Um colega nosso muito gente boa postou nosso post "Fasciochavismo" no site do CMI, que agora não esconde mais ser um órgão do ministério da propaganda da Venezuela. Como seria de se esperar, uns caras ficaram meio brabos. Pra quem quiser ler o debate em altíssimo nível (tenho certeza de que serão multidões), é só olhar aqui.
Essa é pra você que achava que depois de Chiapas não tinha nada mais besta pros caras do Indimedya apoiarem.
Thursday, May 31, 2007
Tuesday, May 29, 2007
Fasciochavismo em Construção
Pode-se discutir se Chávez teria debandado para o facismo se não tivesse sofrido a tentativa de golpe da triste direita venezuelana. Do que não se pode mais duvidar é que seu governo caminha para o autoritarismo a passos largos, e a constituição de um regime facista em solo latino-americano é um retrocesso contra o qual a esquerda deve lutar.
Até agora Chávez conseguiu comprar seu apoio social usando a renda do petróleo, que, graças à explosão de consumo da China e à guerra do Iraque, subiu de preço nos últimos anos. À medida, porém, que o preço do petróleo tende a cair, e já se fala de sua substituição parcial pelo etanol, Chávez sabe que a oposição a seu governo tende a crescer.
Para se prevenir contra isso, iniciou uma acelerada marcha para o facismo, simbolizada por três de suas medidas recentes:
1) O fechamento da RCTV, que fazia oposição ao governo. Não tenho a menor dúvida de que a RCTV deve ser politicamente horrorosa, mas o teste do defensor da democracia é saber se lhe basta, do ponto da vista da lei, que a imprensa seja livre; se ele precisar que a lei faça ela ser justa, algo está errado.
2) A proposta de anexação dos partidos menores do regime chavista em um mega-partido totalitário como o Ba'ath de Saddam.
3) Os elogios ao combate à criminalidade em Cuba, e a sugestão da criação de milícias cidadãs para combater o crime. Ora, as milícias bolivarianas jamais poderiam enfrentar gangues de criminosos (a não ser que fossem totalmente militarizadas, como a SS ou a SR dos nazistas), mas podem muito bem caçar dissidentes do regime.
Um sujeito de direita pode achar que isso é problema dos Venezuelanos, mas onde está a esquerda internacionalista? É deprimente admitir, mas se divide entre os que apóiam Chávez com maior ou menor entusiasmo, e os que acham que Chávez, como o fundamentalismo islâmico, pode ser horroroso, mas ao menos se opõe ao "Império" (utilização muito vagabunda do livro de Hardt e Negri).
É urgente que a esquerda latino-americana se levante contra a marcha da Venezuela para o autoritarismo, que, como a história não se cansa de mostrar, pode até se apoiar sobre os trabalhadores para chegar ao poder, mas, cedo ou tarde, os explora com ainda mais impiedade que o capitalismo liberal, assassina os sindicalistas independentes, e, pouco tempo depois, privatiza as empresas nacionalizadas para seus próprios asseclas (no caso, os famosos "boliburgueses", burgueses bolivarianos).
Até agora Chávez conseguiu comprar seu apoio social usando a renda do petróleo, que, graças à explosão de consumo da China e à guerra do Iraque, subiu de preço nos últimos anos. À medida, porém, que o preço do petróleo tende a cair, e já se fala de sua substituição parcial pelo etanol, Chávez sabe que a oposição a seu governo tende a crescer.
Para se prevenir contra isso, iniciou uma acelerada marcha para o facismo, simbolizada por três de suas medidas recentes:
1) O fechamento da RCTV, que fazia oposição ao governo. Não tenho a menor dúvida de que a RCTV deve ser politicamente horrorosa, mas o teste do defensor da democracia é saber se lhe basta, do ponto da vista da lei, que a imprensa seja livre; se ele precisar que a lei faça ela ser justa, algo está errado.
2) A proposta de anexação dos partidos menores do regime chavista em um mega-partido totalitário como o Ba'ath de Saddam.
3) Os elogios ao combate à criminalidade em Cuba, e a sugestão da criação de milícias cidadãs para combater o crime. Ora, as milícias bolivarianas jamais poderiam enfrentar gangues de criminosos (a não ser que fossem totalmente militarizadas, como a SS ou a SR dos nazistas), mas podem muito bem caçar dissidentes do regime.
Um sujeito de direita pode achar que isso é problema dos Venezuelanos, mas onde está a esquerda internacionalista? É deprimente admitir, mas se divide entre os que apóiam Chávez com maior ou menor entusiasmo, e os que acham que Chávez, como o fundamentalismo islâmico, pode ser horroroso, mas ao menos se opõe ao "Império" (utilização muito vagabunda do livro de Hardt e Negri).
É urgente que a esquerda latino-americana se levante contra a marcha da Venezuela para o autoritarismo, que, como a história não se cansa de mostrar, pode até se apoiar sobre os trabalhadores para chegar ao poder, mas, cedo ou tarde, os explora com ainda mais impiedade que o capitalismo liberal, assassina os sindicalistas independentes, e, pouco tempo depois, privatiza as empresas nacionalizadas para seus próprios asseclas (no caso, os famosos "boliburgueses", burgueses bolivarianos).
Que beleza
Vejam só essa que saiu no blog do Dr. ABC: dois gêmeos idênticos concorreram a vagas por cota racial: um ganhou, o outro não. Parece coisa do Kibe Loco, mas não.
Reencarna um merda
Pois é, alegria de esquerdista dura pouco. Foi só a gente começar a comemorar a morte desse merda que ele agora reencarnou, na Polônia, e voltou a perseguir seu velho nêmesis, o Tinky Winky. Trata-se, sem dúvida, do mesmo fenômeno que ocorreu com a nega do Bezerra da Silva, tão bem narrado pelo bardo nos versos que se seguem, da imortal composição "Pode acreditar em mim":
Mas eu mandei minha nêga pro inferno
O diabo não quis aceitar
Eu mandei minha nêga pro inferno
O diabo não quis aceitar
Ele me mandou a crioula de volta
Dizendo que lá não era seu lugar
Me mandou a crioula de volta
Dizendo que lá não era seu lugar
Olha que o bicho muito injuriado
Com a minha crioula não quis brincadeira
Disse que ela me deu muitas voltas
E a ele enganou com a peneira
Mandou um bilhete por ela
Para mim escrito assim:
Essa sua mulher não é flor que se cheire, malandro
Pode acreditar em mim
Refrão
Eu mandei jogar ela dentro do fogo
E o fogo me pediu chorando:
Você vê se tira essa mulher daqui
Porque ela está me queimando
O diabo ficou nervoso
dizendoIsso aqui jamais aconteceu
Só mandei sua mulher de volta, amizade
Porque ela é pior do que eu
Detalhe: a medida é apenas uma dos vários sinais de homofobia por parte dos gêmeos que governam a Polônia como ultra-reacionários. A emergência do ultra-reacionarismo no Leste é uma consequência tanto do refluxo do igualitarismo depois do fim do comunismo quanto do fato de que os regimes comunistas eram frequentemente moralistas, e por vezes anti-semitas, ainda que de maneira mais ou menos velada. Vamos esperar que se façam ouvir as vozes dos grandes intelectuais dissidentes que a Polônia produziu.
Mas eu mandei minha nêga pro inferno
O diabo não quis aceitar
Eu mandei minha nêga pro inferno
O diabo não quis aceitar
Ele me mandou a crioula de volta
Dizendo que lá não era seu lugar
Me mandou a crioula de volta
Dizendo que lá não era seu lugar
Olha que o bicho muito injuriado
Com a minha crioula não quis brincadeira
Disse que ela me deu muitas voltas
E a ele enganou com a peneira
Mandou um bilhete por ela
Para mim escrito assim:
Essa sua mulher não é flor que se cheire, malandro
Pode acreditar em mim
Refrão
Eu mandei jogar ela dentro do fogo
E o fogo me pediu chorando:
Você vê se tira essa mulher daqui
Porque ela está me queimando
O diabo ficou nervoso
dizendoIsso aqui jamais aconteceu
Só mandei sua mulher de volta, amizade
Porque ela é pior do que eu
Detalhe: a medida é apenas uma dos vários sinais de homofobia por parte dos gêmeos que governam a Polônia como ultra-reacionários. A emergência do ultra-reacionarismo no Leste é uma consequência tanto do refluxo do igualitarismo depois do fim do comunismo quanto do fato de que os regimes comunistas eram frequentemente moralistas, e por vezes anti-semitas, ainda que de maneira mais ou menos velada. Vamos esperar que se façam ouvir as vozes dos grandes intelectuais dissidentes que a Polônia produziu.
Monday, May 28, 2007
Novo Bagehot
A The Economist está se despedindo de seu Bagehot, e terá um novo Bagehot na próxima edição. Para quem não acompanha (vê se acompanha aí, mané!) a The Economist, a Bagehot é a coluna semanal sobre política inglesa, e tem sempre um colunista fixo e anônimo - na The Economist, nenhuma matéria é assinada, todas são da responsabilidade do editor. Além dos Bagehots, os outros colunistas fixos são o Lexington (política americana) e o Charlemagne (política européia). O anonimato é meio esquisito: por exemplo, embora não saibamos qual o nome do Bagehot que está saindo, a última coluna tem uma caricatura dele ao lado do Blair. Se não me engano, o atual editor da revista era um Lexington (e autor de um belo livro sobre a direita americana, que vai ser resenhado aqui qualquer hora).
Em tempo: o nome do Bagehot vem do lendário Walter Bagehot, segundo editor da The Economist (genro do fundador), autor de um clássico, "The English Constitution", e, suprema realização, nascido na mesma data que eu.
Em tempo: o nome do Bagehot vem do lendário Walter Bagehot, segundo editor da The Economist (genro do fundador), autor de um clássico, "The English Constitution", e, suprema realização, nascido na mesma data que eu.
RCTV na Web
A RCTV, que Chávez, em rápida progressão para o facismo, fechou, vai agora transmitir pela web. Cá entre nós, a RCTV deve ser uma merda, mas eu vou assistir de vez em quando só pra dar audiência e encher o saco do Chávez.
Ofensiva Nazi na Rússia
Ontem houve uma passeata gay em Moscou. Beleza, sinal que a democracia está se enraizando na Rússia, certo? Só que um grupo neo-nazi invadiu a passeata e deu porrada em todo mundo. Até aí, é uma merda, mas indicaria apenas que uma franja radical da direita russa precisa ser contida. O problema maior é que a polícia apareceu, prendeu OS MANIFESTANTES, e deixou os nazistas irem embora.
O prefeito de Moscou, o vagabundo do Luzhkov, é uma daquelas figuras espetaculares da transição Russa que, como vocês podem imaginar, não empobreceu nada desde 1992, quando transformou Moscou em um feudo da sua turma. Andou se engraçando de virar presidente, mas, quando o Putin olhou feio pra ele, ele mostrou que realmente é macho pra cacete, calou a boca, achou bonito calar a boca, e achou mais bonito ainda calar a boca por ter sido o Putin que mandou ele calar a boca. O protesto aconteceu porque o merdinha havia proibido uma passeata do orgulho gay em Moscou, e dito que a proposta era "satânica".
O prefeito de Moscou, o vagabundo do Luzhkov, é uma daquelas figuras espetaculares da transição Russa que, como vocês podem imaginar, não empobreceu nada desde 1992, quando transformou Moscou em um feudo da sua turma. Andou se engraçando de virar presidente, mas, quando o Putin olhou feio pra ele, ele mostrou que realmente é macho pra cacete, calou a boca, achou bonito calar a boca, e achou mais bonito ainda calar a boca por ter sido o Putin que mandou ele calar a boca. O protesto aconteceu porque o merdinha havia proibido uma passeata do orgulho gay em Moscou, e dito que a proposta era "satânica".
Governo e Congresso
E, a propósito, aproveitamos o boletim do CM de hoje para reclamar de uma besteira que se diz com certa frequência. Com a palavra, o progenitor do Rodriguinho:
"O Lula já declarou várias vezes que é o Congresso que não aprova as reformas, etc... Mas se 90% das leis aprovadas são da iniciativa e interesse do executivo, porque não apresenta as leis das tais reformas? ."
Se o CM tivesse feito o curso de Ciência Política I, teria lido "Power" do Steven Lukes. O raciocínio do CM se baseia na visão mais elementar do que é o poder: vendo quem ganha quando há um embate. Quando o governo apresenta projeto, ganha. Logo, o governo é mais poderoso que o Congresso.
Esse método é muito falho, porque os agentes racionais calculam antes de ir pro pau se vão ganhar ou não. Se o governo conta os votos que tem e vê que vai perder a votação, ele não manda o projeto. Se ele só manda quando vai ganhar, não impressiona que ganhe sempre que manda.
O poder não é só quem ganha o embate que efetivamente ocorre, é também quem consegue que seus adversários nem comecem a briga, e, principalmente (vide Gramsci) quem consegue definir os termos do debate.
A propósito, é impressionante o quanto o Ex-Blog caiu de qualidade depois da eleição.
"O Lula já declarou várias vezes que é o Congresso que não aprova as reformas, etc... Mas se 90% das leis aprovadas são da iniciativa e interesse do executivo, porque não apresenta as leis das tais reformas? ."
Se o CM tivesse feito o curso de Ciência Política I, teria lido "Power" do Steven Lukes. O raciocínio do CM se baseia na visão mais elementar do que é o poder: vendo quem ganha quando há um embate. Quando o governo apresenta projeto, ganha. Logo, o governo é mais poderoso que o Congresso.
Esse método é muito falho, porque os agentes racionais calculam antes de ir pro pau se vão ganhar ou não. Se o governo conta os votos que tem e vê que vai perder a votação, ele não manda o projeto. Se ele só manda quando vai ganhar, não impressiona que ganhe sempre que manda.
O poder não é só quem ganha o embate que efetivamente ocorre, é também quem consegue que seus adversários nem comecem a briga, e, principalmente (vide Gramsci) quem consegue definir os termos do debate.
A propósito, é impressionante o quanto o Ex-Blog caiu de qualidade depois da eleição.
César Maia apavorado
A prova de que essa operação navalha é, finalmente, um corte nos fluxos grandes de corrupção, é que todo mundo no mundo político, no supremo, e, obviamente, no blog do César Maia, está reclamando da utilização política das denúncias de corrupção (quem quiser ver o picareta do Dirceu aproveitando para tirar uma casquinha, veja aqui). Hoje o CM está tentando desviar o foco dizendo que tudo não passa de uma operação do PT para queimar o Renan vazando para a Veja. Visto que quem vaza para a Veja é a oposição, a jogada é meio ruinzinha, e não deve enganar ninguém.
Mas o interessante é que esse aí, sim, é o caminho da grande corrupção - obras públicas. Fica aqui nosso apoio à PF.
Mas o interessante é que esse aí, sim, é o caminho da grande corrupção - obras públicas. Fica aqui nosso apoio à PF.
Friday, May 25, 2007
Eleição nos EUA
A última eleição dos EUA foi a mais medíocre do século XX, com dois candidatos que não seriam aceitos para presidente do Volta Redonda. Em compensação, essa promete ser excelente: dos dois lados (Hillary e Obama, McCain e Giuliani) os candidatos são bem acima da média. Naturalmente, prefiro Hillary ou Obama, mas os Republicanos também são bem acima do nível dos seus últimos representantes (ah, bom).
Hillary provavelmente seria a melhor presidente. Tem um talento espetacular, e conseguiu sair da sombra do marido, o que não seria nada de mais se o marido não fosse uma das maiores lideranças mundiais do final do século XX (É ele ou o Blair). E é mais "battle-hardened" que o Obama: já apanhou, já aprendeu, amadureceu, enfim, provavelmente está no ponto para a presidência. Mas a malta de vagabundos da direita americana a odeia sobre todas as coisas: acham que ela é o Maio de 68 francês reencarnado. O merdinha que morreu semana passada (e que já está, portanto, há uma semana sendo sodomizado por Belzebu) dizia, por exemplo, que votaria no demônio, mas não em Hillary (felizmente, o Bush não pode concorrer de novo). Ou seja, Hillary talvez fosse melhor presidente, mas não sei se seria eleita.
Já o Obama não tem o que melhorar como candidato. A questão é o que ele seria como presidente. Meu medo com relaçao ao Obama é que ele é um candidato tão bom que não importa o quão bom fosse seu governo, frustraria as expectativas. Vantagem: tem mais chances de ganhar.
O problema dos republicanos é que, por melhores que sejam, acabam tendo que ajoelhar pra essa turma do merdinha que está faz uma semana sendo sodomizado por Belzebu. McCain, o melhor republicano dos últimos vinte anos, foi dar palestra na universidade do merdinha que está a uma semana sendo sodomizado por Belzebu. Giuliani já falou que apóia a tortura. Enfim.
Hillary provavelmente seria a melhor presidente. Tem um talento espetacular, e conseguiu sair da sombra do marido, o que não seria nada de mais se o marido não fosse uma das maiores lideranças mundiais do final do século XX (É ele ou o Blair). E é mais "battle-hardened" que o Obama: já apanhou, já aprendeu, amadureceu, enfim, provavelmente está no ponto para a presidência. Mas a malta de vagabundos da direita americana a odeia sobre todas as coisas: acham que ela é o Maio de 68 francês reencarnado. O merdinha que morreu semana passada (e que já está, portanto, há uma semana sendo sodomizado por Belzebu) dizia, por exemplo, que votaria no demônio, mas não em Hillary (felizmente, o Bush não pode concorrer de novo). Ou seja, Hillary talvez fosse melhor presidente, mas não sei se seria eleita.
Já o Obama não tem o que melhorar como candidato. A questão é o que ele seria como presidente. Meu medo com relaçao ao Obama é que ele é um candidato tão bom que não importa o quão bom fosse seu governo, frustraria as expectativas. Vantagem: tem mais chances de ganhar.
O problema dos republicanos é que, por melhores que sejam, acabam tendo que ajoelhar pra essa turma do merdinha que está faz uma semana sendo sodomizado por Belzebu. McCain, o melhor republicano dos últimos vinte anos, foi dar palestra na universidade do merdinha que está a uma semana sendo sodomizado por Belzebu. Giuliani já falou que apóia a tortura. Enfim.
É oficial: perdi o fio da meada
The Other Place agora tem o primeiro prefeito transexual, um cara que virou mulher. Até aí beleza. Não tenho absolutamente nenhum preconceito contra o homossexualismo. E, embora ache meio esquisito o cara mudar de sexo, também acho tudo uma beleza, tranquilo, cada qual é cada qual. O que me assusta nessa história é que a dona em questão é casada com outro transexual. Se fosse um transexual "mulher que virou homem", seria já meio estranho, mas também tava tudo beleza: sujeito que gosta de homem vira mulher e encontra dona que gosta de mulher e vira homem. Faz sentido. É meio complicado, mas faz sentido.
O que realmente entortou minha cabeça é que o cara que virou mulher casou com OUTRO CARA QUE VIROU MULHER. Ou seja: o cara virou mulher pra poder ser lésbica. Porra, malando, se tu gostava de mulher, porque não ficou onde estava? Cidade Universitária só tem maluco.
Deixo claro que não tenho nada contra as duas donas, e, aliás, até as admiro pela coragem de serem diferentes. Mas confesso que não estou entendendo mais porra nenhuma.
Tô ficando velho
O que realmente entortou minha cabeça é que o cara que virou mulher casou com OUTRO CARA QUE VIROU MULHER. Ou seja: o cara virou mulher pra poder ser lésbica. Porra, malando, se tu gostava de mulher, porque não ficou onde estava? Cidade Universitária só tem maluco.
Deixo claro que não tenho nada contra as duas donas, e, aliás, até as admiro pela coragem de serem diferentes. Mas confesso que não estou entendendo mais porra nenhuma.
Tô ficando velho
Thursday, May 24, 2007
Guiness com Trevo de Quatro Folhas
Inspirado nesse post da Paulinha, segue a foto da Guiness com trevo de quatro folhas desenhado na espuma, prova de que a espuma está densa como deve ser.
Livro Legal: "Sobre Cigarras e Formigas", do Palocci
Naturalmente, nenhuma das pessoas bem informadas que lêem esse blog vai comprar esse livro por causa da historinha, que todo mundo conhece. Por isso vamos destacar alguns pontos que parecem interessantes (além do trecho sobre a Agenda Perdida, já comentado):
1) Suspeito que o Brasil tenha dado uma sorte na sua política econômica (alguma hora tinha que acontecer) quando teve, em seguida, Armínio Fraga e Antonio Palocci como czares sucessivos da economia. O nível intelectual e político dos dois é muito superior ao da média nacional (ahhh bom).
2) Palocci é sinceramente convertido à moderação econômica. O livro é, antes de mais nada, um manifesto pelas reformas de mercado, tanto as "de sempre" (trabalhista, das agências de regulação, da previdência, etc.) quanto, com especial entusiasmo, da agenda microeconômica (melhoria do ambiente de negócios, desburocratização, melhoria do acesso ao crédito, etc.). Defende a proposta do esforço fiscal de longo prazo, e a cita, inclusive, como uma das causas de seu enfraquecimento político (o fogo amigo). Sugere que, em algum momento, o Brasil considere abrir mais sua economia como forma de conseguir acesso a mercados internacionais. No final do livro, e, na minha opinião, sem a ênfase que me pareceria adequada, se refere à necessidade de uma política de inovação.
Mais: em vários momentos, enfatiza que uma das virtudes de sua gestão foi a ausência de medidas "heterodoxas", e expressa sua admiração por grandes economistas (alguns mais, outros menos) mainstream. Especialmente interessante é sua discordância com Marco Aurélio Garcia, que defendia a política econômica, mas sugeria que ela fosse apresentada como reação necessária às besteiras do governo anterior. Palocci não nega que houve besteiras no governo anterior, mas afirma que a moderação econômica é boa e pronto, de qualquer maneira.
3) Ninguém deve esperar grandes polêmicas, pois Palocci é patologicamente diplomático, o que, no sistema político brasileiro, é, sem dúvida, um progresso. Mas fica a impressão de que seu grande crítico dentro do governo não foi o Dirceu, como se pensava, mas o Mercadante.
4) Interessante o episódio da negociação com o Gordon Brown sobre ajuda internacional. Há várias histórias interessantes como essa.
5) Sobre o episódio da queda do caseiro: o argumento é bem construído para mostrar que as denúncias eram motivadas politicamente. Começaram exatamente quando saiu a primeira pesquisa com a recuperação de Lula. Palocci diz que uma grande figura da política nacional (não identificada) o chamou em casa e disse que, em uma reunião, PSDB e PFL resolveram que a única forma de deter a nova ascensão de Lula era ir atrás dele. Mostra que as acusações do caseiro eram fracas (em várias das datas que o caseiro disse que ele foi à casa dos caras de Ribeirão Preto, ele estava em viagem internacional) e até aí está tudo beleza.
6) O problema, naturalmente, que, a meu ver, justificou sua queda, foi a quebra de sigilo, imperdoável. Nessa hora, Palocci, em duas páginas, afirma que não quebrou o sigilo nem vazou a notícia, mas diz que acha que quem fez isso fez para ajudá-lo, e portanto, pede desculpas e assume "responsabilidade política". Enfim.
Nós aqui continuamos onde sempre estivemos: o Palocci foi um salto qualitativo na gestão de esquerda brasileira, que, aparentemente, não deixa sucessores.
Ocupação de Tucuruí (CTRL + C + > Dr. ABC)
Copiado na maior (CTRL + C + >) do Dr. ABC:
"Mas o que eu achei mesmo um ABSURDO foi os caras do MST, da Via Campesina e do Movimento dos Atingidos por Barragens (???) terem invadido a segunda maior geradora de energia do país, Tucuruí. Até agora eles estão na sala de controle, tendo expulsado todos os técnicos da Eletronorte do local.
Quem já trabalhou com ou tem o mínimo conhecimento de eletricidade, sabe o quão arriscado é fazer isso. Os técnicos ficam lá o dia inteiro analisando os indicadores, verificando constantemente a voltagem, medindo hora após hora o funcionamento da usina. Agora, ninguém está fazendo isso. Mas pior: e se alguma criança xereta ou adulto idiota resolver meter um dedo num daqueles vários botões? A USINA PODE PARAR DE FUNCIONAR, e aí o Norte e o Nordeste do Brasil ficarão sem energia.
O que eles querem? O caos? Isso não é protesto, é irresponsabilidade. Que os líderes do movimento saiam logo dali. Se acontecer alguma merda, a população ficará contra eles, e com razão. E aí, se houver alguma justiça no protesto, ela irá por água abaixo..."
"Mas o que eu achei mesmo um ABSURDO foi os caras do MST, da Via Campesina e do Movimento dos Atingidos por Barragens (???) terem invadido a segunda maior geradora de energia do país, Tucuruí. Até agora eles estão na sala de controle, tendo expulsado todos os técnicos da Eletronorte do local.
Quem já trabalhou com ou tem o mínimo conhecimento de eletricidade, sabe o quão arriscado é fazer isso. Os técnicos ficam lá o dia inteiro analisando os indicadores, verificando constantemente a voltagem, medindo hora após hora o funcionamento da usina. Agora, ninguém está fazendo isso. Mas pior: e se alguma criança xereta ou adulto idiota resolver meter um dedo num daqueles vários botões? A USINA PODE PARAR DE FUNCIONAR, e aí o Norte e o Nordeste do Brasil ficarão sem energia.
O que eles querem? O caos? Isso não é protesto, é irresponsabilidade. Que os líderes do movimento saiam logo dali. Se acontecer alguma merda, a população ficará contra eles, e com razão. E aí, se houver alguma justiça no protesto, ela irá por água abaixo..."
Wednesday, May 23, 2007
Giddens
O nosso velho chapa Tony Giddens, aconselha o Sarkozy a fazer as reformas trabalhistas necessárias, mas sem acabar com os programas sociais. Afinal, OUÇAM AQUI TURMA QUE ACHA QUE A SOCIAL-DEMOCRACIA MORREU, os países escandinavos, nos últimos anos, tiveram índices de crescimento, E DE CRESCIMENTO DE PRODUTIVIDADE, semelhantes aos dos EUA.
Parem Tudo!
O Partido Socialista da Malásia (através de seu líder Choo Chon Kai) acaba de declarar apoio à ocupação da USP, a crer no blog da ocupação.
Como disse o Felipe, agora vai!
Como disse o Felipe, agora vai!
Bingo!
Estamos lendo "Sobre Formigas e Cigarras" (titulozinho miserável), do Palocci. Vocês já deviam estar estranhando a gente não ter comentado, visto que já declaramos mais de uma vez que naufragaríamos como os últimos paloccistas. Quando acabar o livro escrevo mais, mas não pude deixar de comentar que o Pallocci admite com todas as letras que sua gestão foi inspirada pelo Agenda Perdida, como já adiantado aqui faz um tempão. Achei interessante que o documento tenha sido apresentado a ele pelo Armínio Fraga (sempre achei que tinha sido pelo Ciro, para quem a primeira versão do documento foi escrita originalmente).
Tuesday, May 22, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.8)
Nesse Capítulo, Unger dá suas sugestões para os Estados Unidos, o lugar onde ele morou esse tempo todo.
Os EUA são a maior potência do mundo, mas está fora de sintonia com os debates do resto do planeta (ao contrário do que acontecia no século XIX, quando os grandes embates da Europa se irradiavam pelo mundo afora). Entretanto, os EUA são fundamentais para o futuro da esquerda porque a grande religião da humanidade atualmente é um ideal de humanidade que é mais forte nos EUA: é o ideal, encontrável em toda a cultura popular, do indivíduo que rompe com os constrangimentos de seu contexto social e constrói a si mesmo, não apenas do ponto de vista econômico, mas do ponto de vista da história de sua personalidade. O ser humano, portanto, deve preferir formas de convivência que diminuam o preço de servidão, exploração e baixeza que se deve pagar para viver em comunidade.
É esse ideal de humanidade que deve embasar a esquerda do futuro, mas isso coloca um problema: como os EUA, que mais do que ninguém se identificam com esses ideais, podem, ao mesmo tempo, não ter esquerda?
É porque esse ideal, nos EUA, é pervertido por alguns mitos:
1) O mito de que os EUA, na sua origem, descobriram a fórmula da boa sociedade, e que daí em diante as instituições não precisam mudar. Ora, os grandes momentos de dinamização dos EUA foram a Guerra de Independência, a Guerra Civil e a Grande Depressão/Segunda Guerra/New Deal. Esse fetishismo institucional impede que os EUA realizem o sonho que eles fizeram o mundo todo sonhar: a possibilidade do "little guy" (qualquer mané) ser senhor da própria vida, ideal que era bastante concreto no começo do século XIX, quando 9 em cada 10 homens brancos não tinham patrão.
2) O mito de que é possível ao indivíduo se construir e crescer sem depender da solidariedade social (o ideal de pequenos Napoleões que coroam a si mesmos). Daí vêm alguns problemas dos norte-americanos, como a preferência por um meio-termo entre a intimidade e o distanciamento, sua oscilação entre individualismo extremo e coletivismo extremo [fundamentalismo religioso?], e sua necessidade de negar qualquer demonstração de fragilidade e dependência.
Isso não quer dizer que os norte-americanos não tenham sido singularmente capazes de cooperar nas mais diferentes situações e (ver capítulos anteriores) serem bem-sucedidos de diferentes formas, com o livre-mercado tanto quanto com o dirigismo econômico da época da guerra.
O que falta é um equivalente do New Deal Rooseveltiano. E entre as coisas que impedem que isso aconteça está a herança da Guerra à Pobreza, do Lyndon Johnson, nos anos 60, que definiu a pobreza como um segmento demográfico específico. A segregação racial foi definida como o mal supremo, e as políticas de ação afirmativa alienaram muitos setores sociais que poderiam apoiar políticas de esquerda. E, para colaborar, a esquerda fez três besteiras:
1 - Tentar judicializar a política [imagino que se refira ao Roe vs. Wade, processo em que o aborto foi legalizado por decisão da suprema corte]
2 - Tentar impor a agenda modernista das minorias urbanas - em especial a legalização do aborto - ao conjunto da federação. A decisão sobre o aborto deveria ser deixada para os Estados, e as mulheres pobres que quisessem abortar, mas vivessem em Estados onde isso fosse proibido, deveriam poder contar com transporte gratuito para outros Estados.
3 - Aceitar a ortodoxia econômica, ao invés de usar o esforço fiscal necessário para propor novas alternativas econômicas [economizar o máximo para poder gastar em outras coisas, ver abaixo]
Houve quatro abordagens de combate da desigualdade racial: (a) a integração dos negros livres em posições subordinadas, mas seguras, do sistema - como pequenos burgueses, (b) o separatismo negro, uma palhaçada miserável [frase nossa] que, apesar do blábláblá, acaba levando ao mesmo isolacionismo subordinado do item anterior, (c) a ação afirmativa, que produziu ganhos importantes, mas separou as lideranças negras potenciais de sua base, gerou hostilidade dos trabalhadores brancos, e beneficiou muito pouco a "underclass" negra, que mais precisava de ajuda. Além disso, a opção preferida é (d) tratar o problema da raça pelo problema da classe, e resolver o da raça através do combate à pobreza (que tende a ser negra). Naturalmente, expressões claras de racismo devem ser criminalizadas de qualquer maneira.
Segue o núcleo do programa, o mesmo dos dois capítulos anteriores: imposto sobre consumo, alta taxação, alta taxa de poupança + aproximação com o investimento, uma série de agências promovendo a inovação organizacional e tecnológica e competindo entre si, etc., mas as medidas já expostas para fortalecer o trabalho. Especial atenção deve ser dada ao fortalecimento do setor voluntário da economia, tradicionalmente muito forte nos EUA, mas em declínio. Esse setor deve ser fortalecido com o direcionamento de parte das deduções fiscais de caridade para fundos de apoio aos necessitados (independentes do governo), bem como da idéia de que todo cidadão saudável deve participar da ajuda aos necessitados pessoalmente. E, finalmente, a política deve se tornar mais flexível, sem o culto exagerado da constituição, e com a possibilidade de plebiscitos para resolver impasses entre poderes (bem como outras formas de acelerar a mudança democrática).
Essas mudanças têm que ser trabalhadas no contexto do espírito da nação, que, no caso dos EUA, tem as seguintes qualidades: energia, engenhosidade, generosidade, boa fé prática, disposição para cooperar, e o sentido de que algo está faltando de suas vidas pessoais e nacional. E os defeitos são a idolatria de suas instituições, o fracasso em admitir que a auto-construção individual depende da solidariedade social, sua disposição para se relacionar pessoalmente pela média distância, sem os benefícios da solidão nem da companhia [Millor: chato é quem não te deixa sozinho nem te faz companhia], e sua falta de imaginação [dessa eu discordo totalmente: americano é criativo a ponto de ser doido, mesmo que isso não se manifeste politicamente].
Os EUA são a maior potência do mundo, mas está fora de sintonia com os debates do resto do planeta (ao contrário do que acontecia no século XIX, quando os grandes embates da Europa se irradiavam pelo mundo afora). Entretanto, os EUA são fundamentais para o futuro da esquerda porque a grande religião da humanidade atualmente é um ideal de humanidade que é mais forte nos EUA: é o ideal, encontrável em toda a cultura popular, do indivíduo que rompe com os constrangimentos de seu contexto social e constrói a si mesmo, não apenas do ponto de vista econômico, mas do ponto de vista da história de sua personalidade. O ser humano, portanto, deve preferir formas de convivência que diminuam o preço de servidão, exploração e baixeza que se deve pagar para viver em comunidade.
É esse ideal de humanidade que deve embasar a esquerda do futuro, mas isso coloca um problema: como os EUA, que mais do que ninguém se identificam com esses ideais, podem, ao mesmo tempo, não ter esquerda?
É porque esse ideal, nos EUA, é pervertido por alguns mitos:
1) O mito de que os EUA, na sua origem, descobriram a fórmula da boa sociedade, e que daí em diante as instituições não precisam mudar. Ora, os grandes momentos de dinamização dos EUA foram a Guerra de Independência, a Guerra Civil e a Grande Depressão/Segunda Guerra/New Deal. Esse fetishismo institucional impede que os EUA realizem o sonho que eles fizeram o mundo todo sonhar: a possibilidade do "little guy" (qualquer mané) ser senhor da própria vida, ideal que era bastante concreto no começo do século XIX, quando 9 em cada 10 homens brancos não tinham patrão.
2) O mito de que é possível ao indivíduo se construir e crescer sem depender da solidariedade social (o ideal de pequenos Napoleões que coroam a si mesmos). Daí vêm alguns problemas dos norte-americanos, como a preferência por um meio-termo entre a intimidade e o distanciamento, sua oscilação entre individualismo extremo e coletivismo extremo [fundamentalismo religioso?], e sua necessidade de negar qualquer demonstração de fragilidade e dependência.
Isso não quer dizer que os norte-americanos não tenham sido singularmente capazes de cooperar nas mais diferentes situações e (ver capítulos anteriores) serem bem-sucedidos de diferentes formas, com o livre-mercado tanto quanto com o dirigismo econômico da época da guerra.
O que falta é um equivalente do New Deal Rooseveltiano. E entre as coisas que impedem que isso aconteça está a herança da Guerra à Pobreza, do Lyndon Johnson, nos anos 60, que definiu a pobreza como um segmento demográfico específico. A segregação racial foi definida como o mal supremo, e as políticas de ação afirmativa alienaram muitos setores sociais que poderiam apoiar políticas de esquerda. E, para colaborar, a esquerda fez três besteiras:
1 - Tentar judicializar a política [imagino que se refira ao Roe vs. Wade, processo em que o aborto foi legalizado por decisão da suprema corte]
2 - Tentar impor a agenda modernista das minorias urbanas - em especial a legalização do aborto - ao conjunto da federação. A decisão sobre o aborto deveria ser deixada para os Estados, e as mulheres pobres que quisessem abortar, mas vivessem em Estados onde isso fosse proibido, deveriam poder contar com transporte gratuito para outros Estados.
3 - Aceitar a ortodoxia econômica, ao invés de usar o esforço fiscal necessário para propor novas alternativas econômicas [economizar o máximo para poder gastar em outras coisas, ver abaixo]
Houve quatro abordagens de combate da desigualdade racial: (a) a integração dos negros livres em posições subordinadas, mas seguras, do sistema - como pequenos burgueses, (b) o separatismo negro, uma palhaçada miserável [frase nossa] que, apesar do blábláblá, acaba levando ao mesmo isolacionismo subordinado do item anterior, (c) a ação afirmativa, que produziu ganhos importantes, mas separou as lideranças negras potenciais de sua base, gerou hostilidade dos trabalhadores brancos, e beneficiou muito pouco a "underclass" negra, que mais precisava de ajuda. Além disso, a opção preferida é (d) tratar o problema da raça pelo problema da classe, e resolver o da raça através do combate à pobreza (que tende a ser negra). Naturalmente, expressões claras de racismo devem ser criminalizadas de qualquer maneira.
Segue o núcleo do programa, o mesmo dos dois capítulos anteriores: imposto sobre consumo, alta taxação, alta taxa de poupança + aproximação com o investimento, uma série de agências promovendo a inovação organizacional e tecnológica e competindo entre si, etc., mas as medidas já expostas para fortalecer o trabalho. Especial atenção deve ser dada ao fortalecimento do setor voluntário da economia, tradicionalmente muito forte nos EUA, mas em declínio. Esse setor deve ser fortalecido com o direcionamento de parte das deduções fiscais de caridade para fundos de apoio aos necessitados (independentes do governo), bem como da idéia de que todo cidadão saudável deve participar da ajuda aos necessitados pessoalmente. E, finalmente, a política deve se tornar mais flexível, sem o culto exagerado da constituição, e com a possibilidade de plebiscitos para resolver impasses entre poderes (bem como outras formas de acelerar a mudança democrática).
Essas mudanças têm que ser trabalhadas no contexto do espírito da nação, que, no caso dos EUA, tem as seguintes qualidades: energia, engenhosidade, generosidade, boa fé prática, disposição para cooperar, e o sentido de que algo está faltando de suas vidas pessoais e nacional. E os defeitos são a idolatria de suas instituições, o fracasso em admitir que a auto-construção individual depende da solidariedade social, sua disposição para se relacionar pessoalmente pela média distância, sem os benefícios da solidão nem da companhia [Millor: chato é quem não te deixa sozinho nem te faz companhia], e sua falta de imaginação [dessa eu discordo totalmente: americano é criativo a ponto de ser doido, mesmo que isso não se manifeste politicamente].
Operação Navalha (2)
Vale a pena destacar o comentário do Zé sobre as cifras envolvidas na Operação Navalha:
"Para fazer a população pensar e exigir mais rigor na apuração dessa coisa toda, basta apresentar uma conta simples:1. Os 100 milhões arrecadados em um ano divididos por 12 meses = R$8.333.333,33 por mês.2. Os 8 milhões e quebrados, divididos por R$380,00 (salário mínimo) = 21.930 pessoas com 1 salário mínimo por mês durante um ano (claro, sem os encargos trabalhistas)... "
"Para fazer a população pensar e exigir mais rigor na apuração dessa coisa toda, basta apresentar uma conta simples:1. Os 100 milhões arrecadados em um ano divididos por 12 meses = R$8.333.333,33 por mês.2. Os 8 milhões e quebrados, divididos por R$380,00 (salário mínimo) = 21.930 pessoas com 1 salário mínimo por mês durante um ano (claro, sem os encargos trabalhistas)... "
Operação Navalha
O interessante dessa operação Navalha é que ninguém até agora propôs CPI nem nada, o que, talvez, quem sabe, em uma hipótese remota fruto de minhas fantasias paranóicas, seja porque todo o sistema partidário está equitativamente representado entre os acusados. Mas a operação é um sucesso: a corrupção pesada mesmo é nesse negócio de licitação (e em informação privilegiada), se começarem a pegar a galera a coisa anda.
Monday, May 21, 2007
Ocupação da USP
Eu ainda não comentei porque ainda não entendi uma coisa: porque diabos o Serra resolveu intervir nas universidades estaduais? As contas das UEs sempre têm problemas devido a uma grande causa básica: as universidades estaduais paulistas pagam a aposentadoria de seus funcionários (alguém lembra do famoso cientista social que foi para a UNICAMP apenas para se aposentar ganhando mais do que em sua federal de origem?). Se o Serra quiser pagar essa conta, ninguém ocupa mais nada, não. Mas, se não quiser, não tem muito o que fazer.
Agora, o que eu não entendo é: o que o Serra esperava com isso, ainda mais colocando a coisa nas mãos do Pinotti? Tenho a mais absoluta certeza de que o Serra desistiria de tudo se não fosse pelo medo de ficar feio na foto.
A propósito, quem tiver interesse pode checar o blog da ocupação.
PS: e, como não poderia deixar de ser, o pessoal lá da minha Alma Mater resolveu ocupar também. Gostei de ver as fotos, rapaz, que emoção.
Agora, o que eu não entendo é: o que o Serra esperava com isso, ainda mais colocando a coisa nas mãos do Pinotti? Tenho a mais absoluta certeza de que o Serra desistiria de tudo se não fosse pelo medo de ficar feio na foto.
A propósito, quem tiver interesse pode checar o blog da ocupação.
PS: e, como não poderia deixar de ser, o pessoal lá da minha Alma Mater resolveu ocupar também. Gostei de ver as fotos, rapaz, que emoção.
Friday, May 18, 2007
Renato e o Pós-Estruturalismo
Já devia ter postado isso antes, mas o Renato, que, só hoje percebi, está com o nome escrito errado aí do lado faz duas semanas (desde que mudou a versão do Blogger), escreveu um post interessante para quem gosta de pós-estruturalismo e pensamento 68 em geral. E, de lambuja, ainda arrumou um emprego maneiro!
Morre um merda (A vingança de Tinky Winky)
No momento em que escrevo, os sodomitas do demônio já se refestelam com a carcaça pútrida de Jerry Falwell, um vagabundo televangelista americano, grande disseminador do mal e servo do pé-de-bode, que iniciou boa parte dessas besteiras fundamentalistas em que a turma do Bush acredita (ver resenha abaixo). Falwell foi contra Martin Luther King, contra Mandela, a favor do Apartheid, disse que a AIDS era mandada por Deus para punir os gays, chamou a Ellen De Generis de Ellen Degenerate, disse que o Anticristo já havia nascido e era um homem judeu, e culminou a obra de uma vida dedicada a ser um merda com dois episódios, um cômico e um trágico:
1) Chamou um Teletubby de gay.
2) Disse que o ataque do 11 de Setembro foi punição divina por Nova Iorque ter tanto viado e tanta mulher que faz aborto.
O assustador desse segundo episódio é que o cara não foi absolutamente ostracizado pela direita americana, mas continuou sendo considerado um velho batuta, e está sendo chorado pelos bushistas como uma grande perda.
Enfim, se fudeu. Antes ele do que eu.
1) Chamou um Teletubby de gay.
2) Disse que o ataque do 11 de Setembro foi punição divina por Nova Iorque ter tanto viado e tanta mulher que faz aborto.
O assustador desse segundo episódio é que o cara não foi absolutamente ostracizado pela direita americana, mas continuou sendo considerado um velho batuta, e está sendo chorado pelos bushistas como uma grande perda.
Enfim, se fudeu. Antes ele do que eu.
Thursday, May 17, 2007
Livro legal: "The Conservative Soul", Andrew Sullivan
Para não dizerem que só o pessoal de esquerda recebe atenção aqui, vale a pena discutir esse livro, de um dos caras pioneiros do bloguismo político, sempre linkado aí do lado (se você não achar, olhe aqui), O Andrew Sullivan. O Sullivan é republicano, conservador (em um sentido definido no livro), católico e, vejam só, militante gay.
A primeira coisa que eu percebi no livro é que ele não foi escrito pra mim. Ele não foi feito pra convencer quem é de esquerda a ser conservador. Ele supõe que o leitor já é meio propenso a ser conservador, em algum dos sentidos possíveis, e argumenta a favor de um desses sentidos. Por isso, há vários trechos coisas que ele dá de barato que fazem o sangue de um esquerdista, mesmo moderado, ferver. Mas, convenhamos, isso não é problema dele, e quem se meteu a ler o livro dele fui eu.
O objetivo do livro é defender uma concepção de conservadorismo baseado na dúvida, oposta à concepção baseada na certeza fundamentalista do Bush e seus colegas religiosos republicanos. O conservadorismo fundamentalista é baseado no apego a certezas inquestionáveis, a ideais indiscutíveis, e, o que é crucial, na idéia de que o governo deve ter como um de seus objetivos promover esses ideais e essas virtudes. A base teórica do troço é a doutrina do direito natural, em versões como a do jusnaturalista americano Richard John Neuhaus. Idéia central: devemos organizar as coisas segundo seu propósito natural. Dessa perspectiva, sexo serve para a reprodução, e o homossexualismo - mas também a masturbação, o sexo oral entre homem e mulher, etc. - são desvios a serem punidos. Um dos malucos citados por Sullivan argumenta, sem rir, que não há argumento de princípio possível contra a proibição legal da masturbação - ele só se opõe à idéia porque seria meio difícil colocá-la em prática.
O problema com essa idéia é que, se formos usar a natureza como fundamento, a moralidade meio que vai pras picas. Há fortes sinais de que os humanos são naturalmente propensos ao adultério, à violência, à fraude. Mas não é dessa natureza que os jusnaturalistas estão falando. É da natureza que embasa os seus raciocínios, uma natureza abstrata. Mas a natureza abstrata é só abstrata, não há nada que garanta que é natural, no sentido de ser algo que é uma propriedade do mundo. Como a graça de dizer que algo é "de acordo com a natureza" é mostrar que está de acordo com o mundo, o raciocínio é meio capenga.
Contra esse negócio todo - e no livro há pilhas de evidências de que esse tipo de raciocínio influenciou pesadamente grandes figuras do establishment republicano pós-Bush II - Sullivan propõe um outro conservadorismo, inspirado no Michael Oakshott (sobre quem Sullivan escreveu seu doutorado em Harvard). Tanto quanto eu consigo resumir, tal conservadorismo seria baseado nas seguintes idéias: 1) Nós não sabemos a verdade divina, por isso é melhor não arriscar muito, é melhor não ter grandes planos de salvação para a humanidade, é melhor se precaver para o pior, e só se mover quando parecer seguro e necessário. 2) Quebrar é muito mais fácil que construir, por isso só devemos nos meter a mudar as instituições, os valores, etc., quando isso for evidentemente necessário. 3) Esse limite de conhecimento, que limita enormenente as possibilidades da política, potencializa a liberdade individual, pois autoriza, dentro dos limites clássicos do liberalismo, a experimentação livre, único modo de progredir, lenta e claudicantemente, rumo a maior conhecimento e felicidade.
Por isso, um conservador como o Sullivan tem que partir pra porrada contra o Bush. O Bush apóia a tortura, deixando de garantir, portanto, a primeira e fundamental exigência de um conservador cético frente ao governo: me garanta contra o pior, a morte, a violência. O Bush quer impor uma visão de mundo cristã (muito particular, aliás) às pessoas, mesmo que contra sua vontade, e tenta a todo custo impedir que pessoas como o Sullivan experimentem uma coisa diferente (que só afetará a vida dos diretamente envolvidos), o casamento gay. E, erro dos erros para um conservador cético, o Bush foi pra guerra achando que o importante era estar moralmente certo, sem se preocupar com as consequências, sem levar em conta a realidade concreta do Iraque, sem mobilizar recursos suficientes caso o pior - a guerra civil, por exemplo - acontecesse.
No final do livro há um trecho que eu achei especialmente interessante. Um conservador bushiano poderia argumentar que muito do mundo que o Sullivan pretende conservar - direitos gays, liberdade sexual, liberdade de opinião, etc. - é o produto da ação dos "liberals" (no vocabulário americano, a esquerda classe média - os tucanos, digamos). E Sullivan diz: é isso aí. Mas o conservador começa com o mundo que tem. Na frase interessante de Oakshott, o conservador vai atrás das intimações da realidade: se o pessoal resolveu virar gay e casar, não sou eu que vou dar porrada neles; vou tentar acomodar isso na ordem dominante, criando uniões civis ou extendendo a instituição milenar do casamento aos gays.
Porque o livro me interessa (além da saudável curiosidade intelectual que todos devemos ter): primeiro, porque é sempre bom ver a turma do Bush levando uma surra (ah, levam sim). Segundo, porque essa concepção do conservadorismo como ceticismo, como cuidado, embora não seja a minha, certamente tem muito a ensinar. É pouco terapêutico para quem é de esquerda (e sempre corre o risco de querer andar depressa demais) tomar uns banhos de ceticismo conservador de vez em quando. Até porque há experiências e tradições bem-sucedidas na esquerda, como a social-democracia escandinava, com as quais os conservadores (Sullivan e os liberais inclusos, mas também incluso os paleo-esquerdistas) não parecem ter o mesmo respeito.
Rue 89
Indicado no Sequências Parisienses, do Luiz Felipe Alencastro, para quem lê francês: o Rue 89, formado por ex-jornalistas do Libération. E há um blog em inglês lá dentro, que também parece interessante.
Ciro Gomes
Já que ninguém está fazendo nada, vamos especular: quais as chances de Ciro ser presidente?
A favor: o fortalecimento do bloquinho PCdoB-PSB-PDT, que não tem outro nome de peso; a falta de candidatos do PT, o que certamente faria Lula apoiar Ciro no segundo turno; o fato de que, se eventualmente fosse contra o PT no segundo turno, receberia apoio de boa parte da oposição (do PSDB, certamente); o fato do cara ter uma boa imagem e ser bom de mídia; a possibilidade de aparecer vinculado ao que Lula fez de bom, mas não à crise do mensalão.
Contra: a fama de irritadinho e economicamente irresponsável (seja ela justificada ou não); desconfiança dos mercados e falta de penetração no Sul-Sudeste; e, principalmente, Aécio.
Se Ciro montar um programa de governo moderado, se o PT estiver sem nomes, se Serra conseguir ser candidato no lugar de Aécio, eu acho que dá Ciro. Se as duas primeiras condições forem satisfeitas, mas Aécio for o candidato, a vantagem é de Aécio (que é um candidato forte pra cacete), mas, sabe-se lá.
A favor: o fortalecimento do bloquinho PCdoB-PSB-PDT, que não tem outro nome de peso; a falta de candidatos do PT, o que certamente faria Lula apoiar Ciro no segundo turno; o fato de que, se eventualmente fosse contra o PT no segundo turno, receberia apoio de boa parte da oposição (do PSDB, certamente); o fato do cara ter uma boa imagem e ser bom de mídia; a possibilidade de aparecer vinculado ao que Lula fez de bom, mas não à crise do mensalão.
Contra: a fama de irritadinho e economicamente irresponsável (seja ela justificada ou não); desconfiança dos mercados e falta de penetração no Sul-Sudeste; e, principalmente, Aécio.
Se Ciro montar um programa de governo moderado, se o PT estiver sem nomes, se Serra conseguir ser candidato no lugar de Aécio, eu acho que dá Ciro. Se as duas primeiras condições forem satisfeitas, mas Aécio for o candidato, a vantagem é de Aécio (que é um candidato forte pra cacete), mas, sabe-se lá.
Falta de Assunto
Não somos só nós aqui, não: o Noblat também está reclamando da falta de assunto, e o cara tem um monte de fontes, contatos, essas coisas. Vejam só:
"Querem me dizer, portanto, como nós, jornalistas, principalmente os blogueiros, atravessaremos os próximos longos meses? Não é todo dia que aparece um ministro do Supremo Tribunal Federal fissurado em peitinho de perdiz. Nem é todo dia que um bando de estudantes invade prédio de reitoria. Parecem ser poucos os que se interessam por noticiário internacional.
Tem umas greves chatas por aí - do pessoal da Cultura, do pessoal do Ibama, do pessoal do Banco Central, todas consideradas justas pelos que as promovem, mas nem por isso menos chatas. No passado, muitas vezes greve acabava em pancadaria. No mínimo, dava boas fotos. Ainda bem que o país é outro. Temos na presidência um ex-sindicalista que quer limitar o direito de greve.
Vou começar a correr atrás de assuntos mais leves - sem deixar de prestar atenção no marasmo da política nacional. Na semana passada, sites e jornais daqui e lá de fora descobriram que Ronaldo, O Fenômeno, está de namorada nova. Ok, Ronaldo vive de namorada nova. Qual é a novidade? Mas essa é a namorada mais recente, gente. E ninguém descobriu muito a respeito dela.
Pois eu sei direitinho quem ela é. Se vocês acharem a informação revelevante, digam que a postarei.
De todo modo, não se desesperem (estou tentando não me desesperar também). Haverá eleições municipais no próximo ano. A temperatura política subirá. E logo, logo, pegará fogo a discussão sobre o possível sucessor de Lula."
A propósito: eu não sei quem é a nova namorada do Ronaldinho. Pô, concorrência desleal, por isso que ele tem dez mil vezes mais acessos que eu. Gostaria de aproveitar aqui, portanto, para fazer um apelo a essa senhorita para que nos contate dando seu nome, para podermos ganhar do Noblat.
"Querem me dizer, portanto, como nós, jornalistas, principalmente os blogueiros, atravessaremos os próximos longos meses? Não é todo dia que aparece um ministro do Supremo Tribunal Federal fissurado em peitinho de perdiz. Nem é todo dia que um bando de estudantes invade prédio de reitoria. Parecem ser poucos os que se interessam por noticiário internacional.
Tem umas greves chatas por aí - do pessoal da Cultura, do pessoal do Ibama, do pessoal do Banco Central, todas consideradas justas pelos que as promovem, mas nem por isso menos chatas. No passado, muitas vezes greve acabava em pancadaria. No mínimo, dava boas fotos. Ainda bem que o país é outro. Temos na presidência um ex-sindicalista que quer limitar o direito de greve.
Vou começar a correr atrás de assuntos mais leves - sem deixar de prestar atenção no marasmo da política nacional. Na semana passada, sites e jornais daqui e lá de fora descobriram que Ronaldo, O Fenômeno, está de namorada nova. Ok, Ronaldo vive de namorada nova. Qual é a novidade? Mas essa é a namorada mais recente, gente. E ninguém descobriu muito a respeito dela.
Pois eu sei direitinho quem ela é. Se vocês acharem a informação revelevante, digam que a postarei.
De todo modo, não se desesperem (estou tentando não me desesperar também). Haverá eleições municipais no próximo ano. A temperatura política subirá. E logo, logo, pegará fogo a discussão sobre o possível sucessor de Lula."
A propósito: eu não sei quem é a nova namorada do Ronaldinho. Pô, concorrência desleal, por isso que ele tem dez mil vezes mais acessos que eu. Gostaria de aproveitar aqui, portanto, para fazer um apelo a essa senhorita para que nos contate dando seu nome, para podermos ganhar do Noblat.
Wednesday, May 16, 2007
Armínio Fraga
Foi só o Dr. ABC dar atenção ao Armínio Fraga que ele já foi indicado por um Prêmio Nobel de economia para ser presidente do Banco Mundial. Rapaz!
A propósito, meninos eu vi, ninguém me contou: em uma palestra do Stieglitz, em que ele desceu o pau no FMI, perguntaram pra ele se, afinal, o FMI não fazia nada certo, e ele respondeu que no Brasil deu certo.
A propósito, meninos eu vi, ninguém me contou: em uma palestra do Stieglitz, em que ele desceu o pau no FMI, perguntaram pra ele se, afinal, o FMI não fazia nada certo, e ele respondeu que no Brasil deu certo.
Chávez é o poodle de Bush
Excelente post do excelente blog do Daniel Drezner nos informa que o Chávez pode espernear, mas vai ser difícil deixar de vender petróleo para os EUA (na verdade, a proporção atual é de 60% do petróleo venezuelano para os EUA, o que significa um aumento da proporção nos últimos anos). Aparentemente, o tipo de petróleo exportado pela Venezuela precisa ser processado por refinarias que só existem nos EUA. Algumas são de propriedade da PDVSA, o que leva o Drezner a perguntar: e se a gente aqui nos EUA estatizasse a refinaria do Chávez? Hehe.
Tuesday, May 15, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.7)
Neste capítulo Unger dá suas sugestões para a social-democracia européia.
A social-democracia européia precisa entrar de novo em dois domínios dos quais se retirou: a organização da produção e da política. Mas antes deve-se dizer que há dois caminhos que a social-democracia tem seguido [Blair?] que ainda são possíveis dentro do arranjo social-democrata tradicional:
1) A reforma dos serviços públicos de maneira a tornar seu provimento missão de várias formas organizacionais, públicas e privadas, com ativa intervenção do governo na moldagem dessas organizações.
2) A austeridade fiscal é uma boa, mas deve ser entendida como uma margem de manobra, que deve ser usada. Estados fiscalmente equilibrados são justamente os mais independentes dos caprichos do capital especulativo. Mas, tendo conseguido essa margem de manobra, os Estados devem assegurar que a poupança acumulada esteja proximamente ligada ao investimento, generalizando as práticas de venture capital, através, novamente, de uma variedade de organizações públicas e privadas.
O problema é que, se a social-democracia fizer isso tudo, vai se deparar com três problemas:
1) Essas novas práticas organizacionais modernas, o venture capital, etc., embora sejam a grande fonte de dinamismo da economia, abrangem uma parte muito pequena da população. É preciso expandir o acesso ao tipo de educação que torna possível o acesso a esse tipo de emprego, mas é também necessário levar esses métodos de trabalho a outros setores e atividades. Para isso é necessário que se criem fundos governamentais que funcionem como venture capitalists, com diferentes graus de dependência do governo central. A esquerda não deve ser o cara que tenta controlar os mercados, mas sim o cara que expande a liberdade de recombinar recursos no mercado, até a liberdade de recombinar as formas legais de propriedade das maneiras que pareçam mais convenientes.
2) O sistema educacional precisa ser reformulado para abrir a possibilidade de requalificação educacional durante a vida toda. A União Européia precisa inverter sua opção atual, em que a economia é centralizada e as políticas sociais são descentralizadas. O certo seria experimentalismo na economia [o que seria isso? Diferentes taxas de juros? O que sobraria da União Econômica?] e a garantia da educação total para todos os cidadãos. Além do mais, todo cidadão saudável tem que ter a obrigação de fazer por algum tempo trabalho voluntário pelos necessitados, para impedir que a solidariedade social se desfaça - uma vez que ela não se manterá simplesmente porque os pobres recebem um cheque pelo correio todo mês.
3) A Europa precisa ser capaz de ter, em tempos de paz, o dinamismo que teve em tempo de guerra. Por exemplo, países como a Noruega, que têm petróleo e uma situação extremamente confortável, poderiam treinar cidadãos seus para dar assessoria e financiamento para projetos de desenvolvimento ao redor do mundo.
Em suma: a social-democracia precisa sair do modelo burocrático e montar um sistema flexível com agências públicas e privadas de diferentes naturezas (o que permitiria maior experimentalismo), para aproveitar o potencial de cidadãos que receberiam educação pela vida toda.
A social-democracia européia precisa entrar de novo em dois domínios dos quais se retirou: a organização da produção e da política. Mas antes deve-se dizer que há dois caminhos que a social-democracia tem seguido [Blair?] que ainda são possíveis dentro do arranjo social-democrata tradicional:
1) A reforma dos serviços públicos de maneira a tornar seu provimento missão de várias formas organizacionais, públicas e privadas, com ativa intervenção do governo na moldagem dessas organizações.
2) A austeridade fiscal é uma boa, mas deve ser entendida como uma margem de manobra, que deve ser usada. Estados fiscalmente equilibrados são justamente os mais independentes dos caprichos do capital especulativo. Mas, tendo conseguido essa margem de manobra, os Estados devem assegurar que a poupança acumulada esteja proximamente ligada ao investimento, generalizando as práticas de venture capital, através, novamente, de uma variedade de organizações públicas e privadas.
O problema é que, se a social-democracia fizer isso tudo, vai se deparar com três problemas:
1) Essas novas práticas organizacionais modernas, o venture capital, etc., embora sejam a grande fonte de dinamismo da economia, abrangem uma parte muito pequena da população. É preciso expandir o acesso ao tipo de educação que torna possível o acesso a esse tipo de emprego, mas é também necessário levar esses métodos de trabalho a outros setores e atividades. Para isso é necessário que se criem fundos governamentais que funcionem como venture capitalists, com diferentes graus de dependência do governo central. A esquerda não deve ser o cara que tenta controlar os mercados, mas sim o cara que expande a liberdade de recombinar recursos no mercado, até a liberdade de recombinar as formas legais de propriedade das maneiras que pareçam mais convenientes.
2) O sistema educacional precisa ser reformulado para abrir a possibilidade de requalificação educacional durante a vida toda. A União Européia precisa inverter sua opção atual, em que a economia é centralizada e as políticas sociais são descentralizadas. O certo seria experimentalismo na economia [o que seria isso? Diferentes taxas de juros? O que sobraria da União Econômica?] e a garantia da educação total para todos os cidadãos. Além do mais, todo cidadão saudável tem que ter a obrigação de fazer por algum tempo trabalho voluntário pelos necessitados, para impedir que a solidariedade social se desfaça - uma vez que ela não se manterá simplesmente porque os pobres recebem um cheque pelo correio todo mês.
3) A Europa precisa ser capaz de ter, em tempos de paz, o dinamismo que teve em tempo de guerra. Por exemplo, países como a Noruega, que têm petróleo e uma situação extremamente confortável, poderiam treinar cidadãos seus para dar assessoria e financiamento para projetos de desenvolvimento ao redor do mundo.
Em suma: a social-democracia precisa sair do modelo burocrático e montar um sistema flexível com agências públicas e privadas de diferentes naturezas (o que permitiria maior experimentalismo), para aproveitar o potencial de cidadãos que receberiam educação pela vida toda.
Contagem Regressiva para acontecer alguma coisa
Inciamos agora uma contagem regressiva até acontecer algo digno de nota na política brasileira. É só ver os primeiros cadernos dos jornais, ou as revistas semanais, que se nota que, se o Papa não tivesse vindo e o Clodovil não tivesse xingado as mulheres, ia faltar notícia. Tem a CPI do Apagão, que não está com cara de que vai dar em nada. E, dia sim, dia não, o Lula dá um cargo para um novo aliado. O PFL mudou de nome, pago pelo Bush para desmoralizar o partido do Obama e da Hillary. O Mangabeira Unger arrumou um emprego que paga menos. Enfim.
Tudo bem que, depois de dois anos de crise política e eleição, a coisa tinha que dar uma esfriada, mesmo. Mas, o que interessa é o seguinte: o que catzo eu vou escrever aqui? Estão achando que todo mundo é Amiano Marcelino, que todo dia viaja pra lugar maneiro? O Zé pode escrever sobre informática, o Dr. ABC sobre economia, a Paulinha escreve bem pra caramba, o Renato escreve sobre filosofia, mas eu, se não acontecer nada, fico sem assunto.
Em protesto, voltamos hoje com o Fichamento On-Line.
Tudo bem que, depois de dois anos de crise política e eleição, a coisa tinha que dar uma esfriada, mesmo. Mas, o que interessa é o seguinte: o que catzo eu vou escrever aqui? Estão achando que todo mundo é Amiano Marcelino, que todo dia viaja pra lugar maneiro? O Zé pode escrever sobre informática, o Dr. ABC sobre economia, a Paulinha escreve bem pra caramba, o Renato escreve sobre filosofia, mas eu, se não acontecer nada, fico sem assunto.
Em protesto, voltamos hoje com o Fichamento On-Line.
Copiamos na maior
Na série "Quem não sabe fazer tem que imitar", chamo a atenção para dois posts de blogs amigos.
O primeiro é o do Dr. ABC sobre o Papa, que tem uma observação interessante:
"Aparentemente, o papa se constrangeu em ser visto ao lado do maior expoente da Renovação, o Pe. Marcelo Rossi, ou seja, daí se entende que ele não vai muito com a cara desta corrente. Mas, no entanto, pelo pouco que vi das missas celebradas por ele, as mesmas tinham muitas pitadas das missas da Renovação... era só ver o povo gritando "Bento, Bento!" como se fosse torcida organizada pra constatar isso.E olha que o velhinho gostou do coro (esboçou até um sorriso)!"
É mesmo. E a segunda é do glorioso Amiano Marcelino, de volta à carga com a cara cheia de uísque escocês:
"Tenho que admitir, esta notícia de que os Democratas (Brasil, você merece!) são contra o aborto é um belo sinal do que é que o liberalismo significa no Brasil. Está tudo bem desde que não contrarie o direito dos grandes proprietários e a igreja. Amiano é totalmente a favor do aborto. Basta ver o sobrenome das "lideranças" dos Democratas para ver que em alguns casos trata-se de uma questão de segurança nacional."
Aparentemente, Amiano viu o Rodrigo Maia no Roda Viva de ontem.
O primeiro é o do Dr. ABC sobre o Papa, que tem uma observação interessante:
"Aparentemente, o papa se constrangeu em ser visto ao lado do maior expoente da Renovação, o Pe. Marcelo Rossi, ou seja, daí se entende que ele não vai muito com a cara desta corrente. Mas, no entanto, pelo pouco que vi das missas celebradas por ele, as mesmas tinham muitas pitadas das missas da Renovação... era só ver o povo gritando "Bento, Bento!" como se fosse torcida organizada pra constatar isso.E olha que o velhinho gostou do coro (esboçou até um sorriso)!"
É mesmo. E a segunda é do glorioso Amiano Marcelino, de volta à carga com a cara cheia de uísque escocês:
"Tenho que admitir, esta notícia de que os Democratas (Brasil, você merece!) são contra o aborto é um belo sinal do que é que o liberalismo significa no Brasil. Está tudo bem desde que não contrarie o direito dos grandes proprietários e a igreja. Amiano é totalmente a favor do aborto. Basta ver o sobrenome das "lideranças" dos Democratas para ver que em alguns casos trata-se de uma questão de segurança nacional."
Aparentemente, Amiano viu o Rodrigo Maia no Roda Viva de ontem.
Monday, May 14, 2007
Bento XVI e Habermas
Vários jornais publicaram a foto do Bento XVI (antes de ser Papa) conversando com o Habermas. Para quem estiver interessado em saber sobre o que eles falaram, aqui vai um artigo da Prospect. Os textos completos do debate estão aqui no La Nación. E, finalmente, para quem quiser estudar o Habermas a fundo (e não tiver como ir para a UNICAMP ter aula com o glorioso Josué Pereira da Silva) pode checar esse blog aqui.
Thursday, May 10, 2007
Adeus a Blair (1): Iraque
Tony Blair anunciou hoje que renuncia até o final de Junho. Como todo mundo vai falar mal, e nós aqui temos simpatia pelo Blairismo, aqui vai uma interpretação relativamente simpática dos anos Blair.
Blair foi o último clintonista, o representante bem-sucedido da geração de líderes dos anos 90 que representavam uma esquerda moderada, e, mais distintivamente, globalizante. Blair, assim como Clinton, acreditava nas Nações Unidas, acreditava na OMC, acreditava no Banco Mundial. Os anos 90 foram minha década favorita pelo cosmopolitismo, a idéia de uma governança mundial, de uma cidadania global, unviersalista. O maior contraste é com o anti-nacionalismo rastejante de um Mainardi, feito para impressionar dondoca em festa.
Inspirado por isso, Blair apoiou a intervenção no Kosovo, contra a facção mais analfabeta da esquerda e contra os instintos dos Tories de Major, que barraram todo esforço para intervir na Bósnia antes e se tornaram cúmplices de genocídio. Blair organizou a intervenção em Serra Leoa, tão bem sucedida que nem despertou muita atenção. Apoiou a guerra do Afeganistão, que não apenas era justa pelo apoio do Talibã ao 11 de Setembro, mas também evitou a catástrofe humanitária que se previa para aquele ano (uma fome em massa causada pela proibição de plantar ópio).
E, naturalmente, apoiou a guerra do Iraque. Eu não apoiei, por achar que esfacelaria o sistema internacional, como de fato aconteceu. Mas, ao contrário do que se diz hoje, era uma decisão difícil: Saddam era mesmo um facista, e as sanções só estavam matando pobre. Para além da questão da justiça, a intervenção fazia sentido estratégico. Se o Iraque tivesse um governo pró-ocidente, isso diminuiria a dependência com relação aos sauditas, cuja guerra civil latente transbordou no 11 de Setembro.
Mas aí ficou claro que o cosmopolitismo de Blair dependia de Clinton do outro lado, com o maior exército do mundo e alguma noção de como usá-lo. Mesmo tendo sido contra a guerra, eu não acho que a situação no Iraque precisava ter degringolado. Os ódios étnicos explodiram dois anos depois da invasão, tempo durante o qual uma alternativa de Iraque estável poderia ter sido oferecida à população, que apoiava fortemente a derrubada de Saddam. Mas Rumsfeld falhou em tudo: não mandou tropas suficientes, estabeleceu um governo fantoche da mais baixa qualidade, demorou para convocar eleições, e, erro gravíssimo, propôs a des-Baathificação completa.
Os países pós-comunistas, por exemplo, já sabiam que, fora o grupo dirigente do partido comunista, não era negócio sair perseguindo todo mundo que colaborou com o regime antigo. Entenderam que, em sistemas totalitários, muita gente colaborava simplesmente para ter direito a exercer sua profissão, subir na vida, enfim, nada de extraordinariamente maligno. E, no caso dos militares, se os caras perdem o emprego, o que eles sabem fazer a não ser matar gente? Daí a insurgência.
E a idéia de de-Baathificação foi americana. O Ian Duncan Smith, ex-líder conservador, disse em uma entrevista à TV inglesa que, durante uma visita às tropas logo antes da invasão, ouviu de um oficial que o plano era chegar a um acordo com lideranças menores do Ba'ath para garantir uma transição tranquila. Pois é.
E assim morreram os anos 90, e os ideias cosmopolitas que lhe inspiravam. Alguém aí sabe o nome do novo Secretário-Geral da ONU? Ou o que ele anda fazendo?
Blair foi o último clintonista, o representante bem-sucedido da geração de líderes dos anos 90 que representavam uma esquerda moderada, e, mais distintivamente, globalizante. Blair, assim como Clinton, acreditava nas Nações Unidas, acreditava na OMC, acreditava no Banco Mundial. Os anos 90 foram minha década favorita pelo cosmopolitismo, a idéia de uma governança mundial, de uma cidadania global, unviersalista. O maior contraste é com o anti-nacionalismo rastejante de um Mainardi, feito para impressionar dondoca em festa.
Inspirado por isso, Blair apoiou a intervenção no Kosovo, contra a facção mais analfabeta da esquerda e contra os instintos dos Tories de Major, que barraram todo esforço para intervir na Bósnia antes e se tornaram cúmplices de genocídio. Blair organizou a intervenção em Serra Leoa, tão bem sucedida que nem despertou muita atenção. Apoiou a guerra do Afeganistão, que não apenas era justa pelo apoio do Talibã ao 11 de Setembro, mas também evitou a catástrofe humanitária que se previa para aquele ano (uma fome em massa causada pela proibição de plantar ópio).
E, naturalmente, apoiou a guerra do Iraque. Eu não apoiei, por achar que esfacelaria o sistema internacional, como de fato aconteceu. Mas, ao contrário do que se diz hoje, era uma decisão difícil: Saddam era mesmo um facista, e as sanções só estavam matando pobre. Para além da questão da justiça, a intervenção fazia sentido estratégico. Se o Iraque tivesse um governo pró-ocidente, isso diminuiria a dependência com relação aos sauditas, cuja guerra civil latente transbordou no 11 de Setembro.
Mas aí ficou claro que o cosmopolitismo de Blair dependia de Clinton do outro lado, com o maior exército do mundo e alguma noção de como usá-lo. Mesmo tendo sido contra a guerra, eu não acho que a situação no Iraque precisava ter degringolado. Os ódios étnicos explodiram dois anos depois da invasão, tempo durante o qual uma alternativa de Iraque estável poderia ter sido oferecida à população, que apoiava fortemente a derrubada de Saddam. Mas Rumsfeld falhou em tudo: não mandou tropas suficientes, estabeleceu um governo fantoche da mais baixa qualidade, demorou para convocar eleições, e, erro gravíssimo, propôs a des-Baathificação completa.
Os países pós-comunistas, por exemplo, já sabiam que, fora o grupo dirigente do partido comunista, não era negócio sair perseguindo todo mundo que colaborou com o regime antigo. Entenderam que, em sistemas totalitários, muita gente colaborava simplesmente para ter direito a exercer sua profissão, subir na vida, enfim, nada de extraordinariamente maligno. E, no caso dos militares, se os caras perdem o emprego, o que eles sabem fazer a não ser matar gente? Daí a insurgência.
E a idéia de de-Baathificação foi americana. O Ian Duncan Smith, ex-líder conservador, disse em uma entrevista à TV inglesa que, durante uma visita às tropas logo antes da invasão, ouviu de um oficial que o plano era chegar a um acordo com lideranças menores do Ba'ath para garantir uma transição tranquila. Pois é.
E assim morreram os anos 90, e os ideias cosmopolitas que lhe inspiravam. Alguém aí sabe o nome do novo Secretário-Geral da ONU? Ou o que ele anda fazendo?
Adeus a Blair (2): Um Bom Governo de Esquerda
Como ninguém comenta isso, merece um registro: os anos Blair foram um ano de grande progresso econômico e social no Reino Unido. Senão vejamos:
1) As negociações de paz na Irlanda do Norte progrediram imensamente, e um absolutamente impensável governo de coalizão acaba de tomar posse no Ulster .
2) A economia teve seu maior período de crescimento contínuo, sob a liderança de Gordon Brown, chanceler do tesouro e novo Primeiro-Ministro, que começou já dando autonomia para o Banco Central. O desemprego era baixo, eu andava pelas ruas impressionado com o número de cartazes de "hiring" na porta das lojas.
3) Consultem o artigo da excelente Polly Toynbee, maior comentarista das políticas sociais dos anos Blair, para conhecer os dois grandes legados da política social de Blair: uma incrível revitalização dos serviços públicos e uma virada para o que a social-democracia tem de mais moderno, a chamada "child-centered social policy", a política social voltada para a criança: a ajuda financeira para as famílias pobres aumentou 53%, somada a um "crédito tributário", um complemento para que os salários baixos atinjam certo nível mínimo. Um programa excepcional chamado SureStart, que cria centros onde as crianças e seus pais recebem o nível de atenção característico das escolas particulares - e das famílias com pais altamente educados - incluindo ajuda com o dever de casa. E o Reino Unido caminha para ter uma rede universal de creches. Para quem acha que isso é frescura: estudos sociológicos (na Europa a sociologia serve pra alguma coisa) mostram que os diferenciais educacionais que determinarão boa parte da desigualdade social na vida adulta começam no ensino básico, no desenvolvimento de capacidades de abstração e linguagem quando a criança ainda é pequena. Botar o Estado para cuidar disso é ser de esquerda.
Para os que se sentiram traídos pela moderação, fica a frase da Polly Toynbee: a esquerda sempre é traída, porque para ela nada é suficiente.
1) As negociações de paz na Irlanda do Norte progrediram imensamente, e um absolutamente impensável governo de coalizão acaba de tomar posse no Ulster .
2) A economia teve seu maior período de crescimento contínuo, sob a liderança de Gordon Brown, chanceler do tesouro e novo Primeiro-Ministro, que começou já dando autonomia para o Banco Central. O desemprego era baixo, eu andava pelas ruas impressionado com o número de cartazes de "hiring" na porta das lojas.
3) Consultem o artigo da excelente Polly Toynbee, maior comentarista das políticas sociais dos anos Blair, para conhecer os dois grandes legados da política social de Blair: uma incrível revitalização dos serviços públicos e uma virada para o que a social-democracia tem de mais moderno, a chamada "child-centered social policy", a política social voltada para a criança: a ajuda financeira para as famílias pobres aumentou 53%, somada a um "crédito tributário", um complemento para que os salários baixos atinjam certo nível mínimo. Um programa excepcional chamado SureStart, que cria centros onde as crianças e seus pais recebem o nível de atenção característico das escolas particulares - e das famílias com pais altamente educados - incluindo ajuda com o dever de casa. E o Reino Unido caminha para ter uma rede universal de creches. Para quem acha que isso é frescura: estudos sociológicos (na Europa a sociologia serve pra alguma coisa) mostram que os diferenciais educacionais que determinarão boa parte da desigualdade social na vida adulta começam no ensino básico, no desenvolvimento de capacidades de abstração e linguagem quando a criança ainda é pequena. Botar o Estado para cuidar disso é ser de esquerda.
Para os que se sentiram traídos pela moderação, fica a frase da Polly Toynbee: a esquerda sempre é traída, porque para ela nada é suficiente.
Blog do Zé
O Blog do Zé voltou, e agora promete postar toda quarta e domingo. Deu uma esculachada no Sarkozy (merecida) e outra no Blair (nem tanto, pô, Zé, só porque a gente ia escrever um post aqui também!). A propósito, como exemplo único de antropólogo informata (pois é), o Zé também dá ótimas dicas de programas bacanas, vale a penar seguir as sugestões.
Wednesday, May 09, 2007
Pau no Obama
Eu não sei se o Obama seria um bom presidente pros EUA (talvez seja), mas o efeito de histeria que ele causa na escória da direita "Hora do Povo" americana realmente me desperta uma certa simpatia pelo cara (mais do que a que já me desperta o fato dele ser o primeiro negro editor da Harvard Review of Law). Senão vejamos:
A vagabunda da Ann Coulter, uma dona com cara de puta de 30 pratas que vende suas opiniões para qualquer vagabundo que queira fazer o mal e seja branco, afirma que a pesquisa da Newsweek dando vantagem do Obama sobre os candidatos republicanos foi falsificada, mas até aí, nada: foi falsificada para ajudar a Al Qaeda. Pois é.
Enquanto isso, o Rush Limbaugh, um merdinha desse mesmo quilate (mas por quem ninguém pagaria sequer as referidas trinta pratas) vem tocando uma musiquinha chamada "Obama The Magic Negro" em seu programa de rádio. A campanha de Obama afirmou simplesmente que a música é "dumb".
Lembremos que, faz pouco tempo, a Fox News, espécie de Ex-blog do César Maia quando crescer, se tornar satanista, e entrar para o negócio de contrabando de órgãos de crianças, espalhou que o Obama foi educado em uma madrassa fundamentalista islâmica.
PS: lembremos que a Coulter já disse que um veterano de guerra que perdeu duas pernas e um braço no Vietnã (Max Cleland) era uma farsa. O cara foi vítima da explosão de uma granada que caiu no chão enquanto seu pelotão se preparava para uma batalha em que morreram duzentos americanos. Coulter argumentou que isso não vale: se a granada tivesse caído no chão nos EUA, ninguém teria ouvido falar do cara (que depois se elegeu senador). É verdade. E se a Anne Frank tivesse morrido de tifo por causa de uma epidemia, ninguém teria ouvido falar dela. E, se o Pelé tivesse feito aqueles golaços todos jogando no quintal contra o cunhado do Dr. ABC, ninguém teria ouvido falar disso. A questão, evidentemente, é que só se corre o risco de sofrer o acidente que Cleland sofreu quando se foi para a guerra. Quantas vezes Bush, Cheney, etc. tiveram que tentar pegar uma granada no chão antes que ela explodisse?
A vagabunda da Ann Coulter, uma dona com cara de puta de 30 pratas que vende suas opiniões para qualquer vagabundo que queira fazer o mal e seja branco, afirma que a pesquisa da Newsweek dando vantagem do Obama sobre os candidatos republicanos foi falsificada, mas até aí, nada: foi falsificada para ajudar a Al Qaeda. Pois é.
Enquanto isso, o Rush Limbaugh, um merdinha desse mesmo quilate (mas por quem ninguém pagaria sequer as referidas trinta pratas) vem tocando uma musiquinha chamada "Obama The Magic Negro" em seu programa de rádio. A campanha de Obama afirmou simplesmente que a música é "dumb".
Lembremos que, faz pouco tempo, a Fox News, espécie de Ex-blog do César Maia quando crescer, se tornar satanista, e entrar para o negócio de contrabando de órgãos de crianças, espalhou que o Obama foi educado em uma madrassa fundamentalista islâmica.
PS: lembremos que a Coulter já disse que um veterano de guerra que perdeu duas pernas e um braço no Vietnã (Max Cleland) era uma farsa. O cara foi vítima da explosão de uma granada que caiu no chão enquanto seu pelotão se preparava para uma batalha em que morreram duzentos americanos. Coulter argumentou que isso não vale: se a granada tivesse caído no chão nos EUA, ninguém teria ouvido falar do cara (que depois se elegeu senador). É verdade. E se a Anne Frank tivesse morrido de tifo por causa de uma epidemia, ninguém teria ouvido falar dela. E, se o Pelé tivesse feito aqueles golaços todos jogando no quintal contra o cunhado do Dr. ABC, ninguém teria ouvido falar disso. A questão, evidentemente, é que só se corre o risco de sofrer o acidente que Cleland sofreu quando se foi para a guerra. Quantas vezes Bush, Cheney, etc. tiveram que tentar pegar uma granada no chão antes que ela explodisse?
Tuesday, May 08, 2007
Esquecer o Oriente Médio?
Certo, a The Economist é a melhor revista do mundo, sem muita dúvida. Mas a Prospect não fica muito atrás, não (o link está sempre aí do lado).
Na edição de maio, Edward Luttak argumenta que o Oriente Médio não tem nada da importância estratégica que normalmente se lhe atribui. Os exércitos árabes historicamente foram superestimados pelo Ocidente, e a porcentagem do consumo de petróleo consumida pelos EUA produzida pelo OM caiu. Alguns índices de desenvolvimento do OM são horrorosos, e em termos de patentes registrados, excluído Israel, o OM está atrás da África subsaariana.
Há exageros no artigo: a queda na dependência ocidental do petróleo árabe não é tão grande assim (é grande , mas não suficiente para tornar o OM estrategicamente irrelevante), segundo os próprios números do artigo; e parte da nova oferta vem de caras não muito confiáveis, como a Venezuela e a Nigéria.
E há uma leve manobra argumentativa quando o autor afirma que há vários grupos étnicos em revolta no Irã (o que é verdade) mas termina por afirmar que 40% da população (a proporção desses grupos na população iraniana, que é só metade persa) está em estado de separatismo (isso só seria verdade se todo mundo nessas etnias fosse separatista, e disso não é oferecida evidência).
Mas a idéia é interessante. Alguém acredita que os ataques da Al Qaeda parariam se fosse solicionada a questão palestina? Algum país árabe pode sobreviver sem vender petróleo para o Ocidente por muito tempo? Certo, a China tem crescido como comprador, mas acho que a resposta ainda é não. Entretanto, o Ocidente dedica muito mais atenção ao problema do que, por exemplo, às possibilidades de remilitarização no Pacífico e na América Latina (por causa do Chávez).
Na edição de maio, Edward Luttak argumenta que o Oriente Médio não tem nada da importância estratégica que normalmente se lhe atribui. Os exércitos árabes historicamente foram superestimados pelo Ocidente, e a porcentagem do consumo de petróleo consumida pelos EUA produzida pelo OM caiu. Alguns índices de desenvolvimento do OM são horrorosos, e em termos de patentes registrados, excluído Israel, o OM está atrás da África subsaariana.
Há exageros no artigo: a queda na dependência ocidental do petróleo árabe não é tão grande assim (é grande , mas não suficiente para tornar o OM estrategicamente irrelevante), segundo os próprios números do artigo; e parte da nova oferta vem de caras não muito confiáveis, como a Venezuela e a Nigéria.
E há uma leve manobra argumentativa quando o autor afirma que há vários grupos étnicos em revolta no Irã (o que é verdade) mas termina por afirmar que 40% da população (a proporção desses grupos na população iraniana, que é só metade persa) está em estado de separatismo (isso só seria verdade se todo mundo nessas etnias fosse separatista, e disso não é oferecida evidência).
Mas a idéia é interessante. Alguém acredita que os ataques da Al Qaeda parariam se fosse solicionada a questão palestina? Algum país árabe pode sobreviver sem vender petróleo para o Ocidente por muito tempo? Certo, a China tem crescido como comprador, mas acho que a resposta ainda é não. Entretanto, o Ocidente dedica muito mais atenção ao problema do que, por exemplo, às possibilidades de remilitarização no Pacífico e na América Latina (por causa do Chávez).
Monday, May 07, 2007
Unger na Folha
E o glorioso Válter acaba de me chamar atenção para a entrevista do Mangabeira Unger na Folha de hoje. Admite que errou nas críticas ao Lula, afirma que o IPEA terá independência total, dá explicações sobre suas consultorias para Daniel Dantas. Gostei dessa parte da autocrítica:
"Meu erro foi característico do pensador em política. Procurar o outro para fazer o serviço e poder voltar a seus livros. O outro porém é outro. O meu dever é atuar diretamente."
Enfim, veremos.
O fichamento on-line aqui continua amanhã. A propósito, "What should the Left Propose?" será traduzido em breve, a crer na reportagem da Folha. Falta traduzir "The Self Awakened" (nem que seja só pela frase final do livro, que eu já postei aqui).
"Meu erro foi característico do pensador em política. Procurar o outro para fazer o serviço e poder voltar a seus livros. O outro porém é outro. O meu dever é atuar diretamente."
Enfim, veremos.
O fichamento on-line aqui continua amanhã. A propósito, "What should the Left Propose?" será traduzido em breve, a crer na reportagem da Folha. Falta traduzir "The Self Awakened" (nem que seja só pela frase final do livro, que eu já postei aqui).
Ségolène perdeu
A Ségolène perdeu, e a melhor explicação foi a do Dr. ABC: o orçamento francês está mal das pernas, e a dona não teve nenhuma explicação para cortar despesas, e um monte de propostas que as aumentariam. O desemprego está alto, e ela não quer mexer nas 35 horas. Ou seja: faltou dar uma arejada nas idéias.
Por outro lado, Sarkozy mostrou clareza: disse que a semana de 35 horas foi o maior erro que a França já cometeu, e prometeu dar uma neoliberalizada. Pode-se concordar ou não, mas sabe-se o pacote que se está comprando.
De qualquer maneira, na minha opinião, foram os melhores candidatos que eu vi numa eleição francesa desde a época do Mitterand.
Por outro lado, Sarkozy mostrou clareza: disse que a semana de 35 horas foi o maior erro que a França já cometeu, e prometeu dar uma neoliberalizada. Pode-se concordar ou não, mas sabe-se o pacote que se está comprando.
De qualquer maneira, na minha opinião, foram os melhores candidatos que eu vi numa eleição francesa desde a época do Mitterand.
Livrão: "What's Left?" - Nick Cohen
O autor é um dos caras da turma do Euston Manifesto (clique na imagem ao lado), que critica a esquerda contemporânea por sua complacência com o autoritarismo islâmico e seu anti-ocidentalismo vulgar. O livro é sobre isso: sobre o processo pelo qual boa parte da esquerda radical passou a apoiar o fundamentalismo islâmico (sem dúvida nenhuma, um movimento de extrema-direita), e como esse movimento acabou se refletindo no pensamento da esquerda mainstream. Mais importante, é sobre o fracasso da esquerda ocidental em demonstrar solidariedade internacionalista com os militantes da esquerda democrática no Iraque e na Palestina, para não falar de Cuba e da China.
Cohen, diga-se logo de início, apoiou a guerra do Iraque (nós não apoiamos), inspirado pela esquerda iraquiana no exílio. Reconhece que a guerra foi mal conduzida e que a situação atual é um desastre, mas sente vergonha por militantes de esquerda que, mesmo que, legitimamente, tenham sido contra a guerra, se recusaram a apoiar a nova esquerda democrática iraquiana e apoiaram, ou foram neutros, com relação à insurgência restauracionista facista. O livro coleta várias histórias de militantes socialistas perseguidos por Saddam, incluindo a heróica oposição sindical clandestina iraquiana, e apresenta seus argumentos a favor da guerra. Mas também apresenta os dois melhores argumentos contra a guerra, que reconhece como fortes: o de Michael Walzer, que temia os efeitos sobre o sistema internacional, e o manifesto do dramaturgo chileno Ariel Dorfman, que é tão bom (e expressa tão bem nossa própria posição) que vou tentar achar inteiro e citar aqui.
O livro é, para começo de conversa, espetacularmente bem escrito, com ironia na melhor tradição britânica. Em um ponto, por exemplo, Cohen narra o episódio em que alguém abriu um tópico no chat do The Guardian com o título
"Nick Cohen e David Aaranovitch [outro jornalista de esquerda e judeu que apoiou a guerra] podem transformar um bom homem em anti-semita."
Diz o Cohen: "uma comentarista não aguentou o caráter evidentemente preconceituoso do título, e exigiu que fosse mudado para
"Nick Cohen e David Aaranovitch [outro jornalista judeu de esquerda que apoiou a guerra] podem transformar um bom homem OU UMA BOA MULHER em anti-semita."
O livro faz várias coisas: traça a origem da atual indiferença com relação ao sofrimento de esquerdistas e feministas no Terceiro Mundo nas teorias relativistas pós-modernas ( em uma citação, um maluco diz que é hipocrisia criticar o incêndio de esposas vivas na Índia enquanto as feministas ocidentais se calam - ??? - diante da violência doméstica nos EUA), mostra Chomsky passando vergonha negando a existência dos campos de concentração durante a guerra da Bósnia ("as fotos foram forjadas"), mostra o partido comunista inglês passando vergonha durante a segunda guerra minando o esforço de guerra até a invasão da URSS, mostra o pessoal do círculo de Bloomsbury (em especial a Virginia Woolf) fazendo feíssimo e amarelando feio diante do nazismo, com argumentos muito parecidos com os atualmente utilizados para recusar apoio aos iraquianos. Coisa feia: a turma da New Left review, Edward Said, Tariq Ali e companhia abandonam na maior um militante iraquiano anti-Saddam, que apoiavam até outro dia, assim que os EUA se voltam contra Saddam.
Há páginas e mais páginas dedicadas a mostrar o lado mais patético da extrema esquerda, desde o caso de George Healy, líder do partido dos trabalhadores revolucionários socialistas, que terminou a vida como pau-mandado pago pelo Saddam (tal como o MR-8 brasileiro) e denunciado por estuprar as militantes do próprio partido (ah, bom). Mostra o atual prefeito de Londres, Ken Livingstone, festejando teólogos que defendem o assassinato de homossexuais, e dizendo, no funeral do tal do Healey, que as denúncias eram tudo armação do serviço secreto (aaah, boom).
E, como não poderia deixar de ser, dá uma sacaneada no George Galloway, vagabundo já sacaneado aqui por vestir collant e imitar gatinho no Big Brother da Inglaterra ("Desde muito que Galloway aprendera a rastejar", diz Cohen). Galloway é mostrado dizendo para Saddam que até hoje (final dos anos 90, acho) conhecia famílias que batizavam seus filhos como Saddam (com quem esse cara anda?), e se comportando como uma espécie de Monica Lewinsky dos ditadores árabes em geral. Mais triste ainda, mostra como Galloway, uns partidinhos trotskystas e organizações muçulmanas extremistas assumiram controle do movimento pacifista.
E conclui: temos que deixar de ser vagabundos e apoiar a luta pela democracia, apoiar os heróis que tentam organizar sindicatos em condições extremamente adversas, como o Zimbabwe de Mugabe, o Iraque durante a ocupação, etc. A esquerda não é uma família unida em que alguns membros - a extrema esquerda - de vez em quando cometem excessos. Esses caras são adversários, piores do que os da direita democrática. É preciso resgatar os ideiais internacionalistas que sempre inspiraram a esquerda, e resgatá-la das garras da política da identidade particularista (velho instrumento facista). Devemos apoiar a independência palestina e combater o Hamas, devemos apoiar a independência iraquiana e ajudar a destroçar a Al Qaeda.
Ainda vou comentar mais esse livro outra hora. Mas a sensação de alívio ao lê-lo foi imensa. Pode haver algum excesso, mas não resta dúvida de que a turma criticada pelo Cohen predominou nos últimos anos na discussão de esquerda, e que os resultados foram péssimos. Eu entrei para a esquerda para redistribuir renda, não para apoiar o direito dos muçulmanos assassinarem seus apóstatas. Até porque, se os fundamentalistas ganharem, eu sei que, na fila do fuzilamento, eles me mandam antes do Bush, com quem, inevitavelmente, conseguirão fazer acordo.
PS: não sei porque, esse post saiu com espaço menor. Se alguém souber como resolver me avise.
Cohen, diga-se logo de início, apoiou a guerra do Iraque (nós não apoiamos), inspirado pela esquerda iraquiana no exílio. Reconhece que a guerra foi mal conduzida e que a situação atual é um desastre, mas sente vergonha por militantes de esquerda que, mesmo que, legitimamente, tenham sido contra a guerra, se recusaram a apoiar a nova esquerda democrática iraquiana e apoiaram, ou foram neutros, com relação à insurgência restauracionista facista. O livro coleta várias histórias de militantes socialistas perseguidos por Saddam, incluindo a heróica oposição sindical clandestina iraquiana, e apresenta seus argumentos a favor da guerra. Mas também apresenta os dois melhores argumentos contra a guerra, que reconhece como fortes: o de Michael Walzer, que temia os efeitos sobre o sistema internacional, e o manifesto do dramaturgo chileno Ariel Dorfman, que é tão bom (e expressa tão bem nossa própria posição) que vou tentar achar inteiro e citar aqui.
O livro é, para começo de conversa, espetacularmente bem escrito, com ironia na melhor tradição britânica. Em um ponto, por exemplo, Cohen narra o episódio em que alguém abriu um tópico no chat do The Guardian com o título
"Nick Cohen e David Aaranovitch [outro jornalista de esquerda e judeu que apoiou a guerra] podem transformar um bom homem em anti-semita."
Diz o Cohen: "uma comentarista não aguentou o caráter evidentemente preconceituoso do título, e exigiu que fosse mudado para
"Nick Cohen e David Aaranovitch [outro jornalista judeu de esquerda que apoiou a guerra] podem transformar um bom homem OU UMA BOA MULHER em anti-semita."
O livro faz várias coisas: traça a origem da atual indiferença com relação ao sofrimento de esquerdistas e feministas no Terceiro Mundo nas teorias relativistas pós-modernas ( em uma citação, um maluco diz que é hipocrisia criticar o incêndio de esposas vivas na Índia enquanto as feministas ocidentais se calam - ??? - diante da violência doméstica nos EUA), mostra Chomsky passando vergonha negando a existência dos campos de concentração durante a guerra da Bósnia ("as fotos foram forjadas"), mostra o partido comunista inglês passando vergonha durante a segunda guerra minando o esforço de guerra até a invasão da URSS, mostra o pessoal do círculo de Bloomsbury (em especial a Virginia Woolf) fazendo feíssimo e amarelando feio diante do nazismo, com argumentos muito parecidos com os atualmente utilizados para recusar apoio aos iraquianos. Coisa feia: a turma da New Left review, Edward Said, Tariq Ali e companhia abandonam na maior um militante iraquiano anti-Saddam, que apoiavam até outro dia, assim que os EUA se voltam contra Saddam.
Há páginas e mais páginas dedicadas a mostrar o lado mais patético da extrema esquerda, desde o caso de George Healy, líder do partido dos trabalhadores revolucionários socialistas, que terminou a vida como pau-mandado pago pelo Saddam (tal como o MR-8 brasileiro) e denunciado por estuprar as militantes do próprio partido (ah, bom). Mostra o atual prefeito de Londres, Ken Livingstone, festejando teólogos que defendem o assassinato de homossexuais, e dizendo, no funeral do tal do Healey, que as denúncias eram tudo armação do serviço secreto (aaah, boom).
E, como não poderia deixar de ser, dá uma sacaneada no George Galloway, vagabundo já sacaneado aqui por vestir collant e imitar gatinho no Big Brother da Inglaterra ("Desde muito que Galloway aprendera a rastejar", diz Cohen). Galloway é mostrado dizendo para Saddam que até hoje (final dos anos 90, acho) conhecia famílias que batizavam seus filhos como Saddam (com quem esse cara anda?), e se comportando como uma espécie de Monica Lewinsky dos ditadores árabes em geral. Mais triste ainda, mostra como Galloway, uns partidinhos trotskystas e organizações muçulmanas extremistas assumiram controle do movimento pacifista.
E conclui: temos que deixar de ser vagabundos e apoiar a luta pela democracia, apoiar os heróis que tentam organizar sindicatos em condições extremamente adversas, como o Zimbabwe de Mugabe, o Iraque durante a ocupação, etc. A esquerda não é uma família unida em que alguns membros - a extrema esquerda - de vez em quando cometem excessos. Esses caras são adversários, piores do que os da direita democrática. É preciso resgatar os ideiais internacionalistas que sempre inspiraram a esquerda, e resgatá-la das garras da política da identidade particularista (velho instrumento facista). Devemos apoiar a independência palestina e combater o Hamas, devemos apoiar a independência iraquiana e ajudar a destroçar a Al Qaeda.
Ainda vou comentar mais esse livro outra hora. Mas a sensação de alívio ao lê-lo foi imensa. Pode haver algum excesso, mas não resta dúvida de que a turma criticada pelo Cohen predominou nos últimos anos na discussão de esquerda, e que os resultados foram péssimos. Eu entrei para a esquerda para redistribuir renda, não para apoiar o direito dos muçulmanos assassinarem seus apóstatas. Até porque, se os fundamentalistas ganharem, eu sei que, na fila do fuzilamento, eles me mandam antes do Bush, com quem, inevitavelmente, conseguirão fazer acordo.
PS: não sei porque, esse post saiu com espaço menor. Se alguém souber como resolver me avise.
Thursday, May 03, 2007
MST na The Economist
Boa reportagem sobre o MST na The Economist. Surpreendentemente razoável com relação à reforma agrária, e crítica com relação à idéia alucinada do Stédile de fazer o agronegócio o novo inimigo. Eu e quase todo mundo somos contra o latifúndio improdutivo, mas quem é contra o agronegócio em si? Me refiro ao setor econômico como um todo, não a eventuais abusos que existam em áreas espécíficas.
Se o agronegócio é ruim para o meio ambiente, que sofra fiscalização do IBAMA e seja invadido pelo Greenpeace. O que o MST deveria estar fazendo é pensar em maneiras de articular a pequena propriedade familiar com o agrinegócio de maneira lucrativa para ambos.
Se o agronegócio é ruim para o meio ambiente, que sofra fiscalização do IBAMA e seja invadido pelo Greenpeace. O que o MST deveria estar fazendo é pensar em maneiras de articular a pequena propriedade familiar com o agrinegócio de maneira lucrativa para ambos.
Wednesday, May 02, 2007
Tony Blair na Democratya
A excelente revista Democratya, da turma do Euston Manifesto, traz nesse último número um artigo legal do Tony Blair defendendo a entrada da Turquia na UE. Aliás, esse número está mesmo bacana, incluindo a resenha do livro "Lendo Habermas em Teerã", e uma boa resenha (recomendada, vejam só, pelo Radiohead!) do livro "What's Left?" do Nick Cohen, que será discutido em breve aqui (estou lendo, até agora é ótimo).
Vou ver se boto o link da Democratya aí do lado hoje.
Vou ver se boto o link da Democratya aí do lado hoje.
Tuesday, May 01, 2007
Dia do Trabalho
Para comemorar o Primeiro de Maio, um momento flashback meio marxistóide, provocado por uma conversa com o Fábio e o Válter ontem.
Hoje devemos festejar o trabalhador, não o trabalho. O trabalho é, em geral, uma desgraça - na Bíblia, é um dos castigos que o Adão recebe por se meter a besta. A palavra trabalho deriva do nome de um instrumento de tortura romano (o tripalium). Em oposição ao trabalho, existe a obra (como bem disse Hanna Arendt), que é a atividade criativa, que pode ser extremamente árdua, mas é a expressão do sujeito que a faz. O trabalho é o sinal de nossa submissão à natureza, a obra é o sinal de nossa liberdade dentro dela.
Que, portanto, os trabalhadores sejam cada vez menos escravos do trabalho. Que sua jornada de trabalho seja cada vez menor, nos séculos que se seguem, para que lhe sobre mais tempo para viver uma vida autônoma, e para que se liberte sua vida privada da necessidade de distração alienada, que é o refelxo do trabalho alienado. Que suas chances na vida sejam cada vez menos determinadas pelo trabalho que lhe coube na loteria da vida, que seus filhos não estudem em escolas piores por causa disso, que receba o mesmo tratamento de saúde independente disso, e que as chances de seus filhos conseguirem vencer na vida não seja influenciada por essa circunstância.
Que haja mecanismos públicos, como um programa de renda mínima ou o instituto de uma herança social, que garanta que nem o trabalhador, nem seus filhos, estão condenados à miséria pelas flutuações do mercado de trabalho.
E que o trabalhador receba a formação intelectual e humanística para lutar contra as formas mais atrozes de trabalho, para lentamente transformar seu processo de trabalho, dentro das possibilidades de cada momento. E que lhe seja dada a experiência da obra, do trabalho criativo, ao menos em alguns momentos do dia ou da vida, e que esse espaço seja cada vez maior.
(Mal acabei de escrever isso, me ocorreu uma coisa: pelo menos na minha experiência, o trabalho também serve para conter os pequenos narcisismos da vida privada - vejam como são evidentemente doentes todos esses intelectuais que não fazem pesquisa direito. Talvez um pouco de alienação - esqueci se a palavra marxista é essa, ou se é estranhammento - seja parte necessária de uma vida comum saudável. Enfim, sei lá. Feliz Primeiro de Maio!).
Hoje devemos festejar o trabalhador, não o trabalho. O trabalho é, em geral, uma desgraça - na Bíblia, é um dos castigos que o Adão recebe por se meter a besta. A palavra trabalho deriva do nome de um instrumento de tortura romano (o tripalium). Em oposição ao trabalho, existe a obra (como bem disse Hanna Arendt), que é a atividade criativa, que pode ser extremamente árdua, mas é a expressão do sujeito que a faz. O trabalho é o sinal de nossa submissão à natureza, a obra é o sinal de nossa liberdade dentro dela.
Que, portanto, os trabalhadores sejam cada vez menos escravos do trabalho. Que sua jornada de trabalho seja cada vez menor, nos séculos que se seguem, para que lhe sobre mais tempo para viver uma vida autônoma, e para que se liberte sua vida privada da necessidade de distração alienada, que é o refelxo do trabalho alienado. Que suas chances na vida sejam cada vez menos determinadas pelo trabalho que lhe coube na loteria da vida, que seus filhos não estudem em escolas piores por causa disso, que receba o mesmo tratamento de saúde independente disso, e que as chances de seus filhos conseguirem vencer na vida não seja influenciada por essa circunstância.
Que haja mecanismos públicos, como um programa de renda mínima ou o instituto de uma herança social, que garanta que nem o trabalhador, nem seus filhos, estão condenados à miséria pelas flutuações do mercado de trabalho.
E que o trabalhador receba a formação intelectual e humanística para lutar contra as formas mais atrozes de trabalho, para lentamente transformar seu processo de trabalho, dentro das possibilidades de cada momento. E que lhe seja dada a experiência da obra, do trabalho criativo, ao menos em alguns momentos do dia ou da vida, e que esse espaço seja cada vez maior.
(Mal acabei de escrever isso, me ocorreu uma coisa: pelo menos na minha experiência, o trabalho também serve para conter os pequenos narcisismos da vida privada - vejam como são evidentemente doentes todos esses intelectuais que não fazem pesquisa direito. Talvez um pouco de alienação - esqueci se a palavra marxista é essa, ou se é estranhammento - seja parte necessária de uma vida comum saudável. Enfim, sei lá. Feliz Primeiro de Maio!).
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