Friday, September 08, 2006

Contra o Brasil

Resenha feita de cabeça e sem o livro do lado:

Li faz um tempo o "Contra o Brasil", romance do Diogo Mainardi. O romance é o seguinte: um vagabundo sem caráter chamado Pimenta Bueno se dedica a estudar todas as citações negativas sobre o Brasil encontrdas em viajantes, antropólogos, escritores, etc., dá uma espirocada e sai pelo Brasil fazendo sua pregação até ir morar com os Nambikwaras (estudados pelo Lévi-Strauss), que, segundo o personagem, são a tribo mais atrasada do mundo (tinha que ser no Brasil, pensa ele). Nesse meio tempo, mata uns mendigos, escraviza um negro, e sai fazendo todo tipo de sacanagem até virar chefe dos Nambikwaras, a quem reduz à mais sórdida miséria.

Nesse meio tempo, ele cita compulsivamente: antropólogos que reclamam dos peidos dos Nambikwaras, viajantes que chamam os índios de broxas, o Lévi-Strauss reclamando, os viajantes reclamando, e, para falar a verdade, umas cinquenta páginas livro adentro isso já ficou meio repetitivo.

Pela coletânea, e por um ou outro momento, o livro até que é interessante, mas, literariamente, é bobo. É um daqueles livros que o cara acha que teve uma grande sacada e escreve. Não é um livro que você sente que tem vida, com personagens expressivos (nem na sua comicidade), não é nem mesmo um manifesto político (o que já seria chato). Se um escritor de verdade pegasse o Pimenta Bueno, poderia usá-lo como personagem de uma trama de verdade com outros personagens, mas o coitado, em sua busca pelo grau zero da civilização, acabou como personagem no livro do Mainardi. Enfim, um livro bem adolescente, que veste mal num autor meio coroa.

Agora, para quem acha que o livro é só uma ofensa anti-patriótica, isso é besteira. Entre os satirizados está, naturalmente, o Pimenta Bueno. E, cá entre nós, um dos maiores sinais de que você está na província é um certo tipo de intelectual de erudição mediana que gosta de falar mal da própria terra, no tempo livre em que a falta de competição internacional lhes permite ter tédio, um luxo a que nem seus empregados na província, nem os grandes capitalistas das metrópoles cosmopolitas, podem se dar. Por retratar bem o tipo, demos algum crédito ao garoto.

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