Tuesday, June 26, 2007

Monbiot e o Parlamento Mundial

O George Monbiot, é, dos que eu conheço, o mais honesto da turma que ficou famosa (algo equivocadamente) como "anti-globalização". Não concordo com muitas coisas que ele diz, mas ele é honesto o suficiente para ser um interlocutor bacana (não que ele queira falar comigo, bem entendido). Vejam, por exemplo seu artigo "I Was Wrong About Trade".



Nesse artigo, ele discute um negócio interessante: uns parlamentares do mundo todo resolveram fazer um parlamento do mundo, com apoio de alguns intelectuais. Monbiot apóia. Afinal, ele sempre disse que queria uma globalização mais democrática.



Vou discutir mais isso quando tiver grana para comprar o livro do Monbiot, mas fica aqui uma pergunta: os países autoritários e fundamentalistas podem indicar membros? Você gostaria de viver em um mundo governado por uma maioria de ex-comunistas corruptos da China e fundamentalistas islâmicos? Eu sei que eu não. Mas: mesmo se todos os países fossem democráticos, valeria a pena algo assim? Isso eu ainda não sei. Muitos prós e contras. Pensemos.



Agora, quanto tempo faz que alguém oferecia um problema difícil para a gente pensar, difícil do jeito certo - instigante, que se resolvido seria um progresso imenso, não meramente defensivo diante dos problemas da vida? Parabéns ao Monbiot.

9 comments:

Anonymous said...

Agora os problemas.

Um parlamentar mundial... hmmm e o executivo, teria o quê? Um rei do mundo, um presidente do mundo? Pensa bem, parlamentar mundial é a representação da representação. Não vejo como isso seria realmente democrático desde o início.

Os deputados da UE (por acaso, bem menor que o mundo), são eleitos por sufrágio universal por cada um dos países membros. E só funciona mais ou menos, mesmo porque os caras não têm nem uma constitutição pronta.

E no nosso federalismo, por exemplo, um acreano vale 12 paulistas. Nunca resolvemos isso, o voto distrital, nada. Se no Brasil isso nunca foi resolvido, que dirá numa megafederação mundial. Vai ter país valendo mais, menos?

Outra coisa, sustentar mais políticos? Fico com a velha diplomacia entre nações, parece-me bem mais racional. Aliás, pare para pensar na dificuldade de firmar acordos diplomáticos, não consigo imaginar nossos Severinos, Dirceus e Renans resolvendo isso...

Você pode dizer que estou sendo "meramente defensivo diante dos problemas da vida", mas boto meus dois pés atrás quando intelectuais ficam arquitetando como o mundo inteiro deve ser governado.

QVINTVS FABIVS PICTOR said...

Acho que um "parlamento mundial" só deveria funcionar enquanto orgão regulador da convivência entre os países. Aliás, o nome desse troço na última vez que eu chequei era ONU. Não lhe parece que as funções da ONU e de um pretenso parlamento mundial são extremamente overlapping? A não ser que você pense em um parlamento mundial proper, plenipotenciário, e aí soy contra. Acho que não estamos prontos. Talvez se o mundo for mais uniforme (ou conviver melhor com o pluralismo) no futuro se possa pensar melhor nisso.

Na Prática said...

Grandes Pictor, RDC: claro, vocês têm razão, não estamos prontos, a noção cultural de comunidade humana deve emergir e se consolidar antes de qualquer organização política global.

Agora, o problema não vai embora: a ONU não é representativa da população, San Marino tem o mesmo número de votos que a Índia na Assembléia Geral, que, por sua vez, sempre pode ser travada pelo Conselho de Segurança, onde todo mundo tem poder de veto. A legitimidade do sistema é muito fraca. OS EUA vão à guerra sem autorização da ONU na maior. Por outro lado, um dos motivos pelos quais não houve autorização é porque os franceses tinham acordos de exploração de petróleo com o Saddam. A ONU só tem autoridade moral: se as negociações dentro dela forem só esse tipo de sacanagem, não vai sobrar muita autoridade moral.

E como a ONU poderia ter autoridade moral sem representação democrática? Eu não sei, não.

Anonymous said...

Pensando um pouco com Hardt e Negri: já existe um poder mundial, mas que não se completa e que possibilita, no fim, a hegemonia de um "clube de países" cuja lógica econômica é ortodoxa e liberalizante, em linhas gerais. Lembro aqui que o Toni Negri, em entrevista ao Estado, há uns dois anos, chamou a atenção para duas coisas:

1) que a ida dos EUA ao Iraque sem a aprovação da ONU constituía uma "usurpação" no clube de países governantes. Em um parlamento mundial hipotético, possibilidades de usurpação como essas dos EUA são não só prováveis, como possíveis. O que nos leva a

2) Como pensar em "parlamento mundial" se as questões nacionais de muitos estados sequer foram resolvidas (vide Palestina)? No próprio post acima, vc alude ao problema da desigualdade e da globalização. Poder mundial com levas e levas de Estados com questões nacionais mal-resolvidas, ou povos inteiros caminhando para a sub-humanidade...

3)Quantidade-qualidade: Antes do parlamento mundial, é preciso, na pior das hipóteses, uma quantidade de estados qualitativamente democráticos, i.e., instituições sólidas, pouca corrupção, bons mecanismos fiscais, populações que estejam preocupadas apenas em somente sobreviver. Precisaríamos de uma enorme internacionalização do Estado de Bem Estar, de forma a se pensar como uma democracia mundial funcionaria.

Na Prática said...

Grande Renato! Aguarde para breve um post sobre Negri e Hardt.

Anonymous said...

"Agora, o problema não vai embora: a ONU não é representativa da população..."

É o problema não vai embora, mas não vamos colocar um pior no lugar.

Agora, sobre a ONU, devemos considerar que seu sistema de organização, como você disse, de fraca legitimidade, é bem mais realista do que, por exemplo, uma Liga das Nações ou de um parlamento mundial, como o proposto por porra-doidas do Fórum Social Mundial.

O veto de meia dúzia no CS é realista. Imagina se a maioria de supostos parlamentares decidam que os EUA (ou a China, ou a Rússia, etc) devem dar metade de seu PIB para os países pobres... No dia seguinte o tal parlamento e a estabilidade internacional vai pras cucuias. O sistema da ONU pode não ser perfeitamente representativo, mas é o que de mais funcional surgiu numa organização com tais propósitos e se alarga (e, por vezes, encolhe) em proporções realistas.

Anonymous said...

pois é. Não é porque a mulher é feia que se vai querer um traveco.

Anonymous said...

Um "Congresso Mundial", "Parlamento Mundial" ou qualquer nome que seja atribuído a essa organização deveria a meu ver começar pela forma como seria composto, ou seja, a escolha dos membros seria proporcional a cada critério adotado como forma de determinar o número de participantes do mesmo ou composto por um membro de cada país? O critério para se determinar quantos membros cada país vai eleger será econômico, populacional, militar ou dimensão territorial? Deve-se considerar a questão de um país ser democrático ou não para se aceitar a presença deste como participante de tal organização? Afinal eu acho que pelo menos quase 2bi dos 6 bi mundial vive mesmo é em países considerados nem um pouco democráticos (somemos os chineses, países do Oriente Médio, e Africanos contra o resto do mundo)...
Por último, como fomentar o aparecimento de uma cultura voltada para uma comunidade humana???

Na Prática said...

Concordo com a dupla RDC & CDL: a ONU é o melhor que temos, não podemos desperdiçá-la. Eu defendo a ONU tanto quanto possível. A questão é que há tarefas para as quais ela não está preparada, e sua legitimidade sempre será limitada pelo fato de que não é representativa.

Zé, é isso aí, mesmo, o problema maior é que grande parte do mundo não vive sob democracias. Quem garante que seus cidadãos, que não podem votar livremente para seus próprios governos, não seriam forçados pelo governo a votar em tal ou qual candidato? Não dá pra fazer o parlamento mundial hoje, não. Mas a questão mais difícil é: se fosse possível, valeria a pena fazer? Talvez não, talvez o mundo seja melhor organizado como está. Mas talvez sim. Enfim, vamos pensar.