Tuesday, May 29, 2007

Fasciochavismo em Construção

Pode-se discutir se Chávez teria debandado para o facismo se não tivesse sofrido a tentativa de golpe da triste direita venezuelana. Do que não se pode mais duvidar é que seu governo caminha para o autoritarismo a passos largos, e a constituição de um regime facista em solo latino-americano é um retrocesso contra o qual a esquerda deve lutar.

Até agora Chávez conseguiu comprar seu apoio social usando a renda do petróleo, que, graças à explosão de consumo da China e à guerra do Iraque, subiu de preço nos últimos anos. À medida, porém, que o preço do petróleo tende a cair, e já se fala de sua substituição parcial pelo etanol, Chávez sabe que a oposição a seu governo tende a crescer.

Para se prevenir contra isso, iniciou uma acelerada marcha para o facismo, simbolizada por três de suas medidas recentes:

1) O fechamento da RCTV, que fazia oposição ao governo. Não tenho a menor dúvida de que a RCTV deve ser politicamente horrorosa, mas o teste do defensor da democracia é saber se lhe basta, do ponto da vista da lei, que a imprensa seja livre; se ele precisar que a lei faça ela ser justa, algo está errado.

2) A proposta de anexação dos partidos menores do regime chavista em um mega-partido totalitário como o Ba'ath de Saddam.

3) Os elogios ao combate à criminalidade em Cuba, e a sugestão da criação de milícias cidadãs para combater o crime. Ora, as milícias bolivarianas jamais poderiam enfrentar gangues de criminosos (a não ser que fossem totalmente militarizadas, como a SS ou a SR dos nazistas), mas podem muito bem caçar dissidentes do regime.

Um sujeito de direita pode achar que isso é problema dos Venezuelanos, mas onde está a esquerda internacionalista? É deprimente admitir, mas se divide entre os que apóiam Chávez com maior ou menor entusiasmo, e os que acham que Chávez, como o fundamentalismo islâmico, pode ser horroroso, mas ao menos se opõe ao "Império" (utilização muito vagabunda do livro de Hardt e Negri).

É urgente que a esquerda latino-americana se levante contra a marcha da Venezuela para o autoritarismo, que, como a história não se cansa de mostrar, pode até se apoiar sobre os trabalhadores para chegar ao poder, mas, cedo ou tarde, os explora com ainda mais impiedade que o capitalismo liberal, assassina os sindicalistas independentes, e, pouco tempo depois, privatiza as empresas nacionalizadas para seus próprios asseclas (no caso, os famosos "boliburgueses", burgueses bolivarianos).

6 comments:

QVINTVS FABIVS PICTOR said...

Eu já disse faz tempo que o Brasil devia orientar a sua política externa no sentido de conter os interesses venezuelanos, mas é exatamente o que vocês disseram, a esquerda apóia esses débeis mentais (pra não falar dos talibãs e afins) só porque eles são "anti-império". Se Haroldo da saxonia quisesse acabar com a civilização e o banho e coletivizar os piolhos a esquerda aprovava também só porque é "anti-império". Blergh.

Anonymous said...

Engraçado, quando os socialistas começam a se tornar autoritários e ficam feios na fita, eles passam a receber o nome de fascistas nos círculos esquerdistas (que têm até a consciência de rejeitar Chavez, mas não a honestidade de reconhecê-lo como um conseqüência de seus vícios e ativismos planejadores, tão inerentes ao socialismo como no fascismo). O socialismo, o "socialismo do século XXI" sumiu do vocabulário, agora é só fasciochavismo?

QVINTVS FABIVS PICTOR said...

Pera lá, cobra de rabo, vamos definir o que é esquerda e o que é direita nesses tempos pós-marxistas. Há uma série de bandeiras que sempre foram históricamente defendidas pela esquerda, tais como deixar a boyolagem queimar rosca em paz, deixar a malandragem queimar fumo em paz, deixar a mulherada votar no collor porque acha ele bonitinho etc.

Há gente de direita que as defende hoje. A distinção fundamental talvez seja o papel do estado. Defino com de esquerda quem ainda acha que o estado tem um papel a cumprir, seja em termos de seguridade social, seja em termos de organização da economia. Ou alguém vai negar que a Hoover Dam foi feita pela porra do governo e não pelo Donald Trump?

Aristóteles por exemplo dizia que se as pessoas se organizam em sociedade visando um bem mútuo, a pólis (ie, o estado) por ser o ápice da organização social teria portanto os mais nobres objetivos. O cara tá certo.

Ninguém vai me convencer de que os culpados pelo chaves são os juristas e economistas que acreditam no papel do estado. Ninguém vai me convencer que o chaves é culpa do Blair (A esquerda do século XXI). Se você quiser culpar esses fanáticos de DCE que andam de sandálias de couro fumando maconha, eu até posso concordar, mas não esqueça de dividir a culpa deles com a burguesia venezuelana e seus corruptésimos políticos, que fazem merda até todos se emputecerem, abrindo espaço para essas bostas chavistas.

Na Prática said...

Caro Rabo de Cobra,

Chamo o Chávez de facista porque ele combina a manipulação de massas totalitária (que também existia nos países socialistas) com uma burguesia parasitária do Estado. Se você tiver outro conceito, tem todo o direito, mas o que eu estou usando não é tão controverso assim (e não me proponho a brigar pelo nome dos conceitos, só pelos conceitos).

A propósito, finalmente o velho Pictor resolve falar sério, matar a cobra e mostrar o pau, o que, no caso de um debate com um cara chamado rabo de cobra, tem toda uma nova gama de significados.

Anonymous said...

Olha, eu falei na boa. Não sacaneio que teu nome é na prática, então não sacaneie o meu. Não tenho culpa se meu pai gostava de lendas do agreste. Sério, meu nome é Jodilson do Rabo de Cobra Rocha. A cobra tem rabo, mas Jodilson não tem acento.

Na prática, fale mal de minhas idéias, mas respeite minhas origens. Tenho orgulho do meu nome e da imaginação carinhosa do meu pai.

Na Prática said...

HAHAHAHA Excelente! Caro Rabo de Cobra, espero que você se torne leitor regular.

Um abraço,

Jonas Pratico Ateu Orieoutros