Um liberal inteligente vem escrevendo no Globo coisas interessantes sobre a crise política atual. Paulo Guedes, em sua coluna da semana passada, começava assim:
"Chegamos a uma situação absurda. Dois partidos de esquerda, o PT e o PSDB, alternam-se no poder e, agora, acusam-se mutuamente de corruptores, por praticar a compra dos partidos de direita - e ainda por cima, segundo a acusação comum, para implementar programas de direita"
Guedes propõem algo com o que não poderíamos concordar mais: que PT e PSDB se unam em uma frente de centro-esquerda, que seria combatida por um reagrupamento de forças de direita sob a bandeira do liberalismo. Diz ele na coluna de hoje:
"Por exemplo, seria muito mais interessante neste momento um debate entre a tecnologia de geração de emprego dos sociais — democratas (gastos públicos) e a dos liberais-democratas (reforma da legislação trabalhista e da previdência). Em vez disso, assistimos à discussão sobre as tecnologias de corrupção. O PTB acusa o PT de compra direta de apoio parlamentar através do “mensalão”. O dinheiro sairia diretamente da tesouraria do PT para o parlamentar do PP e do PL. Enquanto o PTB parece ter orgulho de sua própria tecnologia, que fortaleceria o partido, desentermediando o PT. Ou seja, apontar diretores para empresas como os Correios, a Eletronorte e o IRB, os quais se encarregariam da arrecadação para o partido"
Guedes vê a origem da corrupção no modelo dirigista de desenvolvimento brasileiro, em que o Estado teve papel econômico fundamental. Há muita verdade nisso, mas por si só não explica por que a direita brasileira demonstra tanta incapacidade de jogar o jogo democrático eficientemente. Guedes parece acreditar que o problema está em fenômenos culturais, na distorção da democracia, que teria se tornado mera disputa pelo poder. Como diz ainda na coluna de hoje:
"Democracia, embora componente indissociável da Grande Sociedade Aberta, é apenas o método de decisão pela maioria, sem entrar no mérito da doutrina política e econômica. Sem o conteúdo doutrinário, a democracia vira uma disputa do poder pelo poder. De que outra forma explicar uma associação do PT com o PTB, em vez da aliança natural do partido do governo com o PSDB, os dois no campo da social-democracia?"
Pessoalmente, acho que a crise atual tem como origem o legado de Collor, que desmoralizou a defesa aberta do neoliberalismo no momento em que as medidas econômicas necessárias para o combate à hiperinflação pediam um governo de direita sério e civilizado. Sérios e civilizados foram os governantes de esquerda que se sucederam, por terem feito as concessões que fizeram ao invés do governo que certamente gostariam de ter feito. Mas o legado de Collor é este: o liberalismo desmoralizado; a esquerda democrática sob frequente suspeita de incoerência; a direita sem ter como se opor a governos que, no fundo, estão fazendo o trabalho dela, e tendo que apelar, em nome da sobrevivência política, para o populismo; e as causas sociais sem ninguém que as defenda a não ser a esquerda autoritária.
Monday, June 20, 2005
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1 comment:
Bem, para mim o neoliberalismo "começou" no Brasil com Collor (vinha já sendo alimentado durante a época do Sarney, mas começou mesmo com elle), aquele desejo inicial - a musa inspiradora ou a âncora da salvação - teve seus esboços traçados durante este período. O esqueleto foi montado durante a gestão do Itamar e foi colocado na prática, inserido a carne, por Fernando Henrique, ou seja, uma monstruosidade, sem pé nem cabeça. A única coisa que ficou faltando nisso tudo, que poderia ter salvo alguma coisa, foi uma agência reguladora que realmente trabalhasse em prol dos interesses nacionais, com força de intervenção e regulamentação reais, coisas que só agora vemos alguns esboços de reação por parte das mesmas em pontos específicos, como é o caso das telecomunicações (15 anos depois!!!!).
O maior problema no meu ponto de vista continua sendo a "corrupção coronelista", aquela corrupção regionalizada, institucionalizada, movida pela concentração de riqueza e pela burocracia. O tipo de corrupção confundida com o "se dar bem na vida". Colocar na cabeça das pessoas que qualquer suborno é suborno (do cafezinho para o policial ao mensalão) seria uma tarefa para muitas gerações de brasileiros, e que criminoso está no ato de ofecer tanto quanto no ato de aceitá-lo!
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