pretensão toda que só se tem quando se acaba de se converter a uma causa), a festa está animada: vejam só, por exemplo, este post, e este.
O que eu queria é que em alguma dessas homenagens fosse citada alguma idéia ou frase do Francis que fosse realmente original. Até agora, não vi nada. As melhores homenagens pessoais foram as do Ivan Lessa e a do Ruy Castro.
Enfim, se alguém quiser me explicar o que ler do Francis, agradeço.
Certo, o cara escrevia bem, de vez em quando era engraçado, e, a crer na maioria dos textos que comemoram os dez anos de sua morte, devia ser um sujeito excelente para companheiro de farra e amizade, um sujeito bacana para ser seu chapa, que teve uma vida muito interessante. Também acredito que fosse culto, embora suas gafes culturais sejam também famosas e bem-documentadas. Teve o mérito de fundar o Pasquim, mas, não, nem todo mundo que fundou o Pasquim escreve bem pra cacete, não.
Enfim, embora tenha lido seus artigos durante alguns anos, não me lembro de absolutamente nada de importante que tenha lido neles pela primeira vez. Por isso fiquei com a impressão de que era um cara razoavelmente inteligente, que tinha razão contra a esquerda em uma série de coisas (e não em outras), mas que não merecia o destaque todo que tinha.
Expressei essa opinião para algumas pessoas que quase tiveram um enfarto. Contrito, procurei uns textos na Internet, que achei, novamente, razoáveis, espirituosos, mas nada excelente, longe disso. Li o livro do Daniel Piza sobre ele, descobri que ele fez mais ou menos o percurso político do James Burnham (de Trotsky a Reagan), o que também não me impressionou - não tive a impressão de que suas opiniões políticas, nem quando era de esquerda nem quando era de direita, fossem especialmente esclarecidas (se comparadas às de outros intelectuais à esquerda e à direita). Não li nenhum dos romances, talvez seja isso, mas conheço alguns fãs de Francis que não gostam dos romances. Enfim, ainda estou para ser convencido, mas permaneço sem preconceito.
Mas a turma que gosta está em polvorosa. No Wunderblogs (aquele pessoal meio de direita, alguns inteligentes, e com aquela pretensão toda que só se tem quando se acaba de se converter a uma causa), a festa está animada: vejam só, por exemplo, este post, e este.
O que eu queria é que em alguma dessas homenagens fosse citada alguma idéia ou frase do Francis que fosse realmente original. Até agora, não vi nada. As melhores homenagens pessoais foram as do Ivan Lessa e a do Ruy Castro.
Enfim, se alguém quiser me explicar o que ler do Francis, agradeço.
Wednesday, February 07, 2007
Partido Democrático
Não há dúvida de que Gilberto Kassab é o quadro de maior visibilidade do PFL, que está pensando em mudar de nome para Partido Democrata. Vejam só que beleza de democrata é Kassab:
É por essas e outras que o PFL tem que continuar sendo apêndice do PSDB: quando um cara desses se elegeria sozinho?
É por essas e outras que o PFL tem que continuar sendo apêndice do PSDB: quando um cara desses se elegeria sozinho?
Monday, February 05, 2007
Noventa Anos de Samba!
Para comemorar, uma semana de Teresa Cristina. Para começar, Teresa e Paulinho da Viola, "Depois de tanto amor".
Sobre a "Pior Legislatura de todos os tempos"
Hoje na Folha o Fernando Rodrigues escreveu uma das melhores colunas que eu vi nos últimos tempos, sobre essa conversa fiada de que a legislatura passada foi a pior de todos os tempos. Melhores momentos:
"Congressos passados no Brasil foram um amontoado de gente empertigada e incapaz de produzir um regime democrático estável. Discursos beletristas sabiam fazer, mas não resistiam a períodos ditatoriais sucessivos -o último de absurdos e longos 21 anos (1964-1985).
Há também a tese "congressistas de antigamente eram melhores". Mais ou menos. Tome-se o exemplo mais recorrente, Ulysses Guimarães. Nos anos 70, deveria ter combatido o Colégio Eleitoral que escolhia presidentes "manu militari". Mas a ambição fez de Ulysses um anticandidato que não renunciou à disputa, como combinado. Derrotado, legitimou a farsa. Mais adiante, a dificuldade atroz de Ulysses para atingir intelectualmente o século 20 o impediu de evitar o maior monstrengo legislativo que uma democracia poderia conceber -a Constituição Cidadã (sic), cujo efeito prático foi congelar o abismo entre ricos e pobres, dado o número de privilégios criados para determinadas castas. Só a corporação dos advogados é citada incríveis 23 vezes no texto. "
"Congressos passados no Brasil foram um amontoado de gente empertigada e incapaz de produzir um regime democrático estável. Discursos beletristas sabiam fazer, mas não resistiam a períodos ditatoriais sucessivos -o último de absurdos e longos 21 anos (1964-1985).
Há também a tese "congressistas de antigamente eram melhores". Mais ou menos. Tome-se o exemplo mais recorrente, Ulysses Guimarães. Nos anos 70, deveria ter combatido o Colégio Eleitoral que escolhia presidentes "manu militari". Mas a ambição fez de Ulysses um anticandidato que não renunciou à disputa, como combinado. Derrotado, legitimou a farsa. Mais adiante, a dificuldade atroz de Ulysses para atingir intelectualmente o século 20 o impediu de evitar o maior monstrengo legislativo que uma democracia poderia conceber -a Constituição Cidadã (sic), cujo efeito prático foi congelar o abismo entre ricos e pobres, dado o número de privilégios criados para determinadas castas. Só a corporação dos advogados é citada incríveis 23 vezes no texto. "
Friday, February 02, 2007
Deley!
Rapaz, olhando agora a lista dos caras que entraram na mesa da Câmara com a eleição do Chinaglia acabei de ver como suplente ninguém mais, ninguém menos, que o Deley, ex-jogador do Fluminense! Isso foi só pra conquistar o apoio do Amiano!
Você achou isso ruim? Entre os suplentes do Senado tem um elemento chamado Papaléo Paes!
Você achou isso ruim? Entre os suplentes do Senado tem um elemento chamado Papaléo Paes!
Chinaglia
Chinaglia é o presidente da câmara. A princípio, nada muda. O PMDB troca a presidência a que tinha direito por mais ministérios às custas do PT.
CM - Governo Paralelo
O Blog do CM mudou para bem melhor: virou uma espécie de governo paralelo, onde são discutidas políticas públicas (continua tendo umas análisezinhas de conjuntura meio ruinzinhas). Sobre a idéia de governo paralelo, duas coisas: 1) Quando o PT propôs fazer isso em 1989 (na tradição dos shadow cabinets parlamentaristas), foi chamado de golpista, etc. E 2) O sujeito que governa o Rio de Janeiro sabe que poder paralelo pode perfeitamente funcionar, mesmo. Fim das considerações preliminares.
O CM de hoje traz considerações interessantes sobre os estudos sobre favelas cariocas. Melhores momentos:
"Muitas favelas menores nas partes remotas da cidade ainda não viram seus antropólogos. Resulta daí que a produção universitária permaneça desequilibrada. Temos hoje conhecimento abundante sobre as favelas da Zona Sul, a área da cidade que concentra também bairros residenciais de classe média e hotéis para turistas, e muito pouco sobre as favelas da Zona Oeste -que crescem rapidamente"
"Os moradores que resistiam ao tráfico de drogas corriam o risco de serem assassinados, enquanto os que colaboravam corriam o risco de retaliação com a invasão de um grupo rival. Estudo da assembléia estadual diz que 100 líderes comunitários foram assassinados e outros 100 expulsos pelas gangues de drogas no Rio, entre 1992 e 2001"
Comentário: mais evidência de que os caras que merecem meu respeito no Rio, os cabras-macho que põem o seu na reta em nome dos ideais do iluminismo, os verdadeiros mártires da República, são os líderes comunitários de favela que não se vendem para traficante. Conheci um cara desses, do PT de Copa-Leme, que tinha que sair da reunião às 7 da noite porque antes do toque de recolher os moradores davam garantia dele subir o morro em segurança. Sei lá que fim levou esse cara. Mesmo se, no final das contas, tiver se vendido, continua com minha admiração pelo período em que não se vendeu.
"A associação de Rio das Pedras faz parte de um número dolorosamente pequeno de exceções a esse respeito. Lá agiram prematura e violentamente para manter o tráfico de drogas fora e mantiveram essa defesa forte nos últimos 20 anos. Ao suprimir a dissidência pela intimidação, a associação de Rio das Pedras assume algumas das características autoritárias das gangues de drogas contra as quais milita, mas pelo menos é menos tirânica, menos violenta e não é inerentemente instável em seu mando"
"Hoje em relação a 1976 (quando Janice Perlman derrubou o mito da marginalização), na maior parte dos aspectos, as favelas estão mais fortemente ligadas à cidade formal. Elas têm diversidade econômica cada vez maior e geraram sua própria classe média de empresários, proprietários, funcionários públicos e agentes de ONGs. Suas infra-estruturas melhoraram dramaticamente. A presença dos governos municipal e estadual já é tangível no dia a dia das favelas através de projetos de obras públicas em larga escala e esforços contínuos de agentes de campo que oferecem uma série de diversos serviços públicos.
"Duas verdades. A primeira é que além de assassinas e predatórias, as gangues de drogas também constituem um dreno imenso do comercio local, aplicando altas taxas sobre os negócios formais e informais, e até mesmo cobrando pedágio de entrada. As diversas iniciativas para fornecer microcrédito aos empreendedores da favela podem ou não aumentar a atividade comercial e criar emprego nas favelas, mas certamente ajudam os bolsos dos lideres destas gangues. A próspera vida comercial em Rio das Pedras onde os empresários têm custos de segurança comparativamente mais baixos permanece como um contra-exemplo curioso."
Comentário: O CM tem que tomar cuidado para não parecer que ele está apoiando as milícias.
O CM de hoje traz considerações interessantes sobre os estudos sobre favelas cariocas. Melhores momentos:
"Muitas favelas menores nas partes remotas da cidade ainda não viram seus antropólogos. Resulta daí que a produção universitária permaneça desequilibrada. Temos hoje conhecimento abundante sobre as favelas da Zona Sul, a área da cidade que concentra também bairros residenciais de classe média e hotéis para turistas, e muito pouco sobre as favelas da Zona Oeste -que crescem rapidamente"
"Os moradores que resistiam ao tráfico de drogas corriam o risco de serem assassinados, enquanto os que colaboravam corriam o risco de retaliação com a invasão de um grupo rival. Estudo da assembléia estadual diz que 100 líderes comunitários foram assassinados e outros 100 expulsos pelas gangues de drogas no Rio, entre 1992 e 2001"
Comentário: mais evidência de que os caras que merecem meu respeito no Rio, os cabras-macho que põem o seu na reta em nome dos ideais do iluminismo, os verdadeiros mártires da República, são os líderes comunitários de favela que não se vendem para traficante. Conheci um cara desses, do PT de Copa-Leme, que tinha que sair da reunião às 7 da noite porque antes do toque de recolher os moradores davam garantia dele subir o morro em segurança. Sei lá que fim levou esse cara. Mesmo se, no final das contas, tiver se vendido, continua com minha admiração pelo período em que não se vendeu.
"A associação de Rio das Pedras faz parte de um número dolorosamente pequeno de exceções a esse respeito. Lá agiram prematura e violentamente para manter o tráfico de drogas fora e mantiveram essa defesa forte nos últimos 20 anos. Ao suprimir a dissidência pela intimidação, a associação de Rio das Pedras assume algumas das características autoritárias das gangues de drogas contra as quais milita, mas pelo menos é menos tirânica, menos violenta e não é inerentemente instável em seu mando"
"Hoje em relação a 1976 (quando Janice Perlman derrubou o mito da marginalização), na maior parte dos aspectos, as favelas estão mais fortemente ligadas à cidade formal. Elas têm diversidade econômica cada vez maior e geraram sua própria classe média de empresários, proprietários, funcionários públicos e agentes de ONGs. Suas infra-estruturas melhoraram dramaticamente. A presença dos governos municipal e estadual já é tangível no dia a dia das favelas através de projetos de obras públicas em larga escala e esforços contínuos de agentes de campo que oferecem uma série de diversos serviços públicos.
"Duas verdades. A primeira é que além de assassinas e predatórias, as gangues de drogas também constituem um dreno imenso do comercio local, aplicando altas taxas sobre os negócios formais e informais, e até mesmo cobrando pedágio de entrada. As diversas iniciativas para fornecer microcrédito aos empreendedores da favela podem ou não aumentar a atividade comercial e criar emprego nas favelas, mas certamente ajudam os bolsos dos lideres destas gangues. A próspera vida comercial em Rio das Pedras onde os empresários têm custos de segurança comparativamente mais baixos permanece como um contra-exemplo curioso."
Comentário: O CM tem que tomar cuidado para não parecer que ele está apoiando as milícias.
Thursday, February 01, 2007
Renan Calheiros (CM errou)
Renan Calheiros ganhou fácil, como já esperado por todo mundo menos o César Maia, que no seu Ex-blog do dia 29 último anunciava:
"Senadores Jose Agripino e Renan empatados. Mas 8 senadores nao definiram seus votos"
A diferença foi bem maior que 8: 23.
"Senadores Jose Agripino e Renan empatados. Mas 8 senadores nao definiram seus votos"
A diferença foi bem maior que 8: 23.
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