Sunday, September 10, 2006

Augusto Frederico Schmidt

Oração

Que não se cale nunca a voz que veio
Sempre comigo.
A voz que foi minha vida,
Na minha vida sempre triste e incerta,
O consolo, o conforto, o único bálsamo.

Que não se cale a voz que na amargura
Não me faltou jamais.
A voz que foi meu eterno abrigo
Nas horas em que o tédio,
Companheiro fatal dos deserdados,
Diminuía o meu ser fraco e perdido.

Que não se cale a voz que de mim veio.
Mas que minha não é, sendo nobre e sentida.
Voz do meu coração que me escorre da pena
Voz que embala o meu sono agitado e medroso.
Voz que de sonhos enche este escuro deserto,
Onde me encontro.

Voz que me faz olhar em transportes estranhos
Outras terras além, outras paisagens, outras
Belezas, que meus horizontes curtos
Tentam baldadamente me esconder.
Que não se cale a voz que é meu pão e minha água
Eco dos meus soluços ignorados
Pérola essencial do meu ser pobre e feio.

Que não se cale a voz que me livra do exílio,
Que dá forma a meu pranto
E desoprime o peito meu de saudades eternas
E de dores eternas sem remédio.

Voz que diz dos amores meus defuntos,
Dos amores que eu quis e a vida não me deu.
Voz com que posso chorar a mocidade morta
A minha mocidade inútil e sem rumo.

Que não se cale a voz que sou eu, melhorado,
A voz que Deus me deu!

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