Friday, July 08, 2005

Atentado V

Quem pode condenar Osama? Eu. Todos. Quem chegar primeiro.

3 comments:

Anonymous said...

Sobre os textos "Atentado" I, II, III, IV e V:
Disse tudo. Não há mais nenhuma sustentação para quaisquer das atitudes tomadas pela Al-Quaeda. No limite, Osama Bin Laden, sua organização e todos os seus seguidores têm no horizonte uma miragem: o Alah que os jihadistas cultuam nunca existiu, como nunca existiu uma idade de ouro islâmica corrompida pelas luzes ocidentais.

Há milhões de objeções possíveis a toda uma história das relações internacionais de dominação e poder pautadas no racismo e no etnocentrismo - especialmente aquele aperfeiçoado nos séculos XIX e XX. No entanto a resposta mais efetiva ao desastre criado pelo racismo nos períodos do Imperialismo e da Guerra Fria não são nem a Jihad, nem qualquer prática ou ideologia que negue o direito a existência das diferenças, sejam elas culturais ou ontológicas, mas sim em algo que todos os fundamentalistas religiosos ou não, à direita ou à esquerda, insistem em transformar em montes de sangue e escombros: a política. É preciso buscar um acordo urgente que permita a construção de normas comuns legais e laicas que possam superar (ou recolocar em contato) as identidades de muçulmanos, cristãos, judeus, "ocidentais" ou "orientais" etc. Chirac, à sua maneira, tentou fazer isso ao impedir o uso de símbolos religiosos no espaço público francês.

Não tenho elementos para julgar os méritos nem os resultados do que está ocorrendo na França com relação a essa situação, mas concordo que é fundamental laicizar o espaço público e político seja no Brasil, na Europa ou no mundo todo. A causa de uma política fundada em uma espécie de "humanismo das diferenças" e que seja necessariamente laico é, ao meu ver, uma causa pela qual é justo lutar hoje.

Na Prática said...

Caro Renato,

Concordo. Naturalmente, a religiao pode inspirar causas, posteriormente defendidas na esfera publica pela razão. Por exemplo, alguém pode se opor à pena de morte por motivos religiosos, mas não pode defendê-la no plenário por que a Bíblia a proíbe. Deve, sim, explorar os muitos pontos de contato entre as religioes e os principios da etica democratica (como o direito a vida).

Nesse caso, a fé tem o mesmo estatuto da emoção. Podemos combater a pobreza por um sentimento de que a justiça foi ferida, mas não podemos propor qualquer medida que se justifique exclusivamente por esse motivo, sem consideração, por exemplo, de sua eficácia em corrigir a injustiça.

Mas é claro que começar a discussão com argumentos de fé é recorrer ao que Rorty (eu acho)chamou de 'conversation stopper'.

Anonymous said...

Resta uma aporia - ao menos eu só consigo pensar este problema enquanto uma aporia: não acredito que uma visão religiosa de mundo possa conviver em um espaço democrático laico, não sem algum tipo de coerção ou deslegitimação de uma visão religiosa.

Pessoalmente sou cético quanto a existência de um cenário no qual pessoas ou grupos que têm como referência principal a religião, as autoridades religiosas e uma forma de ver o mundo completamente religiosa, no limite, possam partilhar de decisões democráticas, principalmente em questões que considero importantes tais como: devemos eleger um candidato por que ele se diz representante de Deus, ou escolhido por Deus? Devo escolher a forma pela qual vou morrer quando nenhum recurso puder mais me manter vivo de uma maneira digna (o que, em minha opinião, é bem diferente de defender o suicídio pura e simplesmente)? Uma mulher que engravidou por força do estupro, ou que possui um feto anencéfalo pode interromper sua gravidez? O dinheiro público deve ser usado para tratar viciados em drogas?

Debater de forma razoavelmente equilibrada tópicos como esses impõe, necessariamente, que os diferentes estabeleçam um acordo que seja mais forte que o da tolerância liberal e, creio também, do que o uso da razão pública. Isto porque religiosos só conseguem pensar a razão enquanto subordinada a Fé, ou legitimadora da Fé em Deus e na religião.

No fundo não é uma questão de uso da razão, mas dos próprios fundamentos psicológicos, éticos e existenciais de uma pessoa, comunidade ou grupo religioso.

O espaço público laico implica necessariamente o imperativo da lei em consonância com uma ética pública, com relações entre grupos e indivíduos sinalizadas a partir de códigos de sociabilidade reconhecíveis. Esses elementos todos precisam estar em equilíbrio suficiente para que o Estado não massacre os indivíduos e para impedir que se tome por universais ideologias de particulares (ou, ao menos, minorar seus efeitos).

Particularmente tenho dúvidas se alguém que tem como referência fundamental para sua existência a crença de que sua vida pertence única e exclusivamente a Deus e que nutra desconfiança contra todos os não sigam sua visão de mundo possa aceitar, racionalmente e sem algum tipo de coerção, a convivência com os diferentes sem transformá-los em desiguais e/ou sem levá-los a uma assimilação aos valores de sua religião. Religiões monoteístas - e hoje o fundamentalismo islâmico em particular - são verdadeiras máquinas de produção de etnocentrismo. E eu ousaria dizer que permitir ou tolerar enclaves religiosos sem limitá-los a uma regra de vida pública, nos moldes acima descritos, é preparar verdadeiras bombas-relógio. Não penso que uma democracia possa funcionar bem sem um bom grau de desqualificação das autoridades religiosas e sem, ao menos, uma relativização de Deus e de seus poderes.