Friday, February 02, 2007

CM - Governo Paralelo

O Blog do CM mudou para bem melhor: virou uma espécie de governo paralelo, onde são discutidas políticas públicas (continua tendo umas análisezinhas de conjuntura meio ruinzinhas). Sobre a idéia de governo paralelo, duas coisas: 1) Quando o PT propôs fazer isso em 1989 (na tradição dos shadow cabinets parlamentaristas), foi chamado de golpista, etc. E 2) O sujeito que governa o Rio de Janeiro sabe que poder paralelo pode perfeitamente funcionar, mesmo. Fim das considerações preliminares.

O CM de hoje traz considerações interessantes sobre os estudos sobre favelas cariocas. Melhores momentos:

"Muitas favelas menores nas partes remotas da cidade ainda não viram seus antropólogos. Resulta daí que a produção universitária permaneça desequilibrada. Temos hoje conhecimento abundante sobre as favelas da Zona Sul, a área da cidade que concentra também bairros residenciais de classe média e hotéis para turistas, e muito pouco sobre as favelas da Zona Oeste -que crescem rapidamente"

"Os moradores que resistiam ao tráfico de drogas corriam o risco de serem assassinados, enquanto os que colaboravam corriam o risco de retaliação com a invasão de um grupo rival. Estudo da assembléia estadual diz que 100 líderes comunitários foram assassinados e outros 100 expulsos pelas gangues de drogas no Rio, entre 1992 e 2001"

Comentário: mais evidência de que os caras que merecem meu respeito no Rio, os cabras-macho que põem o seu na reta em nome dos ideais do iluminismo, os verdadeiros mártires da República, são os líderes comunitários de favela que não se vendem para traficante. Conheci um cara desses, do PT de Copa-Leme, que tinha que sair da reunião às 7 da noite porque antes do toque de recolher os moradores davam garantia dele subir o morro em segurança. Sei lá que fim levou esse cara. Mesmo se, no final das contas, tiver se vendido, continua com minha admiração pelo período em que não se vendeu.

"A associação de Rio das Pedras faz parte de um número dolorosamente pequeno de exceções a esse respeito. Lá agiram prematura e violentamente para manter o tráfico de drogas fora e mantiveram essa defesa forte nos últimos 20 anos. Ao suprimir a dissidência pela intimidação, a associação de Rio das Pedras assume algumas das características autoritárias das gangues de drogas contra as quais milita, mas pelo menos é menos tirânica, menos violenta e não é inerentemente instável em seu mando"

"Hoje em relação a 1976 (quando Janice Perlman derrubou o mito da marginalização), na maior parte dos aspectos, as favelas estão mais fortemente ligadas à cidade formal. Elas têm diversidade econômica cada vez maior e geraram sua própria classe média de empresários, proprietários, funcionários públicos e agentes de ONGs. Suas infra-estruturas melhoraram dramaticamente. A presença dos governos municipal e estadual já é tangível no dia a dia das favelas através de projetos de obras públicas em larga escala e esforços contínuos de agentes de campo que oferecem uma série de diversos serviços públicos.

"Duas verdades. A primeira é que além de assassinas e predatórias, as gangues de drogas também constituem um dreno imenso do comercio local, aplicando altas taxas sobre os negócios formais e informais, e até mesmo cobrando pedágio de entrada. As diversas iniciativas para fornecer microcrédito aos empreendedores da favela podem ou não aumentar a atividade comercial e criar emprego nas favelas, mas certamente ajudam os bolsos dos lideres destas gangues. A próspera vida comercial em Rio das Pedras onde os empresários têm custos de segurança comparativamente mais baixos permanece como um contra-exemplo curioso."

Comentário: O CM tem que tomar cuidado para não parecer que ele está apoiando as milícias.

2 comments:

Anonymous said...

Mestre, eu sei que isso soa ridiculo, mas mesmo sem ter lido seu post eu tenho um comentário: governo paralelo? Governar o Rio de Janeiro não rola mesmo, né?

Na Prática said...

Grande Amiano! Bom, o cara achou mais fácil derrubar o Lula do que o CV. Faz sentido, cá entre nós.