Inspirados por esse post do Seqüências Parisienses, aqui vai uma discussão sobre globalização e desigualdade.
Há várias maneiras de discutir a desigualdade global. Pelo menos três: 1) a desigualdade entre as nações (desigualdade de PIBs per capita, etc.), 2) a desigualdade entre indivíduos entre as nações (diferença entre ricos e pobres em cada país isolado), e 3) a desigualdade entre todos os indivíduos do mundo (a diferença entre os ricos e os pobres independente do país em que estejam, consideradas globalmente, o Gini do mundo).
Pelos dois primeiros critérios, a desigualdade sem dúvida cresceu durante o período da globalização. Os EUA progrediram imensamente, a África sub-saariana regrediu. Em grande parte dos países, os ricos ficaram mais ricos, mas os salários subiram muito pouco (ver matéria da The Economist linkada pelo Seqüências). Em países como a Inglaterra, a desigualdade subiu porque os mais ricos se descolaram da classe média (que não caiu, mas viu a turma da frente disparar), no que o Atkinsons chamou de “tilt” no topo da distribuição de renda.
Entretanto, no que se refere ao terceiro critério, o quadro pode ser diferente. Uma vez que uma parcela enorme dos pobres do mundo são chineses ou indianos, o progresso econômico desses dois países (independente do crescimento da desigualdade dentro de cada um) levou a um dramático aumento da renda de um número imenso de muito pobres (vejam o gráfico 2 nessa matéria). Daí que pesquisadores como o levemente perturbado (veja o site do cara) Xavier Sala-i-Martin argumentarem que a desigualdade mundial, entendida como coeficiente de Gini do mundo, caiu. A pesquisa do sociólogo americano deu resultados semelhantes.
O resultado é contestado pelo Branko Milanovic, ex-Banco Mundial e atualmente no Carnegie Endowment for International Peace. Milanovic argumenta que a desigualdade deve ser medida no consumo, não na renda, o que dá uma medida de desigualdade parecida com a do Sala-i-Martin, mas sugere que a desigualdade cresceu um pouco. De qualquer maneira, uma das dificuldades do debate é que, tenha a desigualdade caído ou subido, foi pouco, o que 1) faz com que o uso de diferentes bancos de dados ou medidas influa na conclusão, e 2) mostra que não é tão óbvio que a globalização cause um enorme crescimento da desigualdade.
Claro, nada indica que essa redução de desigualdade global aconteça por tempo indeterminado. Ela pode prosseguir, por exemplo, se os países africanos, Bangladesh, etc., passarem a crescer mais rápido. Mas nada garante que isso vai acontecer.
De qualquer forma, a questão da desigualdade global é bem mais complicada do que se pensa. Temos que pensar nos operários que perdem o emprego devido à concorrência chinesa, mas sem esquecer a massa de operários chineses que seriam somalis se não pudessem oferecer essa concorrência.
Wednesday, June 27, 2007
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2 comments:
A ironia é qque o post do Alencastro fala de "sistema truculento de exploração de mão-de-obra semi-servil" na China e não na África. Aliás, a foto que ilustra o post mostrar trabalhadores cativados numa olaria chinesa.
No Laos temos um ditado "Se fudeu fariseu, antes tu do que eu". Embora não seja exatamente insensível ao mundo, se o meu terreiro crescer às custas da crendice alheia, não tenho nada contra.
Alguém já disse que todas as nações desenvolvidas (ah, foi o Moebius, digo Monbiot, li ontem) creceram via protecionismo ou saque. Oras, façamos-no também então.
Quem for bobo que abra seus mercados para o Grande Pênis do Grande Líder. E tenho dito.
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