Briga de cachorro grande na blogosfera econômica: o
Dan Rodrik (link aí do lado em breve), professor de economia em Harvard, escreveu um artigo em defesa dos países fazerem política industrial. O
Alex Tabarrok, que, junto com o Tyler Cowen, escreve o excelente blog Marginal Revolution (link já aí do lado) desceu a lenha, e o debate foi parar no
Free Exchange, blog da The Economist (que concorda com o Tabarrok). O debate teve, inclusive, impacto na blogosfera brasileira, com o
Hermenauta e o
FYI "torcendo", respectivamente, pelo Rodrik e pelo Tabarrok. Se eu entendi, trata-se do seguinte:
Disse o Rodrik: os economistas aceitam a intervenção estatal em áreas como saúde e educação, mas não na indústria. No caso das políticas sociais, os argumentos a favor se baseiam na teoria das falhas de mercado, as externalidades positivas da educação, etc. Embora esses argumentos sejam intelectualmente muito plausíveis, e sejam indiretamente relacionados a pressupostos mais ou menos aceitos, ainda não existe um corpo de evidências empíricas muito sólido que os apóie. Mesmo assim, os economistas em geral continuam aceintando a intervenção com base neles.
Ora, a situação no caso da política industrial é exatamente a mesma: há argumentos baseados nessas mesmas teorias, igualmente plausíveis, mas sem grande sustentação em estudos empíricos. Não há motivo, portanto, para a gente não discutir, pelo menos, a conveniência de se fazer política industrial. Para apoiar seu argumento, o Rodrik lista alguns exemplos de políticas industriais que deram certo.
O Tabarrok caracterizou esse argumento como "o pior de todos os tempos", e reescreveu-o assim:
1 - Nós aceitamos umas coisas aí mesmo sem evidência empírica.
2 - Não temos evidência empírica a favor da conveniência de se fazer política industrial.
3 - Devemos, pois, aceitar a conveniência de se fazer política industrial.
Foi essa versão que o blog da The Economist aceitou. Mas, se vocês prestarem atenção no argumento do Rodrik, ele não é esse aí, não (que seria mesmo uma droga). A base do argumento é a tal das teorias da falha de mercado, que, pelo que eu sei, é amplamente aceita (o que não quer dizer que sua aplicação nesse caso o seja). Nos comentários do Marginal Revolution, o vosso mané aqui tinha que dar um pitaco, e reformulou o argumento assim:
"1 - Economists support state intervention in some areas where there is no rock-solid empirical evidence for it, ONLY PLAUSIBLE THEORETICAL CONSIDERATIONS LOGICALLY DERIVED FROM USUALLY ACCEPTED PRINCIPLES, OF WHICH WE HAVE ONLY INDIRECT EMPIRICAL EVIDENCE (the whole market failures discussion).
2 - Some of these theoretical considerations should apply to industrial policy.
3 - We therefore should be open to discuss the convenience of industrial policy."
Daí em diante o negócio pode ser verdadeiro ou falso, mas não é trivialmente errado, como sugeriram o Tabarrok e o Free Exchange.
Acrescento mais dois pontos:
1) Acho que aceitamos o argumento no caso da política social porque consideramos a perspectiva das crianças ficarem fora da escola tão horroroso que não queremos correr o risco das falhas de mercado ocorrerem. Somos mais céticos no caso da política industrial porque não consideramos um crescimento econômico sub-ótimo tão terrível assim para correr os riscos associados à intervenção do Estado (corrupção, ineficiência, etc.). Mas, como me chamaram a atenção lá nos comentários, isso é só especulação.
2) Não sei como se poderia fazer um teste econométrico da conveniência de se fazer política industrial, acho a variável "política industrial" ampla demais: involve subsídios, barreiras alfandegárias, políticas de inovação e incentivo, enfim, um monte de coisas diferentes. Mas, enfim, não é porque eu não sei fazer que é impossível.