Wednesday, June 22, 2005

EZLN parte para a ignorância

Ninguém lembrava mais deles, mas parece que os zapatistas estão planejando retomar a guerra civil (também saiu na Folha): lançaram um alerta vermelho, explicaram que era por que provavelmente as hostilidades seriam retomadas, e desresponsabilizaram todos os civis que os acompanharam esse tempo todo. É de fato surpreendente: de onde os caras pretendem tirar recursos para enfrentar o exército mexicano? Se bem que é possível que ninguém tenha um plano, seja só uma burrice.

Mais preocupante, e infelizmente provável, é que a estratégia seja articulada com o neopopulismo andino: Chávez, Morales, as FARCs, enfim.

É triste, desde o cessar-fogo havia a esperança de que os zapatistas tivessem compreendido que o México não era mais um regime de exceção, e que, portanto, a luta armada era um crime. Mas alguém devia ter desconfiado quando os caras, apesar de escreverem poesia, livro infantil, e jogarem bola, continuaram carregando AK-47s. Sujeito com revólver é sempre sujeito com revólver.

Como em todas essas coisas, um monte de moleque idealista que poderia formar a nova liderança nacional vai morrer, um monte de jornalista de segunda classe do primeiro mundo vai vender livro. Tudo isso por um negócio ideologicamente vago, no ponto para ser manipulado por uma liderança totalitária.

2 comments:

Anonymous said...

Ponho reparo apenas em uma observação sua: não há "apesar" de poesia, livro infantil e jogarem bola, pois literatura e esporte são duas das vitrines preferidas dos movimentos "revolucionários",do biopoder, da estética nazi etc. etc. etc; isto sem falar dos movimentos sociais devidamente aparelhados e cooptados.

Embora eu não defenda nada parecido com "arte pela arte" (longe disso), os poemas do sub-comandante Marcos e dos Zapatistas não possuem absolutamente nada de novo, nem em conteúdo, nem em forma. A "nova poesia" e "nova estética" zapatistas são, no máximo, um retorno ao realismo socialista.

Poetas, prosadores e artistas comprometidos com transformações sociais, mas que mantêm sua lucidez são, em geral, os primeiros a serem "engolidos" pelo autoritarismo, pelo horror, pela censura, pela decepção, pela depressão. A morte de Vladimir Maiakovski e a expulsão de Guillermo Cabrera Infante de Cuba são, para mim, os momentos mais agudos desse pesadelo que são as vitórias das contra-revoluções totalitárias no interior dos processos de abertura revolucionária.

O que é mais triste, no momento, é perceber que os zapatistas já cavaram o seu nicho de mercado, vendendo os seus produtos e seu próprio marketing (vide links) numa clara indicação de que a Política parece estar em vias de se tornar a grande exilada do início do século XXI.

Anonymous said...

Fazendo justiça ao post anterior: claro que os camponeses são massacrados antes que os artistas...