Tuesday, May 01, 2007

Dia do Trabalho

Para comemorar o Primeiro de Maio, um momento flashback meio marxistóide, provocado por uma conversa com o Fábio e o Válter ontem.

Hoje devemos festejar o trabalhador, não o trabalho. O trabalho é, em geral, uma desgraça - na Bíblia, é um dos castigos que o Adão recebe por se meter a besta. A palavra trabalho deriva do nome de um instrumento de tortura romano (o tripalium). Em oposição ao trabalho, existe a obra (como bem disse Hanna Arendt), que é a atividade criativa, que pode ser extremamente árdua, mas é a expressão do sujeito que a faz. O trabalho é o sinal de nossa submissão à natureza, a obra é o sinal de nossa liberdade dentro dela.

Que, portanto, os trabalhadores sejam cada vez menos escravos do trabalho. Que sua jornada de trabalho seja cada vez menor, nos séculos que se seguem, para que lhe sobre mais tempo para viver uma vida autônoma, e para que se liberte sua vida privada da necessidade de distração alienada, que é o refelxo do trabalho alienado. Que suas chances na vida sejam cada vez menos determinadas pelo trabalho que lhe coube na loteria da vida, que seus filhos não estudem em escolas piores por causa disso, que receba o mesmo tratamento de saúde independente disso, e que as chances de seus filhos conseguirem vencer na vida não seja influenciada por essa circunstância.

Que haja mecanismos públicos, como um programa de renda mínima ou o instituto de uma herança social, que garanta que nem o trabalhador, nem seus filhos, estão condenados à miséria pelas flutuações do mercado de trabalho.

E que o trabalhador receba a formação intelectual e humanística para lutar contra as formas mais atrozes de trabalho, para lentamente transformar seu processo de trabalho, dentro das possibilidades de cada momento. E que lhe seja dada a experiência da obra, do trabalho criativo, ao menos em alguns momentos do dia ou da vida, e que esse espaço seja cada vez maior.

(Mal acabei de escrever isso, me ocorreu uma coisa: pelo menos na minha experiência, o trabalho também serve para conter os pequenos narcisismos da vida privada - vejam como são evidentemente doentes todos esses intelectuais que não fazem pesquisa direito. Talvez um pouco de alienação - esqueci se a palavra marxista é essa, ou se é estranhammento - seja parte necessária de uma vida comum saudável. Enfim, sei lá. Feliz Primeiro de Maio!).

2 comments:

Anonymous said...

Subscrevo cada uma de suas palavras.

Só noto que:

1) Isso não se consegue sem uma crítica radical do mundo do trabalho, do capital e etc.

2) Não se consegue sem se pensar uma alternativa prática e factível de organização da produção qualitativamente melhor que o capitalismo.

Estou desenvolvendo um texto sobre isso no meu blog. A primeira parte entra no ar hoje, até o final do dia.

Na Prática said...

Grande Renato!

Aguardo seu post ansiosamente!

Abração

Celso