Thursday, June 28, 2007

Mahmoud Darwish

Para quem leu a reportagem da The Economist e ficou impressionado com o poema que dá o eixo do artigo, de autoria do poeta palestino Mahmoud Darwish, segue uma tradução, feita a partir do inglês; como é óbvio, o tema é a guerra civil entre Hamas e Fatah.

Tínhamos que cair de tal altura tremenda para ver o sangue em nossas mãos
para compreender que não somos anjos
como pensávamos?

Tínhamos também que expor nossas falhas ao mundo para que nossa verdade não permanecesse virgem?

Como mentimos quando dissemos: somos a exceção!

Pior do que mentir para o outro é acreditar ao fazê-lo.

Ser amigável com quem nos odeia e duro com quem nos ama – essa é a baixeza do arrogante e a arrogância dos baixos!

Ó passado: não nos mude quando nos afastarmos de você!

Ó futuro: não nos pergunte “quem é você?”, “e o que quer de mim?”, Porque nós tampouco sabemos.

Ó presente! Nos tolere brevemente, pois não somos nada além de passantes insuportáveis.

A identidade é: o que legamos e não o que herdamos. Somos o que inventamos e não o que lembramos. A identidade é a corrupção do espelho que devemos quebrar, sempre que gostemos da imagem.

Ele se mascarou, tomou de sua coragem e matou sua mãe
porque ela era a presa mais fácil
e porque uma soldado feminina o parou, e expôs seus seios para ele dizendo:
sua mãe tem como esses?

Não fosse pela vergonha e pela escuridão, eu teria visitado Gaza sem saber o caminho para a casa do novo Abu Sufian ou o nome do novo profeta!

Se Maomé não tivesse sido o último dos profetas, toda gangue teria um profeta e todo apóstolo uma milícia!

Junho nos estarreceu em seu quadragésimo aniversário: se não acharmos alguém para nos derrotar de novo, nos derrotaremos com nossas próprias mãos, para não esquecer!

Não importa o quanto olhes dentro de meus olhos, não acharás meu olhar lá. Ele foi seqüestrado por um escândalo!

Meu coração não é meu e não é para ninguém. Se tornou independente de mim sem virar pedra.

Será que aquele que canta, sobre o corpo de sua vítima-irmão: “Allahu Akbar” sabe que é um infiel, uma vez que vê Deus à sua imagem: menor que qualquer ser humano criado perfeito.

O prisioneiro que procura herdar a prisão escondeu o sorriso da câmera, mas não conseguiu ocultar a felicidade que cascateava de seus olhos.

Talvez porque o roteiro em ritmo alucinado fosse mais forte que o ator.

Para que precisamos de Narciso, enquanto formos Palestinos?

Enquanto não soubermos a diferença entre a mesquita e a universidade porque são derivados da mesma raiz lingüística, que necessidade temos de um Estado, que já encara o mesmo destino do dia?

Uma grande placa na porta da boate: boas vindas aos palestinos voltando da batalha. A entrada é grátis! E nosso vinho não intoxica!

Não posso defender meu direito ao trabalho: um engraxate na calçada. Porque meus fregueses têm o direito de me considerar um ladrão de sapatos – me disse um professor universitário!

“O estranho e eu estamos contra meu primo. Meu primo e eu contra meu irmão...e meu sheik e eu contra mim mesmo”. Essa é a primeira lição na nova educação nacional dos calabouços da escuridão.

Quem entrará no paraíso primeiro? O que morreu pelas balas do inimigo ou o que morreu pelas balas do irmão?

Alguns teólogos dizem: a quantos de seus inimigos sua mãe deu a luz!

Os fundamentalistas não me exasperam porque são crentes de seu jeito especial. Mas seus apoiadores seculares me exasperam, e seus apoiadores ateus, também, os que apenas acreditam em uma religião: suas imagens na TV!

Ele me perguntou: um guarda faminto defenderá uma casa cujo dono viajou para a Riviera Francesa ou Italiana para o verão...não há diferença?

Eu digo: não defenderá!

Ele me perguntou: 1+1=2 ?

Eu disse: eu e você somos menos que um!

Não estou envergonhado de minha identidade porque ela ainda está no processo de ser escrita. Mas estou envergonhado de partes do prolegômeno de Ibn Khaldoun.

Você, de agora em diante, não é você mesmo!

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