Friday, June 08, 2007

Comentário à resposta do PT

Em resposta à moção de apoio do PT: ela é insatisfatória.

Uma coisa é o Itamaraty querer botar panos quentes na história. Isso está certo. Diplomacia é assim, e, a menos que queiramos comprar uma briga de longo prazo com o Chávez ( e pra que iríamos querer fazer isso?), vale a pena tolerá-lo enquanto ele não sair de certos limites. Até porque, há alguma razão na idéia de que tornar Chávez um pária encorajaria a turma mais radical do seu regime a fechar a situação ainda mais.

Outra coisa completamente diferente é o PT dar opinião favorável sobre a política de Chávez. Depois disso, que não se reclame de quem disser que há identidade programática. O fechamento da RCTV foi feito dentro da lei, mas é indiscutivelmente um passo na direção do autoritarismo.

Se Chávez (ex-golpista) quisesse fechar quem apoiou o golpe, que organizasse algo como uma comissão de verdade e reconciliação, como ocorreu em outros países recém-saídos de ditaduras, e decidisse os fechamentos conforme critérios objetivos e discutidos, inclusive, com opositores do regime. Não fechou porque sabia que seu passado de ex-golpista tirava sua legitimidade (principalmente a internacional) para tanto, e porque soube fazer o que era mais razoável para evitar uma crise política ainda maior na época (e parabéns a ele por tê-lo feito).

Desde então, a oposição venezuelana continuou a se comportar de maneira epilética, inclusive boicotando uma eleição congressual, o que, na prática, aboliu o poder legislativo na Venezuela. Chávez aproveitou a deixa, e vem, aos poucos, consolidando formas de poder autoritárias e retrógradas. O fechamento da RCTV já causaria preocupação em qualquer país, em qualquer contexto; em meio a uma tendência ao autoritarismo, é crítico.

O papel da esquerda democrática latino-americana não é puxar o saco de Chávez até a insanidade, mas sim criticar os pontos em que sua política se desviam da tradição da esquerda livre. Isso encorajaria os esquerdistas, dentro e fora do regime, que se opõem à deriva para o autoritarismo, e aumentaria a convicção, à esquerda e à direita, de que o compromisso com a democracia latino-americana é verdadeiro.

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