Eu não sou exatamente um fã do Ratzinger, muito embora reconheça que se trata de um dos maiores intelectuais do mundo (sem sacanagem, leiam "Introdução ao Cristianismo"). Eu acho que, como todo o respeito que o cargo de Papa inspira, ele merecia um chute no saco por perder tempo reclamando de gay que quer casar enquanto o mundo tem problemas sérios. Se fosse para votar para Papa, eu votaria em outro cara (mas continuaria lendo os livros do Ratzinger).
Agora, nesse episódio do Islã, eu achei a reação aos comentários dele um absurdo. Como o Papa é também um estadista, ele pediu desculpas, e fez bem, do ponto de vista político. Agora, vem cá, ninguém tem direito de questionar a relação do Islã (ou do Cristianismo, do Budismo, do Judaísmo, do Satanismo, ou dos adoradores de Ed) com o pensamento racional? Bom, eu tenho, e se terrorista quiser me encher o saco, saiba que jihad de cú é rola.
Voltemos ao Ratzinger. O cara é chefe de uma religião. Em geral, as pessoas só tem uma religião, de maneira que podemos dizer, simplificadamente, que o Islã e o Cristianismo são concorrentes. Como tais, ambos têm o direito de se criticar mutuamente, para que cada indivíduo decida que religião deve ter segundo sua consciência. Como diria o São Tomás de Aquino, é melhor ser excomungado do que ir contra a consciência (esse sim era foda). Aposto dez pra um que todo dia os mulás criticam o que vêem como falhas do cristianismo, e isso também tá beleza. Agora, se um quiser impor a religião sobre o outro, o Estado deve, civilizadamente, meter todo mundo na cana dividindo cela com o singelo traficante Pé-de-mesa.
E, cá entre nós, algumas das reações à acusação de intolerância do Ratzinger parecem o clássico momento da briga em que o cara grita "Eu não tô nervoso! Eu não tô nervoso! Nervoso vai ficar esse filho da puta quando eu mataaaaaaaaaaa..."
O Islã foi o guardião da grande tradição racional do mediterrâneo clássico (se eu tiver que pertencer a uma tradição, vai ser essa) enquanto a Europa era governada por estadistas do porte de Luís II, o gago. O maior ato de amizade que se pode ter com o Islã é dar um tapa na cara do sujeito pra ver se ele sai do porre em que o fundamentalismo o jogou, e assume seu lugar como descendente do patriarca Aristóteles.
Sunday, September 17, 2006
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