Outra situação delicada para Alckmin, caso haja segundo turno, é o Rio. Se o segundo turno for entre Cabral e Frossard, Crivella, fechado com Lula, decide a eleição (e Vladimir Palmeira sempre terá seus pontinhos). Se o segundo turno for com Crivella, César Maia não pode apoiar ninguém. Note-se que Lula no segundo turno terá uma votação maior no Rio, dada a (pequena)transferência de Heloísa Helena, que é forte na cidade. Muito do voto HH vai para o nulo, o que não ajuda Alckmin.
Agora a pergunta: por que o PSDB lançou Eduardo Paes? Se Frossard não passar, foi por isso.
Friday, September 29, 2006
PSDB no sul
Segundo o Noblat, Yeda Crusius (PSDB) passou Olívio Dutra na pesquisa, e deve disputar o segundo turno contra o Rigotto. A candidatura Crusius foi muito controversa, por que impediu que o Rigotto apoiasse o Alckmin. E agora pode ser pior: se houver segundo turno, Lula aparece no sul dizendo que ama Rigotto mais do que a mãe de seus filhos, e tira pontos de Alckmin exatamente na única região em que ele ganha. Considerando que, com os votos de Olivio, Rigotto ganha fácil, a candidatura Crusius pode ter sido um erro tático considerável.
César Maia sobre o debate
Pra vocês verem como eu sou pervertido: pra mim campanha eleitoral é que nem sexo e pizza, mesmo quando é ruim é bom. Por isso devo dizer que estou razoavelmente animado com a eleição de domingo, mesmo não sabendo ainda o que vou fazer com meu voto para presidente. Hoje, pela primeira vez, acordei e corri para ver o que o Ex-blog do CM (pelo qual, devo dizer, desenvolvi certa simpatia) ia dizer do debate.
Não achei ele tão animado, não; certo, disse que o Alckmin foi "perfeito", mas o próprio exagero de tom mostra que foi forçado. CM claramente se decepcionou com Heloíosa Helena, a respeito de cuja fala final comenta:
"Heloisa Helena esgotou seu repertório no primeiro bloco. A sua fala final -que quis dar um tom comovente- foi mais um discurso de despedida de aeroporto"
O que foi exatamente o caso. Algumas pessoas me disseram que tiveram a impressão de que HH estava tentando chorar, o que é meio esquisito.
E CM, como eu, estranhou que Alckmin não tivesse levantado a questão da Bolívia. Essa eu achei que ia ser barbada.
Não achei ele tão animado, não; certo, disse que o Alckmin foi "perfeito", mas o próprio exagero de tom mostra que foi forçado. CM claramente se decepcionou com Heloíosa Helena, a respeito de cuja fala final comenta:
"Heloisa Helena esgotou seu repertório no primeiro bloco. A sua fala final -que quis dar um tom comovente- foi mais um discurso de despedida de aeroporto"
O que foi exatamente o caso. Algumas pessoas me disseram que tiveram a impressão de que HH estava tentando chorar, o que é meio esquisito.
E CM, como eu, estranhou que Alckmin não tivesse levantado a questão da Bolívia. Essa eu achei que ia ser barbada.
Thursday, September 28, 2006
Debate
Todos os candidatos foram bem, pra falar a verdade. Aliás, falando estritamente dos indivíduos, até que o Brasil não está mal de candidatos, não. Falta é projeto.
Alckmin se perdeu um pouco em detalhes técnicos. Eu achei bom, mas suspeito que muita gente dormiu. Cristovam foi melhor, ganhou voto, mas, para ser honesto, era meio óbvio que não estava concorrendo à presidência. Se cumprir o propósito de, depois da eleição, iniciar um movimento pela educação, eu entro. Heloísa Helena imbatível como retórica, jogando pesado contra o Lula, e, por vezes, meio sujo ("Eu sempre ensino meu filho a não roubar, o contrário do que faz o Lula em sua casa").
Eu estava quase declarando voto no Lula, queria ver o cara no debate. Mas, do ponto de vista eleitoral, ele teve razão de não ir, mesmo se o segundo turno acontecer. Ganharia das explanações do Alckmin, traria ótimos números de seu governo, mas não tem como concorrer com as criancinhas, as vovós, as flores, da HH. HH começou com "Eu també fui pobre e nordestina como Lula, mas não traí minha classe". Lula poderia ganhar um debate com HH mostrando que ela é louca, e poderia ganhar do Alckmin sendo carismático, mas não conseguiria ser carismático mostrando que a HH é louca.
Um fato importante: o debate foi tarde pra cacete. Se mudar alguma coisa, muda o voto dos mais ricos e educados entre aqueles 8% de indecisos.
O turno se decide por pouco. Muita gente fará projeções estatísticas, e eu garanto para vocês que são todas babaquices: todos os movimentos são sutis demais, centímetros além ou aquém da margem de erro. Evidenntemente, alguém vai acertar, e a pobre da estatística será novamente desmoralizada.
Alckmin se perdeu um pouco em detalhes técnicos. Eu achei bom, mas suspeito que muita gente dormiu. Cristovam foi melhor, ganhou voto, mas, para ser honesto, era meio óbvio que não estava concorrendo à presidência. Se cumprir o propósito de, depois da eleição, iniciar um movimento pela educação, eu entro. Heloísa Helena imbatível como retórica, jogando pesado contra o Lula, e, por vezes, meio sujo ("Eu sempre ensino meu filho a não roubar, o contrário do que faz o Lula em sua casa").
Eu estava quase declarando voto no Lula, queria ver o cara no debate. Mas, do ponto de vista eleitoral, ele teve razão de não ir, mesmo se o segundo turno acontecer. Ganharia das explanações do Alckmin, traria ótimos números de seu governo, mas não tem como concorrer com as criancinhas, as vovós, as flores, da HH. HH começou com "Eu també fui pobre e nordestina como Lula, mas não traí minha classe". Lula poderia ganhar um debate com HH mostrando que ela é louca, e poderia ganhar do Alckmin sendo carismático, mas não conseguiria ser carismático mostrando que a HH é louca.
Um fato importante: o debate foi tarde pra cacete. Se mudar alguma coisa, muda o voto dos mais ricos e educados entre aqueles 8% de indecisos.
O turno se decide por pouco. Muita gente fará projeções estatísticas, e eu garanto para vocês que são todas babaquices: todos os movimentos são sutis demais, centímetros além ou aquém da margem de erro. Evidenntemente, alguém vai acertar, e a pobre da estatística será novamente desmoralizada.
Wednesday, September 27, 2006
Tuesday, September 26, 2006
Debate (IV)
Serra fez uma boa: ficou o tempo todo com cara de mosca morta, e, no depoimento final, quando não dava mais pra ninguém contestar, denunciou o esquema do dossiê (tinha ficado quieto), defendeu o governo Covas (e, beeeeeeem timidamente, Alckmin) e, pela primeira vez empolgou. Inacreditavelmente, a Globo cortou o final de seu depoimento (tinha estourado o tempo), o que impediu que os espectadores presenciassem um momento histórico, o primeiro ato entusiasmado da vida de José Serra, com direito até a chamado com os braços no estilo "vem comigo".
Plínio, dobradíssimo com Serra, no final perguntou em quem Mercadante tinha votado para presidente do PT, e Mercadante não disse que foi em Berzoíni (que, lembrem, ganhou a eleição de Plínio).
No geral: Mercadante melhor no debate, mas não melhor o suficiente. Serra jogou na retranca e talvez tenha dado certo. Dada a óbvia tabela PSOL/PSDB, acho difícil que Lula vá amanhã. Alckmin é menos inexpressivo que Serra, e Heloísa tem dez vezes menos carisma que Plínio.
Plínio, dobradíssimo com Serra, no final perguntou em quem Mercadante tinha votado para presidente do PT, e Mercadante não disse que foi em Berzoíni (que, lembrem, ganhou a eleição de Plínio).
No geral: Mercadante melhor no debate, mas não melhor o suficiente. Serra jogou na retranca e talvez tenha dado certo. Dada a óbvia tabela PSOL/PSDB, acho difícil que Lula vá amanhã. Alckmin é menos inexpressivo que Serra, e Heloísa tem dez vezes menos carisma que Plínio.
Debate (III)
Mercadante sobre o PSDB e o PCC:
"Eles alimentaram uma cobra com Todddy"
TODDDY? Que coisa totosa.
"Eles alimentaram uma cobra com Todddy"
TODDDY? Que coisa totosa.
Debate (II)
Ponto positivo do debate: eu sempre falei mal da progressão continuada até a quarta série, mas achava que era uma daquelas coisas que ninguém ia criticar, porque seria impopular (tadinhas das criancinhas!). O problema é delicado: o crescimento da taxa de matrícula dos anos noventa foi, em boa parte, porque o grande problema era a repetência, que desestimulava os moleques. Agora, deixar o cara ir até os dez anos analfabeto também não dá. E vários candidatos estão falando mal.
Mas é uma dessas coisas sobre as quais eu queria ver dados para formar uma opinião mais sólida. Se a percentagem de semi-analfabetos em sala de aula for igual à que antes saía da escola, menos mal: o cara seria analfabeto de qualquer maneira, mas pelo menos convive socialmente em um ambiente civilizado, e alguma coisa ele deve aprender. Agora, o risco é que esse cara passe a ser o padrão, e o moleque que estuda vire o otário. Sempre vai ter o moleque inteligente que estuda e o moleque-problema. A questão é o que acontece com a maioria no meio.
Mas é uma dessas coisas sobre as quais eu queria ver dados para formar uma opinião mais sólida. Se a percentagem de semi-analfabetos em sala de aula for igual à que antes saía da escola, menos mal: o cara seria analfabeto de qualquer maneira, mas pelo menos convive socialmente em um ambiente civilizado, e alguma coisa ele deve aprender. Agora, o risco é que esse cara passe a ser o padrão, e o moleque que estuda vire o otário. Sempre vai ter o moleque inteligente que estuda e o moleque-problema. A questão é o que acontece com a maioria no meio.
Debate SP
O primeiro debate do ano é esse de SP, em que o favorito - o Serra - vai. O Serra até que está indo bem, mas o negócio é um linchamento. Mercadante vai bem, e Quércia e um outro mané aí (quem é Apolinário? Cheguei em SP há pouco tempo) estão como franco-atiradores.
(Exemplo: diante da proposta do Serra- muito boa - de colocar duas professoras em sala de aula, Quércia comenta: "vai ser uma que sabe ler e outra que sabe escrever?")
Só quem alivia a barra do Serra é o Plínio de Arruda, que critica o Mercadante, também. Acho que, se o Lula está vendo, não vai querer ir ao debate, não.
(Exemplo: diante da proposta do Serra- muito boa - de colocar duas professoras em sala de aula, Quércia comenta: "vai ser uma que sabe ler e outra que sabe escrever?")
Só quem alivia a barra do Serra é o Plínio de Arruda, que critica o Mercadante, também. Acho que, se o Lula está vendo, não vai querer ir ao debate, não.
Eleição (II)
Defendo a tese de que votar é fazer política, no sentido estrito: fazer uma aliança com os caras que votam no mesmo candidato, sabendo que o candidato vai refletir um compromisso entre o que os diferentes eleitores do candidato querem. Votar apenas em candidato perfeito é se recusar a fazer aliança, a fazer política, a viver em grupo. O voto nulo, em alguns casos, é uma opção válida, mas isso é muito raro. Em geral é narcisismo punheteiro.
Entre os dois candidatos competitivos, vejo as seguintes alianças possíveis:
Se eu votar no Lula, faço aliança com a massa de excluídos atendidos pelos programas sociais do governo e que se identificam pela primeira vez com uma figura política que vêem como igual, algo cuja importância é difícil superestimar, algo realmente histórico, cujos efeitos ainda não compreendemos. Também me alio aos que, dentro do PT, defenderam a ortodoxia monetária, que talvez sejam o grupo com o qual mais me identifico. Mas também me alio aos remanescentes do grupo de José Dirceu em SP, à aparelhadores dos movimento sindical e estudantil, a retardados que esperam que no segundo governo "ele finalmente vai ser de esquerda", a gente que apóia Fidel Castro e Chávez, e, cá entre nós, a história do Celso Daniel é esquisita. E, naturalmente, me aliaria a deputados corruptos e seus amigos. Um gesto de Lula se distanciando de Chávez decidiria meu voto.
Se eu votar no Alckmin, me alio a setores éticos e esclarecidos da classe média e da elite cultural, que são, enfim, os melhores de onde eu venho. Gosto que Alckmin seja do grupo de Covas, o PSDB que me interessa, que "coloca o pé no barro", com quem me aliaria fácil. Me aliaria também a gente que tem interesse em continuar o trabalho do Palocci (que continuou o do Armínio Fraga), por exemplo, com o "choque de gestão" no setor público. Mas também me alio ao Serrismo da turma da Primeira Leitura, da privatização do Mendonção, à turma que segurou o câmbio até a eleição de 98, a uma intelectualidade médiazinha que só sobrevive porque ninguém consegue ler os livros dos autores estrangeiros, a gente que manifesta os preconceitos mais inacreditáveis contra o Lula, ao ACM (e não é que o Bolsonaro está no PFL?). Enfim, faria aliança com o que a classe média brasileira tem de melhor e de pior. E, naturalmente aos deputados corruptos que mudariam de lado imediatamente, e a seus amigos.
Não está fácil, não.
Entre os dois candidatos competitivos, vejo as seguintes alianças possíveis:
Se eu votar no Lula, faço aliança com a massa de excluídos atendidos pelos programas sociais do governo e que se identificam pela primeira vez com uma figura política que vêem como igual, algo cuja importância é difícil superestimar, algo realmente histórico, cujos efeitos ainda não compreendemos. Também me alio aos que, dentro do PT, defenderam a ortodoxia monetária, que talvez sejam o grupo com o qual mais me identifico. Mas também me alio aos remanescentes do grupo de José Dirceu em SP, à aparelhadores dos movimento sindical e estudantil, a retardados que esperam que no segundo governo "ele finalmente vai ser de esquerda", a gente que apóia Fidel Castro e Chávez, e, cá entre nós, a história do Celso Daniel é esquisita. E, naturalmente, me aliaria a deputados corruptos e seus amigos. Um gesto de Lula se distanciando de Chávez decidiria meu voto.
Se eu votar no Alckmin, me alio a setores éticos e esclarecidos da classe média e da elite cultural, que são, enfim, os melhores de onde eu venho. Gosto que Alckmin seja do grupo de Covas, o PSDB que me interessa, que "coloca o pé no barro", com quem me aliaria fácil. Me aliaria também a gente que tem interesse em continuar o trabalho do Palocci (que continuou o do Armínio Fraga), por exemplo, com o "choque de gestão" no setor público. Mas também me alio ao Serrismo da turma da Primeira Leitura, da privatização do Mendonção, à turma que segurou o câmbio até a eleição de 98, a uma intelectualidade médiazinha que só sobrevive porque ninguém consegue ler os livros dos autores estrangeiros, a gente que manifesta os preconceitos mais inacreditáveis contra o Lula, ao ACM (e não é que o Bolsonaro está no PFL?). Enfim, faria aliança com o que a classe média brasileira tem de melhor e de pior. E, naturalmente aos deputados corruptos que mudariam de lado imediatamente, e a seus amigos.
Não está fácil, não.
Eleição
Vocês podem não acreditar, mas ainda não decidi em quem votar.
Eu achei o governo Lula razoavelmente bom, em alguns aspectos muito bons. Em condições normais, estaria fazendo campanha como não faço desde 94. Mas as condições não são normais. Não sei como votar em Lula sem dar aval à corrupção no relacionamento com o congresso (o último escândalo ainda não me impressione, a não ser que se descubra que o dinheiro veio do erário ou, sei lá, do Mugabe). Gostaria de um candidato que concorresse com a plataforma "O mesmo tipo de governo, mas sem comprar deputados", mas esse candidato não apareceu.
Gosto do Alckmin como candidato, mas tenho medo do que acontece com o país se uma reação anti-petista se instaura. O que seria um governo tucano sem a fiscalização que o PT lhe fazia, com o PFL dramaticamente fortalecido (visto que o PFL foi, mesmo, mais fiel a Alckmin do que o PSDB)? O que seria a corrente cultural pós-Lula? Se me garantirem que será a Veja apoiando Gabeira, beleza. Se me disserem que será a Veja adotando o blog do Reinaldo Azevedo (sabiam dessa?), nem fudendo. Não é que eu queira proibir a direita (ao contrário, gostaria que ela fosse um adversário mais forte e melhor), mas, sendo de esquerda, quero que os valores da esquerda ganhem. E estou discutindo meu voto, não o regime político do Brasil.
Gosto da candidatura de Cristovam, mesmo ele falando essas merdas sobre o milagre que fez o Chávez na educação (vejam o blog da Miriam Leitão para os dados corretos), posso até votar nele, mas, sinceramente, só votaria para ficar em paz com a minha consciência, o que, em parte, se deve ao fato de que ele vai, obviamente, perder.
Mas não acho que se deva votar, ou fazer política de que jeito seja, só para ficar em paz com sua consciência. Uma das coisas que a política deve fazer é questionar sua consciência: será que meus valores são plausíveis, há como fazê-los prevalecer sem violar os direitos dos outros? Porque ela não se faz essas perguntas, e está perfeitamente em paz com sua consciência, não voto em Heloísa Helena.
Enfim, ainda não decidi, não.
Eu achei o governo Lula razoavelmente bom, em alguns aspectos muito bons. Em condições normais, estaria fazendo campanha como não faço desde 94. Mas as condições não são normais. Não sei como votar em Lula sem dar aval à corrupção no relacionamento com o congresso (o último escândalo ainda não me impressione, a não ser que se descubra que o dinheiro veio do erário ou, sei lá, do Mugabe). Gostaria de um candidato que concorresse com a plataforma "O mesmo tipo de governo, mas sem comprar deputados", mas esse candidato não apareceu.
Gosto do Alckmin como candidato, mas tenho medo do que acontece com o país se uma reação anti-petista se instaura. O que seria um governo tucano sem a fiscalização que o PT lhe fazia, com o PFL dramaticamente fortalecido (visto que o PFL foi, mesmo, mais fiel a Alckmin do que o PSDB)? O que seria a corrente cultural pós-Lula? Se me garantirem que será a Veja apoiando Gabeira, beleza. Se me disserem que será a Veja adotando o blog do Reinaldo Azevedo (sabiam dessa?), nem fudendo. Não é que eu queira proibir a direita (ao contrário, gostaria que ela fosse um adversário mais forte e melhor), mas, sendo de esquerda, quero que os valores da esquerda ganhem. E estou discutindo meu voto, não o regime político do Brasil.
Gosto da candidatura de Cristovam, mesmo ele falando essas merdas sobre o milagre que fez o Chávez na educação (vejam o blog da Miriam Leitão para os dados corretos), posso até votar nele, mas, sinceramente, só votaria para ficar em paz com a minha consciência, o que, em parte, se deve ao fato de que ele vai, obviamente, perder.
Mas não acho que se deva votar, ou fazer política de que jeito seja, só para ficar em paz com sua consciência. Uma das coisas que a política deve fazer é questionar sua consciência: será que meus valores são plausíveis, há como fazê-los prevalecer sem violar os direitos dos outros? Porque ela não se faz essas perguntas, e está perfeitamente em paz com sua consciência, não voto em Heloísa Helena.
Enfim, ainda não decidi, não.
Ratzinger e o Islã (II)
Uma tremenda entrevista sobre a questão dos comentários do Papa pode ser encontrada aqui. O entrevistado é ninguém menos que o presidente do Instituto para o Estudo das Religiões e Culturas da Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma (isso é que é título, hein?). Vi no site do Andrew Sullivan. Quem pode pode.
Foro de São Paulo
Eu já tinha enchido o saco dessa história, mas fiquei assustado com dois colegas de trabalho que acreditam nisso, tendo visto a reedição da história do Olavo de Carvalho no blog do Olavúnculo.
O Foro de SP é uma organização de grupos de esquerda democráticos e não-democráticos (excluídos, se não me engano, os genocidas, como o Sendero, mas incluíndo as FARC), que se reúnem de vez em quando para articular uma estratégia de esquerda para a América Latina. Quando eu militava no PT, o Foro era visto como piada, visto que os diversos grupos que o compunham continuavam atuando em cada país exatamente como antes, sem qualquer sinal de que estivessem organizados de que jeito fosse.
Por contraste: vários grupos de esquerda ao redor do mundo sacrificaram seu interesse imediato pra obedecer ao Komintern soviético. O Komintern parou revoluções em diversos lugares, como na Grécia, e mandou acirrar o discurso em vários momentos em que os PCs locais teriam interesse em se moderar, como foi o caso do PCB no pós-guerra. Quem não entrava na linha era isolado, como a Iugoslávia de Tito.
Hoje se diz que o Foro de SP está por trás da estatização da Petrobrás na Bolívia. Eu acho o contrário. Coloquem-se no lugar de uma hipotética organização centralizada, como era o Komintern, e vejam se faz sentido. Valeria a pena ganhar a Bolívia e perder o Brasil, onde um membro do Foro de SP é presidente, e está no meio de uma crise política pesadíssima? Isso me pareceria uma imbecilidade atroz. Se o Foro de SP é mesmo uma grande conspiração, é atrozmente burra. Eu acho que a estatização do gás mostra claramente que o Foro de SP é um troço irrelevante.
Por outro lado, a estatização mostra que há, sim, um esforço hegemonista do Chávez na AL. Chávez, forte por causa da alta do petróleo, tem todo interesse em polarizar com Lula, fraco por causa da crise do Mensalão, e seu único concorrente como líder da esquerda mundial.
Não há conspiração digna de nota do Foro de SP. Há, sim, a substituição da Argentina pela Venezuela como nosso rival estratégico continental. Se quiserem criticar Lula, critiquem por docilidade com Chávez, não por estar, junto com ele, comandando um mega-esquema de revolução continental. Até acho possível que Chávez use o Foro do SP para alguma coisa, mas essa terá sido a primeira vez em que ele foi útil para alguém.
Tanto o Olavo quanto o Olavúnculo fazem pouco do departamento de Estado dos EUA por ainda achar que há uma grande diferença entre Lula e Chávez. Não subestimem o Departamento de Estado Americano. Mais do que ninguém, eles sabem o que é e o que não é Komintern. Eles já venceram um.
PS: se esse post o tranquilizou, é por que você ainda não compreendeu o que é ter como vizinho um amigo do Mugabe e do Ahmadinejad, em processo de pesado rearmamento e com a bunda cheia de petróleo bem na hora em que Bush resolveu desestabilizar o Oriente Médio e os chineses resolveram andar de carro.
O Foro de SP é uma organização de grupos de esquerda democráticos e não-democráticos (excluídos, se não me engano, os genocidas, como o Sendero, mas incluíndo as FARC), que se reúnem de vez em quando para articular uma estratégia de esquerda para a América Latina. Quando eu militava no PT, o Foro era visto como piada, visto que os diversos grupos que o compunham continuavam atuando em cada país exatamente como antes, sem qualquer sinal de que estivessem organizados de que jeito fosse.
Por contraste: vários grupos de esquerda ao redor do mundo sacrificaram seu interesse imediato pra obedecer ao Komintern soviético. O Komintern parou revoluções em diversos lugares, como na Grécia, e mandou acirrar o discurso em vários momentos em que os PCs locais teriam interesse em se moderar, como foi o caso do PCB no pós-guerra. Quem não entrava na linha era isolado, como a Iugoslávia de Tito.
Hoje se diz que o Foro de SP está por trás da estatização da Petrobrás na Bolívia. Eu acho o contrário. Coloquem-se no lugar de uma hipotética organização centralizada, como era o Komintern, e vejam se faz sentido. Valeria a pena ganhar a Bolívia e perder o Brasil, onde um membro do Foro de SP é presidente, e está no meio de uma crise política pesadíssima? Isso me pareceria uma imbecilidade atroz. Se o Foro de SP é mesmo uma grande conspiração, é atrozmente burra. Eu acho que a estatização do gás mostra claramente que o Foro de SP é um troço irrelevante.
Por outro lado, a estatização mostra que há, sim, um esforço hegemonista do Chávez na AL. Chávez, forte por causa da alta do petróleo, tem todo interesse em polarizar com Lula, fraco por causa da crise do Mensalão, e seu único concorrente como líder da esquerda mundial.
Não há conspiração digna de nota do Foro de SP. Há, sim, a substituição da Argentina pela Venezuela como nosso rival estratégico continental. Se quiserem criticar Lula, critiquem por docilidade com Chávez, não por estar, junto com ele, comandando um mega-esquema de revolução continental. Até acho possível que Chávez use o Foro do SP para alguma coisa, mas essa terá sido a primeira vez em que ele foi útil para alguém.
Tanto o Olavo quanto o Olavúnculo fazem pouco do departamento de Estado dos EUA por ainda achar que há uma grande diferença entre Lula e Chávez. Não subestimem o Departamento de Estado Americano. Mais do que ninguém, eles sabem o que é e o que não é Komintern. Eles já venceram um.
PS: se esse post o tranquilizou, é por que você ainda não compreendeu o que é ter como vizinho um amigo do Mugabe e do Ahmadinejad, em processo de pesado rearmamento e com a bunda cheia de petróleo bem na hora em que Bush resolveu desestabilizar o Oriente Médio e os chineses resolveram andar de carro.
Monday, September 25, 2006
FHC é Chávez
FHC ficou com inveja da popularidade de Chávez, e resolveu fazer igual. Tal como o Chapolim Colorado se referiu a Bush, diz o ex-presidente:
"Ele não é Cristo, não, é o demônio, nós temos que expulsá-lo daqui"
Lembremos que um pensador de verdade, que, ele sim, escreveu um livro que merecia se chamar "A Arte da Política" (se não tivesse um nome mais sonoro), disse, certa vez, que
"nem foi Deus mais amigo deles do que de vós"
Ao que poderíamos completar "Nem foi o demônio menos teu amigo".
"Ele não é Cristo, não, é o demônio, nós temos que expulsá-lo daqui"
Lembremos que um pensador de verdade, que, ele sim, escreveu um livro que merecia se chamar "A Arte da Política" (se não tivesse um nome mais sonoro), disse, certa vez, que
"nem foi Deus mais amigo deles do que de vós"
Ao que poderíamos completar "Nem foi o demônio menos teu amigo".
Acirramento
Que a operação Dossiê Verdoin foi uma imbecilidade, e jogo sujo, ninguém duvida. Por enquanto não é crime: mas está com cara de que será logo, quando se souber a origem do dinheiro. Só aí então se saberá a gravidade do crime. Mas o infeliz que o Collor colocou no supremo deu um depoimento dizendo que o caso era "muito pior" que o Watergate. Reproduzo os comentários do Elio Gaspari na Folha de ontem (só para assinantes) :
"A associação é capenga. Nixon encrencou-se quando dois assessores testemunharam que havia usado a Presidência para obstruir o trabalho da Justiça. Foi a pique quando teve que entregar as fitas das gravações clandestinas que fazia no Salão Oval. (Ele não foi o primeiro. O grampo presidencial tornara-se rotina nas reuniões de John Kennedy e nos telefonemas de Lyndon Johnson.)
Há uma diferença essencial entre o Watergate e as malfeitorias petistas: ninguém provou (ainda) que Lula obstruiu investigações policiais ou a ação da Justiça. A idéia de "pior" sugere um nível de malfeitoria que não chegou (ainda) ao campo das provas. O que vem a ser um "desvio de poder", não se sabe, mas até onde a vista alcança, se alguém cometeu desvios foi o doutor Ricardo Berzoini com seu dispositivo de mídia."
Também é claro que esse escândalo é menos grave que os anteriores (até agora, repito), e aquele na qual a questionável defesa "eles também fizeram" é mais fácil de usar (Serra vs. Roseana). Mas o impacto foi muito maior, o que desfaz qualquer dúvida acerca da utilização eleitoral do fato.
Até aí, tudo bem, oposição é pra isso mesmo. Agora, que ninguém seja burro como o juiz do supremo e pense em impugnar a candidatura de Lula pelo caso dos dossiês, sob pena de iniciar uma crise institucional das boas. O barulho dessa semana (ou do próximo mês, se a eleição for para o segundo turno) é válido, mas deve acabar quando a eleição acabar, ganhe quem ganhe.
"A associação é capenga. Nixon encrencou-se quando dois assessores testemunharam que havia usado a Presidência para obstruir o trabalho da Justiça. Foi a pique quando teve que entregar as fitas das gravações clandestinas que fazia no Salão Oval. (Ele não foi o primeiro. O grampo presidencial tornara-se rotina nas reuniões de John Kennedy e nos telefonemas de Lyndon Johnson.)
Há uma diferença essencial entre o Watergate e as malfeitorias petistas: ninguém provou (ainda) que Lula obstruiu investigações policiais ou a ação da Justiça. A idéia de "pior" sugere um nível de malfeitoria que não chegou (ainda) ao campo das provas. O que vem a ser um "desvio de poder", não se sabe, mas até onde a vista alcança, se alguém cometeu desvios foi o doutor Ricardo Berzoini com seu dispositivo de mídia."
Também é claro que esse escândalo é menos grave que os anteriores (até agora, repito), e aquele na qual a questionável defesa "eles também fizeram" é mais fácil de usar (Serra vs. Roseana). Mas o impacto foi muito maior, o que desfaz qualquer dúvida acerca da utilização eleitoral do fato.
Até aí, tudo bem, oposição é pra isso mesmo. Agora, que ninguém seja burro como o juiz do supremo e pense em impugnar a candidatura de Lula pelo caso dos dossiês, sob pena de iniciar uma crise institucional das boas. O barulho dessa semana (ou do próximo mês, se a eleição for para o segundo turno) é válido, mas deve acabar quando a eleição acabar, ganhe quem ganhe.
Friday, September 22, 2006
Resposta do CM
O blog escreveu para o Ex-blog do César Maia perguntando qual era a lógica de apresentar a projeção estatística para a eleição (confira abaixo) sem levar em conta as margens de erro. O Ex-blog respondeu:
"Pesquisas em série em intervalos de uma semana e menos entendemos que se deve trabalhar com o resultado exato. A menos que um ponto saia forte da série o que não é o caso."
O que, se vocês notarem bem, é a minha pergunta sem o "Por que" no começo e o ponto de interrogação no fim. A questão, obviamente, é que o valor não é exato. A resposta exata, em estatística, é a estimativa mais a margem de erro. Se quiserem fazer o exercício, refaçam a conta diminuindo 2 pontos da primeira pesquisa de Lula e aumentando 2 da última (tudo estará dentro da margem de erro). Depois aumentem 1 ponto do Alckmin na primeira e diminuam 1 na última.
O triste é que se o Alckmin subir por causa dos novos escândalos, vão dizer que a conta do CM estava certa. E assim se desmoraliza a pobre da estatística.
"Pesquisas em série em intervalos de uma semana e menos entendemos que se deve trabalhar com o resultado exato. A menos que um ponto saia forte da série o que não é o caso."
O que, se vocês notarem bem, é a minha pergunta sem o "Por que" no começo e o ponto de interrogação no fim. A questão, obviamente, é que o valor não é exato. A resposta exata, em estatística, é a estimativa mais a margem de erro. Se quiserem fazer o exercício, refaçam a conta diminuindo 2 pontos da primeira pesquisa de Lula e aumentando 2 da última (tudo estará dentro da margem de erro). Depois aumentem 1 ponto do Alckmin na primeira e diminuam 1 na última.
O triste é que se o Alckmin subir por causa dos novos escândalos, vão dizer que a conta do CM estava certa. E assim se desmoraliza a pobre da estatística.
Thursday, September 21, 2006
Veja
Não é todo dia que podemos dizer isso, por isso não podemos perder a oportunidade: Veja concorda com este blog e fez uma matéria grande elogiando o Gabeira. Meio puxa-saco, pra falar a verdade. Mas tem trechos bons, como o seguinte:
"Aos olhos dos cínicos, a indignação de Fernando Gabeira é um tanto suspeita. Por que ele não se levantou antes contra a bandidagem que o cercava? Por que só reagiu agora? Gabeira já era parlamentar quando se votou a emenda da reeleição de FHC, processo que transcorreu sob o signo da suspeita de compra de votos. Não se ouviu sua voz condenando nada disso. Diz Gabeira: "Achei que bastava não me envolver com os corruptos e navegar ao largo da bandalheira até que vi que o Congresso estava chegando ao fundo do poço". Os cínicos continuam no direito de achar essa atitude de Gabeira um tanto alienada. Mas o certo é que ele, mais uma vez, rompeu com algo que se tornara insuficiente. Dessa vez rompeu com a ética passiva".
A edição também vale pela cobertura das eleições estaduais e pela ótima reportagem sobre os resultados do PNAD, que termina com um troço que eu realmente, realmente acho sobre o Brasil dos últimos dez anos:
"Melhoramos muito, como o próprio resultado da PNAD comprova. Não é hora, portanto, de desviar da rota correta".
"Aos olhos dos cínicos, a indignação de Fernando Gabeira é um tanto suspeita. Por que ele não se levantou antes contra a bandidagem que o cercava? Por que só reagiu agora? Gabeira já era parlamentar quando se votou a emenda da reeleição de FHC, processo que transcorreu sob o signo da suspeita de compra de votos. Não se ouviu sua voz condenando nada disso. Diz Gabeira: "Achei que bastava não me envolver com os corruptos e navegar ao largo da bandalheira até que vi que o Congresso estava chegando ao fundo do poço". Os cínicos continuam no direito de achar essa atitude de Gabeira um tanto alienada. Mas o certo é que ele, mais uma vez, rompeu com algo que se tornara insuficiente. Dessa vez rompeu com a ética passiva".
A edição também vale pela cobertura das eleições estaduais e pela ótima reportagem sobre os resultados do PNAD, que termina com um troço que eu realmente, realmente acho sobre o Brasil dos últimos dez anos:
"Melhoramos muito, como o próprio resultado da PNAD comprova. Não é hora, portanto, de desviar da rota correta".
Miriam Leitão e Alckmin
Miriam Leitão faz um comentário interessante sobre a entrevista de Alckmin no Bom Dia Brasil, que eu não entendi direito:
"Sobre reforma da previdência cometeu um erro grosseiro. Disse que é contra o aumento da idade mínima para aposentadoria porque é médico e a expectativa de vida do Brasil é muito desigual. “O mais pobre morre sem conseguir se aposentar”."
O que eu entendi do que o Alckmin disse: se aumentar o limite de idade, pobre morre antes de se aposentar. Continua a jornalista:
"Qualquer pessoa que acompanha o assunto sabe que o pobre não consegue comprovar tempo de serviço, e acaba se aposentado depois dos 65 anos, ou até ficando apenas com o benefício do Loas dado aos muito pobres com mais de 65 anos. A elevação da idade mínima para se aposentar prejudica quem ganha mais no sistema previdenciário e não os pobres que já estão prejudicados no sistema atual"
Bom, mas, de qualquer maneira, se pobre morre mais cedo, qualquer elevação da idade aumenta ainda mais a chance dele morrer antes de se aposentar, não? Por que isso seria um "erro grosseiro" (a menos que a totalidade dos pobres morra antes dos 65, o que não é verdade)? Suponho que o LOAS mudaria também, se a idade de se aposentar mudasse, caso contrário muita gente iria para o LOAS ao invés de se aposentar mais tarde. Seja o que for que ela quis dizer, eu não entendi.
"Sobre reforma da previdência cometeu um erro grosseiro. Disse que é contra o aumento da idade mínima para aposentadoria porque é médico e a expectativa de vida do Brasil é muito desigual. “O mais pobre morre sem conseguir se aposentar”."
O que eu entendi do que o Alckmin disse: se aumentar o limite de idade, pobre morre antes de se aposentar. Continua a jornalista:
"Qualquer pessoa que acompanha o assunto sabe que o pobre não consegue comprovar tempo de serviço, e acaba se aposentado depois dos 65 anos, ou até ficando apenas com o benefício do Loas dado aos muito pobres com mais de 65 anos. A elevação da idade mínima para se aposentar prejudica quem ganha mais no sistema previdenciário e não os pobres que já estão prejudicados no sistema atual"
Bom, mas, de qualquer maneira, se pobre morre mais cedo, qualquer elevação da idade aumenta ainda mais a chance dele morrer antes de se aposentar, não? Por que isso seria um "erro grosseiro" (a menos que a totalidade dos pobres morra antes dos 65, o que não é verdade)? Suponho que o LOAS mudaria também, se a idade de se aposentar mudasse, caso contrário muita gente iria para o LOAS ao invés de se aposentar mais tarde. Seja o que for que ela quis dizer, eu não entendi.
Declaração de voto (4) - Denise Frossard
Para prefeito este blog vota em Denise Frossard, sem o mesmo entusiasmo do voto para os deputados, mas torcendo, mesmo assim. Fiquei decepcionado com sua atuação na CPI (muito barulho e pouco questionamento), não tenho muito saco para o PPS, mas, comparada a qualquer um que tenha governado o Estado, é um progresso espetacular.
É, sem dúvida, uma pessoa honesta, com algumas boas idéias. Tenho medo do que pode acontecer com alguém assim lidando com a ALERJ, mas é melhor do que eleger o cara que chefiava a ALERJ (o Cabral).
É, sem dúvida, uma pessoa honesta, com algumas boas idéias. Tenho medo do que pode acontecer com alguém assim lidando com a ALERJ, mas é melhor do que eleger o cara que chefiava a ALERJ (o Cabral).
Declaração de Voto (3) - Carlos Minc
Fechando minha chapa para deputado verde no Rio: o blog apóia Carlos Minc (PT) para deputado estadual. É mais um remanescente do PV original, que ganha meu voto pela militância pelo meio ambiente e por sua campanha para que os presos trabalhem. Vejam este trecho de artigo tirado do seu site:
"No Rio de Janeiro cerca de 10% dos presos trabalha; cada um custa mil reais por mês ao contribuinte e 70% dos egressos do sistema reincide no crime. Em São Paulo e no Rio Grande do Sul metade dos presos trabalha e a reincidência criminal é de 40%, pouco mais da metade da verificada no Rio"
Se eu arrumar um banner, coloco aí do lado (o do Suplicy eu pedi e até agora os caras não mandaram).
"No Rio de Janeiro cerca de 10% dos presos trabalha; cada um custa mil reais por mês ao contribuinte e 70% dos egressos do sistema reincide no crime. Em São Paulo e no Rio Grande do Sul metade dos presos trabalha e a reincidência criminal é de 40%, pouco mais da metade da verificada no Rio"
Se eu arrumar um banner, coloco aí do lado (o do Suplicy eu pedi e até agora os caras não mandaram).
As contas do César Maia
O César Maia continua tentando animar a campanha do Alckmin com suas contas. Em alguns casos, pode até ser que dê certo (se a abstenção do Lula for o dobro do Alckmin, por exemplo), mas de vez em quando ele força a barra. Hoje no boletim de seu Ex-Blog, veio em anexo a seguinte projeção para o resultado da eleição presidencial.
O que quer dizer essa figurinha? Que, projetando para o futuro a partir dos resultados passados (sempre arriscadíssimo), Lula cresce 0,08 a cada nova semana, e Alckmin 2,03. Daí, considerando que Lula tenha mesmo o dobro da abstenção de Alckmin, dá segundo turno.
Só que:
1) Cada um dos pontos têm margem de erro de 3% para cima e para baixo, mas isso não entra na conta do CM. Olhem para quanto os candidatos estão projetados para variar a cada nova rodada: em ambos os casos, o número é menor que 3%. Visto que esses números foram estimados a partir dos resultados anteriores, é bem capaz de não ter acontecido quase nada no último mês. Pode ser, portanto, que a coisa continuando no mesmo ritmo não aconteça nada. CM precisaria ter informado o quanto o resultado é sensível à margem de erro. Na verdade, não há nem mesmo a informação de que estes números são estatisticamente significativos (não façam essas coisas em Excel, arrumem um programa de estatística).
2) Não se deve fazer projeções com períodos tão curtos para uma coisa tão instável como eleição. Aposto que se você incluísse as pesquisas de mais um ou dois meses, o resultado seria diferente (curiosamente, a série do CM começa quando Lula está estável).
3) Não custava nada informar a fonte. As pesquisas apresentam algumas diferenças importantes, e talvez a estimativa seja diferente para cada uma delas.
O que quer dizer essa figurinha? Que, projetando para o futuro a partir dos resultados passados (sempre arriscadíssimo), Lula cresce 0,08 a cada nova semana, e Alckmin 2,03. Daí, considerando que Lula tenha mesmo o dobro da abstenção de Alckmin, dá segundo turno.
Só que:
1) Cada um dos pontos têm margem de erro de 3% para cima e para baixo, mas isso não entra na conta do CM. Olhem para quanto os candidatos estão projetados para variar a cada nova rodada: em ambos os casos, o número é menor que 3%. Visto que esses números foram estimados a partir dos resultados anteriores, é bem capaz de não ter acontecido quase nada no último mês. Pode ser, portanto, que a coisa continuando no mesmo ritmo não aconteça nada. CM precisaria ter informado o quanto o resultado é sensível à margem de erro. Na verdade, não há nem mesmo a informação de que estes números são estatisticamente significativos (não façam essas coisas em Excel, arrumem um programa de estatística).
2) Não se deve fazer projeções com períodos tão curtos para uma coisa tão instável como eleição. Aposto que se você incluísse as pesquisas de mais um ou dois meses, o resultado seria diferente (curiosamente, a série do CM começa quando Lula está estável).
3) Não custava nada informar a fonte. As pesquisas apresentam algumas diferenças importantes, e talvez a estimativa seja diferente para cada uma delas.
Alckmin
Eu se fosse o Alckmin estaria meio deprimido. Não por perder a eleição, por que faz parte. Mas por que é evidente que sua base de apoio político não leva a menor fé no cara. O César Maia resolveu se dedicar exclusivamente a fazer campanha pra HH, por que já viu que o Alckmin não sobe mesmo. E todos os esforços dos coordenadores da campanha tucana na Veja são para detonar o Lula, nada para levantar o Alckmin. Aqui em SP o Serra vai ganhar disparado, em Minas idem, mas nenhum dos dois está perdendo dez minutos fazendo campanha para o Alckmin.
E o próprio Alckmin, depois que resolveu partir pra ofensiva, anda meio perdido. Não é a dele. Repito: se tivesse concorrido com o slogan "A mesma coisa, sem compra de deputado", estaria no segundo turno.
E, de qualquer maneira, deve ter mais voto que o Serra no primeiro turno da última vez. Serra em 2002, sim, era um candidato horroroso. Teria sido melhor esse ano? Talvez perdesse de menos, só.
E o próprio Alckmin, depois que resolveu partir pra ofensiva, anda meio perdido. Não é a dele. Repito: se tivesse concorrido com o slogan "A mesma coisa, sem compra de deputado", estaria no segundo turno.
E, de qualquer maneira, deve ter mais voto que o Serra no primeiro turno da última vez. Serra em 2002, sim, era um candidato horroroso. Teria sido melhor esse ano? Talvez perdesse de menos, só.
Chico de Oliveira
Boa entrevista do Chico de Oliveira hoje na Folha. Não concordo com a tese sobre a nova classe, como disse em um post faz um tempão (se achar posto de novo). E o cara obviamente está ressentido pra cacete. Mas é inteligente.
Master Dixit
Disse bem o Ed, sobre a HH:
"Mas porque será que ela não apostou no certo e concorreu pro Senado? Só pra marcar posição? Não existe bom combate quando contra moinhos de vento... "
"Mas porque será que ela não apostou no certo e concorreu pro Senado? Só pra marcar posição? Não existe bom combate quando contra moinhos de vento... "
Hamilton Lacerda
Quem estudou na UNICAMP nos anos 80-90 sabe quem é o Hamilton Lacerda, assessor do Mercadante demitido por ter participado da confusão com a Istoé. Ele foi presidente do DCE, famoso por ter conseguido que a reitoria finalmente construísse uma moradia estudantil. Também foi o único cara, que eu saiba, que conseguiu seguir carreira política imediatamente depois de sair do DCE (um cara do PSTU se candidatou a vereador por Campinas e teve 74 votos). Por essas e outras, tinha fama de ser bom de política e de conchavo.
E deu nisso.
E deu nisso.
Wednesday, September 20, 2006
REM
Uma das minhas músicas favoritas:
Nightswimming - REM
Nightswimming
deserves a quiet night
The photograph on the dashboard,
taken years ago,
Turned around backwards
so the windshield shows
Every streetlight
reveals the picture in reverse
Still, it's so much clearer
I forgot my shirt at the water's edge
The moon is low tonight
Nightswimming
deserves a quiet night
I'm not sure all these people understand
It's not like years ago,
The fear of getting caught,
Of recklessness and water
They cannot see me naked
These things, they go away,
Replaced by everyday
Nightswimming,
remembering that night
September's coming soon
I'm pining for the moon
And what if there were two
Side by side in orbit
Around the fairest sun?
That bright, tight forever drum
Could not describe nightswimming
You, I thought I knew you
You, I cannot judgeYou,
I thought you knew me,
This one laughing quietly
underneath my breath
Nightswimming
The photograph reflects,
Every streetlight a reminder
Nightswimming
deserves a quiet night,
deserves a quiet night.
Nightswimming - REM
Nightswimming
deserves a quiet night
The photograph on the dashboard,
taken years ago,
Turned around backwards
so the windshield shows
Every streetlight
reveals the picture in reverse
Still, it's so much clearer
I forgot my shirt at the water's edge
The moon is low tonight
Nightswimming
deserves a quiet night
I'm not sure all these people understand
It's not like years ago,
The fear of getting caught,
Of recklessness and water
They cannot see me naked
These things, they go away,
Replaced by everyday
Nightswimming,
remembering that night
September's coming soon
I'm pining for the moon
And what if there were two
Side by side in orbit
Around the fairest sun?
That bright, tight forever drum
Could not describe nightswimming
You, I thought I knew you
You, I cannot judgeYou,
I thought you knew me,
This one laughing quietly
underneath my breath
Nightswimming
The photograph reflects,
Every streetlight a reminder
Nightswimming
deserves a quiet night,
deserves a quiet night.
Heloísa Helena
Muita gente comentando o programa de TV da Heloísa Helena, em que ela chora, diz que lutou o bom combate, enfim, manda uma carta do FHC para si mesma admitindo derrota. Incrível. Alguns colegas eleitores da dona estão indignados. Eu já tinha achado ela desanimada no debate. Deve ter acabado a grana.
O artista anteriormente conhecido como blog do CM, que sempre incentiva a HH para ver se rola um segundo turno, está desesperado:
"Heloisa Helena. Quem fez esse programa inacreditável? Imagens de mulheres sofridas e de pobreza. A senadora num palanque dizendo que -"fiz uma campanha...". Ou seja, se despedindo. E ainda chora. Senadora! Vou lhe falar uma coisa. Se estiver faltando dinheiro na campanha, me entregue seu programa de TV que eu peço para se fazer de graça. Uma coisa digna como você"
Agora: de graça não vai ser não, Heloísa.
O artista anteriormente conhecido como blog do CM, que sempre incentiva a HH para ver se rola um segundo turno, está desesperado:
"Heloisa Helena. Quem fez esse programa inacreditável? Imagens de mulheres sofridas e de pobreza. A senadora num palanque dizendo que -"fiz uma campanha...". Ou seja, se despedindo. E ainda chora. Senadora! Vou lhe falar uma coisa. Se estiver faltando dinheiro na campanha, me entregue seu programa de TV que eu peço para se fazer de graça. Uma coisa digna como você"
Agora: de graça não vai ser não, Heloísa.
Tuesday, September 19, 2006
Daniela Cicarelli
Pausa nos assuntos sérios para uma opinião irrelevante. Estou meio chocado com o linchamento da Daniela Cicarelli pelo fato de que pegaram ela transando com o namorado na praia. Se você lê os comentários dos caras que colocam o vídeo no YouTube, é "vagabunda" pra baixo.
Deixando de lado o fato de que ninguém critica o namorado, que, evidentemente, é quem toma a iniciativa no vídeo (ou seja, bando de machistas filhosdaputa e recalcadas do caralho), cabe perguntar: que que tem demais dois negos jovens, saudáveis, bonitos, de férias, resolverem dar uma bimbada? Tá certo que poderiam ser mais discretos, e merecessem uma leeeeve censura verbal por isso (de alguém que se interesse por fazer esse tipo de censura, o que não é meu caso). Mas, supondo que ali não fosse uma colônia de férias de criança, também não acho nada demais, não.
E, vem cá: se quiserem criticar a Cicarelli por só sair com cara rico, por ser meio doida, etc., meu amigo, na coluna social não sobra uma. E, cá entre nós, por que não se critica o namorado dela por só sair com mulher muito gostosa? Quantos dos críticos estão colocando anúncio no jornal procurando "pessoa que toque minha alma, não interessa se desempregada, burra, toda torta e feia pra cacete"?
É como diria Shakespehare: "Envy, thy name is shit".
Deixando de lado o fato de que ninguém critica o namorado, que, evidentemente, é quem toma a iniciativa no vídeo (ou seja, bando de machistas filhosdaputa e recalcadas do caralho), cabe perguntar: que que tem demais dois negos jovens, saudáveis, bonitos, de férias, resolverem dar uma bimbada? Tá certo que poderiam ser mais discretos, e merecessem uma leeeeve censura verbal por isso (de alguém que se interesse por fazer esse tipo de censura, o que não é meu caso). Mas, supondo que ali não fosse uma colônia de férias de criança, também não acho nada demais, não.
E, vem cá: se quiserem criticar a Cicarelli por só sair com cara rico, por ser meio doida, etc., meu amigo, na coluna social não sobra uma. E, cá entre nós, por que não se critica o namorado dela por só sair com mulher muito gostosa? Quantos dos críticos estão colocando anúncio no jornal procurando "pessoa que toque minha alma, não interessa se desempregada, burra, toda torta e feia pra cacete"?
É como diria Shakespehare: "Envy, thy name is shit".
Porra, o nome do cara é Freud
Vou dar minha opinião sobre o caso do vídeo do Serra: concordo com o Mercadante que o Lula teria que ser um retardado para fazer uma dessas com a eleição ganha. Agora, que pode ter sido um apparatchik qualquer do PT cujos interesses mais imediatos estão na eleição de SP (como o inacreditavelmente batizado Freud Godoy), pode.
Que merda.
Que merda.
Clima Político Tenso
Bem disse o Alex em comentário ao post anterior:
"Qual a legitimidade de um segundo governo lula? Sinceramente, começo a me preocupar com 2007. Do jeito que a coisa está, uma crise institucional séria está se delineando no horizonte. Esse episodio do grampo no TSE ainda vai dar o que falar.Agora, mesmo que o governo não tenha responsabilidade direta em nenhum destes episódios (o que eu acho pouco provável, mas não impossível), qual a credibilidade de um governo que "permite" que coisas assim aconteçam? Por outro lado, se PFL, PSDB e PPS insistirem em impugnar a candidatura lula, e diante do grampo no TSE, acho que eles terão... Enfim, tempestade à vista."
A não ser, é claro, que o presidente do Irã mande tudo pras picas antes.
"Qual a legitimidade de um segundo governo lula? Sinceramente, começo a me preocupar com 2007. Do jeito que a coisa está, uma crise institucional séria está se delineando no horizonte. Esse episodio do grampo no TSE ainda vai dar o que falar.Agora, mesmo que o governo não tenha responsabilidade direta em nenhum destes episódios (o que eu acho pouco provável, mas não impossível), qual a credibilidade de um governo que "permite" que coisas assim aconteçam? Por outro lado, se PFL, PSDB e PPS insistirem em impugnar a candidatura lula, e diante do grampo no TSE, acho que eles terão... Enfim, tempestade à vista."
A não ser, é claro, que o presidente do Irã mande tudo pras picas antes.
Al Qaeda
Os ponderadíssimos membros da Al Qaeda lançaram um manifesto sobre a acusação de intolerância lançada pelo Ratzinger (mais especificamente, por Manuel Paleologus, que Amiano Marcelino eventualmente nos dirá quem é). Dizem eles:
«O adorador da cruz [Bento XVI] e o Ocidente serão derrotados como acontece no Iraque, Afeganistão e Tchetchénia. Vamos quebrar a cruz e derramar o vinho... Alá ajudará os muçulmanos a reconquistar Roma. Que Alá permita que os degolemos e faça dos seus descendentes e do seu dinheiro a recompensa dos mujahedins»,
Ah, bom. Observações:
1) Como assim, reconquistar? Roma já foi conquistada pelos árabes?
2) Como assim "e seus descendentes"? O plano é escravizar a cristandade?
3) Porra, ainda bem que eles disseram isso, senão eu ia achar que o Ratzinger estava certo e os caras são intolerantes, mesmo.
Enquanto isso, na Somália, a freira italiana Leonella Sgobarti foi assassinada domingo.
Onde estão os grandes líderes árabes do passado para exterminar a Al Qaeda do primeiro ao último membro e fazer a grande reforma de que o mundo islâmico precisa? Vai ficar todo mundo na mão da bichinha do Osama, agora?
«O adorador da cruz [Bento XVI] e o Ocidente serão derrotados como acontece no Iraque, Afeganistão e Tchetchénia. Vamos quebrar a cruz e derramar o vinho... Alá ajudará os muçulmanos a reconquistar Roma. Que Alá permita que os degolemos e faça dos seus descendentes e do seu dinheiro a recompensa dos mujahedins»,
Ah, bom. Observações:
1) Como assim, reconquistar? Roma já foi conquistada pelos árabes?
2) Como assim "e seus descendentes"? O plano é escravizar a cristandade?
3) Porra, ainda bem que eles disseram isso, senão eu ia achar que o Ratzinger estava certo e os caras são intolerantes, mesmo.
Enquanto isso, na Somália, a freira italiana Leonella Sgobarti foi assassinada domingo.
Onde estão os grandes líderes árabes do passado para exterminar a Al Qaeda do primeiro ao último membro e fazer a grande reforma de que o mundo islâmico precisa? Vai ficar todo mundo na mão da bichinha do Osama, agora?
Olívio Dutra
O newsletter do Valor Econômico (legal, recomendo) mandou mal hoje. Veio com a manchete "Olívio cresce 9 pontos e fica em empate técnico com Rigotto", mas lendo-se a matéria percebe-se que, na verdade, ele cresceu 5 pontos e ABRIU nove pontos sobre Yeda Crusius.
Monday, September 18, 2006
Sunday, September 17, 2006
A Favor de Serra
Eu não vou muito com os cornos do Serra, mas chantagem é foda. Imaginem se cola, e depois descobrem que era sacanagem: não ia sobrar um só corrupto sem dizer "Cobigo também voi assim!" (tentativa de escrever como o Maluf fala).
Zé em campanha contra o voto nulo
E aproveito para endossar a campanha do Blog para Zanzar:
"O Uol acaba de lançar um serviço muito, mas muito interessante, a Cola Eleitoral!!!
Basta digitar o número do seu candidato preenchendo os quadrados e colocar o nome dele e depois imprimir. Se você ainda não sabe em quem vai votar, sem problemas... basta procurar o nome da pessoa que você quer clicando no ícone da lupa que está na própria página ou se preferir procurar por todos os nomes que estão concorrendo pelo partido em que você vai votar, no estado em que você vai votar, e pronto, escolhido o nome é só voltar para a página e terminar de preencher a "colinha".
Esse sim é um ótimo serviço, divulguem esta página como maneira de diminuir o voto branco e nulo!
A página é: http://eleicoes.uol.com.br/2006/guia/cola.jhtm
VOTO NULO NÃO, eleitor consciente, voto coerente!!!"
É isso aí, por mais que seja tentador não votar em nenhum desses caras, não ache que não terá responsabilidade se votar nulo. Vote num filhodaputa menos ruinzinho, e se o vagabundo não corresponder, impiche o filhodumégua. Mas vote.
"O Uol acaba de lançar um serviço muito, mas muito interessante, a Cola Eleitoral!!!
Basta digitar o número do seu candidato preenchendo os quadrados e colocar o nome dele e depois imprimir. Se você ainda não sabe em quem vai votar, sem problemas... basta procurar o nome da pessoa que você quer clicando no ícone da lupa que está na própria página ou se preferir procurar por todos os nomes que estão concorrendo pelo partido em que você vai votar, no estado em que você vai votar, e pronto, escolhido o nome é só voltar para a página e terminar de preencher a "colinha".
Esse sim é um ótimo serviço, divulguem esta página como maneira de diminuir o voto branco e nulo!
A página é: http://eleicoes.uol.com.br/2006/guia/cola.jhtm
VOTO NULO NÃO, eleitor consciente, voto coerente!!!"
É isso aí, por mais que seja tentador não votar em nenhum desses caras, não ache que não terá responsabilidade se votar nulo. Vote num filhodaputa menos ruinzinho, e se o vagabundo não corresponder, impiche o filhodumégua. Mas vote.
Zé e Zé Serra
O glorioso Zé, do indispensável Blog para Zanzar, teve o saco de assistir à fita do Serra com as ambulâncias (aquela que um cara do PT tava tentando comprar) e garante: é uma bela merda. Não tem nada de remotamente interessante. Eu vou acreditar nele e não vou perder tempo, não.
Intelectuais
Alguns intelectuais estão reclamando do voto da população brasileira, coisa que não faziam quando a população votava neles. Lembremos que o primeiro mandato FHC era todo baseado no iogurte da classe E; um caderno especial da Folha sobre o período tinha na capa a Carla Pérez, que, lembremos, estourou quando, GRAÇAS A DEUS, a inflação acabou e o consumo das classes mais baixas (incluíndo o consumo musical) se recuperou. A República de Weimar, por outro lado, tinha inflação de doze quaquilhões por dia, mas um belo cinema e uma bela literatura. Qual vocês preferem?
Uma outra vertente afirma que Lula, com seu desprezo pela cultura, incentiva o mesmo desprezo na população brasileira. Porra, mas vocês guiam seus gostos culturais pela opinião do presidente (imaginem como estariam os americanos hoje em dia)? Quando o FHC era presidente, por acaso exercia influência semelhante em sentido contrário?
O que causa o descomforto com os formadores de opinião no Brasil, na verdade, é que, sejamos honestos, há muito tempo eles não geram uma. Que idéia nova saiu da USP ou da UNICAMP nos últimos vinte anos? Qual foi nosso último movimento literário ou pictórico? Há ótimos artistas, e as pessoas que têm dinheiro para tanto continuam comprando seus livros, e as que têm mais dinheiro ainda seus quadros. Agora, que idéia nova anda circulando por aí?
Não vamos nem falar dos programas dos candidatos, por que eles são sintomas, não causas. Por que ninguém tem uma idéia?
Uma outra vertente afirma que Lula, com seu desprezo pela cultura, incentiva o mesmo desprezo na população brasileira. Porra, mas vocês guiam seus gostos culturais pela opinião do presidente (imaginem como estariam os americanos hoje em dia)? Quando o FHC era presidente, por acaso exercia influência semelhante em sentido contrário?
O que causa o descomforto com os formadores de opinião no Brasil, na verdade, é que, sejamos honestos, há muito tempo eles não geram uma. Que idéia nova saiu da USP ou da UNICAMP nos últimos vinte anos? Qual foi nosso último movimento literário ou pictórico? Há ótimos artistas, e as pessoas que têm dinheiro para tanto continuam comprando seus livros, e as que têm mais dinheiro ainda seus quadros. Agora, que idéia nova anda circulando por aí?
Não vamos nem falar dos programas dos candidatos, por que eles são sintomas, não causas. Por que ninguém tem uma idéia?
Ratzinger e o Islã
Eu não sou exatamente um fã do Ratzinger, muito embora reconheça que se trata de um dos maiores intelectuais do mundo (sem sacanagem, leiam "Introdução ao Cristianismo"). Eu acho que, como todo o respeito que o cargo de Papa inspira, ele merecia um chute no saco por perder tempo reclamando de gay que quer casar enquanto o mundo tem problemas sérios. Se fosse para votar para Papa, eu votaria em outro cara (mas continuaria lendo os livros do Ratzinger).
Agora, nesse episódio do Islã, eu achei a reação aos comentários dele um absurdo. Como o Papa é também um estadista, ele pediu desculpas, e fez bem, do ponto de vista político. Agora, vem cá, ninguém tem direito de questionar a relação do Islã (ou do Cristianismo, do Budismo, do Judaísmo, do Satanismo, ou dos adoradores de Ed) com o pensamento racional? Bom, eu tenho, e se terrorista quiser me encher o saco, saiba que jihad de cú é rola.
Voltemos ao Ratzinger. O cara é chefe de uma religião. Em geral, as pessoas só tem uma religião, de maneira que podemos dizer, simplificadamente, que o Islã e o Cristianismo são concorrentes. Como tais, ambos têm o direito de se criticar mutuamente, para que cada indivíduo decida que religião deve ter segundo sua consciência. Como diria o São Tomás de Aquino, é melhor ser excomungado do que ir contra a consciência (esse sim era foda). Aposto dez pra um que todo dia os mulás criticam o que vêem como falhas do cristianismo, e isso também tá beleza. Agora, se um quiser impor a religião sobre o outro, o Estado deve, civilizadamente, meter todo mundo na cana dividindo cela com o singelo traficante Pé-de-mesa.
E, cá entre nós, algumas das reações à acusação de intolerância do Ratzinger parecem o clássico momento da briga em que o cara grita "Eu não tô nervoso! Eu não tô nervoso! Nervoso vai ficar esse filho da puta quando eu mataaaaaaaaaaa..."
O Islã foi o guardião da grande tradição racional do mediterrâneo clássico (se eu tiver que pertencer a uma tradição, vai ser essa) enquanto a Europa era governada por estadistas do porte de Luís II, o gago. O maior ato de amizade que se pode ter com o Islã é dar um tapa na cara do sujeito pra ver se ele sai do porre em que o fundamentalismo o jogou, e assume seu lugar como descendente do patriarca Aristóteles.
Agora, nesse episódio do Islã, eu achei a reação aos comentários dele um absurdo. Como o Papa é também um estadista, ele pediu desculpas, e fez bem, do ponto de vista político. Agora, vem cá, ninguém tem direito de questionar a relação do Islã (ou do Cristianismo, do Budismo, do Judaísmo, do Satanismo, ou dos adoradores de Ed) com o pensamento racional? Bom, eu tenho, e se terrorista quiser me encher o saco, saiba que jihad de cú é rola.
Voltemos ao Ratzinger. O cara é chefe de uma religião. Em geral, as pessoas só tem uma religião, de maneira que podemos dizer, simplificadamente, que o Islã e o Cristianismo são concorrentes. Como tais, ambos têm o direito de se criticar mutuamente, para que cada indivíduo decida que religião deve ter segundo sua consciência. Como diria o São Tomás de Aquino, é melhor ser excomungado do que ir contra a consciência (esse sim era foda). Aposto dez pra um que todo dia os mulás criticam o que vêem como falhas do cristianismo, e isso também tá beleza. Agora, se um quiser impor a religião sobre o outro, o Estado deve, civilizadamente, meter todo mundo na cana dividindo cela com o singelo traficante Pé-de-mesa.
E, cá entre nós, algumas das reações à acusação de intolerância do Ratzinger parecem o clássico momento da briga em que o cara grita "Eu não tô nervoso! Eu não tô nervoso! Nervoso vai ficar esse filho da puta quando eu mataaaaaaaaaaa..."
O Islã foi o guardião da grande tradição racional do mediterrâneo clássico (se eu tiver que pertencer a uma tradição, vai ser essa) enquanto a Europa era governada por estadistas do porte de Luís II, o gago. O maior ato de amizade que se pode ter com o Islã é dar um tapa na cara do sujeito pra ver se ele sai do porre em que o fundamentalismo o jogou, e assume seu lugar como descendente do patriarca Aristóteles.
Que porra é essa?
Elio Gaspari, hoje na Folha:
"Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugênio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante o segundo mandato, as reformas que julga necessárias. Nosso Guia respondeu: “Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso”.
Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do “que esse que está aí”, pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.
Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe e pelo menos 20 notáveis nacionais.
A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada por inúmeros convidados que a ouviram.
Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.
Nos últimos 50 anos, o Coisa Ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato.
Castelo Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.
Seja o que Deus quiser.”
Ah, vá tomar no cú.
"Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na quinta-feira, o empresário Eugênio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante o segundo mandato, as reformas que julga necessárias. Nosso Guia respondeu: “Staub, não acorde o demônio que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse Congresso e fazer o que é preciso”.
Segundo Lula, o próximo Congresso será pior do “que esse que está aí”, pois virá com Paulo Maluf e Clodovil.
Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe e pelo menos 20 notáveis nacionais.
A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada por inúmeros convidados que a ouviram.
Lula vê outro empecilho para o êxito do seu projeto: a imprensa.
Nos últimos 50 anos, o Coisa Ruim rondou três presidentes: Jânio Quadros, João Goulart e Costa e Silva. Nenhum deles concluiu o mandato.
Castelo Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.
Seja o que Deus quiser.”
Ah, vá tomar no cú.
Saturday, September 16, 2006
Charles Bettelheim (1922-2006)
Só hoje eu soube que, no dia 20 de Julho último, faleceu o Charles Bettelheim, economista francês que eu estudei no meu mestrado. Que Deus o tenha.
Há alguns obituários na web, e, normalmente, eu não me interessaria em fazer outro, mas resolvi falar sobre o assunto. Bem ou mal, o Bettelheim foi muito importante para meu desenvolvimento intelectual, tanto na minha entrada quanto na minha saída do marxismo. E eu acho sacanagem que fique dele a imagem que os obituários estão fazendo.
Bettelheim foi Stalinista, foi suspenso do PCF por ter criticado o que viu quando morou na URSS, apoiou as denúncias do Kruschev, mas acabou tendo uma recaída e apoiando o maoísmo, até que, depois da morte do Mao, abandonou isso também. Foi intelocutor de todos os grandes esforços de planificação do terceiro mundo, tendo dado assessoria, de uma forma ou de outra, para o Nasser, o Nehru, os argelinos, e se metido numa briga com o Guevara, que, como o Stalin, apoiava uma estratégia de crescimento voluntarista (sem perder a ternura é o caralho).
No meio dessa confusão toda, teve tempo de escrever um livro interessante pra caramba: Cálculo Econômico e Formas de Propriedade, em que argumentou mais ou menos o seguinte (a explicação é minha): planejar é organizar variáveis, variáveis medem coisas, variáveis sociais medem a informação transmitida por relações sociais. Se as relações sociais são as do capitalismo, não interessa o quanto você queira planejar, você vai medir valor (no sentido marxista). Afinal, se a estrutura produtiva ainda é a fábrica capitalista ( e esse era o caso no socialismo real), o que você está planejando é a informação gerada pela fábrica capitalista, cujas relações de poder, em especial a acumulação de poder e responsabilidade com os gerentes, favorece sua autonomia. No final das contas, você vai planejar o que fábricas capitalistas precisam para funcionar, o que é melhor medido com os conceitos do capitalismo. Um discípulo do Bettelheim, o Bernard Chavance, descreveu como, no vocabulário socialista, aos poucos surgem as expressões "preços socialistas", "mercado socialista", etc. Como diria Marx, essas grandezas se produzem por abstração real, isto é, é o próprio mercado as calcula, e se você não deixar o mercado funcionar, não adianta. Resultado: se você não conseguir mexer na fábrica capitalista, uma hora vai ter que voltar com o mercado, que, naturalmente só funciona direito se você der a propriedade jurídica para os gerentes. Bingo.
Mais tarde o Bettelheim escreveu sua obra mais famosa, "As Lutas de Classe na URSS", o livro de história mais esquisito que eu já vi, por que, de volume em volume, o Bettelheim ia mudando de posição política, sem reescrever o período anterior. Desse modo, os dois volumes iniciais, onde ele trata da URSS do Lenin e da ascensão do Stalin, ele acha que, dada a divisão do trabalho na fábrica, as relações de produção na URSS continuavam capitalistas, mas a direção do Lenin era bacana, de maneira que a sociedade soviética era um "Capitalismo de Estado sob Ditadura do Proletariado", expressão, que, aliás, era do Lenin, mesmo. Lembremos que antes de morrer o Lenin deu uma grande moderada econômica com a NEP.
Isso era, obviamente, uma papagaiada miserável: se o Marx soubesse que um discípulo seu descreveu uma sociedade pelo tipo de política implementada por sua liderança, certamente o estrangularia com suas próprias mãos. Talvez por medo do fantasma do Marx, e depois de ter visto que o Maoísmo tinha dado merda, Bettelheim, nos dois últimos volumes das LCURSS, revisou a coisa toda, aceitou a tese do totalitarismo para descrever as sociedades de tipo soviético, e, o que eu não vejo ninguém dizer, sugeriu que não era mais o caso de ficar sendo marxista, o melhor era fazer socio-análise (senão me engano, o termo é do Bourdieu). Leu os filósofos e economistas dissidentes húngaros, o Lefort, e escreveu o que, na minha opinião, são os dois melhores livros da série. A turma que ainda gosta do CB não concorda comigo, tanto que os dois últimos volumes ainda não foram publicados no Brasil, e, aliás, só outro dia foram publicados nos EUA.
Em um texto na revista da academia de economia húngara, que os Bettelheimistas de plantão não leram, CB sugere, nos anos oitenta, amplas reformas de mercado (embora não exatamente a transição radical dos anos noventa, quando CB já havia se retirado da cena). Seus discípulos Jacques Sapir e Bernard Chavance desenvolvem bem os últimos insights de Bettelheim após sua conversão à Escola Francesa da Regulação, cujo débito com o Bettelheim é reconhecido (vejam o livro do Boyer). Recomendo, do Sapir, L'Économie Mobilisé, sobre a URSS, e Le Krach Russe, sobre a crise russa de 98 (que eu saiba, o melhor livro sobre o tema).
Em suma: alguém tem alguma boa idéia de como organizar a produção, mantendo o que queremos preservar da modernidade, sem a fábrica capitalista? Não. Os experimentos maoístas nesse sentido (com as comunas substituindo as fazendas) foram uma besteira, e resultaram na morte de 20 milhões de pessoas na mais abjeta fome. Portanto, não adianta ficar brincando que estatização é um fim em si, ou que, mesmo que estatizar tudo não seja uma boa, estatizar bastante ainda é legal. Se o Bettelheim estivesse ativo nos anos 90, veria que, no longo prazo, os velhos stalinistas da Rússia ainda nos forneceriam o deprimente espetáculo de sua conversão nos tipos mais sórdidos de capitalista, sem nenhum respeito pelo bom e velho direito burguês.
Se você procurar na Internet, vai achar uns obituários exaltando o marxismo do Bettelheim. Mas o que é legal é que o Bettelheim, com sua obsessão solidamente marxista com as relações de produção, foi uma demonstração viva de como o projeto político do marxismo (e do Marx) não está à altura da teoria.
Estudando o Bettelheim, portanto, aprendi: leiam o Marx, aprendam a importância das relações de produção e das classes sociais, quebrem a cabeça entendendo como o mercado se relaciona com elas, não sejam bolcheviques nem para-bolcheviques.
Depois de explicar como Bettelheim me livrou do bolchevismo, qualquer dia desses escreverei como Hayek me converteu à social-democracia (mais um capítulo da série "Como se isso interessasse a alguém").
PS: para quem estiver interessado, há pouco tempo saiu um artigo sobre o Bettelheim nos Actes de la Recherche en Sciences Sociales, disponível aqui. É bem oficialzão, sem teoria, mas biograficamente informativo.
Friday, September 15, 2006
Thursday, September 14, 2006
Heloísa Helena
Ontem não teve jeito, não: dormi com quinze minutos de debate da TV Gazeta. Agora, é curioso o seguinte: A Heloísa Helena está meio cansada, meio desanimada. Não foi a mesma presença de antes.
Diz um colega meu que conhece esse povo que o campo da HH está paralizado por brigas entre PSOL e PSTU. O PSOL, a crer nesse meu colega, quer aproveitar a maré favorável, dar uma moderada (digamos, uma moderada moderada), e tentar virar competitivo, mesmo. O PSTU é aquela coisa. Sei lá se isso é verdade.
Agora, vem cá: faz-se aliança com o PSTU com que propósito? Bem feito.
Diz um colega meu que conhece esse povo que o campo da HH está paralizado por brigas entre PSOL e PSTU. O PSOL, a crer nesse meu colega, quer aproveitar a maré favorável, dar uma moderada (digamos, uma moderada moderada), e tentar virar competitivo, mesmo. O PSTU é aquela coisa. Sei lá se isso é verdade.
Agora, vem cá: faz-se aliança com o PSTU com que propósito? Bem feito.
Corruptos na Justiça
Essa campanha eleitoral está mostrando um negócio interessante. O CM e a oposição estão reclamando que a justiça eleitoral dá direito de resposta sempre que alguém acusa o governo de corrupto em termos mais contundentes. E isso é uma merda, mesmo.
Mas não tem jeito: os caras não foram condenados na justiça, e, cá entre nós, dificilmente serão, por que o trabalho de investigação da CPI foi uma merda. Ou seja: o TSE não tem culpa nessa história.
Agora, isso sugere um negócio para o futuro: devemos dar menos ênfase em cassar o mandato do cara e mais ênfase em juntar provas para condená-lo na justiça. Por exemplo: em vez de tentar descobrir um mega esquema de sacanagem, que, mesmo se existir, dificilmente será provado, deveríamos tentar pegar os caras naquilo que dá para provar. Claro, no caso do presidente é diferente, cassar o cara por que ele roubou uma caneta causaria uma crise política. Mas para deputado dá, sim.
Mas não tem jeito: os caras não foram condenados na justiça, e, cá entre nós, dificilmente serão, por que o trabalho de investigação da CPI foi uma merda. Ou seja: o TSE não tem culpa nessa história.
Agora, isso sugere um negócio para o futuro: devemos dar menos ênfase em cassar o mandato do cara e mais ênfase em juntar provas para condená-lo na justiça. Por exemplo: em vez de tentar descobrir um mega esquema de sacanagem, que, mesmo se existir, dificilmente será provado, deveríamos tentar pegar os caras naquilo que dá para provar. Claro, no caso do presidente é diferente, cassar o cara por que ele roubou uma caneta causaria uma crise política. Mas para deputado dá, sim.
Monday, September 11, 2006
Andrew Sullivan
O blog do Andrew Sullivan escolheu, para comemorar o 11/09, listar no blog dele coisas que o Bin Laden não gosta sobre o ocidente, do vídeo do Theo Van Ghog (cineasta holandês e, sim, parente do homem) que foi assassinado por um fanático muçulmano, até o episódio do South Park com o Maomé (que bonito), passando, naturalmente, pelas charges proibidas da Dinamarca. Muito boa idéia. Algumas das coisas são ruins (as charges são umas merdas), mas, sem dúvida nenhuma, merecem que o mundo se acabe em um holocausto nuclear pelo direito de serem publicadas. O pior é que eu acho isso, mesmo.
11 de Setembro
Mensagem do Secretário Geral da ONU:
Os ataques de 11 de setembro de 2001 atingiram nossa essência, porque foram um ataque contra a humanidade.
Hoje, nosso pensamento e nossas preces estão com as vítimas e com todos aqueles que perderam seres queridos na tragédia. As Nações Unidas lembram, junto com os nova-iorquinos, a profunda ferida que foi infringida nesta maravilhosa cidade – a cidade que tem sido uma ótima anfitriã para todos nós nas últimas cinco décadas. E lembramos também todos aqueles que perderam a vida em outros atos de terrorismo ao redor do mundo.
A adoção, sexta-feira passada, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, da Estratégia Global para Combater o Terrorismo, envia a clara mensagem de que o terrorismo é inaceitável, não importa quem o cometa, não importam os motivos. Ela sublinha a decisão de todos os Governos de tomarem ações concretas para discutir as condições que levaram a expansão do terrorismo, para prevenir e combater o terrorismo em todas suas formas e apoiar a capacidade individual e coletiva dos Estados e das Nações Unidas para fazê-lo – tendo a certeza, ao mesmo tempo, de que os direitos humanos estão sendo respeitados.
Peço a todos os Estados-Membros que honrem as vitimas do terrorismo em todos os lugares, tomando urgentemente ações para implementar todos os aspectos da Estratégia. Desta forma, demonstrarão a firme determinação da comunidade internacional para derrotar o terrorismo.
Kofi A. Annan
Os ataques de 11 de setembro de 2001 atingiram nossa essência, porque foram um ataque contra a humanidade.
Hoje, nosso pensamento e nossas preces estão com as vítimas e com todos aqueles que perderam seres queridos na tragédia. As Nações Unidas lembram, junto com os nova-iorquinos, a profunda ferida que foi infringida nesta maravilhosa cidade – a cidade que tem sido uma ótima anfitriã para todos nós nas últimas cinco décadas. E lembramos também todos aqueles que perderam a vida em outros atos de terrorismo ao redor do mundo.
A adoção, sexta-feira passada, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, da Estratégia Global para Combater o Terrorismo, envia a clara mensagem de que o terrorismo é inaceitável, não importa quem o cometa, não importam os motivos. Ela sublinha a decisão de todos os Governos de tomarem ações concretas para discutir as condições que levaram a expansão do terrorismo, para prevenir e combater o terrorismo em todas suas formas e apoiar a capacidade individual e coletiva dos Estados e das Nações Unidas para fazê-lo – tendo a certeza, ao mesmo tempo, de que os direitos humanos estão sendo respeitados.
Peço a todos os Estados-Membros que honrem as vitimas do terrorismo em todos os lugares, tomando urgentemente ações para implementar todos os aspectos da Estratégia. Desta forma, demonstrarão a firme determinação da comunidade internacional para derrotar o terrorismo.
Kofi A. Annan
Sunday, September 10, 2006
Should I stay or should I go?
Andei pensando em migrar o blog para o Bravejournal, onde o Renato mantém o dele. Parece ser cheio das paradinhas diferentes. Dêem uma olhada no rascunho que eu fiz e me digam se vocês acham que eu devo ir pra lá. Ah, sim, o endereço (está só "napratica"), tudo dá pra mudar depois. Não deixem de opinar.
Osama
Na véspera do aniversário do 11 de Setembro, lembro o resultado de um concurso de anagramas de "Osama Bin Laden" promovido logo depois dos atentados, se não me engano, pelo The Guardian. Ganhou o seguinte:
Is a Banal Demon
Podem checar, são mesmo as mesmas letras. E é perfeito.
Is a Banal Demon
Podem checar, são mesmo as mesmas letras. E é perfeito.
Dúvida Eleitoral
Muito bom o artigo do Ruy Fausto hoje sobre os candidatos. O problema é que eu terminei onde estava no começo: em quem diabos eu vou votar? Bom, ele disse que ainda vai escrever outro artigo sobre isso. Estou aceitando opiniões.
Augusto Frederico Schmidt
Oração
Que não se cale nunca a voz que veio
Sempre comigo.
A voz que foi minha vida,
Na minha vida sempre triste e incerta,
O consolo, o conforto, o único bálsamo.
Que não se cale a voz que na amargura
Não me faltou jamais.
A voz que foi meu eterno abrigo
Nas horas em que o tédio,
Companheiro fatal dos deserdados,
Diminuía o meu ser fraco e perdido.
Que não se cale a voz que de mim veio.
Mas que minha não é, sendo nobre e sentida.
Voz do meu coração que me escorre da pena
Voz que embala o meu sono agitado e medroso.
Voz que de sonhos enche este escuro deserto,
Onde me encontro.
Voz que me faz olhar em transportes estranhos
Outras terras além, outras paisagens, outras
Belezas, que meus horizontes curtos
Tentam baldadamente me esconder.
Que não se cale a voz que é meu pão e minha água
Eco dos meus soluços ignorados
Pérola essencial do meu ser pobre e feio.
Que não se cale a voz que me livra do exílio,
Que dá forma a meu pranto
E desoprime o peito meu de saudades eternas
E de dores eternas sem remédio.
Voz que diz dos amores meus defuntos,
Dos amores que eu quis e a vida não me deu.
Voz com que posso chorar a mocidade morta
A minha mocidade inútil e sem rumo.
Que não se cale a voz que sou eu, melhorado,
A voz que Deus me deu!
Que não se cale nunca a voz que veio
Sempre comigo.
A voz que foi minha vida,
Na minha vida sempre triste e incerta,
O consolo, o conforto, o único bálsamo.
Que não se cale a voz que na amargura
Não me faltou jamais.
A voz que foi meu eterno abrigo
Nas horas em que o tédio,
Companheiro fatal dos deserdados,
Diminuía o meu ser fraco e perdido.
Que não se cale a voz que de mim veio.
Mas que minha não é, sendo nobre e sentida.
Voz do meu coração que me escorre da pena
Voz que embala o meu sono agitado e medroso.
Voz que de sonhos enche este escuro deserto,
Onde me encontro.
Voz que me faz olhar em transportes estranhos
Outras terras além, outras paisagens, outras
Belezas, que meus horizontes curtos
Tentam baldadamente me esconder.
Que não se cale a voz que é meu pão e minha água
Eco dos meus soluços ignorados
Pérola essencial do meu ser pobre e feio.
Que não se cale a voz que me livra do exílio,
Que dá forma a meu pranto
E desoprime o peito meu de saudades eternas
E de dores eternas sem remédio.
Voz que diz dos amores meus defuntos,
Dos amores que eu quis e a vida não me deu.
Voz com que posso chorar a mocidade morta
A minha mocidade inútil e sem rumo.
Que não se cale a voz que sou eu, melhorado,
A voz que Deus me deu!
Saturday, September 09, 2006
Carta do FHC (4)
Ah, pelo menos o Reinaldo Azevedo gostou da carta, por que torna impraticável uma eventual aproximação do PSDB com o PT no segundo governo Lula (ou seja, é outro que já cagou pro Alckmin). Eu sou favorável a tal aproximação, vale dizer.
Mas mesmo que se seja contra: é essa a hora de discutir isso, porra?
Agora, é meio feio que o Olavúnculo saúde a carta com a expressão master dixit (o mestre falou), em uma clara tentativa de arrastar FHC para o fundo do poço pelo saco.
Mas mesmo que se seja contra: é essa a hora de discutir isso, porra?
Agora, é meio feio que o Olavúnculo saúde a carta com a expressão master dixit (o mestre falou), em uma clara tentativa de arrastar FHC para o fundo do poço pelo saco.
Carta do FHC (3)
E muita gente está dizendo que o objetivo do FHC é reconquistar a liderança do PSDB depois das eleições. Bom, só se for isso. Agora, se for isso, tem cara que vai sair pela culatra fácil. Para sempre vão jogar na cara dele que ele sabotou o Alckmin no finalzinho. E, cá entre nós, nem o PT dos velhos tempos da Convergência Socialista parava campanha presidencial para disputar a presidência do partido.
Se for esse o caso, o CM que me desculpe, mas FHC é político júnior, fraldinha mesmo.
O Azeredo já saiu pro pau, e os jornais falam em "lideranças do PSDB" que ficaram muito desconfortáveis.
Coitado do Alckmin. Não é só que está perdendo. O Serra também perderia, se bem que de menos. O chato é ver que a oposição está cagando pra ele desde o início. E o cara é um bom quadro.
Se for esse o caso, o CM que me desculpe, mas FHC é político júnior, fraldinha mesmo.
O Azeredo já saiu pro pau, e os jornais falam em "lideranças do PSDB" que ficaram muito desconfortáveis.
Coitado do Alckmin. Não é só que está perdendo. O Serra também perderia, se bem que de menos. O chato é ver que a oposição está cagando pra ele desde o início. E o cara é um bom quadro.
Carta do FHC (2)
O César Maia ficou meio apavorado:
"Quais as razões de FHC ? Difícil dizer. Estaria jogando a toalha ? Esse Ex-Blog não crê, pois ninguém mais que FHC conhece as idas e vindas da volatilidade eleitoral brasileira. Vaidade por se sentir fora da eleição e ninguém defender o seu governo ? Difícil acreditar. FHC já tem informações de alguma dinâmica eleitoral favorável a Alckmin e quis antecipar esta tendência ? FHC quis distrair o distinto público muito crente numa vitória de Lula ? Pode ser. Enfim. Se fosse de um político junior, qualquer versão seria possível. Mas de um sênior e com o equipamento teórico e prático que tem FHC como nenhum político brasileiro, há que se pensar o quanto de "príncipe" contém sua carta."
"Quais as razões de FHC ? Difícil dizer. Estaria jogando a toalha ? Esse Ex-Blog não crê, pois ninguém mais que FHC conhece as idas e vindas da volatilidade eleitoral brasileira. Vaidade por se sentir fora da eleição e ninguém defender o seu governo ? Difícil acreditar. FHC já tem informações de alguma dinâmica eleitoral favorável a Alckmin e quis antecipar esta tendência ? FHC quis distrair o distinto público muito crente numa vitória de Lula ? Pode ser. Enfim. Se fosse de um político junior, qualquer versão seria possível. Mas de um sênior e com o equipamento teórico e prático que tem FHC como nenhum político brasileiro, há que se pensar o quanto de "príncipe" contém sua carta."
Carta do FHC (1)
E quando menos se esperava, FHC lança uma carta aberta aos eleitores do PSDB e causa uma confusão na turma da oposição. O conteúdo da carta não é nada de muito inovador, tem coisas boas, coisas ruins, enfim. Mas o timing da publicação é interessante.
A princípio, FHC pode ter tentado se oferecer como o Carlos Lacerda que, faz um tempo, ele mesmo vinha pedindo que aparecesse para botar "fogo no palheiro". Se for isso, não deve funcionar, não. FHC não é muito popular. A carta, cá entre nós, não apenas não é tão bem escrita como a que o Lacerda escreveria, é muito mal escrita. Não tem um soundbite. E não é que seja chata por que seja profunda. Ao contrário. Parece os artigos do FHC no Globo, meio certos, meio errados, sem a menor originalidade. FHC ainda está escrevendo como aprendeu a escrever durante sua presidência, sem dizer nada.
Tem duas das besteiras de sempre: que o Bolsa-Família é só uma extensão de programas que já existiam (fora o fato de que "extensão", no caso, quer dizer dobrar duas vezes o tamanho da coisa, os programas do FHC, por sua vez, eram copiados do Cristovam, que era do PT - queria saber se o FHC já informou o Clinton de seu erro historiográfico a esse respeito em sua auto-biografia), e que, se a Vale foi vendida barato, é por que ninguém quis pagar mais (você aplicaria esse raciocínio ao vender seu carro? Ou deixaria para vender quando alguém oferecesse uma grana boa? A não ser, é claro, que você precisasse urgentemente de dólar por que sua política econômica, enfim).
E tem boas críticas ao governo.
Mas a questão é que é um típico documento de reconhecimento de derrota (ou de ajuste de curso, se publicado um ano antes). Não é hora de ninguém do campo de Alckmin falar mal de Azeredo ou do sistema carcerário paulista.
A princípio, FHC pode ter tentado se oferecer como o Carlos Lacerda que, faz um tempo, ele mesmo vinha pedindo que aparecesse para botar "fogo no palheiro". Se for isso, não deve funcionar, não. FHC não é muito popular. A carta, cá entre nós, não apenas não é tão bem escrita como a que o Lacerda escreveria, é muito mal escrita. Não tem um soundbite. E não é que seja chata por que seja profunda. Ao contrário. Parece os artigos do FHC no Globo, meio certos, meio errados, sem a menor originalidade. FHC ainda está escrevendo como aprendeu a escrever durante sua presidência, sem dizer nada.
Tem duas das besteiras de sempre: que o Bolsa-Família é só uma extensão de programas que já existiam (fora o fato de que "extensão", no caso, quer dizer dobrar duas vezes o tamanho da coisa, os programas do FHC, por sua vez, eram copiados do Cristovam, que era do PT - queria saber se o FHC já informou o Clinton de seu erro historiográfico a esse respeito em sua auto-biografia), e que, se a Vale foi vendida barato, é por que ninguém quis pagar mais (você aplicaria esse raciocínio ao vender seu carro? Ou deixaria para vender quando alguém oferecesse uma grana boa? A não ser, é claro, que você precisasse urgentemente de dólar por que sua política econômica, enfim).
E tem boas críticas ao governo.
Mas a questão é que é um típico documento de reconhecimento de derrota (ou de ajuste de curso, se publicado um ano antes). Não é hora de ninguém do campo de Alckmin falar mal de Azeredo ou do sistema carcerário paulista.
Friday, September 08, 2006
7 de Setembro
A propósito, como eu sempre gostei do número 7, sempre gostei do som de "Sete de Setembro".
Achei que deveria compartilhar pensamento tão profundo com vocês.
Achei que deveria compartilhar pensamento tão profundo com vocês.
500 anos
Um troço de que ninguém mais fala é a comemoração dos 500 anos, de (dã) 2000. Eu acho que ela foi um dos maiores fiascos da história brasileira.
Comparem com o centenário da abolição: uma porrada de livros famosos sobre a escravidão foi lançada nessa época, e o debate (UNICAMP, UFF x USP, etc.) foi bem bom. O movimento negro fez bastante agitação, como deveria. Enfim, a data (que em si mesma não quer dizer porra nenhuma, é só um número redondo) foi um momento de reflexão.
Agora vejam os 500 anos, e esqueçam a excepcional exposição em SP. O que foi o debate em torno disso? À esquerda, uma gritaria sobre o genocídio de índios (principalmente) e negros. E à direita, o ministro do Turismo (onde estava Weffort?), Rafael Greca, construindo uma caravela que afundou (o que até que foi engraçado). O único livro interessante publicado na época foi o do Luis Felip Alencastro, que, na verdade, era um herdeiro da safra anterior sobre escravidão. Os grandes livros sobre o Brasil, Caio Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Faoro, não tiveram nem mesmo pálidos reflexos. O grande best-seller era o Eduardo Bueno, um cara que, segundo ele mesmo, na vida passada era uma Araucária.
A impressão que se tinha era a seguinte: ainda se estava fazendo oposição ao discurso nacionalista dos militares, que, não sei se vocês notaram, andam meio sumidos. Certo, a idéia do Brasil do "tem tudo pra dar certo" era besteira, mesmo: a Amazônia não tem, ao que parece, petróleo, o Brasil já foi mesmo um grande campo de concentração de africanos, a elite portuguesa era aquela beleza que a gente conhece, os índios foram mesmo dizimados, etc.
Agora, o que faltou explicar era o que exatamente fez com que esta merda toda, no século XX fosse, até a década de oitenta (acho que é isso), o país que mais cresceu no mundo, e, sem dúvida nenhuma, o país sem guerra civil com mais características de país que tem guerra civil, uma das maiores democracias do mundo (Lula, se não me engano, foi o terceiro ser humano mais votado de todos os tempos). Não tem nada pro sujeito se orgulhar aí?
Certo, o Brasil começou como empresa escravista. Mas ainda é isso? Não houve no Brasil um dos mais vigorosos movimentos operários do mundo no final dos anos 70, culminando, inclusive, com a criação do último grande partido de esquerda do mundo? E isso não se deu por que houve, ao mesmo tempo, enorme industrialização capitalista e vigorosa democratização? E, por outro lado, não estariam ambos os fenômenos firmememente enraizados nas lutas das décadas anteriores, e mesmo do século XIX, que é quando efetivamente isso aqui vira um país?
Certo, no momento há uma crise política. O partido de esquerda se meteu pesado em corrupção. E o candidato alternativo parece a caravela do Rafael Greca. Mas será que essa crise não ocorre hoje por que antes de 2002 a esquerda se recusava em pensar a sério sobre um projeto de país, sobre a necessidade de se corrigir a economia que havia emperrado nos anos 80, sobre as grandes possibilidades de se promover a justiça social uma vez que ela mesma, esquerda, se livrasse da bagagem socialista (o que, miraculosamente, ela fez)?
Será que a desilusão de hoje não se deve ao infantilismo de ontem? Era mesmo para botar fogo em tudo, não havia nada que se desejasse preservar da obra de nossos antepassados?
O Brasil não tinha tudo para ser a Suécia. O Brasil tinha tudo para ser Ruanda. Que seja parecido o suficiente com a Suécia para sentir vergonha na comparação deve ser motivo de grande orgulho.
No que vai dar a crise, naturalmente, não sei. Agora, quem desanimar por causa, disso, porra, é por que era um merdinha mesmo, que, se não fosse por isso, desanimaria por outra babaquice qualquer.
Comparem com o centenário da abolição: uma porrada de livros famosos sobre a escravidão foi lançada nessa época, e o debate (UNICAMP, UFF x USP, etc.) foi bem bom. O movimento negro fez bastante agitação, como deveria. Enfim, a data (que em si mesma não quer dizer porra nenhuma, é só um número redondo) foi um momento de reflexão.
Agora vejam os 500 anos, e esqueçam a excepcional exposição em SP. O que foi o debate em torno disso? À esquerda, uma gritaria sobre o genocídio de índios (principalmente) e negros. E à direita, o ministro do Turismo (onde estava Weffort?), Rafael Greca, construindo uma caravela que afundou (o que até que foi engraçado). O único livro interessante publicado na época foi o do Luis Felip Alencastro, que, na verdade, era um herdeiro da safra anterior sobre escravidão. Os grandes livros sobre o Brasil, Caio Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Faoro, não tiveram nem mesmo pálidos reflexos. O grande best-seller era o Eduardo Bueno, um cara que, segundo ele mesmo, na vida passada era uma Araucária.
A impressão que se tinha era a seguinte: ainda se estava fazendo oposição ao discurso nacionalista dos militares, que, não sei se vocês notaram, andam meio sumidos. Certo, a idéia do Brasil do "tem tudo pra dar certo" era besteira, mesmo: a Amazônia não tem, ao que parece, petróleo, o Brasil já foi mesmo um grande campo de concentração de africanos, a elite portuguesa era aquela beleza que a gente conhece, os índios foram mesmo dizimados, etc.
Agora, o que faltou explicar era o que exatamente fez com que esta merda toda, no século XX fosse, até a década de oitenta (acho que é isso), o país que mais cresceu no mundo, e, sem dúvida nenhuma, o país sem guerra civil com mais características de país que tem guerra civil, uma das maiores democracias do mundo (Lula, se não me engano, foi o terceiro ser humano mais votado de todos os tempos). Não tem nada pro sujeito se orgulhar aí?
Certo, o Brasil começou como empresa escravista. Mas ainda é isso? Não houve no Brasil um dos mais vigorosos movimentos operários do mundo no final dos anos 70, culminando, inclusive, com a criação do último grande partido de esquerda do mundo? E isso não se deu por que houve, ao mesmo tempo, enorme industrialização capitalista e vigorosa democratização? E, por outro lado, não estariam ambos os fenômenos firmememente enraizados nas lutas das décadas anteriores, e mesmo do século XIX, que é quando efetivamente isso aqui vira um país?
Certo, no momento há uma crise política. O partido de esquerda se meteu pesado em corrupção. E o candidato alternativo parece a caravela do Rafael Greca. Mas será que essa crise não ocorre hoje por que antes de 2002 a esquerda se recusava em pensar a sério sobre um projeto de país, sobre a necessidade de se corrigir a economia que havia emperrado nos anos 80, sobre as grandes possibilidades de se promover a justiça social uma vez que ela mesma, esquerda, se livrasse da bagagem socialista (o que, miraculosamente, ela fez)?
Será que a desilusão de hoje não se deve ao infantilismo de ontem? Era mesmo para botar fogo em tudo, não havia nada que se desejasse preservar da obra de nossos antepassados?
O Brasil não tinha tudo para ser a Suécia. O Brasil tinha tudo para ser Ruanda. Que seja parecido o suficiente com a Suécia para sentir vergonha na comparação deve ser motivo de grande orgulho.
No que vai dar a crise, naturalmente, não sei. Agora, quem desanimar por causa, disso, porra, é por que era um merdinha mesmo, que, se não fosse por isso, desanimaria por outra babaquice qualquer.
Contra o Brasil
Resenha feita de cabeça e sem o livro do lado:
Li faz um tempo o "Contra o Brasil", romance do Diogo Mainardi. O romance é o seguinte: um vagabundo sem caráter chamado Pimenta Bueno se dedica a estudar todas as citações negativas sobre o Brasil encontrdas em viajantes, antropólogos, escritores, etc., dá uma espirocada e sai pelo Brasil fazendo sua pregação até ir morar com os Nambikwaras (estudados pelo Lévi-Strauss), que, segundo o personagem, são a tribo mais atrasada do mundo (tinha que ser no Brasil, pensa ele). Nesse meio tempo, mata uns mendigos, escraviza um negro, e sai fazendo todo tipo de sacanagem até virar chefe dos Nambikwaras, a quem reduz à mais sórdida miséria.
Nesse meio tempo, ele cita compulsivamente: antropólogos que reclamam dos peidos dos Nambikwaras, viajantes que chamam os índios de broxas, o Lévi-Strauss reclamando, os viajantes reclamando, e, para falar a verdade, umas cinquenta páginas livro adentro isso já ficou meio repetitivo.
Pela coletânea, e por um ou outro momento, o livro até que é interessante, mas, literariamente, é bobo. É um daqueles livros que o cara acha que teve uma grande sacada e escreve. Não é um livro que você sente que tem vida, com personagens expressivos (nem na sua comicidade), não é nem mesmo um manifesto político (o que já seria chato). Se um escritor de verdade pegasse o Pimenta Bueno, poderia usá-lo como personagem de uma trama de verdade com outros personagens, mas o coitado, em sua busca pelo grau zero da civilização, acabou como personagem no livro do Mainardi. Enfim, um livro bem adolescente, que veste mal num autor meio coroa.
Agora, para quem acha que o livro é só uma ofensa anti-patriótica, isso é besteira. Entre os satirizados está, naturalmente, o Pimenta Bueno. E, cá entre nós, um dos maiores sinais de que você está na província é um certo tipo de intelectual de erudição mediana que gosta de falar mal da própria terra, no tempo livre em que a falta de competição internacional lhes permite ter tédio, um luxo a que nem seus empregados na província, nem os grandes capitalistas das metrópoles cosmopolitas, podem se dar. Por retratar bem o tipo, demos algum crédito ao garoto.
Li faz um tempo o "Contra o Brasil", romance do Diogo Mainardi. O romance é o seguinte: um vagabundo sem caráter chamado Pimenta Bueno se dedica a estudar todas as citações negativas sobre o Brasil encontrdas em viajantes, antropólogos, escritores, etc., dá uma espirocada e sai pelo Brasil fazendo sua pregação até ir morar com os Nambikwaras (estudados pelo Lévi-Strauss), que, segundo o personagem, são a tribo mais atrasada do mundo (tinha que ser no Brasil, pensa ele). Nesse meio tempo, mata uns mendigos, escraviza um negro, e sai fazendo todo tipo de sacanagem até virar chefe dos Nambikwaras, a quem reduz à mais sórdida miséria.
Nesse meio tempo, ele cita compulsivamente: antropólogos que reclamam dos peidos dos Nambikwaras, viajantes que chamam os índios de broxas, o Lévi-Strauss reclamando, os viajantes reclamando, e, para falar a verdade, umas cinquenta páginas livro adentro isso já ficou meio repetitivo.
Pela coletânea, e por um ou outro momento, o livro até que é interessante, mas, literariamente, é bobo. É um daqueles livros que o cara acha que teve uma grande sacada e escreve. Não é um livro que você sente que tem vida, com personagens expressivos (nem na sua comicidade), não é nem mesmo um manifesto político (o que já seria chato). Se um escritor de verdade pegasse o Pimenta Bueno, poderia usá-lo como personagem de uma trama de verdade com outros personagens, mas o coitado, em sua busca pelo grau zero da civilização, acabou como personagem no livro do Mainardi. Enfim, um livro bem adolescente, que veste mal num autor meio coroa.
Agora, para quem acha que o livro é só uma ofensa anti-patriótica, isso é besteira. Entre os satirizados está, naturalmente, o Pimenta Bueno. E, cá entre nós, um dos maiores sinais de que você está na província é um certo tipo de intelectual de erudição mediana que gosta de falar mal da própria terra, no tempo livre em que a falta de competição internacional lhes permite ter tédio, um luxo a que nem seus empregados na província, nem os grandes capitalistas das metrópoles cosmopolitas, podem se dar. Por retratar bem o tipo, demos algum crédito ao garoto.
Semana da Pátria
Para comemorar a semana da pátria, dois posts: um comentário sobre o livro do Mainardi, uma crítica atrasada à comemoração dos 500 anos.
PS: esse post era para ter entrado no ar ontem, mas eu fiz uma merda aqui errada. Foi mal.
PS: esse post era para ter entrado no ar ontem, mas eu fiz uma merda aqui errada. Foi mal.
Tuesday, September 05, 2006
Bornhausen
Na entrevista da Folha na segunda, Bornhausen declara que PSDB e PFL não devem continuar juntos depois da eleição. É interessante especular sobre o que exatamente vai acontecer com o quadro partidário brasileiro.
Há um ensaio de aproximação Aécio-Lula, com a entrada de Aécio no PMDB. Aparentemente, isso produziria um candidato imbatível em 2010 (e Serra não daria nem pro começo).
Agora, se o PFL se mantiver forte (o que não é certo) e resolver se lançar sozinho, o quadro pode embolar. Há espaço para uma candidatura de direita no Brasil. Infelizmente, não está muito claro que o PFL tenha aprendido a civilizar o discurso na oposição, como o PT teve que fazer na marra.
Suspeito que ou o PSDB ou o PFL entrem em crise nos próximos anos.
Há um ensaio de aproximação Aécio-Lula, com a entrada de Aécio no PMDB. Aparentemente, isso produziria um candidato imbatível em 2010 (e Serra não daria nem pro começo).
Agora, se o PFL se mantiver forte (o que não é certo) e resolver se lançar sozinho, o quadro pode embolar. Há espaço para uma candidatura de direita no Brasil. Infelizmente, não está muito claro que o PFL tenha aprendido a civilizar o discurso na oposição, como o PT teve que fazer na marra.
Suspeito que ou o PSDB ou o PFL entrem em crise nos próximos anos.
Democratya
Saiu o novo número da Democratya, a revista eletrônica de um dos caras do Euston Manifesto. É bem interessante. Inclui um link para um site com testemunhos das vítimas de tortura do Saddam.
Monday, September 04, 2006
Suplicy
O segundo apoio oficial do blog vai para o senador Eduardo Suplicy, que é um sujeito único na política brasileira. Até agora não foi envolvido em nenhuma sacanagem, investigou várias, e defende obssessivamente uma das poucas propostas políticas boas da esquerda mundial contemporânea: a renda mínima. De fato, é um dos grandes defensores da proposta em nível mundial, sendo um dos mais ativos participantes da BIEN (Basic Income Earth Network).
Estou tentando arrumar um banner da campanha do Suplicy para colocar aqui, assim que conseguir eu coloco.
Em tempo: entre 1990 e 1994, os três senadores de SP eram Suplicy, Covas e FHC. Ou seja, quadros até que temos.
Sunday, September 03, 2006
Beslan
Hoje faz dois anos do massacre de Beslan, quando uma multidão de crianças foi assassinada por um bando de filhos da puta. Como o Holocausto, Beslan é um daqueles fatos históricos que têm implicações teológicas: se não houver um céu para essas crianças, foda-se se existe Deus.
E foi, que eu saiba, o primeiro atentado que escolheu seus alvos por eles serem crianças. Tudo que é filho da puta já matou criança como colateral, mas eu nunca ouvi falar de outro incidente em que os caras perguntaram "Onde é que tem bastante criança?" e foram lá. Note-se que durante o cativeiro as crianças não receberam sequer água.
Isso não foi um choque de civilizações, não foi parte do conflito étnico entre russos e chechenos, foi apenas uma emergência do mal radical no cenário histórico.
Blog do Renato
O Blog do glorioso Renato Gimenes publicou um excelente texto sobre os custos de publicação no Brasil. Vale a pena ler, mesmo.
Políticos do Brasil
O Fernando Rodrigues é realmente um cara acima da média dos jornalistas brasileiros. O cara agora blbou um site, Políticos do Brasil, que dá o perfil de todo mundo que foi eleito nos últimos tempos e a evolução do patrimônio dos caras. Bem legal.
Uma coisa interessante foi a briga que deve ter rolado no UOL quando saiu o site. Inicialmente, a manchete era "Políticos do PT tiveram maior evolução patrimonial", mas algumas horas depois mudou para "Políticos do PSDB e PFL têm maiores patromônios". As duas coisas devem ser verdade: os caras do PT eram mais pobres, de maneira que qualquer grana que tenham levado deve ter aumentado muito seu patrimônio, ao passo que os da oposição já estão aí há mais tempo. Mas o efeito político de cada uma das machetes é bem diferente.
Uma coisa interessante foi a briga que deve ter rolado no UOL quando saiu o site. Inicialmente, a manchete era "Políticos do PT tiveram maior evolução patrimonial", mas algumas horas depois mudou para "Políticos do PSDB e PFL têm maiores patromônios". As duas coisas devem ser verdade: os caras do PT eram mais pobres, de maneira que qualquer grana que tenham levado deve ter aumentado muito seu patrimônio, ao passo que os da oposição já estão aí há mais tempo. Mas o efeito político de cada uma das machetes é bem diferente.
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