Monday, April 30, 2007
Ex-Bolívia
Segundo informações de um colega que vive na Bolívia, a coisa está feia por lá, e não é apenas por que o ex-ministro das minas e energia (foto) continua saindo na rua sem máscara. As províncias do leste estão bem próximas de se separarem da Bolívia e se tornarem um país independente, e só não fizeram isso ainda porque têm medo (com razão, penso eu) de que Chávez invada a Bolívia (em tese, para ajudar o Evo, mas, convenhamos, depois que ele entrar, vai sair porquê?).
Enquanto isso, o coisinha totosa aí da foto quer provar que não é apenas um rostinho bonito. Acha que a nacionalização foi uma farsa, porque o Evo não confiscou tudo, todos os rendimentos da refinaria, todos os equipamentos, etc. Por essas e outras, e pela pressão brasileira, deixou de ser ministro. Pois agora resolveu radicalizar, e está unido a outras facções sem a menor idéia do que estão fazendo, pressionando o Evo para ir pro pau.
Se a Bolívia entrar em crise, Chávez pode mesmo se meter a engraçado e invadir. Daí, o que faz o Brasil? E o que fariam os EUA?
Friday, April 27, 2007
Suplicy tá doidão (Pá!, pá!, pá!)
Nos orgulhamos muito de ter apoiado Suplicy nas últimas eleições, continuamos apoiando, e defendemos a renda básica de cidadania. Agora, porra, vá tomar no cú. Vejam só essa:
PS: Não se entusiasmem, o tiro do Suplicy não pegou no ACM.
PS: Não se entusiasmem, o tiro do Suplicy não pegou no ACM.
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.6)
Nesse capítulo e nos dois seguintes, Unger formula propostas específicas para cada região do mundo, começando, aqui, pelos países em desenvolvimento, prosseguindo depois com Europa e EUA.
As formulações para os países de terceiro mundo são, talvez, as que mais se parecem com as recomendações gerais, propostas nos capítulos anteriores, em especial o Cap.2. Não vamos nos ater no que for igual entre os dois capítulos.
A solução para os países em desenvolvimento é abraçar o mercado, mas sob algumas condições que poderão ajudar os países pobres a ditar os termos dessa adesão. São elas:
1) Construir um escudo para a heresia: se um país quiser ser diferente, vai ter que tomar algumas medidas para garantir a sobrevivência de sua heresia, a saber: alto nível de poupança (para garantir a independência frente ao mercado internacional), vínculos mais estreitos entre poupança e investimento (ver Cap.2), realismo fiscal, e total "oportunismo tático" no que se refere à circulação de dinheiro (se interessar controlar capitais, controle, se interessar liberalizar, liberalize).
2) Equipar o indivíduo: o objetivo não é a igualdade, mas sim potencializar o indivíduo, o que faz da educação a política social central. Importante: o financiamento da educação não pode ser local, ou as desigualdades regionais serão reforçadas. É especialmente útil que surja assim uma contra-elite meritocrática que se oponha à elite da herança, mesmo se ambas forem igualmente interessadas apenas na própria sorte.
3) Intervenção no lado da oferta: aumentar o acesso ao crédito, à tecnologia e ao conhecimento, e introduzir as formas de cooperação desciritas no capítulo anterior em setores da economia que normalmente consideramos pouco sofisticados. Deve ser criada uma série de fundos e centros de apoio técnico que se organizem diferentemente, mantendo vários tipos de relação diferente com o Estado e o setor privado, com a seleção dos que funcionarem melhor.
4) Intervençao do lado da oferta: todas as estratégias para aumentar a participação do salário na renda nacional descritas nos capítulos anteriores.
5) Constituição de uma democracia de alta potência, como a descrita em capítulos anteriores [Problema: e se a democracia de alta potência decidir contra todo o resto do programa?]
6) Permissão para o experimentalismo federativo: que estados e regiões possam tentar formas organizacionais diferentes, desde que não opressivas.
7) Herança social, descrita em capítulos anteriores.
9) Um ramo do governo com poder para intervir em organizações em que o indivíduo não seja capaz de escapar da opressão ou da discriminação [o que seria isso?]
As formulações para os países de terceiro mundo são, talvez, as que mais se parecem com as recomendações gerais, propostas nos capítulos anteriores, em especial o Cap.2. Não vamos nos ater no que for igual entre os dois capítulos.
A solução para os países em desenvolvimento é abraçar o mercado, mas sob algumas condições que poderão ajudar os países pobres a ditar os termos dessa adesão. São elas:
1) Construir um escudo para a heresia: se um país quiser ser diferente, vai ter que tomar algumas medidas para garantir a sobrevivência de sua heresia, a saber: alto nível de poupança (para garantir a independência frente ao mercado internacional), vínculos mais estreitos entre poupança e investimento (ver Cap.2), realismo fiscal, e total "oportunismo tático" no que se refere à circulação de dinheiro (se interessar controlar capitais, controle, se interessar liberalizar, liberalize).
2) Equipar o indivíduo: o objetivo não é a igualdade, mas sim potencializar o indivíduo, o que faz da educação a política social central. Importante: o financiamento da educação não pode ser local, ou as desigualdades regionais serão reforçadas. É especialmente útil que surja assim uma contra-elite meritocrática que se oponha à elite da herança, mesmo se ambas forem igualmente interessadas apenas na própria sorte.
3) Intervenção no lado da oferta: aumentar o acesso ao crédito, à tecnologia e ao conhecimento, e introduzir as formas de cooperação desciritas no capítulo anterior em setores da economia que normalmente consideramos pouco sofisticados. Deve ser criada uma série de fundos e centros de apoio técnico que se organizem diferentemente, mantendo vários tipos de relação diferente com o Estado e o setor privado, com a seleção dos que funcionarem melhor.
4) Intervençao do lado da oferta: todas as estratégias para aumentar a participação do salário na renda nacional descritas nos capítulos anteriores.
5) Constituição de uma democracia de alta potência, como a descrita em capítulos anteriores [Problema: e se a democracia de alta potência decidir contra todo o resto do programa?]
6) Permissão para o experimentalismo federativo: que estados e regiões possam tentar formas organizacionais diferentes, desde que não opressivas.
7) Herança social, descrita em capítulos anteriores.
9) Um ramo do governo com poder para intervir em organizações em que o indivíduo não seja capaz de escapar da opressão ou da discriminação [o que seria isso?]
Thursday, April 26, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap. 5)
Esse capítulo é meio teórico, e provavelmente vai encher o saco de quem não tiver muita paciência pra essas coisas.
A idéia geral é que nos últimos anos se desenvolveram nas melhoreas escolas e nas empresas mais avançadas práticas de trabalho que garantem um bom grau de cooperação ao mesmo tempo em que favorecem a inovação: algumas características dessas práticas são o afrouxamento da fronteira entre concepção e execução, fluidez na definição das tarefas de implementação, o esforço de automatizar tarefas repetitivas e concentrar a atenção no que não pode ser automatizado, a combinação, nos mesmos âmbitos, de competição e cooperação, e a faculdade dos grupos redefinirem suas identidades e interesses durante o processo. O modelo lembra o das modernas firmas de tecnologia, e a proposta de Unger é que a base de uma proposta progressista está em abrir essas práticas para toda a sociedade, não apenas para um pequeno enclave dinâmico dentro dela.
Condições para essa difusão: evitar desigualdades muito extremas [suponho que porque a partir de certo ponto de desigualdade, a cooperação se torna impraticável], mas sem se preocupar demais com a desigualdade de situação: o mais importante é a difusão da possibilidade de recombinar as circunstâncias da vida livremente.
[questão crucial: devemos procurar a igualdade na distribuição dessa possibilidade de recombinar? Se sim, trata-se de uma proposta na linha do Amartya Sen, e a proposta tem minha simpatia. Se não, qual o limite da desigualdade aceitável?]
Outras condições: ênfase na educação [em uma coluna de jornal, Unger havia dito que era preciso definir a educação como prioridade sendo honesto, isto é, afirmando claramente que faríamos menos estradas, menos hospitais, etc. para investir mais em educação], mas uma educação voltada para a aquisição de flexibilidade mental e abilidade de recombinar esquemas, não a valorização do saber enciclopédico; que valorize o trabalho cooperativo, e que se baseie na discussão de diferentes teorias e métodos ao invés da imposição de doutrinas. Esse processo educacional deve estar aberto ao longo de toda a vida da pessoa, permitindo um auto-aperfeiçoamento constante.
Porque, afinal, ficar prestando atenção nessas coisas de cooperação? Uma das aplicações é uma questão interessante levantada pelo Unger: embora a gente fale muito da oposição entre economias de livre-mercado e dirigistas, alguns países se deram bem fazendo os dois, outros se deram mal com as duas coisas. O que faz com que alguns países sejam bons em organizar diferentes arranjos institucionais, enquanto outros são meio ruins? Uma dica seria a tal ênfase na "innovation-friendly cooperation", na qual os EUA, por exemplo (que foram extremamente dirigistas durante a segunda guerra) são bons. Essas formas de cooperação seriam um tipo intermediário de condição para o desenvolvimento, entre o curto prazo do cálculo macroeconômico e o longo prazo da inovação tecnológica.
[Quem tiver saco pode dar uma olhada na página do Unger e vai achar um projeto dele sobre isso com o Charles Sabel, aquele cara que estudou a tal da acumulação flexível]
A idéia geral é que nos últimos anos se desenvolveram nas melhoreas escolas e nas empresas mais avançadas práticas de trabalho que garantem um bom grau de cooperação ao mesmo tempo em que favorecem a inovação: algumas características dessas práticas são o afrouxamento da fronteira entre concepção e execução, fluidez na definição das tarefas de implementação, o esforço de automatizar tarefas repetitivas e concentrar a atenção no que não pode ser automatizado, a combinação, nos mesmos âmbitos, de competição e cooperação, e a faculdade dos grupos redefinirem suas identidades e interesses durante o processo. O modelo lembra o das modernas firmas de tecnologia, e a proposta de Unger é que a base de uma proposta progressista está em abrir essas práticas para toda a sociedade, não apenas para um pequeno enclave dinâmico dentro dela.
Condições para essa difusão: evitar desigualdades muito extremas [suponho que porque a partir de certo ponto de desigualdade, a cooperação se torna impraticável], mas sem se preocupar demais com a desigualdade de situação: o mais importante é a difusão da possibilidade de recombinar as circunstâncias da vida livremente.
[questão crucial: devemos procurar a igualdade na distribuição dessa possibilidade de recombinar? Se sim, trata-se de uma proposta na linha do Amartya Sen, e a proposta tem minha simpatia. Se não, qual o limite da desigualdade aceitável?]
Outras condições: ênfase na educação [em uma coluna de jornal, Unger havia dito que era preciso definir a educação como prioridade sendo honesto, isto é, afirmando claramente que faríamos menos estradas, menos hospitais, etc. para investir mais em educação], mas uma educação voltada para a aquisição de flexibilidade mental e abilidade de recombinar esquemas, não a valorização do saber enciclopédico; que valorize o trabalho cooperativo, e que se baseie na discussão de diferentes teorias e métodos ao invés da imposição de doutrinas. Esse processo educacional deve estar aberto ao longo de toda a vida da pessoa, permitindo um auto-aperfeiçoamento constante.
Porque, afinal, ficar prestando atenção nessas coisas de cooperação? Uma das aplicações é uma questão interessante levantada pelo Unger: embora a gente fale muito da oposição entre economias de livre-mercado e dirigistas, alguns países se deram bem fazendo os dois, outros se deram mal com as duas coisas. O que faz com que alguns países sejam bons em organizar diferentes arranjos institucionais, enquanto outros são meio ruins? Uma dica seria a tal ênfase na "innovation-friendly cooperation", na qual os EUA, por exemplo (que foram extremamente dirigistas durante a segunda guerra) são bons. Essas formas de cooperação seriam um tipo intermediário de condição para o desenvolvimento, entre o curto prazo do cálculo macroeconômico e o longo prazo da inovação tecnológica.
[Quem tiver saco pode dar uma olhada na página do Unger e vai achar um projeto dele sobre isso com o Charles Sabel, aquele cara que estudou a tal da acumulação flexível]
Wednesday, April 25, 2007
E, para quem quiser falar aqui com o imenso staff do Na Prática a Teoria é Outra (também recebemos recado do Dr. ABC e do Amiano Marcelino), pode nos contactar pelo e-mail: napraticaateoriaeoutra@gmail.com
Dr.ABC vs. Dr. RMU
E o Dr. ABC, mostrando que ainda não tem prática em escrever em blog, desperdiçou um puta post aqui nos comentários, que eu roubarei na maior.
"Ridícula a indicação do Mangabeira. Simplesmente ridícula. Motivos:
(i) O IPEA, através de seus estudos, já foca o longo prazo e propõe várias idéias, as quais só precisariam de um suporte político dos "donos do cofre" (leia-se, Ministério da Fazenda e do Planejamento). Como estes não estão a fim de encampar as idéias logo elas não vão pra frente e são natimortas.
(ii) Mais uma secretaria com status de ministério? Pô, primeiro usa o que já tem antes de montar nova estrutura, com mais funcionários, mais grana, etc... Existem coisas no governo que se sobrepõem de maneira absurda: é só analisar, por exemplo, as propostas existentes no Ministério das Cidades e no Ministério da Integração Nacional no que se refere à questão do saneamento básico.
(iii) O Mangabeira pode ser inteligente e tudo, mas é descontrolado, muda de opinião mais rápido do que o "Flash" e, no meu entender, tá tentando "aparecer" e, nos últimos 7 anos, ocupar um cargo de alguma importância no governo. Ou seja, tá querendo tirar uma lasquinha.Vejam que, dos três motivos citados, dois são estritamente contra a criação do Ministério (ou secretaria, seja lá o que for) e, portanto, eu estaria contra fosse o Mangabeira ou qualquer outro o indicado. Mas, dado que a secretaria foi criada, discordo absurdamente da indicação do Mangabeira e o motivo (iii) é forte bastante para isso.Por que não indicar o Giambagi para tal secretaria então? O cara entende do que fala, tem proposto soluções de economista da pesada e pensa muito o futuro (é só analisar sua lista de livros publicados nos últimos três anos). Fora isso, o sotaque portenho dele soa bem melhor que o sotaque "ianque de merda" do Mangabeira (hehehe). "
Embora eu, e, aparentemente, só eu e o Lula, ainda tenha alguma esperança que o Unger renda alguma coisa no governo (que precisa desesperadamente de idéias), devo admitir que o Dr. ABC tem lá seus argumentos, e aproveito para lançar aqui oficialmente a candidatura do Giambiagi a qualquer coisa aí de bacana no governo.
"Ridícula a indicação do Mangabeira. Simplesmente ridícula. Motivos:
(i) O IPEA, através de seus estudos, já foca o longo prazo e propõe várias idéias, as quais só precisariam de um suporte político dos "donos do cofre" (leia-se, Ministério da Fazenda e do Planejamento). Como estes não estão a fim de encampar as idéias logo elas não vão pra frente e são natimortas.
(ii) Mais uma secretaria com status de ministério? Pô, primeiro usa o que já tem antes de montar nova estrutura, com mais funcionários, mais grana, etc... Existem coisas no governo que se sobrepõem de maneira absurda: é só analisar, por exemplo, as propostas existentes no Ministério das Cidades e no Ministério da Integração Nacional no que se refere à questão do saneamento básico.
(iii) O Mangabeira pode ser inteligente e tudo, mas é descontrolado, muda de opinião mais rápido do que o "Flash" e, no meu entender, tá tentando "aparecer" e, nos últimos 7 anos, ocupar um cargo de alguma importância no governo. Ou seja, tá querendo tirar uma lasquinha.Vejam que, dos três motivos citados, dois são estritamente contra a criação do Ministério (ou secretaria, seja lá o que for) e, portanto, eu estaria contra fosse o Mangabeira ou qualquer outro o indicado. Mas, dado que a secretaria foi criada, discordo absurdamente da indicação do Mangabeira e o motivo (iii) é forte bastante para isso.Por que não indicar o Giambagi para tal secretaria então? O cara entende do que fala, tem proposto soluções de economista da pesada e pensa muito o futuro (é só analisar sua lista de livros publicados nos últimos três anos). Fora isso, o sotaque portenho dele soa bem melhor que o sotaque "ianque de merda" do Mangabeira (hehehe). "
Embora eu, e, aparentemente, só eu e o Lula, ainda tenha alguma esperança que o Unger renda alguma coisa no governo (que precisa desesperadamente de idéias), devo admitir que o Dr. ABC tem lá seus argumentos, e aproveito para lançar aqui oficialmente a candidatura do Giambiagi a qualquer coisa aí de bacana no governo.
Novos recursos e Sociologia
Mudamos o blog para o novo sistema do blogger, o que nos dá alguns recursos novos bacanas. Um deles é que quem quiser linkar para um post do blog pode linkar diretamente para o post (e não para o blog), clicando no título do post e linkando. A outra é que vamos por umas listinhas aí do lado. Começamos com a lista de artigos de sociologia bacanas, só com artigos de sociologia realmente interessantes. O viés nosso aqui é óbvio, com muito artigo sobre transição pós-socialista, mas, enfim. O de Florença é bem bacana, a lista deve estar completa até o fim do dia (alguns ótimos artigos não entram porque não estão livres na Internet, só pagando).
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.4)
Apesar da polêmica toda sobre o Unger, continuamos com nosso fichamento on-line.
Além dos proletários querendo ser pequeno-burgueses, o outro agente da nova esquerda para o Unger são as nações querendo ser diferentes.
Paradoxo: historicamente, para manter sua independência, os países tiveram que copiar os mais bem-sucedidos concorrentes, muitas vezes com sacrifício de suas próprias tradições [de fato, o país não-ocidental mais bem-sucedido, o Japão, é que mais cedo embarcou no modelo capitalista]. O nacionalismo vai então, pela própria competição entre países, se tornando um ideal cada vez mais abstrato, sem conteúdo. Quando tinha conteúdo, se podia fazer compromissos [exemplo do que eu acho que isso significa: os africanos podiam, enquanto sua cultura ditava todo seu modo de vida, abrir espaços nela para fazer negócios com os portugueses] mas, quando o nacionalismo vira um negócio abstrato, tende para o fanatismo [os africanos de hoje, já vivendo em grandes cidades como Lagos, não tem mais todo seu modo de vida ditado por suas tradições, e o “ser africano” deixa de ser uma maneira de vida, e vira um ideal, uma bandeira, sem conteúdo porque ninguém propõe seriamente que se volte à vida tribal. Sem possibilidade de implementação, mas com poder de mobilização emocional, o ideal de africanidade pode virar loucura]
Solução/Novo paradoxo: para que os países ganhem margem de manobra real para serem heresias no sistema mundial, precisam fazer algumas coisas igual, como manter uma taxa de poupança muito alta, facilmente mobilizável pelo investimento, que os tornem independentes do investimento internacional.
Além dos proletários querendo ser pequeno-burgueses, o outro agente da nova esquerda para o Unger são as nações querendo ser diferentes.
Paradoxo: historicamente, para manter sua independência, os países tiveram que copiar os mais bem-sucedidos concorrentes, muitas vezes com sacrifício de suas próprias tradições [de fato, o país não-ocidental mais bem-sucedido, o Japão, é que mais cedo embarcou no modelo capitalista]. O nacionalismo vai então, pela própria competição entre países, se tornando um ideal cada vez mais abstrato, sem conteúdo. Quando tinha conteúdo, se podia fazer compromissos [exemplo do que eu acho que isso significa: os africanos podiam, enquanto sua cultura ditava todo seu modo de vida, abrir espaços nela para fazer negócios com os portugueses] mas, quando o nacionalismo vira um negócio abstrato, tende para o fanatismo [os africanos de hoje, já vivendo em grandes cidades como Lagos, não tem mais todo seu modo de vida ditado por suas tradições, e o “ser africano” deixa de ser uma maneira de vida, e vira um ideal, uma bandeira, sem conteúdo porque ninguém propõe seriamente que se volte à vida tribal. Sem possibilidade de implementação, mas com poder de mobilização emocional, o ideal de africanidade pode virar loucura]
Solução/Novo paradoxo: para que os países ganhem margem de manobra real para serem heresias no sistema mundial, precisam fazer algumas coisas igual, como manter uma taxa de poupança muito alta, facilmente mobilizável pelo investimento, que os tornem independentes do investimento internacional.
Tuesday, April 24, 2007
Faxina
Vamos dar uma reorganizada para nos adaptarmos ao novo modelo do blogger, por isso não se espantem se o blog ficar meio feio por uns dias.
Castelo dos Destinos Cruzados
E o traidor do Dr.ABC, ao invés de aceitar escrever aqui pra nóis, lançou um movimento separatista e começou seu próprio blog! É o Castelo dos Destinos Cruzados, que vai ter link aí do lado de agora em diante e definitivamente promete.
Monday, April 23, 2007
Yeltsin bateu as botas
Tanto mamou que morreu, o Yeltsin. Para quem quiser ler sobre a (inegável) bravura demonstrada pelo cara durante o golpe de 1991, leia o obituário da The Economist. Aqui vamos falar de outra coisa: da catástrofe que se abateu sobre a Rússia no começo dos anos 90.
A perestroika deu errado, e foi completamente incapaz de instaurar mecanismos de mercado (como a Hungria havia feito em 1968, a Iugoslávia fazia mais tempo) na URSS. Entretanto, causou uma absoluta perda de controle por parte do centro planificador, e cada empresa foi tentar se virar na base da ignorância. Os trabalhadores aumentaram seus próprios salários, os gerentes venderam bens da empresa para si mesmos, mas o governo continuou subsidiando as empresas. No caos que se seguiu, Gorbachev caiu, e o país acabou.
Yeltsin assumiu e resolveu fazer a mesma coisa que havia sido feita na Polônia: uma dramática liberalização de preços de uma hora para outra. Não foi tão dramática quanto na Polônia, mas deu errado por outro motivo: porque o Estado continuou fraco demais para interromper o fluxo de subsídios. As medidas monetaristas de Yeltsin só tiveram como resultado a conversão da economia russa em economia de escambo por alguns anos. Não havia moeda em circulação para cumprir as obrigações financeiras, mas ninguém interrompeu esses fluxos: ninguém cobrou as dívidas, ninguém deixou de emprestar para quem não pagava, mas, na falta de dinheiro, subsidiou-se e emprestou-se em espécie. Naturalmente, só se ferrou quem vivia de salário: o funcionalismo público (quer dizer, todo mundo) ficou meses sem receber, os salários atrasaram para grandes contingentes da população por vários meses.
Resultado disso tudo: catástrofe humanitária. A maior queda de expectativa de vida da população masculina já registrada em tempos de paz, aumento da desigualdade para níveis latino-americanos (caiu um pouco no final da década). Crescimento absurdo da pobreza. Queda do PIB à metade.
É a situação que ficou conhecida como sub-reforma: o velho sistema se desintegra e, na confusão, alguns malandros enchem o bolso. Depois esses mesmos malandros emperram a reforma, e o país fica preso no meio do caminho entre os dois sistemas, no pior de dois mundos.
Falando em alguns malandros: em 1996, o país indo para o caralho, Yeltsin enfrenta o comunista Zyuganov na eleição presidencial. Parece que o comunista vai ganhar. George Soros diz para os novos banqueiros russos, em um desses encontros internacionais de financistas, que "a festa acabou, rapazes". Mas não tinha acabado, não. Yeltsin e os novos milionários - os "oligarcas" - fecham um acordo que faz a privatização brasileira parecer Jesus repartindo pão entre os discípulos: o "loans-for-shares". O estado russo estava absolutamente quebrado, basicamente, porque nenhum desses caras ricos pagava imposto (nenhum imposto). Então eles propuseram para o Yeltsin: nossos meios de comunicação (os únicos que existiam) apóiam você e a gente te empresta uma graninha. Se você não pagar, você entrega pra gente as jóias da coroa, as grandes empresas de gás, petróleo, mineração, etc., que ainda não haviam sido privatizadas. Eles apoiaram, Yéltsin ganhou (até porque Zyuganov era tosco, mesmo), e, vejam só, não pagou.
A beleza da coisa está na desproporção entre a grana emprestada e o valor das empresas adquiridas. Vejam só alguns casos:
Mikhail Khodorkovsky (atualmente preso) pagou 300 milhões de dólares pela Yukos, avaliada em 8-10 bilhões. Isto é, pagou, se tanto, uns 4% do preço.
Boris Berezhovsky, grande corintinano, pagou 100 milhões pela Sibneft, avaliada em 6 bilhões de dólares. Isto é, pagou 1,6% do preço.
Enquanto isso, a farra continuava no mercado financeiro, com os fundos GKO dando lucros altíssimos. O mais bonito é que, até bem perto da crise de 1998, poucas pessoas podiam comprar esses títulos. Quando estava pra quebrar a porra toda, liberaram pra todo mundo. Quando veio a crise, foi aquela beleza.
Quem quiser entender a popularidade atual de Putin, sem dúvida um sujeito autoritário, deve sempre ter em mente o que veio antes, que é o que a população russa tem para comparar.
A perestroika deu errado, e foi completamente incapaz de instaurar mecanismos de mercado (como a Hungria havia feito em 1968, a Iugoslávia fazia mais tempo) na URSS. Entretanto, causou uma absoluta perda de controle por parte do centro planificador, e cada empresa foi tentar se virar na base da ignorância. Os trabalhadores aumentaram seus próprios salários, os gerentes venderam bens da empresa para si mesmos, mas o governo continuou subsidiando as empresas. No caos que se seguiu, Gorbachev caiu, e o país acabou.
Yeltsin assumiu e resolveu fazer a mesma coisa que havia sido feita na Polônia: uma dramática liberalização de preços de uma hora para outra. Não foi tão dramática quanto na Polônia, mas deu errado por outro motivo: porque o Estado continuou fraco demais para interromper o fluxo de subsídios. As medidas monetaristas de Yeltsin só tiveram como resultado a conversão da economia russa em economia de escambo por alguns anos. Não havia moeda em circulação para cumprir as obrigações financeiras, mas ninguém interrompeu esses fluxos: ninguém cobrou as dívidas, ninguém deixou de emprestar para quem não pagava, mas, na falta de dinheiro, subsidiou-se e emprestou-se em espécie. Naturalmente, só se ferrou quem vivia de salário: o funcionalismo público (quer dizer, todo mundo) ficou meses sem receber, os salários atrasaram para grandes contingentes da população por vários meses.
Resultado disso tudo: catástrofe humanitária. A maior queda de expectativa de vida da população masculina já registrada em tempos de paz, aumento da desigualdade para níveis latino-americanos (caiu um pouco no final da década). Crescimento absurdo da pobreza. Queda do PIB à metade.
É a situação que ficou conhecida como sub-reforma: o velho sistema se desintegra e, na confusão, alguns malandros enchem o bolso. Depois esses mesmos malandros emperram a reforma, e o país fica preso no meio do caminho entre os dois sistemas, no pior de dois mundos.
Falando em alguns malandros: em 1996, o país indo para o caralho, Yeltsin enfrenta o comunista Zyuganov na eleição presidencial. Parece que o comunista vai ganhar. George Soros diz para os novos banqueiros russos, em um desses encontros internacionais de financistas, que "a festa acabou, rapazes". Mas não tinha acabado, não. Yeltsin e os novos milionários - os "oligarcas" - fecham um acordo que faz a privatização brasileira parecer Jesus repartindo pão entre os discípulos: o "loans-for-shares". O estado russo estava absolutamente quebrado, basicamente, porque nenhum desses caras ricos pagava imposto (nenhum imposto). Então eles propuseram para o Yeltsin: nossos meios de comunicação (os únicos que existiam) apóiam você e a gente te empresta uma graninha. Se você não pagar, você entrega pra gente as jóias da coroa, as grandes empresas de gás, petróleo, mineração, etc., que ainda não haviam sido privatizadas. Eles apoiaram, Yéltsin ganhou (até porque Zyuganov era tosco, mesmo), e, vejam só, não pagou.
A beleza da coisa está na desproporção entre a grana emprestada e o valor das empresas adquiridas. Vejam só alguns casos:
Mikhail Khodorkovsky (atualmente preso) pagou 300 milhões de dólares pela Yukos, avaliada em 8-10 bilhões. Isto é, pagou, se tanto, uns 4% do preço.
Boris Berezhovsky, grande corintinano, pagou 100 milhões pela Sibneft, avaliada em 6 bilhões de dólares. Isto é, pagou 1,6% do preço.
Enquanto isso, a farra continuava no mercado financeiro, com os fundos GKO dando lucros altíssimos. O mais bonito é que, até bem perto da crise de 1998, poucas pessoas podiam comprar esses títulos. Quando estava pra quebrar a porra toda, liberaram pra todo mundo. Quando veio a crise, foi aquela beleza.
Quem quiser entender a popularidade atual de Putin, sem dúvida um sujeito autoritário, deve sempre ter em mente o que veio antes, que é o que a população russa tem para comparar.
Em memória de Najim A Jasem
Najim A Jasem, líder sindical iraquiano, foi assassinado, ainda não se sabe se pelas forças da restauração facista, ou se pelas hordas do sectarismo. Jasem fazia sindicalismo clandestino durante o regime de Saddam, e lutava para o estabelecimento de um Iraque democrático com garantias para os trabalhadores. Não achei referência à sua morte em nada da esquerda brasileira, apesar de se tratar de um evidente mártir da classe operária.
Cresce a cada dia o número de líderes trabalhistas mortos no Iraque, e, justamente a esquerda mais militante, que deveria estar pedindo que se caçasse os assassinos como as feras leprosas que são, está achando o maior barato ver os EUA levando um toco.
PS: acaba de ser publicado um livro sobre outro líder sindical iraquiano assassinado pela reação facista, Hadi Saleh.
Cresce a cada dia o número de líderes trabalhistas mortos no Iraque, e, justamente a esquerda mais militante, que deveria estar pedindo que se caçasse os assassinos como as feras leprosas que são, está achando o maior barato ver os EUA levando um toco.
PS: acaba de ser publicado um livro sobre outro líder sindical iraquiano assassinado pela reação facista, Hadi Saleh.
Brasil na The Economist
E semana passada o Brasil foi o tema do dossiê da Economist. Pra variar, bom pra caralho. É um libelo neoliberalzão (como a revista) pela redução do tamanho do Estado no Brasil. Se alguém sabe defender isso com dados sérios, são os caras.
E é o único meio de comunicação que defende o que nós aqui também defendemos: que tanto o segundo governo FHC quanto o primeiro governo Lula foram bons.
Logo no começo fala dos caras pessimistas sem porra nenhuma pra fazer na vida que acham que o Brasil está "caindo aos pedaços", e mostra que, para a imensa maioria da população, isso não é verdade. Há, sem dúvida, um problema de violência urbana seríssimo, que pode ser combatido, mas a idéia de que o negócio está indo para o buraco é uma besteira.
Problemas elencados: previdência (ver post anterior sobre o livro do Giambiagi), transferências para Estados e municípios sem contrapartida de eficiência, e um funcionalismo inchado. A reportagem cita um cara da FGV que diz que o funcionalismo poderia ser cortado em 30% sem prejuízo do serviço (meio difícil de medir isso, cuidado com esses dados).
E vejam que espetáculo: enquanto um sujeito que ganha até 2 salários mínimos paga metade da renda em impostos, quem ganha 30 mínmos paga só um quarto.
Em suma: a revista continua achando que o Brasil é um BRIC (Brazil, Rússia, India e China, que, segundo a Goldman Sachs, vão ser fortes pra cacete daqui a algumas décadas), que, inclusive, é mais democrático e estável que os outros três. Mas o ritmo da mudança ainda é agonizantemente lento.
(Há, no entanto, um negócio meio esquisito: segundo a reportagem, no Brasil o funcionário que lava pratos é proibido pela legislação trabalhista de limpar mesas no restaurante. Nunca ouvi falar disso, nem encontrei alguém que tenha)
E é o único meio de comunicação que defende o que nós aqui também defendemos: que tanto o segundo governo FHC quanto o primeiro governo Lula foram bons.
Logo no começo fala dos caras pessimistas sem porra nenhuma pra fazer na vida que acham que o Brasil está "caindo aos pedaços", e mostra que, para a imensa maioria da população, isso não é verdade. Há, sem dúvida, um problema de violência urbana seríssimo, que pode ser combatido, mas a idéia de que o negócio está indo para o buraco é uma besteira.
Problemas elencados: previdência (ver post anterior sobre o livro do Giambiagi), transferências para Estados e municípios sem contrapartida de eficiência, e um funcionalismo inchado. A reportagem cita um cara da FGV que diz que o funcionalismo poderia ser cortado em 30% sem prejuízo do serviço (meio difícil de medir isso, cuidado com esses dados).
E vejam que espetáculo: enquanto um sujeito que ganha até 2 salários mínimos paga metade da renda em impostos, quem ganha 30 mínmos paga só um quarto.
Em suma: a revista continua achando que o Brasil é um BRIC (Brazil, Rússia, India e China, que, segundo a Goldman Sachs, vão ser fortes pra cacete daqui a algumas décadas), que, inclusive, é mais democrático e estável que os outros três. Mas o ritmo da mudança ainda é agonizantemente lento.
(Há, no entanto, um negócio meio esquisito: segundo a reportagem, no Brasil o funcionário que lava pratos é proibido pela legislação trabalhista de limpar mesas no restaurante. Nunca ouvi falar disso, nem encontrei alguém que tenha)
Ian McEwan
Um dos escritores favoritos do yours truly aqui deu entrevista ao Mais! nesse domingo. Aliás, já que vocês vão lá, aproveitem para dar uma olhada na coluna do Jorge Coli (sempre bacana) sobre o filme "300".
Unger: nossa posição
Carta e Gaspari têm razão, e apontam para o fato de que, se é verdade que Unger tem algumas ótimas idéias, e é inegavelmente inteligente, o fato é que sua inserção na política brasileira até agora tem sido muito desastrada. Se seguir nessa linha, deve ser mandado embora o quanto antes. Mas:
Sejamos francos, não sobram idéias no debate brasileiro. Ninguém espera nada dos partidos brasileiros no que se refere à reflexão, mas mesmo na academia a situação é triste. Bem mais da metade do que se faz nas ciências sociais brasileiras são lixo. Os grandes nomes da sociologia brasileira, o Cohn, o Josué, a Élide, estudam teoria pura ou história do pensamento. Unger tem idéias políticas, e mais idéias do que todo mundo no congresso junto, algumas muito boas. Se ele injetar uma ou duas delas no governo, que corre um sério risco de ser bastante medíocre, será excelente.
Além do mais, nós aqui, que preferimos os livros do Unger à sua política partidária, já faz algum tempo dizemos que algumas de suas propostas - a desoneração da folha de pagamento, a capitalização da previdência, a adoção do VAT, o aumento da taxa de poupança - parecem boas, mas precisam urgentemente de apoio em estudos técnicos, feitos por economistas da pesada. Porra, agora o cara vai ter o IPEA nas mãos. Ou faz agora ou não faz mais.
Sejamos francos, não sobram idéias no debate brasileiro. Ninguém espera nada dos partidos brasileiros no que se refere à reflexão, mas mesmo na academia a situação é triste. Bem mais da metade do que se faz nas ciências sociais brasileiras são lixo. Os grandes nomes da sociologia brasileira, o Cohn, o Josué, a Élide, estudam teoria pura ou história do pensamento. Unger tem idéias políticas, e mais idéias do que todo mundo no congresso junto, algumas muito boas. Se ele injetar uma ou duas delas no governo, que corre um sério risco de ser bastante medíocre, será excelente.
Além do mais, nós aqui, que preferimos os livros do Unger à sua política partidária, já faz algum tempo dizemos que algumas de suas propostas - a desoneração da folha de pagamento, a capitalização da previdência, a adoção do VAT, o aumento da taxa de poupança - parecem boas, mas precisam urgentemente de apoio em estudos técnicos, feitos por economistas da pesada. Porra, agora o cara vai ter o IPEA nas mãos. Ou faz agora ou não faz mais.
Polêmica sobre Unger
Como era de se esperar, muita gente chamando atenção para o fato de que o Unger (1) pediu o impeachment do Lula ano passado, e (2) se aliou a adversários ferrenhos do governo, como o onipresente Daniel Dantas. Dois exemplos de comentário:
Mino Carta:
"Corre o rumor de que o professor Mangabeira Unger, da Universidade de Harvard, seria candidato do presidente Lula para um cargo inédito, conquanto relevante. Dizem tratar-se de um ministério cuja denominação há de ser ainda encontrada. Algo assim como o ministério do livre-pensar, ou do futuro. Altamente estratégico. Mangabeira é figura de grande cultura, é inegável, e até integra a Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos. Não entenderia, porém, a escolha do presidente à luz de outras razões. Em primeiro lugar porque Mangabeira militou ativamente na vanguarda do exército neo-udenista e tucanizado que tanto se empenhou para levar às cordas o governo no final do primeiro mandato de Lula. E, se possível, atirá-lo fora do ringue ao sabor de swings e uppercuts. De fato, em textos candentes, Mangabeira, do alto do seu saber jurídico, advogou o impeachment do presidente. Conheço-o há muito tempo, desde quando me remetia dos Estados Unidos cartapacios manuscritos de leitura nem sempre fácil. Tive com ele relacionamento próximo mais recentemente, quando funcionou com advisor (é a palavra certa) de Ciro Gomes candidato à presidência, no ocaso do governo de Fernando Henrique Cardoso. Tinha bastante consideração por ele, embora nem sempre entendesse suas falas por causa do sotaque de Massachusetts que o caracteriza e que cultiva com indisfarçável desvelo. Dos baixios da minha ingenuidade descobri tardiamente a sua ligação com Daniel Dantas, o banqueiro orelhudo, da qual cuidara de jamais me falar. Fez trabalhos importantes para Dantas, pagos regiamente com os dólares da Brasil Telecom, e o hospeda quando o banqueiro vai aos EUA. Essa situação ensombreceu meu espírito e me sugeriu manter de Mangabeira larga distância."
Elio Gaspari
"O professor Roberto Mangabeira tem dois códigos no seu DNA. Um é a impaciência. O outro é o respeito pela opinião alheia, exigido por 37 anos de magistério em Harvard.Se ele se relacionar com o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, o Ipea, com o DNA de Harvard, a administração pública sai ganhando.Se prevalecer o código da egolatria, vai haver confusão, da boa. No Ipea, é feio um acadêmico sumir com textos que pareceram oportunos quando foram publicados e, com o tempo, tornam-se inconvenientes.No dia 15 de novembro de 2005, Mangabeira publicou na Folha seu conhecido artigo-manifesto intitulado "Pôr fim ao governo Lula". Pegava pesado: "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. (...) Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente".O professor mudou de opinião, mas não lhe fica bem o sumiço desse texto na coleção de quase 300 artigos que mantêm na internet."
Mino Carta:
"Corre o rumor de que o professor Mangabeira Unger, da Universidade de Harvard, seria candidato do presidente Lula para um cargo inédito, conquanto relevante. Dizem tratar-se de um ministério cuja denominação há de ser ainda encontrada. Algo assim como o ministério do livre-pensar, ou do futuro. Altamente estratégico. Mangabeira é figura de grande cultura, é inegável, e até integra a Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos. Não entenderia, porém, a escolha do presidente à luz de outras razões. Em primeiro lugar porque Mangabeira militou ativamente na vanguarda do exército neo-udenista e tucanizado que tanto se empenhou para levar às cordas o governo no final do primeiro mandato de Lula. E, se possível, atirá-lo fora do ringue ao sabor de swings e uppercuts. De fato, em textos candentes, Mangabeira, do alto do seu saber jurídico, advogou o impeachment do presidente. Conheço-o há muito tempo, desde quando me remetia dos Estados Unidos cartapacios manuscritos de leitura nem sempre fácil. Tive com ele relacionamento próximo mais recentemente, quando funcionou com advisor (é a palavra certa) de Ciro Gomes candidato à presidência, no ocaso do governo de Fernando Henrique Cardoso. Tinha bastante consideração por ele, embora nem sempre entendesse suas falas por causa do sotaque de Massachusetts que o caracteriza e que cultiva com indisfarçável desvelo. Dos baixios da minha ingenuidade descobri tardiamente a sua ligação com Daniel Dantas, o banqueiro orelhudo, da qual cuidara de jamais me falar. Fez trabalhos importantes para Dantas, pagos regiamente com os dólares da Brasil Telecom, e o hospeda quando o banqueiro vai aos EUA. Essa situação ensombreceu meu espírito e me sugeriu manter de Mangabeira larga distância."
Elio Gaspari
"O professor Roberto Mangabeira tem dois códigos no seu DNA. Um é a impaciência. O outro é o respeito pela opinião alheia, exigido por 37 anos de magistério em Harvard.Se ele se relacionar com o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, o Ipea, com o DNA de Harvard, a administração pública sai ganhando.Se prevalecer o código da egolatria, vai haver confusão, da boa. No Ipea, é feio um acadêmico sumir com textos que pareceram oportunos quando foram publicados e, com o tempo, tornam-se inconvenientes.No dia 15 de novembro de 2005, Mangabeira publicou na Folha seu conhecido artigo-manifesto intitulado "Pôr fim ao governo Lula". Pegava pesado: "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. (...) Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente".O professor mudou de opinião, mas não lhe fica bem o sumiço desse texto na coleção de quase 300 artigos que mantêm na internet."
Thursday, April 19, 2007
Greves do Setor Público: falta a CUT
Greve no BACEN, greve na PF, logo mais greve em tudo que é lado. O motivo: o PAC vai fixar em inflação + 1,5% por ano a expansão dos gastos com a folha de pagamento. Atenção: não é que todo mundo vai ter aumento real de 1,5%; se um mané qualquer (a Receita, que tem boa bancada na Câmara) tiver aumento de 100%, isso diminui o bolo a ser dividido entre todo mundo. Isto é: os funcionários públicos estão brigando entre si por esse 1,5% da folha.
A questão é: para que serve uma central sindical se a CUT, que tem na mão todos os sindicatos do funcionalismo, não vai negociar em bloco a distribuição desse aumento?
A briga dentro do funcionalismo vai ser feia.
A questão é: para que serve uma central sindical se a CUT, que tem na mão todos os sindicatos do funcionalismo, não vai negociar em bloco a distribuição desse aumento?
A briga dentro do funcionalismo vai ser feia.
Wednesday, April 18, 2007
Unger nas cabeças
E foi só dós darmos uma canja pro livro do Unger aqui no blog, e eis que nosso pistolão se faz sentir: o homem vai arrumar um empregão!
"Em encontro amanhã no Palácio do Planalto, Lula convidará Roberto Mangabeira Unger, professor titular de direito na Universidade Harvard, a assumir a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, órgão com status de ministério a ser criado pelo presidente. Fundador e vice-presidente do PRB, partido de José Alencar, Mangabeira coordenou o programa de governo de Ciro Gomes na campanha de 2002.Ficarão sob o guarda-chuva da nova secretaria o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), hoje vinculado ao Ministério do Planejamento, e o NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos), órgão criado em 2004 e que já foi chefiado pelo petista Luiz Gushiken"
"Em encontro amanhã no Palácio do Planalto, Lula convidará Roberto Mangabeira Unger, professor titular de direito na Universidade Harvard, a assumir a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, órgão com status de ministério a ser criado pelo presidente. Fundador e vice-presidente do PRB, partido de José Alencar, Mangabeira coordenou o programa de governo de Ciro Gomes na campanha de 2002.Ficarão sob o guarda-chuva da nova secretaria o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), hoje vinculado ao Ministério do Planejamento, e o NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos), órgão criado em 2004 e que já foi chefiado pelo petista Luiz Gushiken"
Doutor ABC!
E não podemos deixar de dar aqui nossos parabéns ao grande doutor ABC, aniversariante do dia e ministro da fazenda daqui a, sei lá, uns quinze dias.
Tuesday, April 17, 2007
Boliburgueses
E vejam só quem são os grande heróis do socialismo do século XXI: os boliburgueses, burgueses e bolivarianos (bolivariano é um sujeito que se associa ao Chávez para roubar um troco). Qualquer semelhança com os oligarcas russos não é mera semelhança. A matéria é do Wall Street Journal.
Turquia
A Turquia está começando a ficar de saco cheio da União Européia. Disse o primeiro-ministro turco Edorgan, em entrevista à Der Spiegel (disponível no UOL).:
"Seria possível estabelecer 2014, 2015 como data para nosso ingresso na UE. Mas acima de tudo, estou exortando a UE a ser honesta: se não nos quer, deve dizer agora e claramente. Se não somos desejados, então os dois lados não precisam perder tempo com negociações. A Europa é uma aliança de civilizações ou é um clube cristão? Se o primeiro for verdade, então a Turquia deve ser parte dela"
No fundo, a impressão que dá é que passaram a Turquia pra trás, mesmo. A UE deu a ela objetivos muito ambiciosos, que ninguém nunca achou que seriam cumpridos, como condições para entrar na UE. O problema é que os turcos foram lá e alcançaram, mais ou menos na mesma proporção que outros países que foram aceitos, os tais objetivos. Os europeus não acreditavam que isso fosse acontecer, por isso agora não sabem o que fazer.
O triste é que a entrada na UE foi uma das grandes apostas dos defensores do laicismo turco contra os malucos religiosos, que, naturalmente, começam já a dizer que esses ocidentais sempre estão de sacanagem com a cara deles.
Para terminar, duas coisas interessantes sobre a possibilidade de entrada da Turquia na UE:
1) Muita gente acha que, se a Europa quer ser um país, não pode ter um país culturalmente tão diferente quanto a Turquia. Mas o curioso é que há gente que defende a entrada da Turquia justamente para a Europa não virar um país, para garantir que as diferenças nacionais serão respeitadas sempre.
2) Eu sei que o papa vem aí, mas vou comentar assim mesmo. Quando o João Paulo II estava pra morrer, nos seus últimos dias no hospital, ele defendeu a entrada da Turquia na UE. Como sabemos, o Ratzinger sempre foi contra. Eu sempre achei que o JP estava tentando evitar que seu sucessor fosse o Ratzinger.
"Seria possível estabelecer 2014, 2015 como data para nosso ingresso na UE. Mas acima de tudo, estou exortando a UE a ser honesta: se não nos quer, deve dizer agora e claramente. Se não somos desejados, então os dois lados não precisam perder tempo com negociações. A Europa é uma aliança de civilizações ou é um clube cristão? Se o primeiro for verdade, então a Turquia deve ser parte dela"
No fundo, a impressão que dá é que passaram a Turquia pra trás, mesmo. A UE deu a ela objetivos muito ambiciosos, que ninguém nunca achou que seriam cumpridos, como condições para entrar na UE. O problema é que os turcos foram lá e alcançaram, mais ou menos na mesma proporção que outros países que foram aceitos, os tais objetivos. Os europeus não acreditavam que isso fosse acontecer, por isso agora não sabem o que fazer.
O triste é que a entrada na UE foi uma das grandes apostas dos defensores do laicismo turco contra os malucos religiosos, que, naturalmente, começam já a dizer que esses ocidentais sempre estão de sacanagem com a cara deles.
Para terminar, duas coisas interessantes sobre a possibilidade de entrada da Turquia na UE:
1) Muita gente acha que, se a Europa quer ser um país, não pode ter um país culturalmente tão diferente quanto a Turquia. Mas o curioso é que há gente que defende a entrada da Turquia justamente para a Europa não virar um país, para garantir que as diferenças nacionais serão respeitadas sempre.
2) Eu sei que o papa vem aí, mas vou comentar assim mesmo. Quando o João Paulo II estava pra morrer, nos seus últimos dias no hospital, ele defendeu a entrada da Turquia na UE. Como sabemos, o Ratzinger sempre foi contra. Eu sempre achei que o JP estava tentando evitar que seu sucessor fosse o Ratzinger.
Wednesday, April 11, 2007
Não tenho palavras
E, se você achou isso ruim, veja essa, com o agravante do Sérgio Silva gritando "Ih! Carnaval!"
Godzilla vs. Bambi
Aí vai um clássico do cinema alternativo, lembrança das sessões da meia-noite do Magnetoscópio (acho que era esse o nome), ali no Shopping da Siqueira Campos. A sessão era gratuita, mas os caras passavam qualquer merda que eles quisessem, sem avisar.
A propósito, o venerável André acaba de me chamar atenção para o fato de que as primárias democratas (não, não a do PFL) nos EUA estão sendo caracterizadas como "Hillazilla vs. Obambi".
A propósito, o venerável André acaba de me chamar atenção para o fato de que as primárias democratas (não, não a do PFL) nos EUA estão sendo caracterizadas como "Hillazilla vs. Obambi".
Tuesday, April 10, 2007
KORUS
Bom post (e bons links) no Daniel Drezner sobre o tratado de livre-comércio entre a Coréia do Sul e os EUA (KORUS).
Monday, April 09, 2007
A importância da queda da desigualdade
Para quem acha que a queda da desigualdade é um bem em si, é auto-evidente. Mas mesmo para quem acha que o importante é acabar com a pobreza, veja a conclusão do IPEA: entre 2001 e 2004, a queda de 4% da desigualdade brasileira levou a uma redução de 3.2% na proporção de pessoas extremamente pobres (5 milhões de pessoas). Sem a redução de desigualdade, para obter o mesmo resultado com relação à pobreza, o Brasil precisaria ter crescido 6% ao ano.
Le Pen estende uma mão para o jovens
Pelo menos propôs uma solução alternativa: o método manu militari.
A violência caiu
Pois é, talvez não aqui no Brasil nos últimos anos, mas no planeta, nos últimos milênios. É o que argumenta Steven Pinker, sujeito famosão de Harvard (citado pelo blog do Andrew Sullivan). A crer na pesquisa de um monte de antropólogos, psicólogos, historiadores, etc., a porcentagem de mortes violentas na população caiu muito. Claro, morreu muita gente na Segunda Guerra Mundial, mas em parte é porque havia gente pra cacete pra morrer na Europa do Século XX. Segundo os antropólogos citados, se a mesma taxa de mortalidade da guerra inter-tribal típica fosse aplicada aos conflitos do século XX, ao invés dos 100 milhões de mortos que tivemos, teríamos nada menos do que 2 bilhões de mortos.
Ou seja, como diz o Pinker, "alguma coisa nós devemos estar fazendo certo". Realmente vale ler o artigo.
Ou seja, como diz o Pinker, "alguma coisa nós devemos estar fazendo certo". Realmente vale ler o artigo.
Thursday, April 05, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.3)
As sociedades mdoernas se caracterizam pela convivência de um sistema de classes que perpetuam a desigualdade e de algumas poucas rotas de acesso meritocrático. A abolição da herança seria uma revolução [Unger está propondo abolir a herança? Se estiver, duas objeções: reduz a poupança dos pais drasticamente, enfraquece a família, que é socialmente desejável por outros motivos].
Unger vê na sociedade moderna quatro classes: a classe dos profissionais, administradores e rentistas que ganham mais e controlam mais os processos de trabalho em que estão incluídos [a service class do esquema do Goldthorpe, modelo standard da sociologia contemporânea], os pequeno-burgueses, os operários e a underclass [os excluídos, aos quais muitas vezes se somam os estigmas raciais ou de casta].
O sistema de classes não tem apenas como consequência a desigualdade econômica: também tranca as pessoas no lugar em que ocupam no sistema, reduzindo a possibilidade de auto-transformação e auto-definição de um self. Como diz Unger, as pessoas não querem apenas comprar o que vêem nos anúncios da TV, querem também encenar um romance pessoal como o que se vê nas novelas - a construção de um self lutando contra um contexto [suponho que veja aí um exemplo da concepção romântico-cristã da personalidade, descrita por ele em Passion].
Ao tentarem construir para si uma história como essa, as pessoas vivem uma nova cultura de auto-ajuda [self-help], estudando à noite, tentando abrir seus próprios negócios, etc. Abandonar esses trabalhadores que querem viver não apenas as realidades materiais, mas também os ideais existenciais do romance burguês, foi um erro da esquerda, cuja correção ela deve ter como prioritário.
[Suponho que nos próximos capítulos vamos saber mais sobre como essa nova aliança de classe pode ser feita]
Unger vê na sociedade moderna quatro classes: a classe dos profissionais, administradores e rentistas que ganham mais e controlam mais os processos de trabalho em que estão incluídos [a service class do esquema do Goldthorpe, modelo standard da sociologia contemporânea], os pequeno-burgueses, os operários e a underclass [os excluídos, aos quais muitas vezes se somam os estigmas raciais ou de casta].
O sistema de classes não tem apenas como consequência a desigualdade econômica: também tranca as pessoas no lugar em que ocupam no sistema, reduzindo a possibilidade de auto-transformação e auto-definição de um self. Como diz Unger, as pessoas não querem apenas comprar o que vêem nos anúncios da TV, querem também encenar um romance pessoal como o que se vê nas novelas - a construção de um self lutando contra um contexto [suponho que veja aí um exemplo da concepção romântico-cristã da personalidade, descrita por ele em Passion].
Ao tentarem construir para si uma história como essa, as pessoas vivem uma nova cultura de auto-ajuda [self-help], estudando à noite, tentando abrir seus próprios negócios, etc. Abandonar esses trabalhadores que querem viver não apenas as realidades materiais, mas também os ideais existenciais do romance burguês, foi um erro da esquerda, cuja correção ela deve ter como prioritário.
[Suponho que nos próximos capítulos vamos saber mais sobre como essa nova aliança de classe pode ser feita]
Wednesday, April 04, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.2)
No meu entender, o principal capítulo do livro.
A solução para os quarto problemas do capítulo anterior está em estabelecer um novo objetivo: a ampliação das capacidades (capabilities).
[Quem conhece o trabalho do Amartya Sen sabe de onde vem o termo capability. A questão é: se somos igualitários, devemos querer equalizar o que? Se equalizarmos os resultados, corremos o risco da mediocridade, se equalizarmos apenas perante a lei a igualdade pode ser apenas formal. A solução do Sen é equalizar as capacidades, isto é, as possibilidades de cada um se desenvolver em várias direções se assim o quiser (nos últimos livros, Sen passou a usar o termo liberdades, ao invés de capacidade)]
Exemplos de políticas que podem ampliar as capacidades:
1) Maciço Investimento em Educação: mas educação que privilegie capacidades genéricas, que abre possibilidades, ao invés de ensino técnico, que as limita.
2) Herança Social: estabelecimento de um fundo individual universal que pode ser retirado pelo jovem em determinados momentos de sua vida – por exemplo, ao final do segundo grau, ao fim da faculdade, etc., para lhe permitir algo parecido com as vantagens desfrutadas pelos jovens cujos pais podem ajudá-los nesses momentos cruciais.
Há, no programa proposto, 5 idéias básicas:
1) Para uma nação sobreviver na globalização mantendo sua autonomia, precisa de níveis maiores de poupança, maiores do que normalmente se pensaria na atual sabedoria convencional macroeconômica [Suponho que para não ser tão dependente de poupança externa]. Precisa também ligar mais proximamente poupança e investimento [Acho que um dos exemplos disso seria a capitalização da previdência, em que uma parte importante da poupança nacional seria colocada à disposição do financiamento da produção]. Além disso, a esquerda deve aceitar abertamente que uma parte grande da riqueza seja cobrada em impostos, mesmo que isso implique adotar o imposto sobre valor agregado (value-added) [como o VAT (americano?)], que é socialmente regressivo - cai mais pesadamente sobre os pobres.
2) A política social deve ter como objetivo ampliar as capabilities de todos, o que inclui oferecer oportunidades especiais para moleques pobres bons pra caralho. [oportunidades especiais não violam o princípio da igualdade? Acho que não, é distribuir igualmente a chance de ser excepcional, que os moleques ricos já têm].
3) É preciso aumentar o retorno financeiro do trabalho, a parte dos salários na renda nacional não pode cair. Essa melhor remuneração do trabalho deve se dar de acordo com as possibilidades de diferentes setores: a) divisão de lucros para trabalhadores com mais poder de barganha, b) direito dos sindicatos representarem os desorganizados em setores de poder de barganha médio, e c) subsidiar o emprego nos níveis de poder mais baixos, abolindo os impostos sobre a folha de pagamento, combatendo a informalidade. E, finalmente, é preciso dar acesso a crédito, expertise, e tecnologia para os trabalhadores que querem se tornar pequeno-burgueses e começar o próprio negócio, trabalhar autonomamente, etc.
4) A sociedade civil deve se organizar de modo a que todo sujeito saudável participe da “Economia do cuidado” (caring economy) fora da família. Isto é, todo sujeito saudável deve passar uma parte de seu tempo fazendo trabalho voluntário, mas isso não deve ser forçado pelo Estado, e sim pela sociedade civil.
[Sem uma descrição melhor dos arranjos institucionais que isso implicaria, não dá para apoiar essa proposta]
5) Uma política de alta energia: combinação de democracia direta e indireta. Para quebrar impasses entre poderes, por exemplo, pode haver formas de democracia direta. Deve-se abrir também a possibilidade de experimentos em partes do território ou da economia [me lembrou a secretaria de economia solidária do Paul Singer]. Finalmente, deve-se combater a alienação política extrema causada pela exclusão por meio de políticas de renda mínima e herança social.
Para colocar isso tudo em prática, há dois sujeitos políticos: proletários querendo ser pequeno-burgueses e estados-nação querendo ser diferentes.
[Isso será desenvolvido nos próximos capítulos]
E a crise que faltava já está latente, na angústia, insegurança, medo e incapacidade atual que atacam grande parte da população mundial, que enfrenta a flexibilização do trabalho e das regras com a compreensão de que implicam precarização.
Para terminar, um slogan para a nova esquerda: “Humanizar só na medida em que se energize”.
[Soa bem melhor em inglês]
A solução para os quarto problemas do capítulo anterior está em estabelecer um novo objetivo: a ampliação das capacidades (capabilities).
[Quem conhece o trabalho do Amartya Sen sabe de onde vem o termo capability. A questão é: se somos igualitários, devemos querer equalizar o que? Se equalizarmos os resultados, corremos o risco da mediocridade, se equalizarmos apenas perante a lei a igualdade pode ser apenas formal. A solução do Sen é equalizar as capacidades, isto é, as possibilidades de cada um se desenvolver em várias direções se assim o quiser (nos últimos livros, Sen passou a usar o termo liberdades, ao invés de capacidade)]
Exemplos de políticas que podem ampliar as capacidades:
1) Maciço Investimento em Educação: mas educação que privilegie capacidades genéricas, que abre possibilidades, ao invés de ensino técnico, que as limita.
2) Herança Social: estabelecimento de um fundo individual universal que pode ser retirado pelo jovem em determinados momentos de sua vida – por exemplo, ao final do segundo grau, ao fim da faculdade, etc., para lhe permitir algo parecido com as vantagens desfrutadas pelos jovens cujos pais podem ajudá-los nesses momentos cruciais.
Há, no programa proposto, 5 idéias básicas:
1) Para uma nação sobreviver na globalização mantendo sua autonomia, precisa de níveis maiores de poupança, maiores do que normalmente se pensaria na atual sabedoria convencional macroeconômica [Suponho que para não ser tão dependente de poupança externa]. Precisa também ligar mais proximamente poupança e investimento [Acho que um dos exemplos disso seria a capitalização da previdência, em que uma parte importante da poupança nacional seria colocada à disposição do financiamento da produção]. Além disso, a esquerda deve aceitar abertamente que uma parte grande da riqueza seja cobrada em impostos, mesmo que isso implique adotar o imposto sobre valor agregado (value-added) [como o VAT (americano?)], que é socialmente regressivo - cai mais pesadamente sobre os pobres.
2) A política social deve ter como objetivo ampliar as capabilities de todos, o que inclui oferecer oportunidades especiais para moleques pobres bons pra caralho. [oportunidades especiais não violam o princípio da igualdade? Acho que não, é distribuir igualmente a chance de ser excepcional, que os moleques ricos já têm].
3) É preciso aumentar o retorno financeiro do trabalho, a parte dos salários na renda nacional não pode cair. Essa melhor remuneração do trabalho deve se dar de acordo com as possibilidades de diferentes setores: a) divisão de lucros para trabalhadores com mais poder de barganha, b) direito dos sindicatos representarem os desorganizados em setores de poder de barganha médio, e c) subsidiar o emprego nos níveis de poder mais baixos, abolindo os impostos sobre a folha de pagamento, combatendo a informalidade. E, finalmente, é preciso dar acesso a crédito, expertise, e tecnologia para os trabalhadores que querem se tornar pequeno-burgueses e começar o próprio negócio, trabalhar autonomamente, etc.
4) A sociedade civil deve se organizar de modo a que todo sujeito saudável participe da “Economia do cuidado” (caring economy) fora da família. Isto é, todo sujeito saudável deve passar uma parte de seu tempo fazendo trabalho voluntário, mas isso não deve ser forçado pelo Estado, e sim pela sociedade civil.
[Sem uma descrição melhor dos arranjos institucionais que isso implicaria, não dá para apoiar essa proposta]
5) Uma política de alta energia: combinação de democracia direta e indireta. Para quebrar impasses entre poderes, por exemplo, pode haver formas de democracia direta. Deve-se abrir também a possibilidade de experimentos em partes do território ou da economia [me lembrou a secretaria de economia solidária do Paul Singer]. Finalmente, deve-se combater a alienação política extrema causada pela exclusão por meio de políticas de renda mínima e herança social.
Para colocar isso tudo em prática, há dois sujeitos políticos: proletários querendo ser pequeno-burgueses e estados-nação querendo ser diferentes.
[Isso será desenvolvido nos próximos capítulos]
E a crise que faltava já está latente, na angústia, insegurança, medo e incapacidade atual que atacam grande parte da população mundial, que enfrenta a flexibilização do trabalho e das regras com a compreensão de que implicam precarização.
Para terminar, um slogan para a nova esquerda: “Humanizar só na medida em que se energize”.
[Soa bem melhor em inglês]
Tuesday, April 03, 2007
Fichamento On-Line: What Should the Left Propose? (Cap.1)
Nesse capítulo, Unger lista os quatro principais problemas da esquerda contemporâneo (as soluções são sugeridas no próximo capítulo).
Faltam quatro coisas à esquerda:
1) Uma alternativa: o horizonte da esquerda está preso a, por um lado, o estatismo centralizador, e, por outro, a compensação das desigualdades do mercado.
2) Idéias: as ciências sociais viraram racionalização dos padrões de comportamento atuais, a filosofia política virou um esforço de humanização do mercado, e as humanidades (crítica cultural, etc.) viraram um escapismo.
3) Um agente: a esquerda fracassou em estabelecer uma relação preferencial com a classe operária que não passe por teorias necessitarias (no caso, teorias que pregam um vínculo lógico e inevitável entre certos agentes e certos interesses e práticas). Não é porque o marxismo fracassou que esse vínculo não pode existir.
4) Uma crise; posto que a grande mudança vem da crise, cujo “trabalho” a boa teoria deve “antecipar” (ver post sobre a introdução).
[Comentário: Quando li esse capítulo, fiquei meio com medo de que fosse se repetir uma experiência que tive assitindo uma palestra do Giddens, à qual também compareceu o glorioso Amiano Marcelino. A palestra era sobre o Novo Trabalhismo. Giddens começou dizendo que faltavam quatro coisas para o NT. No que eu pensei: pô, eu achava que ia ser só enrolação, e o cara vai listar claramente o que deve ser feito. Mas aí veio a lista das quatro coisas: novos conceitos, novas narrativas, e mais outras duas coisas, nessa mesma linha, que eu não lembro direito. Enfim, mais um exemplo do eterno arrumar de malas para uma viagem que nunca começa (não sei quem disse essa frase sobre o Parsons, li no Goldthorpe). No próximo capítulo vocês vão ver que esse não é o caso do Unger]
Faltam quatro coisas à esquerda:
1) Uma alternativa: o horizonte da esquerda está preso a, por um lado, o estatismo centralizador, e, por outro, a compensação das desigualdades do mercado.
2) Idéias: as ciências sociais viraram racionalização dos padrões de comportamento atuais, a filosofia política virou um esforço de humanização do mercado, e as humanidades (crítica cultural, etc.) viraram um escapismo.
3) Um agente: a esquerda fracassou em estabelecer uma relação preferencial com a classe operária que não passe por teorias necessitarias (no caso, teorias que pregam um vínculo lógico e inevitável entre certos agentes e certos interesses e práticas). Não é porque o marxismo fracassou que esse vínculo não pode existir.
4) Uma crise; posto que a grande mudança vem da crise, cujo “trabalho” a boa teoria deve “antecipar” (ver post sobre a introdução).
[Comentário: Quando li esse capítulo, fiquei meio com medo de que fosse se repetir uma experiência que tive assitindo uma palestra do Giddens, à qual também compareceu o glorioso Amiano Marcelino. A palestra era sobre o Novo Trabalhismo. Giddens começou dizendo que faltavam quatro coisas para o NT. No que eu pensei: pô, eu achava que ia ser só enrolação, e o cara vai listar claramente o que deve ser feito. Mas aí veio a lista das quatro coisas: novos conceitos, novas narrativas, e mais outras duas coisas, nessa mesma linha, que eu não lembro direito. Enfim, mais um exemplo do eterno arrumar de malas para uma viagem que nunca começa (não sei quem disse essa frase sobre o Parsons, li no Goldthorpe). No próximo capítulo vocês vão ver que esse não é o caso do Unger]
Monday, April 02, 2007
Fichamento On-line: What Should the Left Propose? (Introdução)
Um dos pontos de partida para a teoria social de Unger é a idéia de que as grandes mudanças sociais, historicamente, não decorreram da dinâmica interna das sociedades (como previa o marxismo), mas de crises: guerras, em especial, mas também epidemias, colapsos do Estado-Nação, invasões, etc. A função da teoria social é propor mudanças sem que as catástrofes sejam necessárias – “A imaginação antecipa o trabalho da crise”.
[Comentário: Fiquei curioso de saber qual a importância da guerra para o pensamento pragmatista americano, que é uma das grandes influências do Unger. O Hans Joas, um autor pragmatista que eu ainda vou ler um dia, tem um artigo sobre a influência da guerra no pensamento dos clássicos da sociologia (que eu também ainda vou ler um dia)].
Nesse novo livro, Unger explora soluções para impasses que, a seu ver, podem gerar crises como essas: o atual arranjo das democracias de mercado modernas não têm satisfeito a exigência de possibilitar diferenças nacionais (países que querem ser diferentes) e individuais (trabalhadores que querem se tornar pequeno-burgueses).
[Comentário: Fiquei curioso de saber qual a importância da guerra para o pensamento pragmatista americano, que é uma das grandes influências do Unger. O Hans Joas, um autor pragmatista que eu ainda vou ler um dia, tem um artigo sobre a influência da guerra no pensamento dos clássicos da sociologia (que eu também ainda vou ler um dia)].
Nesse novo livro, Unger explora soluções para impasses que, a seu ver, podem gerar crises como essas: o atual arranjo das democracias de mercado modernas não têm satisfeito a exigência de possibilitar diferenças nacionais (países que querem ser diferentes) e individuais (trabalhadores que querem se tornar pequeno-burgueses).
Fichamento Ao Vivo!
É a emoção, o êxtase em estado puro! Quem pode imaginar algo mais eletrizante do que acompanhar o fichamento de um livro de sociologia, ciência política ou filosofia, capítulo por capítulo, direto na web? E, ainda por cima, economizo espaço no disk drive. É uma loucura, show de sedução!
Para começar, What Should the Left Propose? do Mangabeira Unger, disponível on-line.
Para começar, What Should the Left Propose? do Mangabeira Unger, disponível on-line.
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