O Merval Pereira discute, na sua coluna de hoje, o problema mais interessante da política brasileira contemporânea: por que o PT e o PSDB não unem forças? A convergência programática é notável nos últimos anos, desde que o PT teve que virar governo e o PSDB começou a voltar a ser partido. As complementaridades são óbvias: o partido do muito cacique pra pouco índio (o PSDB) e o partido das multidões indígenas sem cacique (o PT). E a conveniência para o país também é evidente, uma vez que os dois partidos somados diminuiriam drasticamente a necessidade de buscar apoio nos Jeffersons da vida. Figuras como Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Gilberto Gil, Eduardo Azeredo e Eduardo Jorge já manifestaram interesse em uma aproximação. Mas nada acontece.
A coluna do Merval descreve em detalhe as brigas políticas que levaram à separação das duas tendências da social-democracia brasileira: as disputas no começo dos anos 90, a eleição de FHC como anti-Lula e o namoro do PT com o slogan ‘Fora FHC’, e, em especial, o fato de que a essencial política paulista está dividida entre os dois partidos (muito embora, como bem notou o Mangabeira - ver artigo 'Verticalização e Democracia' - não seja o caso no resto dos estados). Tudo isso é verdade.
Mas há outro fator envolvido: a absoluta incapacidade da direita brasileira de lançar um candidato a presidente viável. Depois da aposta em Collor, a direita se encontra absolutamente desmoralizada, o que dá chance a partidos de centro-esquerda – em especial o PSDB – de ultrapassarem o PT pela direita.
Enquanto a direita brasileira não for capaz de produzir um candidato cujo histórico bancário sobreviva a quinze minutos de escrutínio pela imprensa, o incentivo à união das duas grandes forças de centro-esquerda brasileira permanecem baixo. Merval Pereira afirma que a única chance dos dois se unirem é em um segundo turno contra Garotinho, que está tentando uma ultrapassagem pela esquerda. A longo prazo, porém, o mais provável é que só se unam quando precisarem enfrentar um candidato de direita (e, o que no momento atual é ainda mais inimaginável, um partido de direita) apresentável e eleitoralmente viável.
Sunday, June 05, 2005
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