Monday, June 18, 2007

Jon Elster

A Folha publicou uma entrevista com o Jon Elster, um dos meus autores favoritos. O Elster é um dos idealizadores do Marxismo Analítico, que tenta dar uma organizada lógica nos negócios do Marx, e aceita abandonar o que não funcionar (acabou que abandonou quase tudo). Também era conhecido como "Non-Bullshit Marxism", o que, em si, já bastou para atrair minha curiosidade.

Pessoalmente, hoje em dia acho que não se deve discutir se o marxismo (ou o weberianismo, ou o estruturalismo) é bom ou não. Se um sujeito escrever um livro marxista bom, o livro é bom. Se escrever um livro marxista e for ruim, o livro é ruim. De onde ele tirou a idéia para escrever o livro não me interessa muito. Lévi-Strauss é estruturalista e é bom. Eslter é individualista metodológico e é bom. Habermas é aquele negócio meio esquisito que ele é, e também é bom.

Vale dizer, o Elster hoje em dia estuda duas coisas: instituições democráticas e coisas que acontecem dentro da sua cabeça mas não são racionais (vício, emoções). Veio para o Brasil para falar do primeiro tema, e deu uma entrevista para a Folha.

Dois momentos legais:

Falando da Democracia Direta:

"Oscar Wilde disse que o problema do socialismo é que a semana só tem sete noites. Do mesmo modo, a democracia participativa às vezes parece exigir mais compromisso e mais recursos do que é razoável esperar das pessoas."

Falando do Habermas:

"Isso é o que chamo no meu trabalho de "a força civilizadora da hipocrisia". Então tento usar as idéias de Habermas para explicar o comportamento de pessoas de verdade que são constrangidas pelo meio público. Mesmo se as pessoas estão motivadas apenas pelos seus interesses individuais, as regras e mecanismos do debate público vão forçá-las a justificar suas posições em termos de interesse público. Isso limita o interesse particular, em alguma medida"

A "força civilizadora da hipocrisia" é uma das melhores expressões que eu conheço. E assim CPIs formadas só por corruptos cassam outros corruptos, e a corrupção acaba que cai um pouco. E racistas mentem que não são racistas, mas, de tanto mentir na frente dos filhos, os filhos não saem racistas (ou saem menos racistas). E o capitalismo sugere a mentira deslavada de que a fábrica moderna se baseia no respeito aos direitos individuais, mas, de tanto falar esse troço, os operários (e as mulheres, e os gays) acreditam e querem fazer valer seus direitos individuais, e nessa a civilização progride.

2 comments:

Anonymous said...

"A força civilizadora da hipocrisia", acho que não é coisa nova, mas ele entrou em pormenores muito interessantes.

Na Prática said...

Grande rabo de cobra! Não sei se foi ele quem inventou, eu ouvi primeiro nele, se não estou lembrando errado, em um texto sobre o autor dissidente soviético Alexsandr Zinoviev, publicado no livro Political Psychology.