Monday, March 13, 2006

Escândalo!

Um heróico militante do PSOL foi censurado pela mídia burguesa!

Via Campesina

O ataque ao laboratório no Sul foi um ato de injustificável selvageria, que realmente dá vontade de chorar.

Fiquei curioso, aliás, de saber quem exatamente fez a merda. Na imprensa o ato foi atribuído a umas malucas da Via Campesina. Bom, o MST é da Via Campesina. Afinal, foi o MST que fez isso ou não?

Obviamente , o Stédile apoiou. Um imbecil do MST disse que a pesquisadora que perdeu a sua pesquisa, se fosse séria, não trabalharia para o projeto, que, segundo o site da via campesina, tornará a terra improdutiva para a agricultura para sempre. Entretanto, esse estudo publicado pela Esalq sugere que isso não é inevitável. E, cá entre nós, não se pode discutir isso na porrada.

O referido militante provavelmente acha que, se a pesquisadora fosse séria, juntar-se-ia ao movimento pela proibição da utilização da ciência na agricultura, e estudaria, pelada e sem instrumentos, o ciclo de crescimento da mandioca selvagem sobre a carcaça de seu filho que não tomou o antibiótico imperialista.

PSDB II

Aliás, esse nosso velho chapa está em guerra contra o Alckmin, e já defende que o grupo serrista rache com o PSDB.

Vale dizer, se o PT estiver mesmo inflando Alckmin, suspeito que se arrependerá.

PSDB

Certo, admito. Fiquei animado com a disputa pela indicação do nome do PSDB. Que, ao que parece, está tendendo para Alckmin, ou ao menos é o que dizem os comentaristas de hoje.

Eu achava que o melhor cenário para esta eleição ser animada era: Alckmin era lançado, Rigotto saía pelo PMDB, atropelava o tucano (ou, menos provável, este ganhava impulso se ganhasse a briga contra Rigotto) e disputava pau a pau com Lula.

Mas Rigotto não deve sair, por que a verticalização praticamente impede que o PMDB tenha candidato próprio (essa, pelo menos, parece ser a sabedoria convencional).

Pode ser, portanto, que Alckmin naufrague ainda no porto, e Lula ganhe a eleição fácil. O que seria péssimo. Se o governo conseguisse se defender das acusações de corrupção e se elegesse com base em seu bom (na minha opinião) histórico econômico, beleza. Mas se ganhar por WO, como é possível, será péssimo.

Mas eu não descartaria o Alckmin de saída, não. Em primeiro lugar, por que teria apoio sólido na elite brasileira preocupada com o risco Serra (vejam aqui um sujeito serrista puto com isso). Em segundo lugar, por que, se lhe falta carisma, engana-se quem acha que seriedade não ganha voto, se acompanhada de uma certa simpatia, que ele tem, sim.

Saturday, March 11, 2006

JB

Qualquer que seja sua opinião sobre a ocupação de favelas pelo exército, a manchete do JB de ontem foi exagerada. A repórter do JB estava no morro da providência no final da tarde quando o exército deu o toque de recolher. Ela então ficou presa em uma padaria durante o tiroteio, e só saiu quando o exército liberou. Manchete: "Fui refém do Exército".

Porra, quem só leu a manchete, o que me incluía até hoje de manhã, achou que o exército a tinha prendido, talvez por ter noticiado algo que o exército não queria que fosse publicado, enfim. mas não foi issso que aconteceu. Como já disse, podemos discordar de operações militares nas favelas, mas concordo que, se elas ocorrerem, os civis devem ficar em casa durante o tiroteio.

É o JB do Garotinho.

Thursday, March 09, 2006

Sullivan e o Iraque

O Andrew Sullivan publicou um artigo interessante sobre os erros cometidos pelos conservadores que apoiaram a guerra (como ele). Vários conservadores, como o Fukuyama, retiraram o apoio à guerra. Mas o Sullivan continua acreditando que alguma coisa boa pode sair dali.

Pois eu aproveito para dizer o que a esquerda que foi contra a guerra (como eu) errou.

Uma vez derrubado o Saddam, deveríamos ter nos engajado na construção da democracia iraquiana em vez de ficar dizendo "eu te disse, eu te disse". Os jornais de esquerda deveria ter se entusiasmado com as eleições iraquianas, ao invés de manifestar uma atitude derrotista. As diversas internacionais políticas, da democracia cristã ao trotskyismo, deveriam ter se mobilizado para patrocinar eventos, encontros e movimentos no Iraque. E ninguém deveria ter vacilado um segundo para dizer que os atentados contra civis (o Vieira de Mello incluso) eram um crime terrível.

Mais do que tudo, não é possível que qualquer um que tenha um mínimo de compreensão sobre a situação do Iraque, e um mínimo de compaixão pela sorte dos iraquianos, apóie a retirada imediata das tropas. Eu era contra a invasão, mas agora sou contra a retirada, que iniciaria oficialmente a guerra civil.

Mais Di Canio


Aliás, para quem gostou de ver, no post abaixo, a foto do Mussolini pendurado como um porco (e quem não gostou?) aproveitem a montagem com o Di Canio acima, e vejam outras semelhantes no infalível The Guardian.

Racismo no futebol


Concordo com o Juca Kfouri que o Antonio Carlos deveria ser banido do futebol pelos gestos racistas do último domingo.

Essas coisas você tem que parar no começo. Se o primeiro público de estádio a imitar macaco tivesse sido inteiro encarcerado, não teria acontecido de novo. E, como ninguém fez nada, chagamos no ponto em que este cidadão aí em cima (o Di Canio, da Lazio, ou Nazio, como é conhecida hoje em dia) faz um negócio desses.

O imbecil, que tem tatuado "Dux" em homenagem ao Mussolini, saúda com o gesto nazi (inventado pelo "Dux") a torcida extremista da Nazio, que, em tempos recentes, levaram para o estádio faixas como "Auschwitz é sua pátria, o forno é sua casa" contra jogadores brasileiros como Cafu e Aldair, e escrevem o SS de Societá Sportiva Lazio com o símbolo da SS nazista.

Recentemente, o vagabundo recebeu uma comitiva de vítimas do holocausto, mas disse que suas idéias continuam iguais, enfatizando, entretanto, que a violência não é a solução para nada.

Discordo totalmente. Se não fosse o heróico toco que os exércitos aliados (incluindo ítalo-brasileiros e os gloriosos, inesquecíveis partiggiani) deram no careca cujo pau o Di Canio chupa em seus sonhos, esta saudação seria até hoje obrigatória nos campos italianos.

Wednesday, March 08, 2006

Estadão apóia Alckmin

O editorial de hoje do Estadão apóia Alckmin para presidente, com o seguinte raciocínio:

Se Lula ganhar agora, não é nenhum fim do mundo, pois ele se revelou pragmático na economia. Mas se ele ganhar e Marta ganhar em SP, há boas chances do PT ficar no poder não por oito, mas por doze ou dezesseis anos (por que Marta seria uma candidata fortíssima para presidente). Daí que é melhor lançar Serra para o governo e Alckmin para a presidência. Inclusive por que, se Alckmin perder, nada de mais: ele só tem 53 anos, pode tentar de novo.

É uma bomba, na hora em que parecia que a coisa estava fechada com o Serra, os Alckmistas (como se define um colega meu) se mobilizaram com tudo. O Anselmo Góes hoje também aponta um crescimento da tendência pró-Alckmin.

Enquanto isso, a Dora Kramer especula sobre a idéia de uma chapa Serra-Alckmin. Pessoalmente, eu acho que seria uma loucura. Se perder, o PSDB entrega a prefeitura e o governo de SP para o PFL, que, com a prefeitura do Rio, tornar-se-ia o sócio majoritário da aliança daqui pra frente.

3 coisas interessantes:

1) Ressucita, com essa confusão toda, uma das brigas mais ferrenhas, e menos noticiadas, da política brasileira dos últimos anos, a briga entre a facção Covas e a facção Serra do PSDB. Quem conhece gente do partido sabe que ali era um pega-pra-capar fenomenal.

2) Mantenho minha opinião que a força do Alckmin é que ele tem mais cara de economicamente ortodoxo. Se é para tentar ultrapassar pela direita, é melhor pegar um cara com mais cara de direita. Não estou dizendo que ele seja o Olavo de Carvalho, apenas que tem mais perfil de sujeito em quem minha vó (ou o Estadão, ou a FIESP) vota. Mesmo que os dois tenham as mesmas propostas, Serra é ex-AP, Alckmin é ex-Opus Dei, o que tem lá seu valor simbólico.

3) Para além de tudo isso, uma curiosidade. Até a era FHC-Lula, ninguém no Brasil tinha sido presidente democraticamente eleito sem ter sido governador antes. Parece que voltamos ao velho esquema: Alckmin, Rigotto, Garotinho (bom, tecnicamente, ele foi "governador"), Aécio,...

Tuesday, March 07, 2006

Lula na The Economist

E Luís Inácio está mesmo com tudo. Vejam a entrevista dele na The Economist aqui.

De volta para o futuro

Que beleza! Tirado do blog do Fernando Rodrigues:

"Aprovada em 8 de fevereiro, a emenda que derruba a verticalização não é apenas mais um casuísmo do Congresso. É pior. O texto final aprovado contém um erro crasso de data. No seu artigo 2º está escrito o seguinte:

“Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação, aplicando-se às eleições que ocorrerão no ano de 2002”.

2002? Pois é. 2002. O Congresso está querendo legislar sobre o passado... Aprovou uma emenda à Constituição com o mesmo cuidado com que redige uma ata de reunião de condomínio."

Saturday, March 04, 2006

Cartuns

Aliás, o debate da Prospect desse mês (excelente, como sempre) é entre dois muçulmanos discutindo os cartuns dinamarqueses.

Eu acho que o cara tem razão, mas a dona tem um momento brilhante: diante da sugestão de que falta ao Islam uma reforma protestante, ela responde que o problema é que já teve reforma protestante: o wahabismo tem a maior cara de puritanismo.

Faz sentido: o protestantismo provavelmente teve efeitos democráticos por que a briga entre protestantes e católicos forçou o compromisso da tolerância, não por que qualquer um dos lados fosse especialmente democrata.

E tá aí um assunto em que qualquer debate de alto nível é uma surpresa agradável.

50 anos da denúncia dos crimes de Stalin

Esse ano faz 50 anos que Kruschev denunciou os crimes de Stalin (na verdade, uma fração deles) no congresso do PCUS. A denúncia foi, provavelmente, função do fato de que o terror tornava a vida da elite política muito curta. Entretanto, de fato levou ao desmonte do resto do equipamento de terror, como os Gulags. E muito do pior que o Stalin fez, como as mortes durante a coletivização da agricultura, não tinha como acontecer de novo.

Hoje em dia, em um país como o Brasil, é triste ver tanta gente que acha que se livra do fantasma do Stalin simplesmente se convertendo ao trotskysmo, ou dizendo "pois é, aquilo era ruim", e ignorando a similaridade entre suas propostas e as do bolchevismo. Enfim.

A propósito, a Prospect organizou um belo debate, entre dois grandes especialistas, a respeito dos crimes do Stalin e sua comparação com os do Hitler, que pode ser encontrado aqui. Note-se, entretanto, que boa parte da motivação dos autores é nacional: o Lieven é russo (anti-comunista, bem entendido), a Applebaum é de origem polonesa. Minha opinião é que o Lieven está correto, factualmente, mas entendo as preocupações políticas da Applebaum.

Verticalização

Com a manutenção da verticalização, os partidos só podem fazer alianças nos Estados com quem estiverem aliados para presidente. Vale dizer, aliança informal vale, e deve ser a regra.

Agora, torna mais difícil fatos novos. Por exemplo, é muito difícil que o PPS, ou mesmo o PDT, consigam lançar candidatos próprios, pois quem der tempo de televisão para eles terá que fazer essa aliança em nível nacional. Também favorece a manutenção da aliança PSDB-PFL, sendo que o PFL vai poder cobrar mais caro pelo apoio.

Talvez aumente a chance do PMDB lançar candidato próprio, por que não há ninguém com quem eles queiram se aliar em todos os Estados. Mas, por outro lado, se eles lançam, ninguém vai se aliar com eles em todos os Estados. Eu acho que se insistirem no Rigotto, têm chance.

Thursday, March 02, 2006

Caudilho sem-vergonha ganha carnaval!

Não, não, é outro! Vejam só o samba-enredo da escola vencedora do desfile de Campos, os Amigos da Farra (e dá-lhe piada pronta): "Jorge Picciani é ouro". Jorge Picciani, como se sabe, é presidente da ALERJ e candidato de Garotinho ao senado. Garotinho, aliás, foi tema da escola que ficou em segundo, a Ás de Ouro, e de mais 4 das seis escolas. Em matéria da Folha, vemos que os sambas da cidade caracterizam Garotinho como

"Político do povo, poeta popular, guerreiro do sol que nasceu sob a luz da magia na Lapa e vai da planície goytacaz ao Planalto, entre sonhos, lutas e vitórias."

Vale dizer, a reportagem da Folha, do último dia 15, diz que apenas uma das escolas da Campos não teve como tema políticos, a Unidos de Santa Cruz. Que, curiosamente, ficou em último.

O enredo da Santa Cruz era "Mito da Criação-A Criação da Mentira".

Por que me ufano de meu país

Deu no Globo hoje:

"Durante a sessão das 21h de anteontem do filme “Brokeback Mountain”, dos caubóis gays, no Arteplex, em Botafogo, dois homens começaram uma discussão por conta de um saco de pipocas derrubado. Ameaçavam-se com dedo na cara, prontos a se engalfinhar naquela encenação clássica dos caubóis machões urbanos. Foi quando a platéia, no clima do filme, começou a gritar: “Beija! Beija! Beija!”

Carnaval

Como todo mundo já sabe, a Vila Isabel ganhou o carnaval carioca com grana do Chávez. Como bem disse o Jornal da Globo de ontem, os efeitos não devem ser grandes, por que ninguém lembra dos mecenas, só das obras de arte.

Agora, eu tenho curiosidade de saber como apareceu esse apoio. A Vila sempre teve uma relação próxima com o PCB. Como se sabe, o Martinho da Vila era simpatizante do PCB, e recentemente se filiou ao PCdoB. A Ruça, ex-mulher dele e ex-presidente da Vila Isabel, foi vereadora do PCB no Rio. A Vila Isabel homenageou Prestes em 85 (e a Grande Rio fez o mesmo em 1998, mas há de convir que aí o cara já tinha morrido e não fazia só um ano do fim da ditadura).

Para quem quiser saber a história da relação do Partidão com o Samba ( Noca da Portela era filiado), esse artiguinho é legal.

Será que foi a galera do partidão que conseguiu os petrodólares?

De qualquer maneira, eu não vi quase nada dos desfiles esse ano, mas todo mundo dizia que a Unidos da Tijuca (que ganhou o estandarte de ouro) era barbada.

Tuesday, February 28, 2006

Essa é ótima

Leiam a matéria, e depois vejam o que eles sugerem como link do tipo "para saber mais".

O artista anteriormente conhecido como César Maia

O "ex-blog" do César Maia produz um informativo chamado Informação e Opinião, que quem quiser assinar pode fazê-lo clicando aqui. Como se sabe, o blog foi cancelado por que ocorreu à população que o prefeito postava tanto que não devia estar governando muito, não. O informativo tem cara de ser feito por assessores, principalmente por que o blog era mais bem-escrito.

Na última edição há uma análise das últimas pesquisas para presidente. Lembremos que o mesmo blog havia contestado uma pesquisa da CNT/Sensus que dava o Lula na frente, e os mesmos resultados apareceram nos outros institutos uma semana depois. Daí a necessidade do César Maia dar alguma satisfação a seus leitores.

Antes de mais nada, esclareço que acho excelente que o César Maia tenha blog, e que a direita brasileira tenha um quadro que, de alguma forma, participa do debate com disposição.

Mas a análise da pesquisa é fraquinha, fraquinha. Senão, vejamos:

"Marcar nomes que tem um alto "recall" por terem sido candidatos, é natural. Mas quando se observa a flutuação que os institutos apresentam nos cruzamentos de votos, por gênero, idade, renda e instrução, e se compara com a flutuação do resultado final, se vê que não é possível."

Supõe-se, portanto, que César Maia mostrará números que, se considerados em conjunto, tornam altamente improvável a vantagem agregada de Lula sobre Serra. Os números apresentados são:

- A vantagem de Lula sobre Serra é de 14 pontos entre os homens e 2 pontos entre as mulheres. Segundo o prefeito, "Fatos como esse ocorrem, mas são muito raros". Deixando de lado o fato de que diferenças entre grupos são a regra, não a exceção, na competição partidária internacional (vejam os dados sobre democratas e republicanos, por exemplo), isso não prova, de jeito nenhum, que o resultado agregado é impossível ou improvável. Minha suspeita é que as mulheres estejam valorizando mais o aspecto moral e os homens mais o emprego. De fato, o governo Lula é especializado no que nos EUA são considerados "daddy's issues", como economia, e se dá mal nas "mommy's issues" como educação, honestidade, etc. Dado o que sabemos sobre o governo, a diferença só não deve ser maior por causa do Bolsa-Família.

- A conclusão do Datafolha de que grande parte da vantagem é devido aos beneficiários do Bolsa-Família, segundo o prefeito, é "apressada", por que vários dos programas fundidos no Bolsa-Família já existiam. Isso é ignorar a grande expansão da cobertura do programa nos anos recentes, mas deixando isso de lado: mesmo se a tese do prefeito for correta, não tem qualquer implicação que demonstre que os resultados da pesquisa estão errados.

- A idéia de que a campanha de Lula está surtindo efeitos é errada, segundo Maia, por que a campanha precoce apenas piora sua imagem junto ao eleitorado. Não são apresentados dados para comprovar esta tese, mas, mesmo se houvessem, isto seria uma refutação de uma explicação para os resultados, não uma refutação dos resultados.

- Lula não pode ter melhorado, segundo o prefeito, por que seu desempenho nas perguntas sobre seu governo não melhorou. Bom, mas como FHC descobriu em 98, por mais que o eleitor esteja de saco cheio, você não perde se não perder para alguém. O mesmo eleitor que continua de saco cheio com o Lula pode ter desanimado quando começou a conhecer os adversários.

- Curiosamente, o único ponto da pesquisa que o prefeito acha positivo é o que mostra Lula se dando desproporcionalmente bem no Nordeste. É sempre meio esquisito quando se contesta todos os resultados de uma pesquisa menos o que o beneficia, mas, enfim. E, naturalmente, isso não refuta os resultados agregados.

c.q.d

Sunday, February 26, 2006

Pedevesa

A empresa estatal de petróleo do Chávez está fazendo uns anúncios na mídia brasileira. Meio esquisito, e parte da diplomacia do petróleo do Chávez, que tem vendido petróleo barato pelo continente em troca de apoio político, além de ter comprado uma grana preta de títulos da dívida argentina.

Arrisco uma previsão: enquanto o apoio político for só dizer em público que o Chávez é legal, todo mundo vai apoiar o cara, e ganhar petróleo barato. Mas se houver um problema sério com os EUA, por exemplo, e se não interessar aos outros países comprar a briga, todo mundo (com a possível exceção do Morales) abandona ele, talvez denunciando-o como traidor do socialismo.

Aliás, já que o Chávez quer usar a grana do petróleo para ajudar a população, por que não faz um programa de renda básica como o do Alasca? Resposta: por que um programa de distribuição universal, evidentemente, não permite dar dinheiro só para os aliados do governo.

O mundo é mesmo uma beleza.

Rigotto

Candidato forte, mas depende de um colapso do PSDB, por que as forças de oposição na sociedade e na mídia, historicamente, decidem por um candidato no começo e mantém o apoio até o final (tentativas fortes e abortadas recentes: Afif em 90, Ciro em 1998). Eu se fosse o Lula, faria com o PSDB o que o PSDB quis fazer com ele: tentaria sangrar o PSDB sem matá-lo. O escandâlo de corrupção só não matou o Lula ainda por falta de oposição nova.

Mas, ao mesmo tempo, o Lula precisa do Rigotto na prévia para matar o Garotinho, que é quem garante o segundo turno entre ele e o Serra.

Joguinho interessante, o que já dá algum interesse à campanha, já que, programaticamente, ela não promete.

Você sou eu ontem

Segundo O Globo, Lula disse que o PSDB, com essas brigas internas, parece o PT dos anos 80. Concordo com tudo menos com a data. O PT rachava até outro dia.

Paradise Now

Filmaço sobre dois terroristas suicidas palestinos. Realmente, realmente bom. Evidentemente, é o ponto de vista palestino, mas é perturbador demais para ser propaganda. Genial.

Um monte de coisa para comentar sobre o filme, mas não quero estragar a surpresa de quem for ver.

PS: lembrei, por contraste, de "Diários da Motocicleta", um filme bom, mas que, ao contrário de Paradise Now, faz "A Paixão de Cristo" parecer uma observação imparcial dos fatos.

Monday, February 20, 2006

Pós-Palocci

Eu vou decidir meu voto para presidente segundo o seguinte critério: quem vai continuar com a política econômica. É meio simplista, mas em país com crise fiscal, não tem jeito. Admito, entretanto, que se algum candidato propuser uma mudança e descrevê-la em termos claros, estou disposto a pensar sobre o assunto (até agora, ninguém fez isso).

Ficam fora do páreo pelo meu voto, pelo critério, Garotinho e Heloísa Helena. Lula provavelmente continua no páreo, e, segundo as acusações do Mangabeira Unger, Cristovam Buarque também.

Tenho dúvidas sobre o Serra, e acho que é isso que o Dirceu queria dizer quando disse que ele era independente demais para a elite.

Eu acho que isso é a base da insistência do Alckmin em concorrer contra tudo e contra todos. Ele já sacou que muita gente tem essa mesma dúvida sobre o Serra.

Mas o cálculo do PSDB deve ser: o Alckmin daria margem para o Lula dar uma virada populista, nem que fosse só na campanha, ao passo que, seja lá o que o Serra disser na campanha, a gente manda ele ficar na dele depois que ganhar.

Vagabundo é obrigado a falar que nem homem

O principal vagabundo que negava a existência do holocausto, David Irving, acaba de admitir que estava errado (ah, bom). Bom, até aí, nada.

O interessante do caso é o seguinte. A The Economist acaba de publicar uma defesa da liberdade de opinião (em resposta à crise dos cartuns) em que diz que, por exemplo, os que negam o holocausto não devem ser proibidos de dizê-lo, pois posteriormente serão ridicularizados pelo debate público sério (o que, de fato, aconteceu). Tendo a concordar com isso.

Mas o lance é que o Irving só confessou por que foi preso na Áustria, onde negar o holocausto é crime. E o tipo de neonazista que gostava do livro dele se recusa a participar de debates públicos.

Caso difícil.

Saturday, February 18, 2006

Hamas III

Foi só falar que o Hamas poderia moderar seu discurso, e deu nisso. O que, obviamente, deu nisso. Mas, como disse o Drezner, a questão é o que acontecerá com a popularidade do Hamas se ele não moderar o discurso. Enfim.

Friday, February 17, 2006

Hamas II

Mais gente acha o que eu acho sobre a vitória do Hamas, embora o cara citado pelo Drezner seja bem mais otimista do que eu. O que eu acho é que os caras se meteram numa enrascada por terem ganho, e talvez, talvez, isso seja bom.

Liberdade de Expressão no Alcorão

Aliás, este documento divulgado pelo site da Irmandade Muçulmana tem uma citação interessante do Alcorão, que eu traduzo do inglês assim: "Diga a verdade de seu Senhor, e que aquele que assim o desejar escolha crer, e o que o desejar possa descrer" (Al-Khaf 29). Sabemos que nada disso acontece nos países islâmicos, mas é bom saber que, quando os reformadores democráticos muçulmanos aparecerem, não serão acusados de heresia com tanta facilidade.

Vale dizer, o documento em questão é sobre a crise dos cartuns, e até que eu o achei moderado; a ênfase é na necessidade de conduzir a crise a um final. Note-se que não é da Irmandade, mas da Federação das Organizações Islâmicas da Europa.

A Irmandade Muçulmana

Prestem atenção no que acontece com a Irmandade Muçulmana. A organização foi fundada em 1928 por Hassan El-bama e seis trabalhadores da construção de Suez, nos moldes da maçonaria. Pregava a volta ao islam tradicional, contra a "corrupção" ocidental, e tentou fazer uma espécie de Internacional Islamista, incluindo seções no Egito (a sede do negócio), Síria, Iraque, Palestina, e vários outros países islâmicos. O Hamas é um braço da Irmandade.

Ao contrário da turma da Al-Qaeda, a Irmandade Muçulmana não defende a violência como tática principal de islamização da sociedade. Oficialmente, pelo menos, o movimento se proclama reformista, e tem enfatizado a participação no processo eleitoral, como mostra a vitória do Hamas. A violência é aceita nos territórios ocupados, como Palestina, Iraque, e, enfim, Israel. Mas o movimento se opõe frontalmente a atentados como o 11 de Setembro.

A questão é: segundo a The Economist, a Irmandade vem tentando aproveitar as possibilidades abertas pelas eleições recentes no Oriente Médio, e vem levando esporro da turma jihadista. Como será esta adaptação? Isso promete ser interessante.

Não deixem de ler o dossiê sobre "Political Islam" na the Economist.

Alckmin e a Opus Dei

E, já que estamos falando de religioso maluco...

Caiu muito, entre meus amigos tucanos, a tendência pró-Alckmin, depois que se descobriu que o sujeito foi da Opus Dei. É meio esquisito, mesmo, mas vale lembrar que, embora a esmagadora maioria dos membros da Opus Dei seja extremamente conservadora, isso não é obrigatório pelos princípios da organização, que, aliás, tem uns poucos membros esquerdistas, como a secretária de educação do Tony Blair. Embora a maioria da Opus Dei tenha apoiado Franco, uma famoso líder da oposição também era membro. O que a simpatia pela Opus Dei quer, sim, dizer, é que o sujeito vai se alinhar com o Vaticano em questões morais, casamento gay, aborto, etc.

Pelo que entendi, Alckmin saiu da Opus Dei. É um ex-membro, assim como o Serra é ex-maoísta. Talvez caiba dar-lhe o benefício da dúvida.

O que eu queria saber é o que é que o Alckmin pretende fazer se for candidato a presidente.

PS: um amigo meu, por outro lado, gostou de saber que o Alckmin era da Opus Dei, e argumenta que seria o primeiro presidente que encheria a si mesmo de porrada, como todos queremos fazer com eles todos. Enfim.

FHCex and the city

Segundo O Globo, FHC fez, na tal conferência com empresários, um comentário meio enigmático: segundo o ex-presidente de um dos negócios mais confusos, bizarros e povoado de maluco do mundo (a Associação Internacional de Sociologia), o problema do Brasil é a urbanização. Ela causou a crise fiscal, a crise social, tudo.

Não deixa de ser uma tese, mas tem cara desses negócios de sociólogo que me fazem ter vontade de voltar a me chamar de cientista político, ou mentir que sou fonoaudiólogo.

Naturalmente, a urbanização aumenta o gasto com infra-estrutura urbana (dã!), o operariado urbano conseguiu vários direitos sociais mais cedo que o campesinato, enfim. Agora, como dizíamos na época do referendo, qual é o contra-factual? Algumas possibilidades:

1) O Brasil se mantém rural, mas continua crescendo. Nesse caso, esperamos, o enorme campesinato teria, do mesmo jeito, eventualmente conquistado direitos sociais e atingido níveis de consumo atualmente desfrutados pela população urbana. Nesse caso, seria mais barato fazer uma escola pra cada trinta crianças que moram na fazenda, ao invés de uma escola para cada trezentas que moram em um subúrbio carioca? Eu acho que seria mais caro.

2) O Brasil continua sem direitos sociais, o que, naturalmente, reduz muito o gasto público. O fato de que os brasileiros não conhecem outro mundo senão o da fazenda diminui a tendência ao consumismo, o que de fato torna possível escapar da onda de violência que temos. Isto é, se o Brasil não tivesse se desenvolvido, não teria esses problemas de país de industrialização retardatária, por que seria um país pobre pra cacete. Ah, bom.

Provavelmente, FH estava citando algum trabalho com um argumento dez vezes mais complexo que esse. Mas então valia a pena explicar direito.

Que coisa singela


A foto do Galloway de collant. Essa é para o Guto não reclamar mais das fotos do Chávez.

Serra

De acordo com o Globo de hoje, um encontro de tucanos com empresários pintou um quadro interessante do debate econômico hoje em dia. Armínio Fraga defendeu a política econômica do governo, que apresentou (corretamente) como continuidade com a do governo anterior (bem entendido, com a gestão Armínio Fraga, não com o Plano Real). FHC fez as considerações gerais de sempre, mas fez uma boa cobrança contra os empresários ("Onde estavam vocês para defender a reforma da previdência?"). E Serra repetiu a idéia de que "O PT pegou o governo com céu de brigadeiro, nenhuma crise internacional, e cresceu menos que todo mundo").

É isso que me preocupa no Serra: ele tem que assinar uma carta ao povo brasileiro. O céu podia estar de brigadeiro, mas o avião estava em chamas e já dava pra ver o chão, e parabéns ao Palocci por perceber que o negócio era continuar fazendo o que o piloto anterior (o Fraga) estava fazendo. Lula viveu, sim, uma crise de mercado emergente que poderia ter sido pior que a Coreana, a Mexicana e a Russa: a Brasileira.

E a idéia de que a economia mundial está um negócio totoso é besteira. O crescimento está alto, mas as tensões da economia americana (bolha imobiliária, dívida pública, eventual crise previdenciária) e o petróleo mais caro que nunca produzem nuvens que podem até não chover, mas estão para a crise da Tailândia como o Tsunami está para o Serra peidando na piscina. Se não der em nada, maravilha, graças a Deus, parabéns para a competência das autoridades americanas; mas se der merda, é melhor que a gente não tenha acabado de se endividar para financiar nossas exportações para os EUA.

Torçamos para que o governo Lula fique famoso por ter sido excessivamente conservador. Será sinal de que uma merda miserável foi evitada (não pela gente, bem entendido).

Que bonito

O glorioso Sibá Machado (PT-AC) defende, segundo o Merval Pereira, anistia pra todo mundo envolvido na crise política, de todos os partidos. Que maravilha.

Globo e você, tudo a ver.

Thursday, February 16, 2006

Galloway II

Quem quiser ver um debate mais sério , leia a discussão envolvendo Galloway e o jornalista Christopher Hitchens, aqui (esse site tem cara de ser ruim, mas foi onde eu achei o debate transcrito).

Galloway

Ninguém é obrigado a acreditar nisso sem ter visto. Mas, quem quiser ver, veja aqui. O deputado britânico George Galloway, principal opositor da guerra no Iraque no Reino Unido, acusado de levar um troco do Saddam no escandâlo oil-for-food (tal como o brasileiro MR-8), tomou uma clássica decisão de carreira e resolveu participar do Big Brother.

Pois é.

Na casa, o elemento passou por experiências como dançar de collant e imitar um gatinho bebendo leite da mão de uma das participantes.

Bandeirantes, o canal do esporte.

Dica Musical

Extraordinary Machine, da Fiona Apple. Ouçam aqui.

Outra do Drezner

Sugestão de subtítulo para a manchete "Dick Cheney acidentalmente atira em companheiro de caçada":

"O Vice-Presidente baseou sua decisão em relatórios de inteligência preliminares que afirmavam que seu amigo era um veado".

Em português fica ainda melhor.

A Alândia e a Comunidade Européia

O que eu gosto do Daniel Drezner é que tem coisa que só ele acha interessante. Bom, ele e eu. Vejam o caso da Alândia e da Comunidade Européia.

A Alândia é um arquipélago no norte da Finlândia onde se fala sueco. Por algum motivo, a Alândia tem direito de não acatar tratados feitos pela Finlândia e não aprovados pelo parlamento da Alândia (população 26.000).

Pois bem, a União Européia proibiu a pesca com redes tradicionais, a caça ao pato no verão e, pior dos horrores, proibiu o consumo do snus, um tipo de fumo mastigável popular entre os pescadores da Alândia. De maneira que é possível que a Alândia barre a aplicação da constituição Européia no seu território. Havia mesmo quem defendesse que, se isso acontecesse, a Finlândia teria que fazer o mesmo, mas parece não ser o caso.

Meu tipo de história.

Tuesday, February 14, 2006

Feliz dia do jogador de botão!

Com direito a uma fábula!

Rio

Agora, quem está deprimido com Bush, Kerry, Lula, Serra, é por que ainda não viu a lista de candidatos ao governo do Rio. Isso sim, vai ser uma beleza.

West Wing

Eu gosto de The West Wing (ou, como dizem os conservadores americanos, "The Left Wing"). Mas esse ano eles se superaram. Toda essa temporada é sobre a sucessão do presidente Bartlett, o protagonista da série. O legal é que os episódios estão sendo uma tremenda catarse do público americano: os dois candidatos no seriado são excelentes, e estão mostrando o que a campanha entre "o inconsistente e o incompetente" (capa da Economist sobre Kerry e Bush) deveria ter sido.

Por um lado, o candidato democrata, Matt Santos, hispânico e católico, é assumidamente "liberal" (a centro-esquerda americana). Quando seu adversário o acusa de sê-lo, ele afirma que vestirá a acusação como medalha de honra. Quando criticam seu plano de saúde, ele diz: "É, não gosto muito dele, mesmo, mas é o que dá pra passar no Congresso. Por mim eu faria um sistema universal".

Por outro lado, o candidato republicano, Arnold Vinick, é um sujeito avesso a misturar religião e política, que odeia a ala evangélica do partido, e centra sua campanha no programa classicamente pró-mercado, é articulado e carismático. Quando perguntam a ele quantos empregos ele vai criar, ele responde "Nenhum, quem cria emprego é o mercado", e sugere para os países de terceiro mundo a mesma solução que propõe para os EUA, cortes de impostos.

E os dois fizeram um debate excelente.

Convocação Extraordinária

A convocação extraordinária foi realmente um negócio extraordinário. Nem temos o que dizer sobre a gloriosa performance de nossos legisladores, colossais monumentos a tudo o que Atenas representou. É como naqueles lances em que o sujeito corre pra bater o pênalti, escorrega e cai de bunda em cima da bola, e o locutor, sem palavras, se limita a dizer "Bandeirantes, o canal do esporte", ou "Globo e você, tudo a ver".

Agora, em disputa de reeleição, quem joga pelo empate é o governo. Quem tinha que ter feito gol era a oposição.

Hugo Boss

Excelente o título do artigo. Quanto ao conteúdo, por vezes exagera para tornar o argumento mais claro, o que é meio ruim. Mas não há dúvida de que as credenciais democráticas de Chávez não são lá essas coisas. Se entrar no Mercosul de vez, fica preso à cláusula democrática, que expulsa quem deixar de ser democrático. Ou está todo mundo confiando mesmo que o negócio lá não descamba, ou estamos montando uma crise.

Hamas

É perfeitamente compreensível que esteja todo mundo apavorado com a vitória do Hamas, mas eu acho que a vitória foi um resultado melhor do que se eles tivessem ganho a quase-maioria, e se tornassem uma oposição fortíssima e irresponsável. O que era, sem dúvida, o plano dos caras. Vamos ver.

Eleição Presidencial

Aparentemente, Lula passou Serra na pesquisa. Mantenho meu desinteresse.

DJ é mestre

Em um comentário abaixo, o grande DJ Paulão (no site do cara, não deixem de baixar a mix tape) tocou na grande questão central: a China, que era a grande compradora de títulos americanos, está fazendo a transição para uma estratégia mais variada, que passa por outras moedas, como o euro. De fato, se isso for brusco, lá vamos nós. Veremos.

Mas não acho que a invasão do Iraque foi por causa da venda de petróleo em euro, a questão é mais geopolítica, mesmo: fincar o pé no Oriente Médio para poder ter margem de manobra para lidar com a Arábia Saudita, essa turma.

Thursday, February 09, 2006

Voltamos!

Ahá! Achei a minha senha no blogger (pois é, pois é). Voltaremos em alguns minutos.

Saturday, December 31, 2005

Troféu "Que bonito!" 2005

Em Ohio, o governo republicano resolveu investir o dinheiro de um fundo de defesa do trabalhador em...MOEDAS RARAS. O que era meio chato, além de ridículo, por que o idealizador do plano era colecionador de moedas raras. Mas o melhor é que as moedas SUMIRAM!!!!

Vejam a história do "Coingate" aqui.

Saturday, December 24, 2005

Feliz Natal!

São os votos desse blog que vos fala, e que todos vocês sejam felizes pra caralho, reduzam a pó seus inimigos e triunfem de tal maneira que uma nova língua universal tenha que ser inventada para descrever os seus sucessos, aliás, os seus stroplkjfgs.

Monday, December 19, 2005

Morales

Mas essa semana ganhou na Bolívia um candidato que, confessadamente, defende o socialismo. Diz que vai estatizar (oficialmente, comprar) as refinarias da Petrobrás, é amigo do Chávez, e planta cocaína. É a síntese perfeita da FARC e do Chávez, socialismo financiado por dois dos maiores mercados globais: cocaína e petróleo.

Pode não dar em nada, pode dar uma merda federal.

Por que não tenho escrito

Por que não tem acontecido nada muito interessante. Senão vejamos:

1) O Lula e o Serra parecem que vão ser candidatos de novo. Enfim.
2) Só.

Tuesday, December 13, 2005

Distúrbios raciais

Mais duas coisas que eu acho demonstrações de racismo:

1) ecoterroristas não são considerados tão perigosos quanto os terroristas islâmicos na Europa, só por que são brancos e universitários.

2) Em jogo de futebol televisionado, se há manifestações racistas, todo mundo pode ver na fita quem as fez. Por que não se prende 10.000 pessoas por jogo? Duvido que a coisa durasse mais que uma rodada.

Distúrbios raciais na Austrália (II)

Tem um negócio que me incomoda em eventos como esses. Por que é que esses caras são julgados por crimes diferentes dos atribuídos aos terroristas árabes? Os elementos do terrorismo (motivação étnico-política, alvo civil) estão todos lá. Mas provavelmente serão julgados por crime violento comum, no máximo com agravantes. O regime de algum dos dois grupos deveria mudar.

E alguém tem dúvida de que esses caras são adversários do iluminismo?

Distúrbios raciais na Austrália (I)

Uns white trash australianos agrediram jovens árabes e asiáticos nas últimas noites. A explicação deve ser a de sempre. Me lembro que, quando tinha quinze anos, li um livro do Stephen King (um sujeito reacionário pra cacete) em que a explicação era encenada. No sul americano, um fazendeiro negro trabalha pra cacete e consegue comprar sua própria vaca leiteira, o que nenhum de seus vizinhos brancos tinha. No dia seguinte ela aparece morta pelo pai (branco) de um dos protagonistas. Quando o filho, bem mais civilizado, descobre, pergunta ao pai como ele pôde fazer isso, ouve como resposta, "A gente precisa ser melhor que alguém".

Lembrei disso quando soube que a diretoria do BNP (British National Party), racista, incluía um grande número de presidiários brancos. Enquanto isso, o lendário coreano da loja da esquina compra um carro melhor esse ano.

Thursday, December 08, 2005

Estadista da década

Concordo com o prêmio, mas, cá entre nós, a concorrência não foi forte.

Wednesday, November 30, 2005

Nota leve

Não tem nada a ver com nada, mas é legalzinho. Invente aqui um título legal para o seu emprego.

Cassaram o Dirceu

Cassaram o Dirceu. Enfim. Fiquei surpreso com os 192 votos contra. Quem será que votou contra? Somando o PT e pequenos partidos de esquerda (entre os quais, aposto, muitos votaram secretamente a favor), não dá isso, não. Quem terá sido? Falaram do Sarney, ACM. Por que?

Eu, hein.

Monday, November 28, 2005

Queda de desigualdade (2)

Sai o número que eu estava esperando, na pesquisa da GV, disponível aqui. Contando toda a renda das pessoas, o coeficiente de Gini caiu de .585 para .573, uma quedinha bacana, mais de .01.

Sunday, November 27, 2005

Nova pesquisa

Pesquisa da GV, a ser anunciada oficialmente amanhã, faz a conta que eu falei no post anterior, levando em conta todas as fontes de renda. Tomara que tenha dados sobre desigualdade. Pela prévia da Folha, a pobreza caiu bastante e a miséria também.

Saturday, November 26, 2005

Mas sempre tem uma mula

E, apesar de tantas boas notícias, na semana que passou o governo se divertiu brincando de "E se a gente mudasse a política econômica?".

Queda de desigualdade

A crer no Globo de hoje, a desigualdade de rendimentos caiu, pela primeira vez desde a década de 80. O índice de Gini brasileiro recuou de .554 para .547, queda de .007 (o que não é tão pouco quanto parece). E há no novo PNAD um monte de boas notícias, a renda cresceu, o desemprego caiu (e os empregos gerados foram de boa qualidade), enfim.

Se tiver tempo, depois vou olhar a pesquisa do IBGE para ver mais detalhes. Em especial, queria ver o Gini incluindo impostos e transferências (como o Bolsa-Família). Essa queda deve ter sido maior.

Um dos problemas da desigualdade no Brasil sempre foi o baixo grau de focalização das políticas sociais: como o Brasil gastava muito com políticas sociais que não atingiam os mais pobres (como a universidade pública) e pouco com as que atingiam (exceção: aposentadoria rural), o coeficiente de Gini aqui quase não caía quando você incluía impostos e transferências. Se me lembro bem, nos países da OCDE o Gini cai 15 ou 20 pontos quando você leva em conta a ação do governo. Aqui caía 3, 4, uma coisa dessas (depois eu checo).

Como o Bolsa-Família é neuroticamente focalizado, esse ano deve cair mais. Se ainda existisse governo, deveria colocar uma meta para o Gini brasileiro. Quando cair abaixo de .5 a gente faz um ano de carnaval.

O governo Lula deveria fazer uma festa, por que relatório como esse não vai sair todo dia, não.

Tuesday, November 22, 2005

Furou

Aí, galera, é melhor a gente botar a roupa, o homem não caiu e acho que hoje não rola esse negócio de voar, não.

Que beleza

A crer no Jorge Bastos Moreno, Palocci cai hoje. Não acho que a economia vá colapsar, mas, digamos que gere mil empregos formais a menos por mês (está gerando mais de cem mil). São mil trabalhadores desesperados, suas filhas mais perto da zona, seus filhos mais perto do tráfico. Mas ninguém se importa, a não ser uma pequena minoria de adultos: Palocci, Paulo Bernardo, Aécio Neves (às vezes), Delfim Netto, Jereissati. Cada um das mais diferentes colorações, mas com a compreensão de que de vez em quando o sistema tem que funcionar responsavelmente.

Enquanto isso, Rodrigo Maia, do alto de seu curso de economia na Cândido Mendes abandonado no oitavo (!!) ano, expressou sua discordância com a política econômica, partiu pra ignorância, e ficou putinho quando um adulto presente à cena riu.

Hoje amanheci com 39 graus de febre. Liguei pro médico, ele me receitou um antibiótico, está agora em 37.5. Esta inequívoca vitória do bom, do belo e do verdadeiro sobre o aglomerado de matéria cego e burro vagando epileticamente pelo nada me deixou ainda mais deprimido com a sessão do congresso em que Palocci está depondo.

Oremos.

Pessoalmente, acho que este é o anúncio do momento do arrebatamento, quando os justos voarão direto para o céu. Em poucas horas, eu, os leitores deste blog, o Palocci e o Joel Santana sairão voando pelados.

Friday, November 18, 2005

O Brasil e o mundo

Circula o seguinte argumento: não adianta comparar a economia brasileira hoje com a economia brasileira ontem; o que é crucial é que o Brasil está crescendo mais devagar que o mundo, e, mais especificamente, que os outros países emergentes.

Errado.

Em toda comparação, o que interessa é a ficção que ela supõe. Se você diz que o Chile nos últimos vinte anos cresceu mais que o resto da América Latina, está sugerindo a ficção "Se os outros países latino-americanos tivessem feito o que o Chile fez, teriam crescido mais". No caso, a comparação é plausível. O que o Chile fez os outros poderiam ter feito.

Mas se você diz "o Brasil está crescendo menos que os EUA", não está dizendo nada de útil. A ficção sugerida é patética: "Se o Brasil fosse o emissor da moeda mundial, a única hiperpotência, o maior PIB do mundo, uma das economias mais competitivas do mundo, e fizesse Silicon Valley, teria crescido mais". Nada disso é remotamente plausível.

Vejamos portanto o caso dos países emergentes atuais que cresceram mais que nós, e julguemos se podemos, e, em especial, se queremos fazer o mesmo que eles:

Argentina e Venezuela: por acaso queremos ver nossa economia colapsar, cair 10, 15 pontos percentuais, só pra depois ter números maiores que nossos 3.5% atuais? Se não, esqueçam a comparação.

Rússia: alguém aí vai achar petróleo em quantidades obscenas? Então pronto.

China e Índia: alguém quer reduzir nossos salários ao nível deles? Sei lá, do jeito que a coisa anda, é possível que tenha alguém, mas eu não.

Claro, no caso de China e Rússia, é crucial que a mão-de-obra é barata é também razoavelmente educada. Mas criticar o Brasil por isso é criticar o governo de 20 anos atrás. Mesmo se estivermos sendo bons nisso, isso não bate no crescimento por muitos anos ainda.

E o caso da elite altamente educada da Índia é uma opção que devemos continuar rejeitando. Nossas universidades são ruins, mas seria melhor se a gente fizesse só uma realmente world class e deixasse 50% da população analfabeta? Eu não acho.

Nosso índice de crescimento tem sido (já antes do Palocci) razoável para um país pobre que gasta, para os padrões internacionais, bastante com o social. Falta gastar melhor, é claro, há muita coisa a fazer, mas nessas coisas é melhor comparar você com você mesmo.

O resto é vontade de se botar pra baixo, complexo de vira-lata, como diria Nélson Rodrigues.

Wednesday, November 16, 2005

Depoimento do Palocci

Após várias horas de depoimento de Palocci (saí por duas horas, se tiver acontecido alguma coisa entre sete e meia e nove horas, não sei):

1) A oposição limitou a discussão à política econômica, e deixou a questão da corrupção para outra hora. Sobre corrupção, só umas perguntinhas muito bestas, o Palocci negou tudo, ninguém tinha prova de nada, ficou na mesma. Lado bom: vocês não vão acreditar, mas o debate foi de muito boa qualidade. Lado ruim: as denúncias continuam, nas palavras do Guto, continua o terror sem fim.

2) Rapaz, o nível do debate foi bom, mesmo. O Arthur Virgilio só fez perguntas pertinentes, todas bem respondidas, o Jefferson Peres também, enfim, várias perguntas muito boas. Notas destoantes: Ana Júlia (PT-PA) lançou pesado fogo amigo sobre a política econômica, muito fraco. Heloísa Helena, enfim. César Borges (PFL-BA), indistinguível da Heloísa Helena. Só agora no final caiu o nível, a grande pergunta é por que o Palocci não paga a dívida dos Estados.

3) As respotas do Palocci foram muito, muito boas. Não só o cara é muito bom, mas começou logo elogiando os caras realmente feras da sua equipe, o Portugal, o Lisboa e o Rashid.

E assim vai o Brasil, o país cujo Greenspan até outro dia era trotskysta.

Palocci

Palocci foi o sujeito que bancou politicamente o projeto do Agenda Perdida, de que já falamos aqui. Em resumo, nos meus termos:

Não há como competir com a máquina global em termos de inovação tecnológica. Logo, para nossas empresas serem competitivas tecnologicamente, precisam comprar máquinas no exterior (a principal diferença entre os últimos vinte anos e o período desenvolvimentista é a estagnação do investimento em capital fixo). Entretanto, se importarmos todas as máquinas que precisamos, a balança comercial vai quebrar. Para não quebrar, precisamos exportar alucinadamente. Daí que o governo incentiva as exportações.

Para ampliar nossa possibilidade de exportar, vamos ter que fazer concessões internacionais. A Fazenda prepara uma nova abertura, e procura aprovar as PPPs e a agenda microeconômica, que aumentariam nossa competitividade.

A manutenção das metas de inflação servem para criar um ambiente econômico em que o setor privado faça tudo isso aí em cima.

É um novo ciclo, que substitui a política de substituição de importações, falecida há vinte anos. Começou com a abertura de Collor, progrediu durante os anos FHC (quando o câmbio barato permitiu a importação de muitos equipamentos),e progride com Palocci, que se aproveitou da sistematização da turma do Agenda e continuou a correção dos efeitos do câmbio fixo pelo Armínio Fraga.

Chávez e Fidel


Mais uma pra assustar o Guto.

Que beleza

Entre os senadores que interrogarão Palocci hoje, estão, segundo a lista do Fernando Rodrigues:


Romeu Tuma (PFL) (vice-presidente)
Luiz Otavio (PMDB) (presidente)
Mão Santa (PMDB)
Gilberto Mestrinho (PMDB)

Todos, sem dúvida, indignados com a apropriação de dinheiro público. É o que eu chamo de colocar o vírus da gripe do frango para tomar conta do galinheiro.

Sunday, November 13, 2005

Fazendo o que fazemos melhor

Aparentemente, vamos todos fazer merda. O PT, como se sabe, resolveu atacar a oposição na primeira oportunidade, ao invés de vir a público pedir o voto dos 100 mil brasileiros que ganharam emprego com carteira assinada a cada mês nos últimos anos. O PSDB, para quem tampouco se lhe fode a sorte dos tais brasileiros, resolveu fritar o Pallocci. E o PT, que está em processo de re-afundação, resolve criticar o Pallocci também (sem dúvida, o fato mais atroz de todos). O PFL, cujo objetivo é fazer com que os referidos cem mil brasileiros não tenham mais representantes políticos, o que garantiria ao Bornhausen o monopólio do poder sobre o dinheiro dos supracitados, quer trazer tudo abaixo de uma vez.

Em todos esses episódios têm sempre uns caras que, depois que tudo dá merda, ficam famosos por terem dito, eu avisei. Poderia listá-los, mas hoje estou desanimado com essa coisa toda.

Friday, November 11, 2005

Abaixo da cintura


Mais uma foto pra assustar o Guto. E para ilustrar o seguinte comentário, tirado da The Economist:

"Entre os manifestantes [na cúpula das Américas] estará Diego Maradona, que, como jogador de futebol, ficou rico no mercado global do esporte, e, como viciado em cocaína, era dependente de um comércio internacional destruidor de fronteiras. E, naturalmente, seu colega de cúpula, Hugo Chávez, que está usando o comércio e a alta do preço do petróleo para financiar seu "socialismo do século XXI" na Venezuela".

Wednesday, November 02, 2005

Charge

Muito boa mesmo.

Mugabe


O verdadeiro desastre teológico que se abate sobre a África não é o Katrina, mas o Mugabe, ditador do Zimbabwe, que persiste em seu objetivo de se tornar o Hitler da África, título que disputa com um de seus aliados. Após desapropriar a terra dos fazendeiros brancos e distribui-las para veteranos da independência (a saber, ele e a turma dele), a produção do Zimbabwe, uma região relativamente próspera quando o vagabundo tomou o poder, colapsou. Agora o merdinha organiza uns campos de escoteiros do mal, onde a molecada do Zimbabwe é internada para aprender linchamento, estupro e intimidação de adversários.

Agora, quem é amigo do Mugabe? O Chávez. E quem é amigo do Chávez?

Katrina e o Imperialismo

O Osama disse que o Katrina foi um castigo de Deus aos americanos. Que ele explique, portanto, por que o furacão dobrou o preço internacional do milho, levando milhares de crianças do Malawi a morrer de fome nas mais abjetas condições.

Saturday, October 29, 2005

Crise fora de controle

A crise política pode ter saído de controle essa semana, esses dias.

A Veja denuncia que o PT recebeu dinheiro de Cuba. Se comprovado, o PT perde o registro imediatamente, e uma porcentagem alta dos cargos públicos brasileiros, inclusive a presidência, perdem seus principais candidatos em 2006. Eu teria dificuldade de acreditar que alguém no PT foi burro a ponto de aceitar esse dinheiro, mas hoje em dia não tenho mais dificuldade de acreditar em nada. E, a propósito, eu ficaria mais feliz se fosse suborno. Mas isso eu sei que não foi. O PT provavelmente se esquivaria de criticar Castro com ou sem grana, o que eu acho muito pior.

PT e PSDB, com a mentalidade de centro acadêmico que os caracteriza, parecem ter perdido todo senso de proporção. O PT fez um programa de TV suicida partindo pra ignorância contra a oposição, e o PSDB, que aparentemente está deixando o Arthur Virgílio decidir coisas, pediu abertura de uma CPI do caixa 2, para se arrepender logo depois. O programa do PSDB dessa semana deve ser mais agressivo ainda.

O Jacques Wagner tentou contemporizar, argumentando que os dois partidos são muito parecidos, partidos primos. Mas o Arthur Virgílio contrapôs o argumento que também o são Israelenses e Palestinos, o que dá o tom do que se seguirá.

Os dois partidos perderam o controle de seus cães de guerra, Ideli Salvati e Arthur Virgílio. Está faltando estadista.

E o que é foda: a economia vai cada vez melhor. Justo quando consertamos o mais difícil, o que demorou uma década, uma briga de departamento da USP pode afundar o país com a ajuda do Roberto Jefferson.

Thursday, October 27, 2005

Guinada à direita (2)

A Teresa Cruvinel hoje levanta também a possibilidade de que PT e PSDB se sangrem até a morte, abrindo caminho para as forças políticas que ganharam o referendo. Mesmo que isso não se materialize em candidato em 2006, o próximo governo, seja tucano ou petista, está ferrado. No dizer de Roberto Brandt, do PFL, como um governo tucano vai se relacionar com a ala modernizante do PT, que programaticamente lhe é muito próxima? Na opinião desse blog, esse foi todo o problema do governo Lula.

Se bem que também pode ser que os dois partidos se ataquem por que sabem que se o PFL crescer, eles abatem os caras na decolagem, de tanto esqueleto que eles têm no armário (como aconteceu no episódio Roseana). Se for isso, acho arriscado. Se o PFL lançar um desses moleques de doze anos da CPI, a sujeira a ser descoberta não é tão fácil de ligar ao candidato (dêem algum tempo ao garoto), e se bobear a coisa só pega quando ele tiver crescido nas pesquisas. Aí a Veja vira um panfleto, e voltamos à situação de antes de 1989.

Tuesday, October 25, 2005

Guinada à direita

Como vocês viram primeiro aqui no blog (odeio quando um pretensioso filhadaputa diz isso), a direita está com a porta aberta, mas sem quem seja capaz de liderá-la, mais ou menos como o PT em 1998. Vejam hoje as colunas do Merval e essa entrevista no UOL.

Mas há esperança! Afinal, eu não dou uma dentro, sou Flamengo, votei no Lula, de maneira que o mais provável é que o maoísmo seja implantado no Brasil em breve. Ou o regime de Faraós, sei lá.

Sunday, October 23, 2005

Referendo (final)

Saldo do referendo:

1) Maior derrota de todos os tempos para os institutos de pesquisa, que previam 10-15 pontos de vantagem para o não, e a diferença foi o dobro disso.

2) Provável aumento dos casos de posse de arma. É improvável que a turma da bala não aproveite pra mudar o estatuto, e muita gente, por pura desinformação, vai achar que agora liberou geral.

3) Aumento de visibilidade dos extremos do espectro político, como o MV-Brasil e o PSTUpido.

4) Mau começo, na minha opinião, para o renascimento da direita brasileira. Quem está na TV hoje são o Alberto Fraga, o Minha Creuza, e, principalmente, o Fleury. Adesão quase invisível da direita civilizada, do César Maia ao Denis Rosenfeld. Nenhum empresário.

5) Sinal de ocaso de uma geração de militantes de esquerda. Depoimento muito bobo do cara do Viva Rio. Nenhum sindicalista entrevistado na TV hoje. Absoluta timidez dos movimentos sociais diante da questão.

6) Ganhou a Veja. Que na edição de hoje critica Alckmin e Serra por serem viadinhos que não batem o suficiente no governo.

7) Por mais distorcida que fosse a lógica da campanha do Sim, algum senso de direitos pessoais eles despertaram, mais ou menos como na época da revolta da vacina. Novamente, entretanto, lamento que tenha sido essa a causa que causou essa discussão, pois temo como ela será direcionada pela liderança que ganhou força.

8) Por mais que, enfim, o impacto real sobre a violência fosse ser mínimo de qualquer maneira, houve mesmo no Brasil desses últimos dias um clima de discussão cívica extraordinariamente saudável. E provavelmente foi uma boa idéia começar a conversar nesse nível com um assunto que não tinha muita consequência, mesmo.

Referendo IV

Lá vou eu, votar e perder. Old habits die hard.

Saturday, October 22, 2005

Referendo III

Como queríamos demonstrar.

Marilavo de Chauirvalho

Todos ouvimos o deprimente depoimento de Marilena Chauí afirmando que o governo Lula roubou por ter caído em uma armadilha tucana. Ele agora foi reeditado em outro contexto. Vejam:

"Tal como expliquei aqui semanas atrás, o presidente George W. Bush, embriagado por altos planos para o Oriente Médio, levou até o limite da imprudência a aposta no unanimismo bipartidário. Suas concessões ao partido adversário, que começaram com uma política fiscal inversa à prometida em campanha e culminaram na nomeação de uma contribuinte de Al Gore para a Suprema Corte, passando por uma tolerância quase suicida para com os imigrantes ilegais, receberam finalmente um “basta” da base conservadora. Isso já era esperado aqui desde muito tempo. Só é novidade para a mídia brasileira, que, após ter pintado Bush com as cores do conservadorismo radical, não podia mesmo enxergá-lo com suas dimensões reais de conciliador compulsivo. Vista daqui, a mídia brasileira é uma infindável comédia de erros." (Carvalho, em http://www.olavodecarvalho.org/semana/051010dc.htm)
Ou seja, o problema do Bush é que ele era moderado (provavelmente era também do Fórum de São Paulo). Bom, pra quem acha que a indisciplina fiscal foi concessão aos democratas, vejam o número de projetos fisiológicos aprovados em cada ano nos EUA, e comparem as administrações Bush e Clinton.
2005 - 13,997
2004 - 10,656
2003 - 9,362
2002 - 8,341
2001 - 6,333
2000 - 4,326
1999 - 2,838
1998 - 2100
1997 - 1,596
1996 - 958
1995 - 1439
Fonte: Andrew Sullivan
Isso, somado ao fato de que o principal fator de desequilíbrio fiscal nos EUA foi o corte de impostos de Bush, além, obviamente, da guerra, duas causas solidamente republicanas.
Está provado: Olavo de Carvalho é a Marilena Chauí do Bush.

Friday, October 21, 2005

A classe petista

Circula a idéia de que os petistas são uma nova classe, pequenos burocratas envolvidos na administração da sociedade por meio do Estado, dos sindicatos, etc. O Reinaldo de Azevedo diz algo assim, o Francisco de Oliveira também. O Azevedo cita o Milovan Djilas, dissidente Iugoslavo inteligente pra cacete, que não merecia essa.

Eu acho isso uma bobagem. Senão, vejamos.

O Milovan Djilas chamava a nomenklatura socialista de classe por que os meios de produção estavam estatizados, e, portanto, a autoridade absoluta sobre a política significava controle dos meios de produção. Vale dizer, na bibliografia sobre o Leste Europeu há uma grande controvérsia sobre isso, visto que há quem sustente que na verdade a administração econômica tinha muito mais autonomia, visto, inclusive, que os stalinos não entendiam porra nenhuma de economia. Suspeito que isso se aplique ao caso brasileiro, mas deixemos isso de lado por enquanto.

No Brasil, há um forte processo de desestatização. Há somente dois mecanismos pelos quais os petistas influenciam na disposição dos meios de produção. (1) por estarem no governo, e controlarem recursos do governo e empregos públicos, e (2) por terem influência, como sindicalistas, sobre os fundos de pensão.

O mecanismo (1) obviamente não pode caracterizar uma classe, visto que daqui a um ano eles perdem todo o poder. A tradição sociológica exige que classe seja um negócio mais ou menos estável. Evidentemente, pode-se tentar definir os políticos como um todo como classe, envolvendo também os outros partidos, etc., e estabelecendo que eles se revezam no poder. Eu acho isso infrutífero, por vários motivos, mas de qualquer maneira não é o que se tem dito.

O mecanismo (2) é mais promissor, mas desconheço que o PT exerça controle monolítico sobre os fundos de pensão. O poder dos sindicalistas na administração dos fundos existe, mas é compartilhado com gestores do governo (e aqui se aplica o raciocínio acima). De fato, a maior manipulação política dos fundos de que se tem notícia foi durante a privatização do governo FHC (e não, não acho que os tucanos sejam uma classe, ver raciocínio acima).

Enfim, o máximo que se pode dizer é que um pequeno grupo de petistas participa, segundo o revezamento eleitoral, da gestão de recursos públicos ou semi-públicos, em cuja gestão atuam conjuntamente com vários outros grupos políticos e econômicos.

E a principal conclusão disso tudo é que, por menos relevante que seja um fato, pode-se falar dele com palavras complicadas. Se você gosta desse tipo de coisa, não gosta de mim.

Formulário

Se você quiser participar do debate atual sobre a crise política brasileira, é só completar o seguinte formulário:

Bláblábláblábláblábláblá, portanto ____________ é totalitário (a).

Complete com o PT/a mídia conforme sua orientação partidária.

Thursday, October 20, 2005

O artista e seu instrumento

Gosto muito mesmo de arte moderna, muito de arte contemporânea, mas tem coisa que pelamordedeus. Na lista do maior prêmio das artes britânicas, o Turner, tem uma tela chamada quadrado preto (uma tela quadrada, pintada de preto). E o melhor parecer se um pintor que só pinta bunda. Ah, bom.

Wednesday, October 19, 2005

Meu Deus!

O tal do PMR deve ser uma piada dos jornais, não é possível. Vejam isto.

Oposição Cubana


A oposição social-democrata cubana continua em cana, mas continua ativa. Não deixem de ver a revista deles. Ainda pretendo falar muito deles, e de seus planos para a transição cubana, em outras oportunidades.

Tuesday, October 18, 2005

Referendo II

Aliás, vale dizer, para quem acha que o desarmamento é coisa de regime totalitário, que não apenas a extrema-esquerda, mas também a extrema-direita, vota não.

Referendo

Eu já ia votar sim, mas agora vou entrar de cabeça na campanha. Descobri que a frente PSOL-PSTUpido vai votar não, em defesa do direito dos trabalhadores de resistir ao Estado Burguês. Isso, neném, isso. Vai lá, resiste mesmo.

Thursday, October 13, 2005

Pau no Cambrunhão

Finalmente, uma alternativa séria de ensino profissionalizante.

Tuesday, October 11, 2005

Graziano

Excelente artigo do Graziano hoje no Globo sobre uma nova lei de proteção de animais que, mesmo para os padrões dos legisladores brasileiros, é demais. Ela limita a jornada de trabalho dos animais de carga a 6 horas por dia (menos que a dos humanos), proíbe que uma carroça seja puxada por animais de espécies diferentes, e classifica os ratos, gambás e outras pragas urbanas como "animais filantrópicos". Proíbe a inseminação artificial e milhares de outras formas de progresso tecnológico. Pior do que a lei em si é imaginar os legisladores que acharam isso tudo razoável.

Saturday, October 08, 2005

Bush e a Suprema Corte

O Bush nomeou uma advogada completamente desconhecida para a suprema corte. A totalidade dos comentaristas manifestou sua perplexidade, e os conservadores estão realmente possessos, por esperarem a nomeação de um juiz conservador consagrado. Há um consenso de que a nomeação foi sintoma da tendência de Bush de privilegiar a lealdade (ela foi advogada dele) em detrimento da competência.

Não acho que seja isso.

A questão é que com as duas últimas nomeações Bush poderia começar a mexer no direito ao aborto. Como ninguém sabe o que essa senhora acha da vida, sua posição sobre o assunto fica em aberto. E eu acho que é isso mesmo que o Bush quer. Se ele nomeasse um conservador, começaria uma guerra civil no país. Se nomeasse um liberal, idem. Nomeando a tal da dona, deixa tudo em aberto, e prefere ser criticado por ser meio safado do que por ser um traidor da causa.

É como se o PT pudesse nomear o ministro do supremo que formaria uma maioria contra o direito da propriedade privada. Se o Lula nomeia o Stédile, é guerra civil. Se nomeia o Olavo de Carvalho, também. Aí ele vai, nomeia o Delúbio, todo mundo acha ele meio sem-vergonha, mas ninguém faz guerra civil.

No fundo, a abertura dessa segunda vaga na suprema corte foi um azar pro Bush, que provavelmente queria manter a reputação de conservador moral sem ter que fazer nada de prático a respeito.

Friday, October 07, 2005

Anti-Minha Creuza

É raro, mas de vez em quando aparece um sujeito que merece os culhões que Deus lhe deu. Isso é algo que todo mundo precisa entender: os valores americanos são manipulados para toda espécie de sacanagem (como, aliás, os nossos), mas eles existem, sim. E quem sabe alguém lê a reportagem para o Minha Creuza, pra ele saber o que é um militar de verdade, do tipo que ainda há no exército que o expulsou, que na Itália matou muitos como ele.

IgNobel

Taí, gostei do IgNobel de economia. Na pior das hipóteses, correr atrás do negócio com uma marreta deve ser divertido.

Thursday, October 06, 2005

Desarmamento

Continuo mal impressionado com o nível do debate sobre o desarmamento. Ontem o Jô Soares declarou voto contrário à proibição. Até aí, tudo bem. Mas usou como argumento o seguinte: os totalitarismos, como o nazismo e o bolchevismo, desarmaram a população.

Besteira. Se isso prova alguma coisa, é que o totalitarismo leva ao desarmamento, não o contrário. Aliás, os dois totalitarismos em questão foram implementados por grupos que contavam com milícias particulares (as freikorps e a guarda vermelha). Se Weimar e o Kerensky tivessem desarmado a população, a história teria sido outra.

Outra analogia histórica que vem sendo utilizada: a revolução americana, única exclusivamente democrática, garantiu o direito de ter armas. É verdade. Garantiu aos homens brancos o direito de ter armas. O direito de portar armas garantia a esfera do totalitarismo de fazenda. Mas, novamente, esse argumento é irrelevante; pode-se argumentar que o problema é a restrição aos negros, não a permissão aos brancos.

A verdade é que não acho que nenhuma das analogias históricas acima tenha qualquer relevância para a situação brasileira. O problema é só o seguinte: algumas pessoas conseguem evitar crimes por que possuem armas. Outras pessoas morrem em consequência de gente que não cometeria o crime (ou o cometeria com muito menos força letal) se não tivesse arma. Quem você quer condenarà morte, o primeiro grupo ou o segundo? Eu voto para salvar o segundo. Respeito totalmente quem prefere salvar o primeiro.

Mas não custava nada manter o debate em torno das questões concretas.

Wednesday, October 05, 2005

PMR (PR?)

Rapaz, o tal do PMR é ainda mais esquisito do que se pensava: o Mangabeira é presidente do negócio!!!!!!! Ouçam bem: o Mangabeira é presidente do partido do vice-presidente! É, rapaz, só quando morcego doar sangue, mesmo.

Esperemos agora a coalizão PMR-PSOL, com a chapa Mangabeira-Clodovil.

Meio confuso.

Está meio confuso.

O Mainardi foi a Brasília cobrir a eleição do Rebelo e voltou meio desanimado. Segundo ele, vários políticos da oposição desistiram de pedir o impeachment, e o glorioso Jader Barbalho (segundo o Mainardi, alguém que deveria "saber tudo sobre o assunto") disse que o problema é que, se pegar gente por caixa 2, não sobra um.

Agora, isso é que eu queria saber: era só caixa 2, mesmo? Eu não acredito nisso não. Pode não ter havido desvio direto de dinheiro público, mas algum jogo de influências tem que ter havido. O empréstimo do Valério para o PT é um absurdo, e já está claro que a profissão dele era transferir dinheiro de empresário para político, de político para político, etc. Mas de onde saiu o dinheiro?

Até agora, há duas hipóteses que eu já vi: era o Banco Rural tentando influenciar o governo em um negócio lá deles, ou era o Daniel Dantas idem. O depoimento do Dantas deixou um impasse: a Heloísa Helena deu para o Luís Estevão ou o outro deputado do PT é pedófilo? Ou seja, não está com cara de que ninguém vai descobrir nada, não.

E, se for jogo de influência, aí é que ninguém investiga mesmo. Não é só que o jogo de influência é responsável pela totalidade do caixa 2, é responsável pelo caixa 1, também.

Que bonito.

Monday, October 03, 2005

Chávez

Chávez está no Roda Viva. Acaba de dizer que em Cuba não há ditadura, absolutamente. Ah, bom.

Plebiscito (II)

Os dois lados no plebiscito estão usando dados estatísticos. O mais significativo, na minha opinião, é a porcentagem dos crimes por motivos pessoais, que certamente seriam afetados pela venda de armas legais, ao contrário das vítimas do tráfico. Mas fica a advertência: esse assunto é difícil pra cacete de ser estudado empiricamente.

Para começar: essas estatísticas "no país X o número de armas é alto/baixo e o número de homicídios é alto/baixo" querem dizer pouquíssima coisa. Na própria reportagem da Veja há exemplos de dois países onde a venda de armas é proibida (Jamaica e Japão) com índices completamente diferentes. Só por esse exemplo já se vê que há fatores sociais que influenciam decisivamente o número de homicídios. Seria possível fazer uma análise estatística controlando para uma série de variáveis sócio-econômicas, mas até hoje não vi nada disso no debate brasileiro.

Mas o realmente difícil, metodologicamente, é "estabelecer o contra-factual": isto é, saber se, em um dado contexto, mantendo tudo igual, o número de armas influenciaria a violência.

Por exemplo, no filme do Michael Moore ele dá a informação de que várias das regiões americanas que mais têm armas são as que têm menor violência. Os opositores da proibição consideram esse o dado mais importante: afinal, o importante é o número de crimes que não acontecem por que a população está armada.

Agora, vai lá e mede isso. Só pra ter uma idéia da dificuldade do negócio, não bastaria ter dados sobre crimes frustrados; seria necessário saber quantos cidadãos tentariam assaltar casas se não tivessem medo do morador estar armado.

O contra-factual dos opositores da proibição é esse: se essa gente (por exemplo, os gaúchos) não estivessem armados, o crime seria maior lá. Mas o Rio Grande do Sul também tem várias outras características obviamente relacionadas ao nível de violência, como qualidade de vida.

Enfim, está com cara de que, se for com base nos dados apresentados até agora, ninguém vota em nada.

Plebiscito (I)

A capa da Veja dessa semana mostra que a direita realmente perdeu a vergonha. O plebiscito vai dar base popular a um movimento que até agora se limitava à elite política. Estou falando da direita de verdade, não o PSDB, coitado. Não é nem mesmo a direita evangélica, é a galera pesada, mesmo.

Claro, não é necessário ser de direita para ser contra o desarmamento. Eu, por exemplo, vou votar pela proibição, mas acho que a proposta tem um furo gravíssimo, que é o desarmamento rural; o cara que mora a seis horas da cidade mais próxima não pode ser obrigado a esperar a polícia chegar se for assaltado.

Enfim, embora não haja relação necessária, há relação empírica; a maioria dos militantes contra a proibição é de direita, mesmo que os eleitores não sejam. E os caras estão tendo um tremendo espaço de mídia a favor. O filho do Minha Creuza saiu hoje no Jornal Nacional dando um depoimento; e deve ter gente que acha que foi uma vitória contra o Fórum de São Paulo.

Saturday, October 01, 2005

Tom DeLay

Se todos os escândalos atuais da política brasileira (do Mensalão ao escândalo da arbitragem) tivessem sido feitos por um só cara, seria o Tom DeLay, líder dos republicanos na câmara americana, que acaba de renunciar, como seu equivalente severinístico.

Para entender DeLay, imaginem se o Zé Dirceu, em vez de ter sido guerrilheiro, tivesse virado dedo-duro do DOI-CODI. E imaginem que o PT, ao invés de ter sido eleito tendo que provar sua fidelidade com o sistema, fosse tão umbilicalmente ligado ao que o sistema tem de pior que pudesse fazer qualquer barbaridade. E imaginem que o espírito de Idi Amin Dada incorporasse no Dirceu. Pronto, Tom DeLay.

O ponto alto de sua carreira, na minha opinião, ocorreu quando foi encarregado de fazer um projeto qualquer para reduzir algum tipo de sacanagem (acho que financiamento ilegal de campanha), e, junto com outro safado, fez um projeto que, propositadamente, não resolvia nada. O melhor era o nome da lei, batizada com o nome dos dois autores: lei "DeLay-Dolittle" (em português, "atrase e faça pouco").