Tuesday, September 26, 2006

Eleição (II)

Defendo a tese de que votar é fazer política, no sentido estrito: fazer uma aliança com os caras que votam no mesmo candidato, sabendo que o candidato vai refletir um compromisso entre o que os diferentes eleitores do candidato querem. Votar apenas em candidato perfeito é se recusar a fazer aliança, a fazer política, a viver em grupo. O voto nulo, em alguns casos, é uma opção válida, mas isso é muito raro. Em geral é narcisismo punheteiro.

Entre os dois candidatos competitivos, vejo as seguintes alianças possíveis:

Se eu votar no Lula, faço aliança com a massa de excluídos atendidos pelos programas sociais do governo e que se identificam pela primeira vez com uma figura política que vêem como igual, algo cuja importância é difícil superestimar, algo realmente histórico, cujos efeitos ainda não compreendemos. Também me alio aos que, dentro do PT, defenderam a ortodoxia monetária, que talvez sejam o grupo com o qual mais me identifico. Mas também me alio aos remanescentes do grupo de José Dirceu em SP, à aparelhadores dos movimento sindical e estudantil, a retardados que esperam que no segundo governo "ele finalmente vai ser de esquerda", a gente que apóia Fidel Castro e Chávez, e, cá entre nós, a história do Celso Daniel é esquisita. E, naturalmente, me aliaria a deputados corruptos e seus amigos. Um gesto de Lula se distanciando de Chávez decidiria meu voto.

Se eu votar no Alckmin, me alio a setores éticos e esclarecidos da classe média e da elite cultural, que são, enfim, os melhores de onde eu venho. Gosto que Alckmin seja do grupo de Covas, o PSDB que me interessa, que "coloca o pé no barro", com quem me aliaria fácil. Me aliaria também a gente que tem interesse em continuar o trabalho do Palocci (que continuou o do Armínio Fraga), por exemplo, com o "choque de gestão" no setor público. Mas também me alio ao Serrismo da turma da Primeira Leitura, da privatização do Mendonção, à turma que segurou o câmbio até a eleição de 98, a uma intelectualidade médiazinha que só sobrevive porque ninguém consegue ler os livros dos autores estrangeiros, a gente que manifesta os preconceitos mais inacreditáveis contra o Lula, ao ACM (e não é que o Bolsonaro está no PFL?). Enfim, faria aliança com o que a classe média brasileira tem de melhor e de pior. E, naturalmente aos deputados corruptos que mudariam de lado imediatamente, e a seus amigos.

Não está fácil, não.

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