Friday, July 08, 2005

Atentado IV

Do ponto de vista ocidental, e mesmo, provavelmente, do ponto de vista do Islã, é claro que a guerra de Osama não é santa.

Mas menos certo ainda é dizer que é guerra. Há um elemento de virilidade, de coragem, no culto à guerra santa, cuja nobreza, por mais distorcida e doente que seja, não existe no vagabundo que explode sua carcaça fétida estourando criança no trem.

Osama não serve a um Deus de Paz, nem a um Deus guerreiro. Não há cultura humana que o justifique.

5 comments:

Anonymous said...

Os atentados terroristas não são justificáveis sob qualquer hipótese. Não menos verdade é que são, gostemos ou não, compreensíveis, e por razões humanas, demasiado humanas.
Desistoricizar ou desumanizar seus praticantes, a meu ver, não contribui para derrotá-los, e uma consequência da desumanização é fechar os ouvidos ao que os terroristas, por mais imbecis que sejam, têm a nos dizer.
Nada contribui mais para a morte de um terrorista do que deixar que ele "fale" antes que o silêncio de suas bombas fale por ele.

Na Prática said...

Grande Alex,

Muito interessantes suas consideracoes. Mas discordo completamente da ideia de que os terroristas da Al Qaeda ajam em função de frustrações inflingidas pelo Ocidente, ou que matem por que não têm espaço para falar. A Al Qaeda não é como os que fizeram a luta armada no Brasil; é como o Centro de Caça aos Comunistas.

Isso fica claro se imaginarmos a catástrofe que seria uma Palestina sob o comando da Al Qaeda. Sob influencia das uniiversidades da ONU, as mulheres palestinas são as mais livres do mundo arabe. A repressão política na palestina (mesmo sob a ocupação) é muito menor que na Síria, por exemplo, ou na Arábia Saudita. A Al Qaeda tem como objetivo a opressão eterna do povo islâmico sob o califado mundial. Não é que esteja sendo calada à força, não está a fim de conversa.

O Blair outro dia fez a distinção com o IRA. O IRA quer algo perfeitamente factivel, a separação do Reino Unido. Isso se pode negociar, pode-se chegar a meios-termos, etc. Mas que reinvindicação da Al Qaeda chega a ser remotamente parecida?

A defesa da liberdade palestina, ou a exigencia da retirada dos americanos do Iraque, sao incorporacoes tardias ao discurso de Osama. A frustracao basica foi o governo saudita nao ter usado seus mujahedins, e sim o exercito americano, para se defender de Saddam na primeira guerra do golfo.

(aliás, alguem acredita que os mujahedins, se tivessem vencido o Iraque, teriam cumprido o mandato da ONU de nao ocupar o Iraque?)

Trata-se, portanto, de uma guerra civil saudita, na qual atuam dissidentes egípcios e de outras nacionalidades com reinvindicações ultradireitistas semelhantes. A Al Qaeda, por incrivel que pareça, acha que a Arábia Saudita é aberta demais.

Anonymous said...

Concordo com você, Celso, sobre a Al Qaeda ser uma das facções em luta na Guerra Civil da Arábia Saudita. O que mais me impressiona é em que medida esse nacionalismo árabe só poder ser expresso em termos globais. Ou seja, uma guerra civil travada para além do território geo-político da Arábia Saudita propriamente dito.
No entanto, "ouvir" o que os terroristas têm a dizer pode significar, longe de aproximar o microfone de Bin Laden, entender as complexas ligações entre a Casa Branca e a Família Real Saudita, em que pesem interesses de corporações petrolíferas do porte da Unocal, recentemente alvo de disputa da estatal chinesa Offshore Oil Corporation.
Muito interessante é a coluna a esse respeito escrita por Antonio Luiz M. Costa, da CartaCapital, sobre os vínculos e o currículo desta petrolífera de porte pequeno que teve entre seus funcionários pessoas como Khalilzad, embaixador dos EUA no Afeganistão.
Os mitos têm certa dose de verdade. Outra coisa é entender em que medida o Ocidente armou e criou Bin Laden e esta forma ultradireitista de nacionalismo árabe.
Investigar a história destas relações pode ajudar a compreender as "razões" e os interesses ocultos do terrori$mo internacional.

Anonymous said...

Me referi acima à matéria "Globalização em via única", de Antonio Luiz Costa, na Carta Capital dee 13 de julho de 2005, infelizmente nao disponível on-line.

Anonymous said...

De fato é uma guerra civil saudita (onde é que nós estamos...), mas é preciso procurar sua história no decorrer da Guerra Fria, quando todas essas coisas bonitas como a Coréia do Norte, as ditaduras africanas, Bin Laden, Khomeini etc etc etc foram devidamente potencializados de forma direta e/ou indireta pelos interesses dos EUA e URSS.

Essas monstruosidades todas a solta não são meras reações ao imperialismo americano, mas sim são "filhotes" detestáveis da Guerra Fria que atingiram a maturidade. Seria interessante pensar um pouco como todos esses grupos fundamentalistas foram forjados no conflito americano-soviético.